Yu Yu Hakusho: A Relíquia Perdida escrita por Ocarina, LuisaPoison


Capítulo 3
A relíquia perdida


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal!

@Ocarina aqui para agradecer o feedback que vocês nos deram até agora.

Boa leitura!!



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 — Kamaitachi? — Keiko perguntou intrigada — Aquela lenda antiga? 

— Não é uma lenda — Kurama respondeu, ainda confuso com tudo que estava acontecendo.

— Essa não é a história da doninha que cortava as pessoas com um golpe de ar? Está sugerindo que ela é real e está causando toda essa confusão?

— Quase isso, Yusuke — Kurama suspirou — Kamaitachi não é uma doninha, mas sim uma raça de youkais doninhas. Só que eu não entendo...

— O quê? — Yusuke perguntou ao notar a perturbação no semblante do amigo.

Antes que Kurama pudesse lhe responder, a campainha da casa ressoou fazendo com que Keiko se sobressaltasse assustada. Deixando a discussão com Kurama de lado, Yusuke abriu a porta, deparando-se com um Koenma sério e preocupado. 

— Oi Yusuke, desculpe incomodá-lo a essa hora — ele murchou os ombros, cansado — Será que podemos conversar sobre um assunto sério?  

Yusuke logo soube sobre o que se tratava e deixou o líder espiritual entrar em sua casa para se juntar a Kurama e Keiko. Surpreso com a presença do kitsune, Koenma perguntou o que ele fazia ali. Juntos, os três lhe explicaram a situação, relatando tudo que havia acontecido desde o ferimento de Keiko até as conclusões de Kurama sobre o caso. Como esperado, Koenma havia procurado Yusuke com a intenção de pedir sua ajuda para solucionar o problema, imaginando que algum demônio estivesse por trás de tudo. No entanto, a teoria de Kurama o fez arregalar os olhos.

— Kamaitachi? — ele indagou pensativo — Por um lado, faz sentido. Isso explicaria a onda de ataques aos humanos. Mas por outro, isso é impossível Kurama, e você sabe o porquê, não sabe? 

Kurama não respondeu, apesar de ter a resposta entalada em sua garganta. 

— Por que é impossível? Será que alguém pode me explicar?! — Yusuke exclamou sem entender aonde os dois queriam chegar. 

— Porque os kamaitachi foram extintos há muito tempo, Yusuke — Koenma respondeu — Eles não podem ser os responsáveis por isso, porque nem sequer existem mais. 

—  Já esteve diante dos ferimentos causadas por kamaitachi, Koenma? — Kurama o questionou.

— Não. Eles são bem mais antigos do que eu. Pelo que sei, quando nasci, eles já haviam se extinguido.

— Exatamente. Já eu, tive contato com essa raça quando ainda estavam no auge de sua força. Conheço muito bem os danos causados por eles e posso garantir que isso é obra dos kamaitachi

— Mas eles foram...

— Extintos — Kurama completou — Eu sei, Koenma. Era o que eu também acreditava, até hoje. 

— Pelo visto vocês se enganaram. Afinal, o que fez vocês pensarem que eles estavam extintos? — Yusuke perguntou.

— Há muito tempo atrás, os kamaitachi representavam a supremacia do Makai, Yusuke — Koenma começou a explicar, sentando-se ao lado de Keiko — Eles eram muito poderosos e praticamente invencíveis. Ardilosos, conheciam as fraquezas de seus adversários e se utilizavam delas para dominar muitas das raças do Mundo dos Demônios. Basicamente, conseguiram exercer domínio sobre a maior parte dos youkais existentes. Poucos tinham coragem de desafiá-los, pois aqueles que o faziam sempre acabavam mortos. Ainda assim, muitos tentaram se rebelar contra eles, como os diversos tipos de onis, os kappas e até mesmo os...

Koenma encarou Kurama, hesitante e incerto sobre o que falaria a seguir.

— Até mesmo os kitsunes — na ausência do líder espiritual, Kurama terminou a frase — Antigamente os kamaitachi eram nossos inimigos mortais.

— E o aconteceu com eles? — Keiko perguntou em seguida. 

