É hoje que eles saberão que nós voltamos.

Do topo do edifício mais alto da cidade, observo as intensas luzes que ofuscam por completo o brilho dos astros no céu. Os sons perturbadores dos automóveis nas ruas dão fim ao silêncio trazido pela noite. Ainda assim, tudo está muito calmo, se comparado ao passado.

Os humanos mudaram muito desde a última vez que os encontramos. A barreira dimensional criada para separar o Makai do Ningenkai foi a salvação dessa espécie medíocre, pois somente as raças mais fracas de youkais conseguiam atravessá-la. Viver no mundo dos demônios foi, durante muito tempo, entediante. No entanto, os dias de glória do Ningenkai chegaram ao fim. A barreira foi desfeita, mas a nossa sede de sangue permaneceu a mesma.

Fecho os olhos e fantasio a cidade em chamas. O caos se espalhando por cada esquina é refletido na expressão de terror no rosto de cada alma viva que reside ali. Aos poucos a humanidade vai sendo extinta e nós retomamos o poder que outrora foi nosso.

A ilusão se desfaz assim que volto a abrir os olhos para encarar a realidade. Decepcionado, penso em como sinto falta daqueles tempos em que humanos e youkais viviam em guerra. De quando imploravam por suas vidas cada vez que tinham o infortúnio de deparar-se com um de nós. Mas principalmente, sinto falta da nossa soberania naquele mundo. Como pudemos perder tudo o que tínhamos? Como pudemos deixar que ele nos tirasse tudo? Aquele maldito kitsune.

Respiro fundo, enquanto tento tranquilizar a minha mente. Sei que reverteremos essa situação. Resgataremos a nossa supremacia e saciaremos o nosso desejo de vingança. Preciso ter paciência, mas não aguento mais a espera. Quanto antes agirmos, melhor.

Eu sei exatamente o que devo fazer.

O ar seco e estagnado que me circunda começa a tomar forma, agitando-se ao redor de mim num redemoinho. Dissipo lâminas de vento em rajadas cortantes que se espalham por toda a cidade e sorrio ao imaginar os estragos que virão a seguir. Saio dali satisfeito com o que acabei de fazer, esperando o amanhecer de um novo dia promissor.

É hoje que eles saberão que nós voltamos.