Cupido, Traga Meu Amor escrita por Tricia


Capítulo 25
Tormentos


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura



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Seis ligações de Nino, três de Alya e uma de Natalie ocuparam a aba de notificações por alguns instantes quando ele alcançou o aparelho. Se limitando a responder apenas o casal de amigos, todos os assuntos relacionados a trabalhos poderiam esperar um pouco e seriam feitos dentro de casa de qualquer maneira e quanto ao pai, isso dava para esperar ainda mais.

Adrien abriu a aba de internet digitando a palavra “cupido” e assistiu surgir imagens de estatuas e desenhos além de explicações baseadas na mitologia romana que fazia a consciência racional gritar o quanto tudo parecia absurdo demais para acreditar e, com certeza a ouviria se não tivesse atravessado a droga da porta com o colar magico.

Isso abria um leque de perguntas absurdas que quase o deixava tonto, entretanto, no momento só poderia se focar no que estava ao seu redor, ao seu alcance por sabe se lá quanto tempo. Um pouco das respostas poderia esperar.

Aspirou o ar fitando o clima chuvoso do lado de fora e abandonando a pesquisa e o parelho em um dos bolsos foi a passos lentos pelo corredor ate o quarto de hospedes onde ela estava.

Os dedos dela tocavam as peças de roupas penduras em cabides dentro do armário distraidamente e pela primeira vez uma coisa o ocorrera ao ver as peças de cores diversas que havia arrumado e as que ela estava usando ou usava no passado, em sua maioria vestidos, sempre vermelhos e chamativos. Era impossível não nota-la, mas jamais havia ligado qualquer coisa a cor, nem mesmo uma tentativa de ser sexy que geralmente se ligava ao tom. O pai e muitos outros estilistas colocavam a cor como a melhor representação da confiança feminina sobre sua sensualidade. Quando se tratava de Marinette, só pensara que fosse algo como uma cor favorita, mas não, Uma marca característica dos cupidos.

— Esta exatamente como quando fui embora – a mulher comentou quando o notou na porta – Por que não as tirou daqui? Alguém poderia pensar coisas erradas se visse isso.

Deu de ombros.

— Muito raramente alguém dorme aqui e duvido que perguntem, aposto que guardariam suas teorias e no máximo tentariam perguntar para alguém próximo que não saberia responder.

— E isso criaria muitas teorias – Marinette completou – A mais forte será que é para as mulheres que você trás para cá.

— Falando assim acaba sendo verdade – riu com o leve constrangimento que adornou o rosto feminino ciente do que ela queria dizer.

— É melhor eu voltar, as coisas ficaram bem ruins se souberem que estou aqui.

— Por que não descansa um pouco antes de ir, parece um pouco abatida. Eles devem ter te feito trabalhar muito para compensar o tempo que esteve aqui.

— Mais ou menos isso – ele viu o brilho deixar os olhos azuis tão rápido que o preocupou e estava pronto para tentar perguntar mais, porem, o toque no celular chamou a atenção.

— Pode atender, quando eu for embora avisarei.

— Tudo bem.

A viu sorrir um pouco antes de deixar o quarto levando o aparelho ao ouvido ouvindo um “finalmente” ser proferido do outro lado pela amiga.

— O que foi, Alya?

— O que ta acontecendo com você? Nino me disse que você estava estranho ontem depois que fomos embora e hoje você não atendia ninguém, estávamos quase indo ai ver você.

— Não é necessário, eu estou bem. Eu estava um pouco confuso ontem – não deixava de ser verdade, constatou sentando no sofá fitando a chuva que caia com mais força do lado de fora, ela se estenderia por boa parte do dia – Se isso é tudo, preciso desligar. Tenho algumas coisas para fazer.

— Consegui mais algumas coisas para você, só espero que talvez te ajude a desapegar.

— O que você...

— Lembra que eu comentei sobre aquela Marinette que já ta morta? Então, cavoucando por ai eu encontrei uma parente dela viva que mora em Paris – Alya explicou o interrompendo em um tom calmo com um toque sútil de conspiração.

— Manda tudo que você conseguiu pra mim.

Se fosse há algumas horas teria dito que era tolo da parte da mulher buscar informações de alguém morta, mas no momento...

— Só lembra que isso é um beco sem saída. Não to dizendo que acho isso, mas se a Mari por acaso usava uma identidade falsa talvez tenha sido pegada dessa defunta. 

— Vamos ver.

