Finitos escrita por Lady Murphy


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Olá, amigos.
Mais um capítulo. Aos que acompanham, perdão pela demora. Eu não tenho uma boa desculpa.
Boa leitura.

P.S Reescrevi algumas falas do diálogo do capítulo 2. Realmente, me desculpem, mas era necessário. Nenhum evento foi mudado. Então, se quiser ir lá conferir...



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Katniss colocou a última caixa sobre a pilha já formada perto da porta, tirando os fios soltos de cabelo que pendiam em seu rosto. Parada no meio do apartamento vazio que pela primeira vez não parecia uma caixa de sapatos, ela se deixou respirar fundo algumas vezes. Foram várias semanas tomando turnos extras no bar e dormindo em seu carro para poder ter dinheiro bastante para pagar a entrada de seu aluguel. O proprietário era um velho ranzinza, viciado em charutos, que superestimava o valor dos seus apartamentos cheirando a mofo e gente velha, exigindo o pagamento de dois meses de aluguel antes que Katniss pudesse ocupar o local. Ela pode ter dito palavras que não valem a pena repetir, mas ele não pareceu se importar com isso.

Uma mochila velha, um carro barulhento e dinheiro apenas para um café da manhã em uma lanchonete de beira de estrada, eram tudo o que Katniss tinha quando chegou à cidade anos antes. Ela não sabia para onde iria quando saiu da casa de sua mãe, só sabia que tinha que ir.  O distrito doze não era o que ela podia chamar de lugar ideal para se estabelecer. Uma cidade pequena onde todo rosto é um rosto conhecido e em que os filhos se formavam na escola somente para assumirem os negócios de seus pais. Seria um pesadelo para alguém como Katniss que desejava passar despercebida. Porém, a gasolina já estava na reserva a 40 km. Ela não conseguiria ir mais longe.

Katniss não havia trazido nada de valor com ela. Seu celular fora jogado pela janela do carro nas primeiras horas de estrada e o relógio no pulso não passava de uma réplica barata. Ela precisava conseguir algum dinheiro se quisesse chegar à próxima cidade ou ao menos fazer uma refeição decente. Barras de cereal por três dias não faziam muito por seu estômago faminto.

Moradores de cidades pequenas deveriam ser amistosos e acolhedores. Pelo menos essa era a imagem que todos aqueles filmes vendiam. Katniss observou uma realidade bem diferente. Quatro comerciantes a quem ela havia oferecido sua mão de obra barata e temporária, a haviam rejeitado com mais grosseria do que o necessário. E um quinto pode ou não a ter chamado de vadia. Ela se perguntou se parecia com uma. Mas qual é exatamente o perfil de uma vadia? Ser mulher, com certeza, cumpria 90% dos requisitos.

Ela vagou pelo distrito até que seus pés não suportassem mais dar um passo adiante. Então, ela retornou para a rua na qual havia estacionado seu carro. Seu corpo estava exausto e a repentina chegada da neve tornava a caminhada de volta mais difícil. A porta se fechou em um baque surdo quando Katniss sentou no banco do motorista. Ela só precisava ignorar o ronco de sua barriga e fechar os olhos por alguns minutos.

Sua pequena bolha de tranquilidade foi perfurada por dedos impacientes no vidro do carro. Katniss esfregou o rosto marcado pelo estofado do banco, forçando suas pálpebras abertas. Na janela ao seu lado, uma garota de cabelo espetado falava freneticamente, as palavras sendo abafadas pelo carro e o estado ainda sonolento de Katniss.

— O quê? – Katniss perguntou ao descer o vidro lateral. Tardiamente, lhe ocorreu que seria muito imprudente abrir a sua janela no meio da noite para uma completa desconhecida. Mas esse barco já havia partido.

— Eu disse que você tem que tirar a droga do seu carro da calçada. Está afugentando todos os meus clientes. – Disse a garota se afastando do carro e esfregando as mãos juntas. Katniss a observou por um momento ainda mal desperta e vagamente confusa. Ela não havia prestado muita atenção quando estacionou mais cedo, mas não lhe pareceu que aquele era um ponto de prostituição. Certo, a rua estreita e a pouco iluminação poderia ser um indício, mas ela não queria julgar.

— Alô, isso é tipo agora. Onde você conseguiu sua carteira? Em uma lata de lixo? Tem a porra de uma placa de “não estacione” bem ali.

— Hm, certo. É que... eu estou sem gasolina. Então...- Ela não sabia o que realmente esperava que a garota fizesse, mas abrir a porta de seu carro e exigir que ela saísse não era uma opção.

