Cupido, Traga Meu Amor escrita por Tricia


Capítulo 24
Cupidos


Notas iniciais do capítulo

Mais alguém estava com saudade de ver Adrien e Marinette numa mesma cena juntos?
Pois bem, essa hora chegou.
Boa leitura.



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Os pequenos momentos vividos se repetiam na cabeça do homem desde o instante que entrou no taxi até as ações dentro do apartamento, o instante que cairá no sono no sofá, esperando.

Ela não veio.

Com a sobriedade intacta após um banho ele fitou-se no espelho satisfeito com a própria aparência para deixar o apartamento em busca de alguma coisa que pudesse comer. Talvez ir na cafeteria que ela geralmente ia poderia dar-lhe a chance de vê-la se ela de fato estava de volta.

A trava da porta destrancou com um click baixo e ao puxar os passos para o lado de fora foram completamente interrompidos ao notar a figura parada do outro lado, a mão erguida com a clara intenção de bater.

O pequeno sorriso que se puxou nos lábios rosados não chegou aos olhos da mulher enquanto sua voz soava baixa, hesitante.

— Eu vim.

O suspiro que saiu dos lábios do homem, ele mal sabia que estava segurando até o memento que a ouvira.

Dentro do apartamento os olhos claros a fitavam com atenção a cada movimento, sair para comprar comida já estava fora de cogitação, acionando o serviço de entregas do primeiro estabelecimento que conseguira encontrar coisas para os dois comer.

Os minutos esperando foram passados em silêncio com a mulher encolhida no sofá com uma almofada no colo fitando o chão. Adrien jamais admitiria que o pedido para espera-lo enquanto buscava a comida na entrada do prédio soara quase como uma suplica. Felizmente ela ainda se manteve do mesmo jeito quando retornou. Marinette havia se tornado um tipo de criança de castigo que parecia remoer a bronca que havia levado e só o olhara quando a chamara pelo nome e indicara a cadeira na mesa arrumada com a comida para os dois.

A cupido segurou a xícara de café entre as duas mãos respirando algumas vezes, tomando seu próprio tempo. Adrien parecia se controlar em manter bem a paciência para o que poderia vir, mas tudo tinha um limite e Marinette estava chegando a ele mais rápido do que gostaria.

— Eu pensei um pouco sobre como deveria explicar de uma forma que você pudesse entender. Não é algo que necessariamente explicamos, portando não tem um guia de orientação para nós – divagou sem o fitar – Isso facilitaria tanto as coisas para mim nesse momento.

— Marinette...Você está começando a enrolar.

Um riso bastante fraco e nervoso deixou os lábios da mulher que ainda não o fitava diretamente, entretanto, ela já estava ali quando não deveria então deveria ir ate o fim.

Ergueu a cabeça.

— Eu sei, mas você não pode simplesmente chegar dizendo que faz parte da vida das pessoas sem que elas saibam! 

Por breves instantes a cupido pudera ver surpresa passar pela face do homem.

— Um anjo da guarda? Essa é a explicação que você me dará?

— Cupido na verdade – as sobrancelhas loiras franziram confusas e a xícara de café fora para a boca digerindo a estranha informação junto com o líquido – Não somos tão famosos quanto os anjos, mas garanto que somos necessários para as pessoas tanto quanto eles.

— Para que as pessoas possam se apaixonar? – a cupido maneou a cabeça afirmativamente – Você sabe que isso não faz o menor sentido, não é?

— Eu sei que soa absurdo – tomando uma longa respiração a cupido ergueu-se olhando ao redor do apartamento conhecido antes de começar a dar passos pesarosos na direção da porta do apartamento – Você pode vir comigo por um momento? Deixe-me leva-lo a um lugar, deixe-me provar.

Absurdo ou não ele também se ergueu e foi na direção dela, esperando por mais orientações. Adrien a observou segurar o pingente como sempre fazia, mordendo o canto dos lábios rosados por nervosismo e puxar-lhe a mão unindo a dela.

— Ok – ouviu-a sussurrar antes da mão que segurava o pingente descer para a maçaneta e abrindo a porta ela apenas tornou a dar passos para atravessar o levando junto rapidamente.

Atravessar uma porta não era nada de mais, pelo menos não era para ser. Institivamente os olhos verdes do jovem Agreste olharam com espanto para todos os lados de seu escritório dentro da Gabriel.

 A porta se fechou atrás deles com um baque surdo que foi ignorado por ambos.

— Como...?

Um a um os dedos de Marinette soltaram os seus quebrando o contato e fazendo-se voltar à mulher que continuava a dar pequenos passos para frente até a mesa que normalmente se sentava. Quando o corpo feminino girou ele a viu segurando o pingente novamente entre os dedos.

— Este colar na verdade não é uma joia de família, mas um item de cupido. Eu posso ir para qualquer lugar do mundo contanto que eu esteja com ele e haja uma porta para passar – a explicação veio num tom brando embora pudesse ver um resquício de nervosismo nos olhos da mulher.