Conseguia imaginar a amiga balançando a cabeça de forma negativa e talvez um pouco arrependida de mostrar esse caminho.

Esfregou o rosto aguardando após finalizar a ligação, não eram muitas as coisas encontradas pela amiga, mas estavam bem claras e talvez de fato fosse um beco sem saída que apenas o frustraria. Todavia, agora tinha a oportunidade de perguntar sobre e torcia internamente para ouvir a verdade da mulher.

Nem que fosse bem aos poucos.

Pôs-se de pé indo de volta ao quarto, da sala tudo que tinha era o silêncio que o fazia temer a possibilidade da mulher quebrar sua palavra por alguma emergência, mas à medida que seguia pelo corredor o temor se tornou ainda maior ao ouvir os sons estranhos que o fizeram se apressar para o cômodo encontrando a mulher dormindo.

As mãos pequenas apertavam o travesseiro fortemente à medida que seu corpo se encolhia e os lamentos deixavam os lábios com um desespero incomum.

— Mari – murmurou ao sentar na cama tocando sutilmente o ombro coberto pelo tecido vermelho do vestido.

— Por favor... alguém... por favor.

Institivamente se aproximou mais puxando mais a mulher para si na tentativa de acorda-la. Braços e pernas começavam a se debater e uma leve dor o atingiu ao sentir um dos braços da cupido acertar seu estômago.  

— Mari, acorda.

Sob-respirações ofegantes e tremendo ela agarrou o tecido da camisa masculina que vestia se encolhendo contra seu corpo ao mesmo tempo em que gritos deixavam-lhe os lábios e ecoavam no quarto.

Dor...

Medo...

Angústia mais pura e crua...

Os braços do homem rodearam o corpo encolhido apoiando o queixo na cabeça da mulher enquanto tentava estabiliza-la. Ela não parecia tão bem, mas jamais esperaria ver algo assim.

— Está tudo bem... Está tudo bem.

O corpo se encolheu mais contra si. O coração do jovem Agreste afundou dentro do peito. Os céus poderiam ameaçar cair sobre suas cabeças que ele estava cada vez mais certo de que não a deixaria ir para sabe onde fosse o lugar que cupidos intrometidos geralmente viviam se era para vê-la acabar dessa maneira.

— Mari – chamou quando a respiração passou a um estado mais controlado, mas sem solta-la – Você está bem?

Silêncio. Lentamente ele sentiu os dedos que apertavam seu braço começarem a afrouxar, lentamente uma distância ser buscada por ela e atordoado encontrou os olhos tristes da mulher o fitando de maneira vazia. Era a primeira vez que via isso e só conseguia desejar poder mudar para nunca ver novamente.

— Me de apenas alguns minutos e eu voltarei a ficar boa – a resposta veio entre respirações profundas enquanto a mulher se afastava mais sentando na posição de lótus com os olhos fechados.

— Você estava tendo um pesadelo muito ruim.

— Podemos chama-los assim – quando os olhos se abriram ainda não tinham vida e o único brilho que reluzia eram de possíveis lagrimas que pareciam querer muito se formas e correr livremente das orbes azuladas.

— Isso significa que não é a primeira vez que acontece – constatou se ajeitando na cama.

— Esta tudo bem, isso é apenas... a minha punição – os olhos da mulher se desviaram por um momento ao mesmo tempo que a testa de Adrien franzia em uma confusão mesclada a surpresa.

— Por não ter conseguido fazer eu me apaixonar por alguém?

— Esse tipo de resolução não é atribuído punições – parando por um momento ela arrumou os cabelos atrás das orelhas ponderando se deveria ou não falar tudo, colocar um peso desnecessário nos ombros da pessoa que prejudicara e mesmo no atual momento ainda estava o fazendo um pouco mais.

Ele buscou as mãos dela apetando suavemente para chamar a atenção.

— Esta tudo bem, se houver algo que eu não saiba lidar você pode me ajudar a entender. Prometo me esforçar – se ele tinha a capacidade de ler mentes certamente saberia que estava dizendo as palavras certas que puxavam as amarras de preocupação da cupido.

— A minha punição se deve pelo fato que entrei diretamente na sua vida, não é dessa forma que trabalhamos. Eu prejudiquei você de um jeito que não importa o quanto eu peça desculpas, jamais será suficiente.

— Essa é uma coisa que eu posso decidir. Para ser sincero no momento não me sinto nem um pouco prejudicado – deu de ombros.

