Cidade Perdida escrita por Gabi chan02


Capítulo 3
Humanos sendo... humanos


Notas iniciais do capítulo

SÓ É AMANHÃ DEPOIS QUE EU DORMIR

Era pra eu ter postado hoje, mas só lembrei à noite, rs
Na verdade, eu lembro: prometi postar poucos dias depois dos dois primeiros capítulos... mas eu esqueci.
Pois é, eu me perco nessa época do ano. Muito. Inclusive, tenho certeza que já falei isso outras vezes ehee
Pra eu demorar pra postar, tem 3 motivos:
1 - O capítulo não está pronto
2 - Alguma coisa deu muito ruim
3 - Eu esqueci

Eu escrevi bem pouco desde que resolvi publicar, o que também me desanimou :T
Também tinha falado de postar no Wattpad... Só que não gosto muito da plataforma e sempre penso duas vezes antes. Tô curiosa em como seria postar uma long fic lá, bem curiosa, mas parece que meu formato não é pra eles? Sinto que eu teria que mudar pra encaixar, e não quero isso.
Acho tudo muito bagunçado, o texto nem fica formatado. Não gosto que não tem espaço pras notas iniciais/finais, tem pouquíssima interação entre leitores e escritores, não gosto de não ter categorias, só tags, e pra mim isso é o que mais bagunça... Tipo, é uma plataforma enorme e as chances de ser reconhecida lá são maiores, mas por que tão ruim...? É online, tem que ter as vantagens de postar na internet, se não qual é a graça?
Se eu postar, vai ser só pela curiosidade e pela esperança de ter mais leitores, que eu nem vou saber que existem, porque lá a interação é minúscula e isso é o que mais me chateia.
Anyway, só um desabafo dsjmnfvjkdssd
Aceito sugestões ♥

No more enrolação e boa leitura ~



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Cidade Dourada, 1699,

Len POV

A moça do começo da rua sai de sua casa para buscar temperos e ervas numa pequena plantação no quintal dos fundos e aquele menino passa correndo com alguma entrega. A entrega de hoje, um pacotinho para a padaria. Provavelmente algum pagamento ou encomenda, assim como a de ontem para o dono da barraca no final da feira da praça, e assim por diante. Meu pai sai, recolhe o embrulho, tira dele duas brilhantes moedas e paga o menino. Tudo isso, mais a posição do sol, indica aproximadamente onze horas e meia.

É uma cidade estranha. Ninguém nunca faz nada diferente mesmo com todas as esquisitices desse mundo, mesmo sendo uma cidade grande e movimentada. Simplesmente olhar para um relógio é chato demais quando não se tem mais nada para fazer além de recolher histórias. Olhar as pessoas e suas rotinas através da boa janela do meu quarto é bem frustrante e faz pensar no quanto humanos são previsíveis. É fácil saber disso quando se é um deles, se auto decepcionando todos os dias.

Morar numa casa no centro da capital, bem em frente a maior e principal praça tem suas vantagens. E garantia de nunca faltar humanos sendo... humanos.

Duas delicadas batidas na porta e minha mãe, como sempre:

— Len, venha me ajudar com o almoço, por favor?

— Estou indo.

E dessa vez ela parou, com a mão no trinco e seu olhar de mãe preocupada caiu sobre mim.

— Mãe, não perturbe o delicado equilíbrio humano, você pode causar uma diferença enorme aqui – brinquei, tentando sorrir para disfarçar o desconforto. Nunca trazia boas notícias dessa forma e fez seu melhor para entrar no clima.

— São onze e trinta e dois e o seu cérebro está dezessete minutos atrasados para me ajudar, seu irmão já está reclamando. Ah, e me desculpe por perturbar a ordem das coisas. – Sorriu, brincando de volta.

Fui vencido, deixei meu posto e a acompanhei até a cozinha. Quando passei por Oliver no corredor, meu irmão mais novo, lembrei de tentar deixar aquele tapa afetuoso, mas ele desviou e ignorou sem nem reclamar, algo raro. De qualquer jeito, me ocupei em ajudar logo, voltando a divagar.

A padaria dos meus pais, logo no espaço ao lado estava movimentada como sempre e podia ouvir os clientes se agitando pela fornada do almoço. A menina ruiva que sempre perguntava por mim estava rindo e jogando conversa fora com meu pai e a moça ao lado. Deve ser por isso que Oliver saiu, ele não se sai bem com visitas inesperadas.

— Ah, você sabe como são as histórias – ouvi a mulher dizendo –, elas são repassadas até que ninguém mais saiba como começou ou o que é verdade ou não.

— Mas essas magas existem! – a ruiva respondeu. – Nossas cidades não existiriam sem elas.