— Por isso você queria tanto encontrar ele antes? – ela confirmou com um manear de cabeça soltando o objeto, porem, os olhos de Adrien ainda continuaram presos naquele pequeno coração por mais algum tempo. Parecia ser algo tão insignificante – Ele ainda faz mais alguma coisa?

— Em alguns momentos precisamos estar em lugares sem ser vistos e ele faz com que as pessoas também não nos vejam – ela respondeu no mesmo tom apoiando o corpo na mesa.

— Mas eu te via.             

— Sim, você me via quando normalmente não deveria. Sendo honesta eu não sei por que isso aconteceu, alguma coisa nele deve estar quebrada.

— Isso deve ser um problema para você – murmurou com pesar.

— Apenas um na lista dos que eu acabo arrumando hoje em dia – a cupido deu de ombros esbanjando uma expressão que se tudo não fosse tão absurdo ele teria tomado algum tempo para apreciar porque era estranhamente fofa a consternação na face da mulher.

— Você não é uma cupido muito boa então...

— Ei! Eu costumo ser muito boa, na maior parte do tempo – Marinette defendeu-se cruzando os braços e dessa vez ele apreciou um pouco a expressão que se agravava na fase da mulher insultada – Eu sou boa ajudando uma pessoa a se apaixonar.  

— E se ela não quiser se apaixonar? 

As mãos da mulher apoiaram-se na mesa, a seriedade voltou à face.

— Não forçamos as pessoas a se apaixonar realmente, apenas mostramos o caminho para elas. Se a pessoa irá seguir mesmo, ainda é uma escolha dela, cupidos apenas criam oportunidades, Adrien. Aquele livro derrubado na biblioteca, os pedidos trocados em um restaurante. Não temos direito a comandar as ações de alguém.

— Esta dizendo que ainda temos um livre arbítrio no final das contas?

— Isso.

— Então vocês só são intrometidos. 

Intrometidos era um tanto quanto cruel para se referir, a cupido pensou.

— É o nosso trabalho.

— Então porque aceitou trabalhar na Gabriel? Você já tinha um trabalho.

— Eu precisava conhecer você para saber o tipo de pessoa que poderia trazer para o seu caminho – por breves instantes os olhos dela se desviaram para baixo ao mesmo tempo em que os dedos apertavam o tampo da mesa – Você era minha missão, Adrien.

Silêncio.

Verdes contra azul.

Todas as simulações feitas na cabeça da cupido acabavam explodindo nesse momento, nada parecia realmente ser o que poderia esperar do loiro; ele não parecia ser o tipo que grita descontrolado, mas também não é o que fica em silêncio aguentando tudo de cabeça baixa e o meio termo sempre acabava incerto.

O loiro suspirou, longamente.

O primeiro humano que descobria sobre sua origem, tinha todo o direito de estar com medo da reação que viria.

— Você lembra que eu te disse que não queria me apaixonar?

— ...Sim.

— Se vocês respeitam tanto o livre arbítrio como diz, por que não foi embora depois que eu disse isso? Achou que eu estava brincando?

— Não, é só que... Algumas pessoas sempre dizem coisas assim antes de começarem a gostar de alguém – justificou com incerteza.

— Você acha que eu sou esse tipo de pessoa? Você me conhece afinal – havia uma certa indignação no tom do homem.  

Os pingos de chuva que começava a cair do lado de fora nunca pareceu tão interessante quanto no momento, a libertando da pressão que sentia pelo olhar indignado do homem sobre si.

— É o meu trabalho, Adrien. Eu nasci para fazer isso – as palavras que deixaram a boca eram tão vazias quanto o prédio no momento.

— Mas também decidiu que podia ter outros tipos de trabalho ou é uma coisa que vocês sempre fazem?

— Foi uma coincidência que surgiu e eu acabei pegando como oportunidade para tentar entender mais você porque estava com medo de fracassar novamente e causar o sofrimento de uma pessoa – a voz da cupido se elevou um pouco. 

Novamente...

— O que acontece se eu te disser que não quero encontrar ninguém para amar? Você irá embora para sempre dessa vez?

As frases clichês sobre palavras doerem mais do que socos nunca fez tanto sentido, Marinette pensou.

— Eu fracassei com você. Não tenho mais o direito de trabalhar nessa missão. Por isso eu fui embora. 

— Isso significa que outro cupido irá aparecer para se meter na minha vida a qualquer momento?

— Em algum momento, sim. “Todos merecem viver pelo menos um amor na vida”, não é? – a cupido tentou sorrir da forma mais doce que conseguia. Aquele nó estava voltando a incomodar. Poder vê-lo mesmo que por um momento tão não convencional e inesperado, mesmo sendo desagradável ainda era bom. Apenas, uma vez talvez já lhe fosse suficiente. 

