A manhã parecia monótona quando Peeta abriu as janelas de seu quarto, deixando que a luz entrasse no cômodo pouco mobiliado. Limpando os olhos, ele caminhou até o banheiro, parando apenas para ver a hora no despertador sobre a estante. Ele piscou para que sua visão se ajustasse a recente luminosidade.

[09:27 am]

Droga. Ele deveria estar na padaria a três horas atrás. Apressado, seguiu para o box do banheiro, jogando suas roupas em um monte no chão seco ao lado da pia. Se sua mãe estivesse visitando com certeza o arrependeria por ser tão desleixado e seguiria pelo apartamento em busca de algo mais que pudesse estar fora do lugar. Minha vida, provavelmente. Pensou ele quando água fria caiu do chuveiro sendo aquecida lentamente à medida que escorria por seu corpo. O banho foi mais curto do que o costumeiro e em cinco minutos, Peeta já estava abotoando as calças. Equilibrando o celular entre a orelha e o ombro, ele esperou seu irmão, Rye, atender na outra linha. As mensagens recebidas um pouco mais cedo não era o que Peeta poderia chamar de amigáveis. Ele não o julgou. Se Rye o tivesse deixado para fazer toda a preparação dos pães e dos fornos às 6 da manhã, ele também teria enviado textos semelhantes. Quase. Ele teria evitado xingamentos que envolvessem sua mãe.

—  Alô. – Falou quando Rye atendeu. – Sou eu, me desculpe...

— Porra, Peeta. Estou te esperando a anos. Onde você se meteu? - Rye perguntou com a voz elevada sobre os ruídos no fundo.

— Eu sei. Foi mal, cara. Eu acabei...tendo um imprevisto. – Peeta mentiu, sabendo que seu irmão surtaria se soubesse que  ele apenas havia dormido demais. – Já estou chegando.

— Acho bom que esteja mesmo. Isso aqui está praticamente um inferno. Não consigo dar conta sozinho.

— Certo, chego em dez minutos. – Ele tinha certeza que levaria mais do que isso, já que sua casa estava a duas estações da padaria, mas Rye não precisava saber disso. Ele seria xingado pelo resto do dia, mas gostaria de evitar isso por mais alguns minutos. -  Sério, eu vou te compensar quando...

— Cale a boca e venha logo. – Rye interrompeu. – É a única compensação que eu quero de você nesse momento. – Ele bufou terminando a chamada de repente, e Peeta riu da grosseria típica do seu irmão.

Dez minutos. Peeta repetiu para si mesmo enquanto andava pelo quarto em busca das chaves do carro. Ele abriu as gavetas do criado-mudo. Revirou os lençóis espalhados no colchão até lembrar que não havia tirado do bolso de sua calça quando chegou na noite anterior. Jeans azul. As portas do guarda-roupa foram abertas apenas para mostrar uma dúzia de pares iguais. Perfeito.

Metade de suas roupas estava no chão quando Peeta finalmente encontrou o jeans certo. Agora sim, ele estava pronto para sair. Dez minutos, hein. Não importa. Ele lembrava vagamente de seu professor de física falar algo sobre a relatividade do tempo em uma das aulas.

Peeta contornou a montanha de tecidos que ocupava o chão para pegar o celular sobre a cama desfeita, pisando em algo que pareceu se quebrar sob a sola das botas. Por reflexo, ele se afastou vendo a caixinha amassada por seus pés. Peeta a pegou nas mãos, abrindo para encontrar o anel ainda inteiro dentro dela. Quase dois meses depois e ele ainda guardava a prova de seu pedido fracassado.

Na manhã seguinte ao episódio do lago, Peeta havia decidido voltar na joalheria e tentar um reembolso. Ele adiou por uma semana sua ida. O que se tornaram três, quatro, cinco. Até que ficou claro que ele não conseguiria devolver. Não havia como negar que parte dele ainda nutria a esperança de que Katniss mudasse de ideia. Que estúpido. Eles não haviam se falado desde aquela noite. Como ele poderia pensar que de repente ela apareceria em sua porta com um rosto de arrependimento e o mesmo desejo que ele de se casar?

Vamos lá, cara. Você vai superá-la logo, logo. Apenas me deixa te levar até aquele clube e uma dança no colo te deixará pronto para outra. Rye disse quando ele apareceu para jantar com os  pais alguns dias depois. A vontade de socar o rosto do irmão fervia em suas veias, mas foi rapidamente substituída por compreensão ao observar o sorriso triste que estampava. Aquele era o jeito de Rye mostrar que estava lá por ele. Uma maneira não convencional de demonstrar isso, mas a mais sincera possível.

Talvez, ele devesse ter aceitado a oferta. Ser um perseguidor virtual não era a cena de Peeta, mas era exatamente nisso que havia se tornado no último mês. Três visitas diárias ao perfil de Katniss no Instagram. Um vício que ele desenvolveu. Seria mais fácil deixar para trás se ela o tivesse apenas o bloqueado de uma vez. Uma porta entreaberta, não é melhor do que uma fechada. Na verdade, é bem mais cruel.

Para sua sorte ou azar, Katniss não era alguém de postagens frequentes. Ela não havia publicado absolutamente nada. Isso era bom, não era? Talvez, ela estivesse tão mal quanto ele naquele instante e não quisesse se expôs nas redes sociais. Ugh. Quando ele se transformou no tipo de pessoa que deseja o mal-estar do outro para satisfazer seu ego? Você é melhor que isso, Peeta.

Ele retirou o anel da caixa quebrada e segurou pressionado entre os dedos. A pedra no topo era um pouco mais brilhante quando Peeta viu na loja. Isso, no entanto, não importava mais. Naquele instante, ele tinha um anel de noivado sem uma noiva para usá-lo e estava vinte minutos mais atrasado para o trabalho.

Peeta atravessou o cômodo até chegar à porta, pondo o anel em sua carteira com uma decisão. Pelo menos por um dia, ele faria o possível para não pensar em Katniss Everdeen. Se sua falta de comunicação indicava que ela o havia superado, Peeta esperava que o mesmo acontecesse com ele em breve.