— Já fazem uns... – meu pai começou, fazendo uma pequena pausa para pensar – 20 e tantos anos desde o incidente com o dragão.

Adamas!

Reis gananciosos são problemáticos, estúpidos ao ponto de irritar um dragão velho e poderoso. Foi exatamente isso que Egarian, o antecessor de Evans, nosso atual rei, fez. O monarca ainda teve a capacidade de correr por quilômetros para fugir... trazendo a desgraça toda para a nossa cidade.

Longos cabelos louros, uma expressão de coragem firme que servia de moldura para brilhantes olhos azuis que beiravam o sobrenatural de tanta fúria. Uma capa preta que parecia viva, ou com detalhes dourados feito por fadas ou mesmo apenas uma capa toda dourada em algumas versões. Além do arco e flecha, hora feito todo de ouro, hora um arco normal apenas com flechas mágicas e às vezes somente uma magia estrondosa.

Essa era nossa famosa maga protetora Lia, Lilian, Lucia... há variações. A única certeza é que aquela foi a primeira e última vez que apareceu em público humano, para deter o dragão, proteger seu povo e sua cidade e punir o rei que quebrou as regras. Não precisou dessa última parte, já que ele foi morto com uma reles patada. No entanto, a única forma que encontrou de apaziguar a fera foi ser levada junto com ele.

Desde então essa história se espalhou e ganhou até o título de lenda em alguns lugares mais distantes. Os curiosos vagam pela floresta que cerca a região em busca de vestígios da moça. Encontraram uma casa de madeira bem-feita e espaçosa, mas cruelmente afetada pelo tempo. Já outros não têm tanta sorte e se perdem, voltam sem memória ou sequer voltam.

— Len? Len! Vá levar o dinheiro trocado ao seu pai! – Minha mãe me acordou. – Cuidado para não cortar os dedos, hoje você está difícil.

Escutei Oliver comentando escondido em algum lugar da casa: 

— É por causa da visita.

Pude ouvir a risada daquela menina ruiva. Ótimo, interação social logo quando ela resolve aparecer. Atravessei a porta da nossa cozinha que dava para o balcão da padaria.

— Ah, Len! – Minha mãe chamou, de longe. – Busque salsinha e sálvia no fundo também.

Entreguei o pacote de troco para meu pai e atravessei o balcão. Estava mais perto ir pela frente.

— Bom dia, Len – a menina disse, sorridente. Se um dia me falou seu nome, eu esqueci.

— Bom dia.

Segui até o pequeno cultivo de temperos, ervas e flores de minha mãe, no quintal cercado dos fundos.

— Acho tão bonitinho o costume das pessoas daqui de terem esses jardinzinhos e plantações – ela começou a puxar assunto. – Tudo fica mais colorido e a comida é bem mais saborosa. Haviam plantações de onde eu vim, mas nada assim. Não somos responsáveis por elas.

— Isso veio da nossa cidade vizinha, as flores principalmente. Já as ervas culinárias começaram aqui inspirado nisso, e se espalhou até lá – respondi, não muito interessado na história dos temperos locais. Ela era de uma família bem mais rica, provavelmente, e nunca precisou saber de onde vinha sua comida.

No fundo, foi puro constrangimento por saber tão pouco sobre a menina que todos juravam que eu conhecia bem, e na verdade não sabia nem o nome e tinha uma estranha dificuldade em lembrar de seu rosto. Nada além da proximidade das nossas casas e o comércio de nossos pais motivava o nosso "contato". Tinha um ar de nobreza, mesmo não sendo uma, acho. Era apenas a filha única de um casal de comerciantes ricos que não eram daqui e pouco se sabe sobre a vida pessoal deles.

Não era a única pessoa da minha idade nas proximidades, mas era a única que não me evitava. Talvez por não ter morado aqui a vida inteira, por ter vindo de tão longe, de Landiryen. Era preciso contornar uma parte do país ao norte pelo mar.

— Não é estranho que eu saiba o seu nome, mas acho que você não sabe o meu? – perguntou sorrindo, percebendo o meu silêncio. – Ou se você sabe, nunca nos apresentamos nós mesmos. Enfim, é Eileen, meu nome.

— Agora não é mais estranho. – Tentei sorrir de volta para disfarçar meu desconforto, enquanto ela observava com curiosidade as plantas do local. Decidi não florear muito a minha "apresentação", apenas segui o tom de brincadeira. – Enfim, o meu é Len. 