— Como eu disse, os kamaitachi eram muito poderosos...— Koenma voltou a dizer — No entanto, haviam boatos de que o poder deles provinha de uma relíquia antiga, feita pelos líderes primordiais daquela raça. Os rumores diziam que se os kamaitachi perdessem essa relíquia, estariam fadados a extinção. Assim, com a intenção de destruí-la, os seus inimigos passaram a procurá-los por todos os lados, porém, ninguém sabia onde o Clã Kamaitachi estava escondido. Aparentemente, esse objeto não era somente capaz de fortalecê-los, mas também torná-los indetectáveis.

— Então como diabos eles foram eliminados? — Yusuke exclamou incrédulo. 

— Isso ainda é um mistério, Yusuke. Tudo que se sabe é que a relíquia desapareceu. Dizem que alguém conseguiu roubá-la, mas ninguém sabe quem o fez, tampouco como conseguiu, uma vez que o Clã dos Kamaitachi ficava num local escondido. Tudo o que se conta é que, após o sumiço, eles perderam a sua força. O clã ficou vulnerável aos ataques de seus diversos inimigos que, ao reunirem forças, conseguiram enfim derrotá-los, dando fim à sua supremacia.

— Mas não há garantias de que tenham sido extintos, não é? — Yusuke perguntou.

— Não se ouviu mais falar deles desde então. Acreditava-se que isso seria garantia suficiente. Os kamaitachi vivem em grupo, portanto, quando você destrói a maioria, destrói todos.

— Supondo que alguns deles tenham sobrevivido por todo esse tempo. Por que estão atacando os humanos agora? A troco de que fariam isso?!

—  Bem, eu esqueci de mencionar que os kamaitachi viviam na época em que a barreira entre o Makai e o Ningenkai não existia. Torturar humanos era um costume deles. Parece que só estão retomando o velho hábito, já que a barreira foi desfeita pela espada dimensional de Kuwabara.

— Mas isso não faz sentido! Sem a relíquia eles estão enfraquecidos, não? Não deviam permanecer escondidos? 

— Talvez tenham um bom motivo pra aparecerem agora — Koenma sugeriu incerto.

— Será que recuperaram a relíquia? — Keiko perguntou.

— Não, isso não — Koenma respondeu — Se fosse o caso, eles já teriam feito um estrago muito maior. Kamaitachi são muito agressivos.

— Além disso, ninguém sabe onde está a relíquia. Provavelmente já deve ter sido destruída, né? — Yusuke disse.

— Não, a relíquia ainda existe. Eles devem estar atrás dela — Kurama disse.

— Como pode afirmar isso, Kurama? Koenma acabou de dizer que ninguém sabe se o objeto foi destruído ou roubado. A relíquia simplesmente desapareceu — Yusuke respondeu.

— Ela não foi destruída — ele repetiu com convicção, se afastando em seguida de seus companheiros.

Yusuke e Koenma se entreolharam, imaginando que havia algo por trás do comportamento enigmático de Kurama. Curioso, Yusuke se adiantou, aproximando-se novamente do amigo para questioná-lo.

— Kurama, o que você está escondendo? — o kitsune o encarou — Você sabe de algo que não sabemos? 

Kurama revezou os olhares entre os três antes de responder. 

— A relíquia foi roubada e ainda existe. Eu sei disso, porque fui eu quem a roubou. 

˜*˜*˜ 

Kurama apressou os passos na escadaria que o levava ao templo de Genkai. Já havia se passado quase uma semana desde a sua conversa com Yusuke, Koenma e Keiko. Na ocasião, o líder espiritual achou melhor levar as informações recebidas para o Reikai, e convocou uma reunião com a presença de todo o grupo para abordar o assunto. A onda de ataques dos kamaitachi já havia perdido a sua força e não haviam novos relatos de pessoas feridas, mas ainda assim a população local se mantinha em alerta. Kurama sabia que era questão de tempo para que os youkais se manifestassem novamente.