— Você quer que eu viva isso mesmo contra minha vontade? 

— Eu acho que o amor é maravilhoso e pode mudar sua opinião. 

— Diz isso porque é seu trabalho fazer as pessoas amarem – o loiro retrucou com desdém. Os olhos da cupido comprimiram.

— Eu não pedi para ser uma cupido, não tenho que me sentir culpada por tentar trabalhar bem. Tenho que me sentir culpada por ter fracassado. 

— Você fracassou ao não me fazer me apaixonar por Deus sabe quem? Eu estou com medo de pensar nas possibilidades que você jogou no meu caminho pensando agora, saber que todas as pessoas que cruzaram o meu caminho foi por causa de alguém que puxava cordas acima da minha cabeça não é agradável.

— Acho que não terá que se preocupar com isso por enquanto. Graças aos meus erros cupidos não chegaram perto de você por algum tempo. Você pode se considerar livre do amor.

— Você não parece feliz com esse resultado – Adrien observou.

— Considere isso normal ao vir de um ser que vive pelo amor – devolveu se desencostando a cupido continuou – Pra falar a verdade às coisas são mais complicadas, mas não é algo que você precise saber ou tentar entender, como humano vivo há sempre coisas que devem apenas ficar na imaginação.

— E o que eu devo fazer com o que eu sei agora?

Marinette deu de ombros.

— Apenas volte a viver sua vida como sempre fizera sem se preocupar, cupidos não o incomodaram tão cedo, como eu já disse – se aproximando um mão foi estendida – Vamos voltar.

Hesitante ele aceitou a mão sentindo a fraca força que a mulher colocava em prende-lo enquanto guiava-os pela porta do escritório para a do apartamento no tempo de um simples estalar de dedos. Não havia nem mesmo um enjoou ou qualquer efeito colateral, perfeitamente como passar de um cômodo para o outro.

— E quanto a você? – pronunciou quando a sentiu soltar a mão – Se você fracassou deve ter resultado em algum tipo de punição não é?

— Isso não é um problema que você precisa pensar. Nessa situação toda você é um inocente que foi prejudicado por mim –  os olhos da mulher vagaram pelo apartamento olhando cada canto uma última vez para finalmente fitar o homem a poucos passos que esperava por qualquer informação a mais que pudesse dar e que apostava que o levaria a ficar ainda mais irritado. Sorriu – Espero que fique bem. Não trabalhe demais e saia mais com seus amigos, ok?

Sem esperar uma resposta girou sob os calcanhares indo em direção a porta segurando o pingente entre os dedos. Talvez a punição que a esperava não fosse tão terrível quando a situação estava consideravelmente sob controle.

 Tudo acabaria bem.

Alcançou a porta, maneando a cabeça para si mesma antes de abri-la para o seu território “seguro”.  

— Eu senti sua falta – a mão que segurava o trinco apertou o objeto frio ao ouvir a confissão do homem – Sabe o que isso significa?

— O que você espera que eu diga?

Estava pisando em um terreno rochoso demais para simplesmente correr, mesmo que seu coração começasse a bater loucamente dentro do peito um terço da razão suficientemente grande ainda estava ao seu lado dessa vez. Ela se virou para ele.

— Só peço que seja sincera comigo uma vez antes de ir.

— Tirando o lugar de onde vim, eu não menti para você, se alguma vez o fiz não era realmente minha intenção.

Verdes contra azuis.

Magoa.

Tristeza.

— Você sentiu falta de alguma coisa do que viveu aqui?

A cupido sorriu com pesar dessa vez.

— Sim. Embora as coisas tenham acabado de uma maneira desastrosa aos olhos de muitos, eu quero me lembrar dos momentos que estive aqui como os mais felizes da minha existência como cupido até que eu me for – com passos pesarosos ele se aproximou o suficiente para conseguir ver com muita clareza os indícios da vontade de derramar uma ou outra lagrima que adornavam a face angelical do ser que não sabia como classificar se divino ou magico – Mesmo tendo feito algo contra a sua vontade, não me odeie para sempre.

Uma das mãos dele ergueram-se apoiando no pescoço da cupido trazendo seu corpo para perto, a mão feminina soltou a maçaneta que com a outra mão ele fechou ao passo que a cabeça da mulher apoiava-se em um de seus ombros coberto pelo tecido azul da camisa. 

— Eu jamais conseguia odiar você.

Lentamente os braços finos contornavam o corpo do Agreste e a voz saia baixa, frágil e um pouco temerosa.

— Também senti sua falta.  


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Notas finais do capítulo

Ok, das coisas que Marinette deveria fazer a principal era ficar longe de Adrien e ela não fez isso. Acham que ela fez o errado?
Pobre Adrien que provavelmente nem deva acreditar em milagres e agora tem uma cupido de verdade por perto. Como lidar com a bagagem que vem junto com ela?
Até o próximo.
Bjs



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