— Hoje é assim. A punição que por minha causa você recebeu virá através do tempo em que você ficará sozinho.

Ele quis argumentar que estar sozinho não era algo que o incomodava realmente, mas já tinha a noção que tais palavras não seriam levadas a serio pela mulher e, se fossem ela usaria o pensamento como algo de momento que mudaria depois de alguns anos.

— Ok, e como realmente é essa sua punição, como são esses pesadelos que te deixam tão perturbadas?

Um pensamento lhe ocorreu por um instante que se um dia fizessem uma noite de filme novamente com terror jamais deixaria que escolhessem coisas como “Hora do Pesadelo” para verem, mesmo sendo o favorito de Nino.

Alheia a isso os ombros da cupido caíram um pouco junto a cabeça e um longo suspiro deixou sua boca.

— Pra falar a verdade as coisas são mais complexas do que eu disse antes quando disse que “nasci para ser uma cupido”, para um cupido nascer ele antes terá sido um humano que cometeu algum tipo de pecado por amor e depois de morrer irá paga-lo ajudando pessoas a terem amor em suas vidas, mas de forma boa. 

— E qual foi o seu pecado?

— Eu não sei, depois que morremos nós acabamos esquecendo tudo que passamos em vida para assumir essa responsabilidade; o mesmo acontece com ceifadores e anjos.

— Eles existem também? – a cupido maneou a cabeça e Adrien tentou imaginar como estes seres seriam a partir do padrão de cupidos, pelo menos de acordo com Marinette.

— Eu não sei o que dizer sobre isso, sinceramente. Você é punida por algo que nem sabe que fez, pelo menos sabe quanto tempo isso vai durar?

Mais uma vez a cupido maneou a cabeça, dessa vez de forma negativa.

— Só somos avisados quando esta bem próximo de acontecer.

— E depois?

— Ai voltamos para o mundo, reencarnamos, eu acho – os olhos da mulher se perderam no ambiente com um pequeno sorriso feito de apenas um repuxar – Eu não parava para pensar nisso porque gostava do que fazia, eu ajudava pessoas e ocasionalmente procurava fazer algumas coisas normais, a vida que humanos vivos levam sempre me deixou curiosa e eu buscava saber com o pretexto que estava aprendendo para melhorar no trabalho. Mas hoje eu sei que parte era pelo trabalho, parte era por mim também.

E ele a havia incentivado a tentar conhecer ainda mais.

— Mesmo que você tenha se tornado uma cupido por ter cometido algo que talvez tenha sido ruim, você sempre me pareceu uma das melhores pessoas que já tive a chance de conhecer desde o primeiro instante.

— Mas talvez eu nem sempre tenha sido assim. No final eu acabei completamente sozinha.

— Como pode saber disso se não tem qualquer lembrança? 

— Com a minha punição eu recebi as lembranças dos meus últimos momentos de vida, bem quando estava morrendo – a cupido pode contemplar a surpresa ser estampada na face do homem – Toda vez que eu acabo dormindo eu sinto como se estivesse naquele lugar, naquele momento morrendo de novo, morrendo...tão desesperada pedindo ajuda enquanto afundo na água e ninguém nunca vem.

As palavras certas não vinham à mente do Agreste, nada lhe parecia tão eficiente quando conseguia ver a dor ser espelhada nos olhos da mulher, então recorreu ao contato se aproximando um pouco mais e puxando a mulher com um braço para um abraço aonde a sentiu lentamente erguer os braços o envolvendo também e a contornou com o outro a sentindo grunhir baixinho e sua própria voz soar em um tom um pouco mais alto que o dela.

— Eu sinto muito que esteja passando por isso, Mari. Se você não tivesse me conhecido nada disso teria acontecido.

— Isso começou um pouco antes de você – lentamente ela se afastou o suficiente para olha-lo – Talvez eu mereça isso que esta acontecendo comigo. A maneira como eu agi com você muito veio do fato de que eu havia fracassado na minha outra missão também e...eu destruí uma pessoa, Adrien.

— Não acho que você tenha feito isso por querer.

— Não foi, mas aconteceu – ela fez uma pausa sentindo o nó na garganta e o peso que a lembrança sempre trazia para seu coração – Ela se chama Milene.


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Notas finais do capítulo

Cada vez que paro para analisar as cenas de Adrien eu me sinto realmente feliz por poder vê-lo como uma pessoa maravilhosa no que diz respeito principalmente a Mari. Se alguém sabe como conforta-la bem é ele.
Até o próximo



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