— Eu vou fingir que não sei que essa gravata foi um presente dado pela Marinette – Alya comentou em algum momento da noite. Ele não respondeu e apenas deu de ombros.

Ivan se esforçou em cada detalhe de conclusão até o último dia e ate elaborara um bom discurso para seus primeiros clientes. Nino tocou piano como poucas vezes as pessoas tinham a chance de assistir acontecer enquanto Luka cantava. Estaria mentindo se dissesse que já não havia aprendido pelo menos duas das composições do cantor novato depois de assistir tanto aquele bendito videoclipe que trazia o mais perto do natural de sua antiga colega de apartamento.

Era a melhor noite que estava tendo em dias.

Viu uma mensagem de Natalie o informando ainda da indignação do pai sobre a situação e tinha uma leve impressão de que talvez este havia esperado um convite para acompanha-lo esta noite, só que, por mais que as vezes sentisse a falta de uma interação maior com o mais velho esta era a noite que não queria ouvir sobre os planos para o futuro que deviam ter pontos firmados pelo pai como sempre acontecia.

Esta era a noite que deveria ser dedicada a prestigiar Ivan e o começo de sua realização, o sonho que ele desenvolveu no primeiro ano de faculdade quando escolheu o curso errado e o abandonou com menos de um ano após estudar todas as opções e ter o completo apoio dos amigos e da família. Depois de longos 8 anos aprendendo em outros restaurantes “Miraculo” finalmente existia.

Ninguém deve tirar isso dele.

Quando o ar frio da noite bateu contra seu rosto Adrien só podia agradecer pela agradável noite enquanto se despedia de Alya e Luka, este último parecia estar se tornando uma pessoa presente na vida do casal atualmente e quase poderia apostar que em breve estaria integrado a ocasiões com outros membros do grupo.

Nino por outro lado...

— Por que não esta indo com a sua namorada embora?

— Porque eu quero caminhar com meu amigo, a gente não faz muito isso hoje em dia – o amigo deu de ombros colocava o capuz e um par de óculos de lentes transparentes sem grau na vaga ilusão de não ser reconhecido por alguém – Estamos sempre ocupados com alguma coisa.

— É isso que é ser adulto – deu de ombros.

— Saudades de quando a coisa mais difícil na vida era conseguir bolar um plano para te tirar de casa escondido do seu pai pra te ensinar a viver como um adolescente normal – Nino resmungou.

— Bons tempos.

Talvez os melhores anos que vivera em sua juventude.

— As garotas te adoravam, os professores de adoravam, se o seu pai não fosse careta e obcecado em controlar seus passos sua vida seria perfeita.

— Ela não precisava ser perfeita para me deixar completamente feliz. Tudo aquilo bastava.

Um pequeno silencio confortável se instalou enquanto seguiam pela calçada desviando das pessoas que passavam por eles sem os olhar realmente. Era um milagre que nenhum dos dois haviam sido reconhecidos ainda, principalmente o amigo, Adrien tinha a impressão que se alguém o reconhecesse e se aproxima-se não acabaria com diálogos agradáveis como acontecia com Nino sempre.

Mas a lembrança de quem eram sempre os perseguia no final das contas.

A certeza veio quando os olhos ergueram para ver um trecho de um vídeo promocional que havia sido feito na época do vídeo de Luka com o cantor, Marinette e Nino para a Gabriel como um jeito de estabelecer bem o lugar de Marinette para os outros.  

— Eu sei que é recente, mas às vezes sinto que isso foi há muito tempo quando olho para você – Nino comentou perdidamente, se conheciam há tanto tempo e era a primeira vez que havia visto o amigo olhar para alguém assim e estava pouco a pouco sentindo que a presença de Marinette estava se tornando distante para todos como uma tempestade que durou alguns dias e agora o tempo abrira e toda a água era evaporada dos telhados e folhas de árvores.

Em algum momento ela seria apenas um pequeno fato ocorrido que ficaria apenas na memoria de alguns poucos enquanto todos os outros seguiam em frente até a próxima tempestade.

A questão é quanto tempo demoraria até uma nova ocorrer.

Como o amigo lidaria se a primeira te destrói, você naturalmente temerá as próximas.