— Você só pode estar brincando comigo. Vamos, desça. Vou te ajudar a empurrar essa coisa. – Katniss estava levemente surpresa, mas ainda assim a obedeceu. Com as mãos apoiadas em cada lado da traseira do carro, as duas empurraram por alguns metros até um poste mais à frente.

— É, muito obrigada pela ajuda...- Disse Katniss dando a oportunidade para que a garota se apresentasse.

— Johanna. – Respondeu, as bochechas vermelhas pelo recente esforço físico e um cigarro pendurado em seus dedos pronto para ser acendido.

— Katniss.

— Bem, Katniss, o que faz aqui fora a essa hora? Além de tornar minha noite um pouco mais difícil, é claro. – O desdenho na voz de Johanna era descarado.

— Oh, eu realmente sinto muito. Eu não queria atrapalhar seu programa, nem nada. É que dirigi na reserva por...

— Espera aí. - Johanna a interrompeu. – O que você disse? Oh, meu deus, você acha que eu sou uma prostituta?

Katniss a encarou como um cervo nos faróis. Ela acabara de confundir uma garota em uma cidade estranha com uma prostituta? Qual é, esse roteiro podia lhe dar uma folga por alguns minutos.

— Não, não... quero dizer, sim. Foi o que você falou quando me mandou tirar o carro da calçada para não afastar seus clientes. Então, eu apenas assumi...

— Que eu era uma puta. - Completou Johanna com uma risadinha.

— Sim. – Seu rosto não poderia estar mais vermelho, e não apenas pela brisa fria que soprava naquela noite.

— Eu imagino que você não assumiu que eu poderia estar me referindo aos clientes do bar bem atrás de nós. – A fumaça do cigarro pairava no ar.

— Oh. – Okay, talvez ela fosse um pouco estúpida por não perceber a placa neon “Mason’s” pendurada no alto da fachada. No entanto, não era totalmente culpa dela. Pela manhã quando Katniss estacionou ainda não estava ligado.

— Sei que não é grande coisa. Mas com uma boa reforma, esse lugar vai parecer menos com um galpão velho e mais com aquelas boates no centro. – Johanna apagou o cigarro sob a sola de suas botas pretas e voltou a atenção para Katniss que mantinha os braços cruzados na tentativa de não deixar escapar o pouco de calor que restava em seu corpo.

Seu primeiro dia naquela cidade havia sido realmente difícil. Katniss sentiu-se derrotada. Seus pés ainda doíam, uma leve dor de cabeça se estendia por sua nuca e a jaqueta que a vestia não fazia muito para evitar o tremor de sua mandíbula. Ela só queria estar em casa debaixo das cobertas quentes da cama. Naquela época, porém, não havia um lugar que ela poderia chamar de lar. Invés disso, Katniss estava sendo analisada por uma garota de olhos afiados e aparência raivosa, não havendo o que dizer.

— Venha. Você parece precisar de uma bebida. – Disse Johanna de repente, girando em seus calcanhares e entrando no bar. Katniss permaneceu onde estava, imóvel.

— Sério?

— Sim, sem cérebro. Anda logo, está congelando aqui fora. – Johanna empurrou as portas do bar e lhe lançou um olhar engraçado quando viu que ela ainda não havia se mexido.

— É, tudo bem. Obrigada. – Katniss a seguiu diligentemente. Certo, ela precisava de gasolina para continuar na estrada e talvez um pouco mais dinheiro para comprar algo para aplacar os ruídos de seu estômago. Mas, por enquanto, uma cerveja grátis bastava.

                                                            

 

O sofá vermelho encostado na parede da sala era o único móvel restante quando Katniss acomodou-se, sentada em seus joelhos. Um cachorro quente nas mãos e o refrigerante comprado na lanchonete a duas ruas de seu prédio seria a refeição mais substancial que ela comia em dias.

Ao levantar para caminhar na semana anterior, Katniss não esperava reconhecer um rosto rosado entre as pessoas que transitavam ao seu redor. Ela mal reagiu ao sentir os braços esguios a puxando para um abraço. Madge Undersee. Elas não se viam a anos.

A conversa não era tão fluída quanto antes. Katniss segurava a respiração em alguns momentos, enquanto Madge mascarava seu desconforto com um sorriso. Elas eram o que chamavam de amigas de infância. Brincando até tarde na calçada e trocando figurinhas de seus álbuns. E foi fácil assim por um tempo. Até que Katniss deixou a cidade e sua amiga sem nenhum aviso. O que Madge faz aqui? Era em tudo que ela podia pensar.

