Bilhetes de Janeiro escrita por Lara


Capítulo 3
Dois




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O meu dia estava indo de mal a pior e ouvir as gargalhadas altas de Mandy ecoando pela sala, enquanto meus amigos me encaravam com julgamento tornava tudo ainda pior.

— Você é um idiota! Como pôde acreditar que ela tinha se queimado, se ela pediu para você ir à casa dela? 

— O que ela está fazendo aqui mesmo? 

— Eu sou a namorada do Peter. Você está na casa dele e ele me falou que você tinha sido feito de trouxa pela milésima vez. Eu não perderia a chance de te zoar — retruca Mandy. 

A ruiva me encara com petulância e coloca os pés sobre as pernas do namorado, que apenas dá de ombros, quando eu o encaro com repreensão.

— Não me olhe assim. Eu não consigo esconder nada dela. 

 Peter levanta os braços em sinal de redenção. 

Suspiro. 

Eu tinha ido à casa de Becky após ela me ligar dizendo que estava gravemente ferida e que precisava de minha ajuda em sua casa. 

 Preocupado demais para pensar sobre a forma como ela havia feito o convite, eu pedalei até a casa da garota, com apenas uma blusa de frio simples e coturnos como proteção contra o frio abaixo de zero que se fazia na cidade naquele momento. 

 Ao contrário do que eu esperava encontrar assim que chegasse em sua casa, Becky estava perfeitamente bem, vestindo uma lingerie vermelha, assim como o batom em sua boca que estampava um sorriso malicioso. 

A situação se tornou ainda mais revoltante quando naquele momento, descobri que tudo não passou de uma armação ridícula para me fazer desejar uma reconciliação. 

Para não cometer um crime hediondo, deixei a garota sem olhar para trás e fui direto para a casa de Peter. 

Eu estava com frio, com fome e minha mente parecia que ia explodir a qualquer momento. 

— Mas a Mandy tem razão. Se ela estava tão ruim pelas queimaduras, ela não deveria estar no hospital? — aponta Chase. 

— Eu sei. Eu apenas.... não pensei nisso. Quando eu ouvi que ela estava na festa de ontem e que tinha se machucado, eu apenas agi por impulso e fui — resmungo, chateado.

— Pensei que você e Becky tivessem terminado — comenta Zach, encarando-me confuso. — O que foi que aconteceu? Vocês voltaram? 

— Não! É claro que não! — nego. 

 Bagunço meu cabelo, sentindo-me irritado. 

— Então você não está com ela, mas correu igual um cachorrinho quando ela te ligou dizendo que estava ferida, mesmo ela parecendo estar muito bem pelo telefone? 

O questionamento cheio de julgamento vindo de Peter me faz perceber que a situação era ainda mais ridícula do que eu pensava. 

— Cara, você gosta dela ou não? — questiona Chase. — Vocês estão nesse relacionamento ioiô já tem tanto tempo que ninguém mais consegue acompanhar vocês. 

— Eu não sei — confesso, cansado. 

 Jogo minha cabeça para trás e descanso meu corpo sobre o sofá confortável da casa de Peter. 

 — Eu só não estou com cabeça para nada. Nesse momento, eu só queria desaparecer. 

— As coisas na sua casa ainda estão ruins? — pergunta Zach. 

— Ruim é eufemismo — respondo. — Alguns repórteres conseguiram invadir minha casa e acabei tendo que me mudar as pressas para a antiga casa da minha avó, que fica no outro lado da cidade. 

— Invadiram a sua casa? — questiona Mandy, indignada. — O quão longe esses idiotas vão para conseguir uma migalha qualquer de informação? Eu queria esganar esses sanguessugas! 

— E como você está, cara? — pergunta Chase.

— Eu não sei. Ceci voltou para a cidade e ficará comigo e com Liz até que o tio Zeki venha para Martinsville para assumir a nossa guarda provisória. 

Crispo os lábios, incomodado ao pensar sobre a situação de minha casa. Relembro dos acontecimentos da noite passada e me sinto ainda mais irritado. 

— E para completar toda a desgraça, o time de natação estava na festa que teve o incêndio. Lance, Scott e Josh acabaram se machucando, então ficarão três semanas sem poder entrar na piscina por causa das queimaduras. 

— O quê? — questiona Chase, chateado. — Que droga, cara. Vocês vão ficar bem? As competições classificadoras do campeonato regional estão se aproximando. 