Não estava com raiva de Marinette realmente, mas havia uma pequena magoa sobre a ação da mulher com relação ao amigo que sempre o faria se incomodar quando pensava nesta pessoa que lhe pareceu tão boa a principio.

As aparências tinham mesmo a capacidade de enganar...

— As coisas eram bastante simples, mas eu compliquei e acabaram assim no final – Adrien admitiu com as mãos nos bolsos. As coisas certamente teriam sido diferentes se tivesse mantido o profissionalismo que sempre se orgulhava de ter.

— Algumas coisas acontecem inevitavelmente.

Adrien maneou a cabeça tentando concordar com as palavras do amigo. Da mesma forma que essa pessoa que era importante para resolver seu problema com a Gabriel apareceu, ela também desapareceu quando já não era mais tão necessária lá.

Ela serviu seu proposito.

Estava na hora de começar a aceitar isso.

Marinette com sua capacidade de cativar qualquer um ficaria bem em qualquer lugar.

O vídeo foi substituído por um comercial de cosmético feminino perdendo completamente toda a atenção do loiro.

— Deveríamos ter esperado o Ivan para irmos beber em algum lugar – Nino continuou na tentativa de aliviar as coisas, pelo pequeno repuxar dos lábios do outro soube que funcionou.

— Acho que hoje ele esta comemorando com seus funcionários o primeiro dia. Se estivéssemos lá à atmosfera poderia ficar estranha.  

— Tentamos outro dia então. Uma noite dos homens.

— Dessa vez não será pela minha conta.

— Você diz isso agora, na hora a gente te faz mudar de ideia.

— Você deveria ter um pouco de vergonha de tentar extorquir dinheiro do seu amigo quando você tem o seu, e não é pouco.

Ser o artista com o terceiro maior cache no ano anterior não é para qualquer um.

— Velhos costumes – o moreno declarou com um sorriso zombeteiro. Adrien revirou os olhos.

 Não havia como argumentar com algo que achava tão verdadeiro vindo do amigo e, mesmo se houvesse qualquer bom argumento em sua mente teria se perdido em algum lugar quando as pernas voltaram a se mover para frente e o olhar para os lados à frente se limitando a apenas dois passos.

Estava se confundido? Questionou a si mesmo enquanto olhava rapidamente para os lados da rua antes de mudar a direção para qual seguiria. Um pequeno tremor o abateu ao notar o vestido vermelho, os cabelos escuros e a baixa estatura da mulher.

Ouviu o amigo o chamando atrás e apenas o ignorou continuando. As chances de estar enganado eram tão altas que por um instante parou bem no começo do pequeno caminho cimentado.

— Adrien – ouviu a voz do amigo se tornar mais alta e finalmente aquela pessoa se virou na direção deles.

Era o mesmo rosto doce que conhecia, mas parecia tão abatido. Era diferente da Marinette que conhecia. Mas ainda era Marinette Dupain-Cheng.

— Mari – murmurou baixo voltando a andar.

A boca da mulher abriu um pouco expondo a surpresa que começava a domina-la, isso o incomodou um pouco, mas não tanto quando conseguia ver os olhos azuis o fitar com tanta intensidade que talvez nem ela estivesse tão ciente.  

Ela se manteve no mesmo lugar como uma estatua petrificada o fitando.

— Adrien, aonde você esta indo cara?

— Eu vou falar com a Marinette.

— Espera, você sabe aonde ela esta todo esse tempo e fica sofrendo à-toa? Tu é burro, irmão?

Ouvir as palavras do amigo fez o loiro parar voltando-se para o amigo que o seguia e havia parado com uma expressão completamente confusa em sua direção.

— Ela esta aqui agora – as sobrancelhas do amigo franziram e com a expressão ainda confusa ele girou no lugar olhando ao redor completamente, fazendo questão ate mesmo de arrancar os óculos.

— Ela não esta aqui, Adrien.

— Mas ela esta – murmurou voltando a olhar para frente. Ela continuava no mesmo lugar.

Estava vendo coisas aonde não tinha? Era a única explicação que poderia dar para si mesmo.

 Estava mesmo vendo-a?

Ou estava ficando louco?