No entanto, saber as razões pelas quais sua velha amiga estava no 12 não importavam tanto quando a conversa chegou ao fim. Retornando para casa em passos arrastados, Katniss repentinamente sentiu-se enjoada. Ela sabia o que devia fazer, apenas lhe faltava coragem para isso. Ela viajou quilômetros na tentativa de deixar tudo aquilo para trás. Ao que parecia, estava na hora de tomar o caminho de volta.

— Você não precisa fazer isso, você sabe, não é? – Foi o que Johanna lhe disse quando chegou um pouco mais tarde para ajudá-la a pôr as coisas no carro. Katniss assentiu e voltou às escadas para buscar as caixas restantes.

— Qual é, Katniss. Porque você ainda se importa com ela? Tudo o que ela fez foi ferrar com a sua vida. Ela não merece que você largue tudo para ir atrás dela. – Johanna resmungou a suas costas. Mesmo que tudo fosse verdade, Katniss sentiu-se irritada por sua insistência em fazê-la mudar de ideia.

— É minha mãe, Johanna. – Sua língua pesou na boca. Ela não se atrevia a dizer essas palavras a bastante tempo. Na verdade, Katniss achou que não precisaria dizê-las nunca mais.

— É e olha o que ela fez. – A marca escura em sua mão esquerda a lembrava constantemente disso.

— Você contou a Peeta que está saindo? -  Johanna perguntou de repente. Não, Katniss não havia dito a ele.

— Porque eu diria a ele? A gente terminou, esqueceu? – Disse ela enquanto fechava o porta-malas do carro.

— Correção: Você terminou com ele. O que eu realmente não entendi. Imaginei que as coisas estavam indo bem entre vocês. Eu posso até ter apostado que ele acabaria te propondo. – Certo, Katniss não havia dito a Johanna que Peeta a propôs ou os motivos pelos quais ela o rejeitou. Ela não queria tentar explicar. Se fosse inteiramente sincera, ela diria que tinha medo de voltar atrás. Mas, era como disse a Peeta naquela noite. Não iria funcionar entre eles.

— Ele vai ficar bem. – Resmungou, se referindo mais a si mesma do que a Peeta.

— Eu sei. Só não achei que fosse algo definitivo. – Katniss encarou seus sapatos. Ela não queria que fosse também. – Também não pensei que essa seria a última vez que eu fosse te ver.

Muita coisa aconteceu desde àquela noite em frente ao bar. A bebida de graça foi o início de algo. E Katniss estava grata por esse algo ter sido uma amizade de longa data com Johanna Mason. Em dois dias, ela conseguiu um trabalho que lhe pagava o suficiente e alguém que não sabia nada sobre ela, mas que estava disposto a ajudá-la. Além disso, Johanna estava certa sobre o que uma reforma poderia fazer por aquele estabelecimento.

E de repente, Katniss se viu no mesmo lugar em que estava anos atrás. As malas no carro, pronta para partir mais uma vez. A única diferença era o aperto desconfortável em seu peito e o enorme desejo de ficar. Por várias vezes, Katniss tentou se convencer de que essa era a escolha certa. Em pé diante de sua amiga, ela sentiu sua convicção vacilar.

— Não é a última, Jo. É apenas a última por um longo tempo. – Katniss a abraçou, sentindo os cabelos espetados contra o seu rosto. – Além disso, você ainda pode me visitar.

— São dias de viagem, Katniss. – Johanna disse, desvencilhando-se de seu aperto, mantendo, porém, as mãos em seus ombros. Os momentos emotivos de Johanna eram tão raros que Katniss gostaria de se deixar ficar ali parada no estacionamento por mais alguns instantes. No entanto, Johanna estava certa. Eram dias de viagem e ela precisava ir.

— De carro. Mas, ainda há os aviões. Você pode fechar seu bar por algumas horas e dar um pulinho para conhecer o maravilhoso Distrito 2. – Falou Katniss com um meio sorriso.

— Não sei, não. Você não fez uma fama muito boa sobre ele. – Johanna retrucou em um riso. Com certeza, Katniss fez pouquíssimo pelo turismo de seu distrito natal.

— É. Acho que não.

Subindo no banco do motorista, ela devolveu o aceno de Johanna e ofereceu um “tchau’’ esmagado contra o nó que se formava em sua garganta. Quando havia chegado aquela cidade, Katniss pensou que nunca poderia se estabelecer ali. Era irônico o quanto ela queria não ter que partir.


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Notas finais do capítulo

Grata por sua leitura.
Se houver algum erro ortográfico ou de coesão, me desculpem. Eles passam reto na revisão.
Se quiser deixar aqui sua contribuição, dizendo o que achou do capítulo, fique à vontade.
Uma opinião externa é bem-vinda.



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