— Eu não sei. Teremos menos tempo para treinar com a equipe completa, então as chances de sermos classificados caem consideravelmente. 

— E como está a convivência com Ceci? — questiona Zach, sorrindo compadecido. 

 Com Ethan sendo irmão de Zach e marido de Ceci, nós somos praticamente da mesma família, por isso, de todos na sala, ele era o que mais sabia sobre as minhas brigas com minha irmã. 

— Não poderia estar pior — respondo, dando de ombros. — As invasões dos repórteres traumatizaram a Liz. 

— Eu sinto muito por isso — lamenta Zach. 

— Obrigado. Nós estamos tentando levá-la ao psicólogo, mas todas as vezes que tentamos colocar os pés para fora de casa, vários paparazzi surgem para nos atrapalhar e Liz entra em pânico. 

— Caramba! A sua vida é uma merda. Não acredito que estou dizendo isso, mas eu realmente lamento pelas coisas que estão acontecendo — comenta Mandy.

— Acredite. Eu nunca quis tanto sumir. Eu também estou cansado da minha vida — resmungo, encarando o teto da sala. 

Eu me sentia esgotado. 

Permanecemos em silêncio por um tempo, até que sinto meu celular vibrando, avisando que tenho uma nova mensagem. 

 Pego o aparelho em meu bolso e vejo que era apenas algum vídeo idiota que um dos rapazes do time de natação enviou no grupo da equipe. No entanto, antes de ignorar o celular, vejo que Ceci havia mandado uma mensagem mais cedo e me surpreendo ao ler que ela havia deixado Liz com uma nova babá em casa. 

— Algum problema, Matt? — pergunta Zach, comendo um pouco de salgadinho que estava ao lado de Chase. 

— Ceci deixou Liz com uma babá em casa — respondo, ainda encarando meu celular. 

Sinto a preocupação e a culpa tomarem conta de mim. 

— Eu preciso ir para casa agora. 

— Ei, calma aí, cara. Ela deve estar bem — afirma Chase de forma despreocupada. 

— Mas... 

— Cara, sua irmã não deixaria Liz com uma desconhecida. Ceci é mais desconfiada do que a louca da minha tia Gertrudes. E olha que ela já foi até internada em um hospício de tão neurótica que ela é. 

— Chase tem razão. A Ceci é super-responsável e jamais deixaria que alguém que não fosse de confiança entrasse em sua casa para cuidar de Liz — concorda Zach. 

— Eu sei, mas de qualquer forma, é melhor eu ir para casa. Nós temos uma vizinha bastante intrometida, que ficou nos bisbilhotando pela janela do meu quarto ontem à noite. 

Estremeço de frustração ao relembrar do fiasco que havia sido a minha virada de ano. 

— Inclusive, eu meio que atropelei ela hoje de manhã. Ela estava espiando a minha casa. Eu tenho certeza. 

— Espera um pouco. Você disse que atropelou a sua vizinha? Como você conseguiu a proeza de atropelar uma senhora? — indaga Peter, surpreso. 

— Primeiro que eu disse que "meio" que atropelei. Ela ainda ficou melhor do que eu, porque caiu em cima de mim. E segundo que ela não é uma senhora. Aquela garota parece ter a nossa idade. 

As lembranças dos olhos intensos da vizinha presos aos meus retornam a minha mente, assim como as dores nas minhas costas e cotovelos que se lesionaram com a queda. 

— Depois que eu recebi a ligação da Becky e corri para pegar a bicicleta, eu acabei não vendo que ela estava quase em frente à minha casa. Para não atropelar ela, eu joguei a bicicleta para a lateral, mas ainda a atingiu um pouco. No fim, ela caiu em cima de mim 

— Uma das suas loucas admiradoras que te persegue e acredita fielmente que você é um príncipe encantado em um cavalo branco? — pergunta Mandy, sorrindo irônica. 

— Eu não a conheço. Disso eu tenho certeza. Mas ela me parece familiar — comento, pensativo. — De qualquer forma, vejo vocês depois. Menos você, Mandy. Eu espero ter férias de você. Já basta ter que te aguentar em todas as aulas e no clube. 

— Não se preocupe, príncipe. Eu irei te animar durante essas férias — ironiza Mandy, sorrindo diabolicamente. — Eu quero muito conhecer essa vizinha que conseguiu te tirar do sério em menos de vinte e quatro horas. 

