A Herdeira escrita por Nany Nogueira


Capítulo 3
A proposta de casamento




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No Palácio de Seráfia do Norte, Rainha Maria Cesárea já esperava por todos com a mesa do almoço pronta. Anita não queria comer e sim saber de seu pai:

— Mãe, eu não posso simplesmente sentar e comer como se nada estivesse acontecendo, a senhora me deve muitas explicações, a começar por onde está meu pai.

— Eu já disse, em Seráfia do Sul.

— Por que ele não veio nos receber?

Rei Augusto resolveu pôr termo à agonia da moça:

— Melhor falarmos logo a verdade, Dora, que o pai dela foi raptado pelos revoltosos.

Anita sentiu uma leve vertigem, mas indagou:

— Como assim? Quando? Por quê?

Dora explicou:

— O Palácio foi invadido e não conseguimos impedir, eles eram muitos e bem armados.

— Mas, como pôde o exército real não conseguir defender o príncipe de Seráfia do Sul? – questionou Jorge.

— O exército está desfalcado há anos, muitos debandaram e se juntaram aos revoltosos – explicou Augusto.

— E o que nós temos a ver com tudo isso? – perguntou Anita, suspeitando de algo.

Doralice explicou:

— Os revoltosos propuseram um acordo de paz que inclui a libertação do seu pai. E você, Anita, é parte importante nisso.

— Eu faço o que for preciso para libertar o meu pai.

Nesse momento, Açucena, Jesuíno e Heitor, de 23 anos, adentraram ao recinto.

Anita sentiu o coração disparar ao ver Heitor, há anos os jovens não se viam.

Uma forte cena veio à mente da moça: “Heitor beijando Raquel, filha de Rosa e Cícero, no jardim do Palácio de Brogodó, bem no dia que Anita completou 15 anos. O rapaz havia beijado Anita dias antes, prometido amor eterno e dançado a valsa com a debutante naquela mesma noite, havia sido a primeira inteiração romântica da menina. Naquele dia, suas ilusões se desfizeram e ela nunca mais dirigiu a palavra ao rapaz. Para o alívio dela, a família mudou-se no ano seguinte para Recife, quando seu pai venceu a eleição para o governo do Estado”.

Heitor não tirava os olhos de Anita, que, como de costume, desviava o olhar e fingia nem ter reparado na presença dele ali.

Rei Augusto falou:

— Aproveitando que os interessados estão presentes. Vou logo ao assunto: Anita e Heitor, os revoltosos exigem o casamento do herdeiro solteiro de Seráfia do Norte, Heitor, e da herdeira também não comprometida de Seráfia do Sul, Anita, para fazer cessar a guerra e libertarem príncipe Felipe.

— Isso não é possível! – manifestou-se Anita, irritada.

Heitor não esboçou qualquer reação.

Dora confirmou:

— É a exigência deles, minha filha.

Rei Augusto deu maiores detalhes:

— A princípio, eles queriam o casamento dos primogênitos, mas Margarida já está casada e grávida. Jorge tem namoro firme.

— Namoro não é casamento! Hortência pode ser casar com Jorginho! – apontou Anita, referindo-se à filha caçula de Açucena e Jesuíno (de 4 herdeiros).

— Valeu mesmo, maninha – disse Jorge, ironicamente.

Rei Augusto explicou:

— Hortência tem apenas 17 anos e a lei de Seráfia só permite o casamento a partir dos 20 anos.

— Então, nesse contexto, eu sou a herdeira perfeita para satisfazer os revoltosos!

— Infelizmente sim, minha filha. Mas, você não é obrigada a nada – expôs Doralice.

— Não sou mesmo! Meu pai é governador do Estado de Pernambuco. A captura dele gera um incidente diplomático com o Brasil. A pátria verde e amarela pode intervir nisso sem que eu tenha que me casar com ninguém. A senhora é advogada, mãe, sabe disso.

— Já pensei nisso, minha filha. Mas, um incidente diplomático leva tempo e eu não sei se o seu pai tem esse tempo, os revoltosos ameaçam decapitá-lo se tentarmos qualquer coisa.

— Não é justo me colocarem contra a parede, jogarem esse fardo nas minhas costas – desesperou-se Anita, deixando as lágrimas rolarem.

— Não estamos exigindo nada, apenas expondo a situação. A decisão é toda sua, minha filha.

Anita saiu correndo para o jardim, o pranto ameaçou ficar mais incontido e ela quis privacidade. Mas, Heitor foi atrás e a encontrou soluçando num banco de jardim, perguntando:

— É tão ruim assim se casar comigo?

— Você ainda pergunta!

— Pensei que a mágoa da adolescência já tivesse passado.

— Você acha que é possível eu me esquecer do que me fez na noite do meu aniversário de 15 anos?

— Eu era jovem, irresponsável e havia bebido além da conta. Raquel foi se aproximando e eu entrei na onda.

— Você havia me jurado amor eterno 3 dias antes.

— Eu sei e me arrependo.

— De ter me jurado amor eterno?

— Não, de ter beijado a Raquel depois disso. Eu não sentia nada por ela, amava você de verdade.

— Que bom que você conjugou o verbo no passado, porque eu não quero nunca mais ter nada com você, muito menos me casar com você.

— Nem pela vida do seu pai?

— Você está jogando baixo! Há de ter outro jeito legal e eu vou descobrir.

— Infelizmente, no estado que Seráfia se encontra, fica difícil fazer valer as leis, ainda mais que não reconhecem, no momento, o seu pai como príncipe. Mas, eu pensei em algo que pode lhe agradar.

— Nada que venha da sua cabeça pode ser bom.

— Mas, eu vou falar mesmo assim, depois você avalia se a ideia foi boa ou não. A gente casa e...

— Pode parar! Já é uma péssima ideia!

— Escute até o final. Eu estava dizendo que a gente casa, seu pai é libertado, volta para o Brasil e depois a gente separa. Vai ser um casamento só para os revoltosos se acalmarem. Prometo que será um casamento de fachada, não tocarei um dedo em você.

— Como posso saber que não está blefando? Depois do casamento você pode exigir os seus direitos de marido.

— Tem a minha palavra e se, quiser, podemos fazer um contrato de gaveta por escrito, só as nossas famílias saberão disso, os revoltosos não. E então, o que me diz?


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