A Herdeira escrita por Nany Nogueira
O jantar de aniversário de Anita, além de peixe, camarão e siri, teve muita tristeza e tensão à mesa. Apenas Verena falava sem parar, mesmo que os demais nem prestassem atenção.
No final da noite, Jorge foi levar a namorada em casa. Victor já havia adormecido no sofá e Felipe pegou o filho no colo, levando-o para cama.
Doralice aproveitou que estava a sós com a filha e perguntou:
— O que faremos?
— Está perguntando isso a mim?
— A minha única ideia é amarrar seu pai no pé da cama.
— Não iria funcionar por muito tempo.
— Pena que aqui não tem uma masmorra como em Seráfia.
— Ele vai de todo jeito.
— Então, eu vou com ele.
— Se a senhora vai, eu também vou.
— Nem pensar! Você tem aulas, provas e precisa cuidar do Vitinho.
Felipe entrou na sala, interrompendo a conversa das duas:
— Eu já vou me deitar, você não vem Dora?
— Vou – respondeu ela, levantando-se – Vá se deitar também, Anita – pediu à filha.
— Eu já estou indo, mãe, tenho sono – bocejando.
Felipe falou:
— Sei que as duas não me querem em Seráfia de jeito nenhum, mas a minha decisão está tomada. Parto amanhã nos primeiros raios de sol.
— Não posso te impedir, mas posso ir com você – disse Doralice.
— De jeito nenhum! Um de nós precisa estar vivo para cuidar de nossos filhos!
— Ora, príncipe, alguma vez eu te deixei ir para uma guerra sozinho?
— Bom, não posso te proibir, você sempre fez o que quis mesmo – conformou-se Felipe, dando de ombros e caminhos a passos duros para a suíte do casal, seguido por Doralice.
Felipe e Dora partiram na manhã seguinte bem cedo. Despediram-se de Jorge, Anita e Victor, incumbindo os mais velhos de cuidarem do mais novo e dando ordens aos empregados para que nada faltasse aos filhos na ausência do casal.
Uma semana já havia se passado desde a chegada dos pais a Seráfia. Há 3 dias não davam notícias. As informações que chegavam pela mídia de Seráfia eram alarmantes.
Jorge já estava agoniado:
— Eu vou para Seráfia! Temos que saber de nossos pais.
— Jorginho, se algo realmente aconteceu com eles não adianta nada você ir lá, aliás, pode ser perigoso. Se você não voltar, como vou ficar sozinha com o Vitinho? – questionou Anita.
— Você é mais forte que eu, minha irmã.
— Isso não tem nada a ver com força, o fato é que nesse momento, precisamos uns dos outros.
Victor, com lágrimas nos olhos, correu e abraçou os dois irmãos, dizendo:
— Não quero perder mais ninguém.
Anita sentou-se no sofá, colocou o irmão no colo e disse:
— Não perdemos ninguém. Eu sinto que nossos pais estão vivos, só não conseguem se comunicar no momento. Eu sei que vai ficar tudo bem.
Em Seráfia, Doralice, Rei Augusto, Inácio e Rainha Helena estavam agitados, no aguardo dos revoltosos na grande sala de reuniões do Palácio de Seráfia do Sul.
3 dias antes, o Palácio havia sido invadido e Felipe fora levado como prisioneiro dos revoltosos. Dora não conseguiu detê-los, nem com a ajuda da guarda real. Eles eram muitos e estavam bem armados. Ela se sentia culpada pela captura do marido e estava disposta a tudo pela liberdade dele.
5 homens mal-encarados foram anunciados pela Guarda e adentraram à sala. Um deles tomou a palavra:
— Os revoltosos estão dispostos a libertar o príncipe e fazer cessar a guerra, desde que cumprida uma única e simples condição.
— Que condição? – indagou Doralice.
Outro homem entregou a ela um manuscrito com uma prévia justificativa e a condição da paz ao final. Doralice não podia crer naquilo.
Rei Augusto, percebendo a cara de espanto de Dora, tomou o documento das mãos dela e também o leu, dizendo:
— Essa condição é impossível. A primogênita de Açucena e Jesuíno já é casada e o primogênito de Dora e Felipe está noivo (ele sabia que não era real, mas quis deixar o relacionamento do rapaz mais sério do que era para convencer os revoltosos).
O homem que assumiu a condição de líder das negociações deu um sorriso irônico e falou:
— A gente pode dar um jeito nisso.
No quarto dia de espera, finalmente Jorge, Anita e Victor receberam o telefonema da mãe. Ela parecia tensa, pouco falou, não respondeu à pergunta da filha quando indagada se todos estavam bem, apenas determinou que os filhos partissem para Seráfia com a maior brevidade possível.
Todos se inquietaram, mas obedeceram à ordem da mãe.
A viagem de navio era longa e Anita vivia angustiada. Sabia que perdendo tantas provas no final do semestre, provavelmente o perderia. Mas, o que mais a desassossegava era pensar no motivo da aflição da mãe ao telefone e a razão daquela viagem às pressas.
Jorge também não se aquietava, pensava no que poderia fazer para ajudar seus pais na guerra, queria mostrar a eles o quanto poderia ser forte e corajoso.
Apenas Victor, na sua inocência, a tudo olhava com curiosidade e alegria, adorando a sua primeira viagem de navio.
No desembarque, Jorge e Anita já sentiram a tensão no País, foram escoltados na saída do navio pela tropa real fortemente armada. Dora e Rei Augusto esperavam por eles junto aos soldados.
A mãe abraçou e beijou os filhos com lágrimas nos olhos. Victor não queria largar a cintura da mãe por um minuto, abraçando-se a ela.
Anita logo perguntou:
— O que nos traz aqui?
— Vamos explicar tudo no Palácio.
Victor perguntou:
— O papai está no Palácio?
— Não, meu filho.
— Então onde ele está?
— Em Seráfia do Sul.
— Por quê?
— Nosso carro chegou, vamos logo – disse Dora, interrompendo as muitas perguntas do filho.
Jorge e Anita entreolharam-se pressentindo que algo ruim havia se dado com o pai.
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