— Ela está preocupada com vocês, por isso, prefere te visitar e julgar por ela mesma o caráter dessa vizinha — esclarece Peter. 

 Mandy dá um soco no namorado. 

 — Ei! Você sabe que eu estou falando a verdade. 

— Calado, se não quiser ficar sem o júnior — ameaça Mandy, fazendo com que Peter se encolhesse no sofá com medo da namorada. 

— Tchau, Matt — despede-se Zach, fazendo nosso toque especial. — Qualquer coisa nos ligue. Sabe que a gente está aqui para o que precisar. 

— Valeu, Zach — agradeço, sorrindo cansado. 

— Até mais, cara — despede-se Chase. 

Aceno para Peter e, só para não perder o costume, levanto o dedo do meio para Mandy, que joga uma almofada na minha direção. 

Sem esperar muito, saio da casa de Peter e pedalo o mais rápido que eu consigo até a minha mais nova residência, o que não demorou mais do que vinte minutos. 

Para a minha sorte, eu não havia esbarrado em nenhum repórter e ninguém por quem passei parecia ter me reconhecido. 

Guardo minha bicicleta e encaro a casa da garota enxerida. As luzes estavam todas apagadas, levando-me a crer que ela saiu ou estava dormindo, aproveitando aquela gélida manhã de inverno. 

 Suspiro aliviado e entro em minha casa, atento a qualquer choro ou sinal de que minha irmã estava sofrendo maltratados da nova babá. 

Para a minha surpresa, tudo que ouço são uma música infantil e as risadas de Liz junto uma voz feminina. 

Ando lentamente até a sala de estar e me surpreendo ainda mais ao reconhecer a pessoa que dançava alegremente com a minha irmã em frente a televisão. 

 Ela ria e uma vez ou outra levantava Liz pelos braços, fazendo a garota de quatro anos gargalhar, animada com a bagunça. 

— Isso só pode ser brincadeira — sussurro incrédulo. 

Aproximo-me das duas garotas a passos duros. 

— Matt! — grita Liz, energética. 

 Ela se solta da vizinha e corre em minha direção. 

Pego minha irmã no colo e a abraço de maneira protetora, enquanto encaro ferozmente a garota enxerida. 

— O que está fazendo aqui? — resmungo, controlando-me para não assustar minha irmã mais nova. 

— Sua irmã me contratou para cuidar de Liz. 

— Vai embora — exijo, apontando para a porta de entrada. 

— Não. Eu não vou embora. Não enquanto sua irmã não chegar. Ela pediu que eu a esperasse e é isso que eu vou fazer — rebate a garota, cruzando os braços. 

— Vi! 

Liz chama a garota e estica os braços, mostrando que queria que ela a pegasse no colo. Encaro minha irmã, completamente confuso 

— Vi? 

— É o meu nome — responde a garota. 

Aproveitando-se de minha distração, ela pega Liz no colo, que a abraça com um grande sorriso nos lábios. 

— Está na hora do seu almoço, Solzinho. 

Durante um movimento da vizinha, enquanto ajeitava Liz em seu colo, noto que ela parecia ter uma espécie de tatuagem em seu pulso. 

Puxo-a, mas sua reação de se afastar é tão brusca que eu acabo me assustando. 

— Isso é uma tatuagem? — questiono e por sua reação, vejo que estou certo em minha suposição. — Por acaso você tem idade para ter uma tatuagem? 

— Isso não é da sua conta — retruca Vi. 

— Pode ser verdade, mas é da minha conta o fato de você estar nessa casa. Devolva minha irmã e vai embora! 

Vi bufa e me encara frustrada, antes de virar as costas e sair com minha irmã em direção a cozinha. 

 Encaro a petulância da garota sem acreditar que ela era tão cara de pau de permanecer em minha casa, mesmo eu sendo claro com o meu desejo de que ela fosse embora. 

Retiro a blusa de frio que usava e após deixar no canto da sala, corro para a cozinha, pronto para tirar a garota enxerida de minha casa mesmo que precisasse a colocar em meus ombros e a levar para a casa dela como um homem das cavernas. 

— Bem, Liz, você deve ficar quietinha aqui, enquanto eu preparo o seu almoço. Prometo que não vou demorar. 

Vi coloca minha irmã em um banquinho ao lado de alguns brinquedos da garota que estavam ao seu redor. Liz ameaça chorar, pedindo colo. 