Ele inspirou fundo antes de entrar no templo. O kitsune precisava segurar as pontas na conversa que teria a seguir com Koenma e os outros, mas não sentia a mínima vontade de recordar o seu passado com os kamaitachi. Aquela história continha muitas mortes e arrependimentos dos quais ele gostaria de se esquecer por completo. No entanto, ele sabia que não podia fugir da realidade. Assim, tomando coragem, adentrou ao local.

Pares de olhos curiosos o encararam ao vê-lo entrar na residência. Todos já se encontravam no templo, exceto Hiei, que por algum motivo desconhecido não estava presente. Pela forma com que o observavam, Kurama logo concluiu que Yusuke já havia adiantado as novidades a Kuwabara, Botan e Yukina. Após cumprimentá-los, o kitsune encostou-se no batente da janela mais próxima, aguardando para ouvir o que eles tinham a lhe dizer.

— Suponho que já saibam o porquê decidi reuni-los aqui — Koenma disse atraindo a atenção de todos — O mundo dos humanos está sob ataque de youkais muito perigosos.

— Os kamaitachi, não é? Yusuke já nos contou tudo. A antiga posição de elite deles, o fato de não gostarem de humanos e até mesmo a relíquia roubada por Kurama — Kuwabara deu de ombros — Já sabemos a história toda.

— Quer nossa ajuda, correto Koenma? — Yusuke perguntou — Francamente, você sabe que nem precisa pedir. Não sei pra que nos fez perder tempo com essa reunião. Desde que Keiko foi atacada, eu tenho caçado esses desgraçados por toda a parte. Eles vão me pagar pelo que fizeram!

— Bem, é exatamente isso. Preciso de vocês. Por hora os ataques parecem ter diminuído, mas gostaria que todos aqui ficassem atentos para qualquer sinal da presença de algum kamaitachi. Infelizmente, até agora ninguém do Mundo Espiritual conseguiu detectá-los. São demônios muito sorrateiros e sabem ocultar bem a sua presença. Por isso vim recorrer a vocês. Se descobrirem algo, não hesitem em me chamar.

— Também não consegui rastreá-los — Yusuke respondeu frustrado — E você, Kurama? Alguma pista?

— Não. Também estive atento a qualquer presença maligna, mas como Koenma falou, eles são muito sorrateiros. 

— Eles? Mas como sabem que estão em grupo? — Botan questionou confusa — Pode ser somente um, não? 

— É verdade, não sabemos nem quantos são... — Koenma retrucou — Essa situação está complicada. 

— Ah não desanime, Koenma! Tenho certeza que os encontraremos! — Kuwabara exclamou entusiasmado — Quando foi que nós falhamos com você?

— Espero que esteja certo, Kuwabara. De qualquer forma, continuarei a investigação no Reikai. Usando alguns contatos que tenho no Makai, tenho tentado descobrir quantos e quais kamaitachi sobreviveram ao declínio de seu clã. Qualquer novidade avisarei vocês. 

— Falando nisso.. — Yusuke indagou pensativo —...Koenma, onde está o Hiei? Pensei que o chamaria para ajudar, justamente por ele viver no Makai. Poderia conseguir muitas informações necessárias para nós, não? 

— Pois é, Yusuke. Essa era a minha intenção, mas infelizmente não consegui contactar Hiei. Aparentemente ele está em algum lugar desconhecido do Makai numa missão dada por Mukuro. Seria muito difícil encontrá-lo. Teremos que der um jeito por nós mesmos.

— Aquele baixinho...— Kuwabara revirou os olhos —...sabia que não podíamos contra com ele. Ele sempre some quando mais precisamos!

— Não está sendo injusto, Kazuma? — o tom repreensivo na voz de Yukina fez com que Kuwabara suasse frio, desviando o olhar envergonhado.

— Bom, Kurama... — o kitsune se voltou para Koenma —...sendo o ladrão da relíquia, suponho que conheça os inimigos mais do que todos nós. Tem alguma ideia de quem possa estar por trás disso?

— Se eu tivesse, já teria lhe dito — Kurama o respondeu com sinceridade.

— Não pode ser nenhum dos kamaitachi que você conheceu? 

Kurama hesitou. Memórias dolorosas se apossaram de sua mente, o incomodando mais do que ele gostaria.