A garota nega e acaricia o topo da cabeça de minha irmã de forma amável. 

— Solzinho, você deve se comportar ou eu ficarei triste e vou chorar muito. Você quer que a Vi fique triste e chore? 

— Não — responde minha irmã, fazendo bico. — Não fica triste, Vi. 

— Então fique aqui quietinha, enquanto eu faço o almoço. Você entendeu? — questiona a garota tendo a atenção de minha irmã para si. 

— Sim. 

Liz pega um ursinho que estava ao seu lado e se senta, passando a abraçar a pelúcia. 

— Muito bem, Solzinho. Você é uma boa menina — elogia Vi, abrindo a geladeira que estava ao lado de minha irmã. 

— Além de ficar espiando a casa dos outros, agora você vai comer a nossa comida? Por acaso você não tem senso? — pergunto, cruzando os braços. 

— Eu vou preparar o almoço da Liz, assim como sua irmã havia mandado. Ela disse que eu podia mexer no que eu quisesse e precisasse — responde a garota, colocando os ingredientes que pegou na geladeira sobre a pia da cozinha. 

Bufo, irritado. 

— Então por que não vai tomar um banho e me deixa fazer o meu trabalho? Já se olhou no espelho? Você está horrível! 

— Seu trabalho? — repito, rindo incrédulo. — Você realmente acredita que eu vou deixar uma estranha que nem se apresentou e tem uma tatuagem bastante suspeita sozinha com a minha irmã mais nova? Só nos seus melhores sonhos. 

— Que garoto irritante! 

Vi bufa. 

Ela larga a faca e os legumes que cortava e me encara irritada. Cruzo meus braços e permaneço firme, na esperança de que ela finalmente tivesse se tocado que não era bem-vinda e fosse embora. 

— Ao invés de ficar aqui me atrapalhando, por que não faz alguma coisa como pegar as panelas para preparar a nossa comida? 

Vi força um sorriso e aponta para o armário mais alto da cozinha, onde estão as panelas. 

Inconformado, abro a porta do armário para pegar a primeira panela que vejo. 

— Essa não. Isso é uma frigideira. Eu preciso de uma panela grande. Essa não. Pega a que está ao lado dela. 

— Garota irritante! 

Sem paciência, entrego a panela que ela havia pedido. 

— Ótimo. Agora eu preciso que você descasque e corte os legumes. Eu vou cuidando da carne e do molho — orienta a garota. 

Ela me entrega uma faca, os legumes e uma tábua. 

— E separe os ingredientes nas vasilhas. 

— Você por acaso acha que eu sou seu empregado? — pergunto. 

Diante do sorriso convencido da garota, bufo e acabo pegando os ingredientes que ela estendia, assim como um idiota. 

— Não. Eu acho que você é um irmão mais velho muito preocupado com a sua irmãzinha e não quer que ela fique chorando de fome. Não agora que ela parece tão feliz. 

— Você é realmente irritante — sussurro. 

Ignorando a risada divertida da garota, começo a descascar as batatas, tomando cuidado para não acabar me cortando, por causa da minha falta de habilidades na cozinha. Enquanto isso, Vi volta a mexer na geladeira e os armários vazios da cozinha, em busca de mais ingredientes para preparar o almoço. 

O pouco que tínhamos foi o que deu para comprar de última hora, após Ceci, Liz e eu fugirmos de casa. Com cada um concentrado em sua tarefa, passamos a cozinhar com apenas os sons infantis das brincadeiras de Liz e dos movimentos dos utensílios de cozinha quebrando o silêncio do lugar. 

Assim que termino de cortar os legumes e separar em algumas vasilhas, encaro Vi e me questiono quem de fato é essa garota. 

— Você terminou de cortar os legumes? 

— Sim. 

— Ótimo. Agora vai brincar com a Liz, enquanto eu termino o almoço. Ela já está começando a ficar entediada — manda Vi, enquanto mexe a panela com a carne. 

— Você é muito sem noção e extremamente mandona — resmungo, pegando minha irmã no colo. 

— Como você reclama! — ironiza. — Parece um velho de noventa anos. Como você consegue ser o príncipe da escola mesmo? 

— O quê? — sussurro, surpreso. 

Como ela sabe que eu sou conhecido como o "Príncipe da Escola"? Esse conhecimento não deveria ser apenas coincidência. Não é possível que uma desconhecida soubesse de algo assim. 

— Queria ver como as garotas da John Wooden reagiriam se te vissem desse jeito — comenta a garota, rindo. 

— Como você sabe onde eu estudo? — questiono seriamente. 

— Eu estudo na mesma escola que você, seu tonto. De que outra forma eu poderia saber disso? — pergunta Vi, apagando o fogo da panela antes de me encarar. 

Aquela era a pior notícia de todas. Era a cereja do bolo que faltava para deixar a minha vida ainda mais caótica. 

Eu tinha evitado compartilhar os acontecimentos de minha vida com qualquer pessoa que não fosse Zach, Chase, Peter e Mandy, porque, com o inferno que a mídia está fazendo em minha vida, qualquer mísera informação era o bastante para se tornar uma bomba. 

Eu não conheço essa garota. 

Não sei seu verdadeiro nome, nem em que série está e tampouco quem são seus amigos, mas agora ela tem passe livre para entrar em minha casa e ter contato com minhas irmãs. E se ela contar para alguém onde eu vivo? E se ela resolver me chantagear usando a minha família? 

Não seria a primeira vez que isso aconteceria comigo. 

— Matt? 

Ouço a voz delicada de Vi me chamar. 

Ela me observava confusa, tentando entender o motivo de meu silêncio e surpresa. 

 Coloco Liz no chão e me aproximo de Vi, porque não queria gritar na frente de minha irmã mais nova. 

Eu definitivamente não vou arriscar a paz de minha família, agora que finalmente estamos longe dos repórteres e de suas câmeras, que constantemente invadiam nossa privacidade e distorciam qualquer informação apenas para faturar. 

— Você definitivamente vai embora dessa casa e nunca mais vai voltar — aviso, ameaçador. — Vai fingir que nunca nos conheceu e vai desaparecer de nossas vidas. Se você contar qualquer coisa sobre o que acontece nessa casa, eu farei questão de mover céus e terras para destruir sua vida. Você entendeu? 

Eu não deixarei mais ninguém machucar Liz e Ceci, que mesmo com nossas diferenças, continua sendo minha irmã. 

 — Vai embora agora! 

Vi suspira e se afasta de mim. 

 Quando acho que ela finalmente vai embora, a garota respira fundo e se vira para mim com um olhar de pena. 

Como eu odeio essa reação! 

Um emaranhado de emoções se alastra dentro de mim e faz a minha fúria se tornar ainda maior. Por que ela não vai embora? Por que eu nunca posso ter paz em minha vida? 

— Escuta, Matt. Eu entendo que não confie em mim. Você não se lembra de mim e sua vida está incrivelmente complicada no momento. Eu sei disso, mas não precisa agir como se todo mundo fosse seu inimigo. Vi me encara como se eu fosse uma criança de três anos. 

— Vai embora! — repito, mais alto e ainda mais irritado. 

— Matt... 

— Eu não preciso da sua pena! Você não me conhece. Não sabe nada sobre a minha vida! Eu não preciso de mais uma pessoa para me incomodar e nem para transformar minha vida em um inferno ainda pior. Então, sai! 

— Eu não vou embora! — grita Vi. 

 Ela se aproxima de mim e era quase como se eu sentisse uma aura assassina a sondando. A garota de cabelos curtos coloca o dedo em meu peito e me encara com raiva. 

— Sua irmã é quem está me pagando e é a responsável por essa casa. Então deixe de ser um garotinho mimado e aceite a situação. A única pessoa que pode me fazer ir embora é a Ceci. Enquanto isso, sinto muito, mas você vai ter que me aturar. Quer você queira ou não. 

— Não pode brigar! 

Liz nos repreende. Ela se aproxima de nós e nos encara como uma mãe brava com seus filhos. 

— Isso é feio! 

— Isso mesmo, Solzinho. Não pode brigar — concorda Vi, encarando firmemente. — É feio. 

Desvio o olhar e encaro minha irmã, que até mesmo havia cruzado os braços para mostrar que estava mesmo nos dando uma bronca. 

 Eu teria rido, se não tivesse tão frustrado com toda essa situação. 

Pelo visto, Vi não iria embora e meu dia já havia sido estressante demais. Por isso, sem me preocupar em dar qualquer explicação, saio da cozinha e vou para meu quarto. 

Eu realmente precisava esfriar minha cabeça.

 


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