— Todos os kamaitachi que conheci morreram. Tenho absoluta certeza disso — ele respondeu em seguida.

— E a relíquia? — todos o encararam com seriedade — Sabe onde ela está? 

— Sim — ele respondeu de maneira direta, sem pretensão de entrar em detalhes.

— Que maravilha! — Kuwabara exclamou de repente — Isso significa que temos vantagem sobre eles, não é? Eles precisam da relíquia e nós a temos. Jamais irão recuperar o poder que possuíam! 

— É verdade! — Botan sorriu em êxtase — Eu não tinha pensado nisso! Então não temos com o que nos preocupar, não é? 

— Em teoria sim, Botan. Mas por via das dúvidas, precisarei guardar a relíquia em segurança no Reikai. Se cair nas mãos erradas, estaremos encrencados — o líder espiritual voltou a olhar para o kitsune — Consegue trazê-la até mim, Kurama? 

Kurama hesitou mais uma vez, mesmo sabendo que Koenma estava certo sobre manter o objeto em segurança. 

— Consigo. A buscarei o quanto antes — por fim, ele respondeu escondendo o seu descontentamento.  

— O que é essa relíquia, afinal? — Kuwabara o questionou.

— Uma espécie de bracelete.

— E como conseguiu roubá-la, Kurama? — Botan perguntou em seguida.

Novamente lembranças indesejáveis invadiram a mente do kitsune. Desconfortável, ele respondeu de maneira esquiva, tentando fugir do assunto.

— Isso não tem importância. Eu era um ladrão nessa época. Estava habituado a roubar tudo que tivesse valor.

Por alguns instantes Yusuke desconfiou da resposta do amigo, estranhando a ausência de detalhes, principalmente considerando o fato de kitsunes serem inimigos dos kamaitachi. Ainda assim, o detetive espiritual deixou o assunto de lado. 

Durante algum tempo, todos ali presentes se concentraram em criar estratégias que pudessem ajudar na captura dos youkai doninha. Kurama as ouvia atentamente, embora não estivesse participando ativamente da conversa. Preocupado com o rumo que aquela situação tomava, ele se mantinha calado durante a maior parte do tempo. Assim, ao terminarem de elaborar o plano, todos se despediram, prontos para retornarem às suas casas e afazeres pessoais. 

— Kurama posso te perguntar mais uma coisa? — de repente, Koenma indagou pensativo.

Confuso, já fora do templo, o kitsune assentiu.

— Apesar de não conhecermos a identidade do inimigo, eles conhecem a sua, não é? Eles sabem quem roubou a relíquia.

— Sim... — Kurama respondeu ao compreender a linha de raciocínio do líder espiritual. 

— Existe alguma chance de terem vindo pra cá não somente em busca da relíquia, mas também em busca de vingança?

Kurama suspirou. Era justamente aquilo que o estava deixando perturbado. Ele conhecia a índole dos kamaitachi o suficiente para saber que estavam em busca de vingança. O kitsune temia as consequências dessa revanche, não por ele, mas sim por todas as pessoas que amava. Suas ações do passado colocavam novamente sua família e amigos em risco. Até quando seria assim? Sentindo-se responsável por tudo que estava acontecendo, Kurama sabia que precisava resolver aquele caso o mais rápido possível, antes que mais gente inocente acabasse ferida. Ele precisava dar fim aos kamaitachi de uma vez por todas. 

— Sim — ele respondeu por fim, sem esconder a angústia no olhar.


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Notas finais do capítulo

Nessa fic apresentamos pra vocês o Kamaitachi, um monstro do folclore japonês em forma de doninha (frequentemente desenhado com foices nos braços) que corta as pessoas com um golpe de ar frio. Nesse contexto, é interessante ressaltar que, no passado, doninhas não eram animais muito bem vistos no Japão, e o grito de uma doninha era considerado um precursor do infortúnio. Então basicamente adaptamos essa ideia pra nossa história. Existem algumas variações nessa lenda, mas pegamos o essencial e aqui vocês verão o resultado hehe.

Esperamos que tenham gostado!



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