Curiosamente, os passos de Eileen eram os que sempre me passavam despercebidos das minhas observações tediosas pela janela, por mais chamativa que fosse sua presença estrangeira, de longos cabelos ondulados e ruivos, vestidos de tecidos ricos e diferentes. Quando caminhou ao meu lado comentando sobre procurar mudas para começar a plantar em sua casa, percebi o quanto andava e falava com uma tranquilidade que não pertencia às pessoas agitadas daqui. Atribuí esse detalhe ao fato de não notar sua presença com frequência, escondida no caos da capital.

A garota se foi em seguida e eu logo voltei aos devaneios enquanto ajudava com o almoço, depois que o caçula finalmente parou de se esconder para ajudar. Pensei no auge dos meus míseros dezoito anos não serem nada como ninguém esperava, a causa da pressão para me aproximar da vizinha cujo nome eu já esqueci outra vez. Quando era mais novo, tinha vontade de simplesmente sair por aí e descobrir o que eu poderia encontrar, me aventurar por tudo o que esse mundo tem de fora das minhas visões e faces do cotidiano… Em algum momento, perdi isso em mim.

Sei que no fundo vou passar o resto da minha vida em dias parecidos com o de hoje. Uma parte de mim consegue apreciar isso e toda a segurança que me traz, a outra morre por dentro quando é confrontada por querer fugir.

Rin POV

É terrível sentir que tudo já foi feito em poucos (e relativos) anos. Que já leu várias vezes todos os livros. Praticou todos os feitiços e magias que poderia praticar. De todas as árvores que escalei para apreciar o céu e das flores que colhi depois de ralar os joelhos com a descida, feito uma criança. Teria dormido até tarde se não fosse o sono perfeitamente em dia e o tédio igualmente presente.

Olhar pela janela, o movimento das folhas, o farfalhar da brisa, parecia ser o ponto máximo do dia até ficar com fome depois de horas pensando sem sair do mesmo lugar. Apesar de tudo, é interessante sentir ao mesmo tempo que é impossível desperdiçar sua vida, não importa o que seja feito ou deixado de lado: uma vantagem da imortalidade.

Na metade da descida pela escada, notei alguma coisa na janela da cozinha, uma cesta e um bilhete de Miku, com certeza, impossível ser de outra criatura. Remexi o conteúdo de sementes, doces e pães. Miku, a maga protetora da cidade vizinha, a Cidade do Verde, tinha a sorte e o segredo de ter uma amiga humana que ajudava com alguns mimos da cidade. O bilhete justificava que não deixou a cesta diretamente comigo porque não queria me acordar... achou que eu estava dormindo ou que não me sentia bem. A Maga Verde era uma ótima amiga, se preocupa demais comigo de vez em quando, mas eu não podia reclamar. Era minha única companhia próxima.  

Preparar o almoço, passo a passo, como um humano normal faria, era o maior indicativo de "nada melhor para fazer" que eu conhecia no momento. Demorei bem mais do que o necessário, era bom para pensar. Já ansiava pelo verão, quando poderia finalmente colher as laranjas frescas da árvore no meu jardim dos fundos, ao invés de usar as secas e as conservas do ano passado.

Também tinha Luka, uma poderosa feiticeira. Morava longe, há 4 horas de caminhada, 2 de algum meio a cavalo, mas não temos nada disso. Assim como Miku, era superprotetora; eu tinha de viver em segredo e era muito nova pra ter de cuidar de tudo sozinha. Não recebi todo o aprendizado necessário da minha família, minha irmã me deixou para uma provável morte, meus pais tiveram uma relação complicada com a magia deles e a minha era rara e tinha alguns riscos... e coisas assim, segundo o que me dizem, já que eu mesma não me lembro de quando vivi essa parte da minha própria vida. Deve ser por isso que não sou a melhor maga protetora que a Cidade Dourada já teve, mal sabem da minha existência.

Ambas são amigas de longa data da família, desde antes de eu nascer. Ou melhor, eram, já que sou a última que restou. Posso ser muito mais nova em comparação aos outros imortais (a idade recomendada para que as magas protetoras recebam a imortalidade é entre os 20 e 30), mas sei muito bem que não sou fraca. 18 anos é o mínimo permitido, somente em situações de emergências. Se fosse aos meus 16, quando Lily me deixou, de alguma forma a Corte ou o Ser Supremo ficariam sabendo sobre mim e eu teria sido condenada ou morta. Precisei passar 2 anos completamente isolada, ainda mais do que antes, até perder esse risco.

Entre as únicas coisas que vez ou outra assolam as mentes imortais do meu mundo, era o avanço independente dos humanos e as regras antigas de nossa sociedade, que lentamente levava alguns de nós a extinção. Somos absolutamente proibidos de nos relacionar com magias diferentes das nossas próprias, para manter nossos poderes sempre organizados e sem misturas caóticas e sem controle, que eventualmente acabaria com a magia única de cada um... Ah, mal sabiam eles. Sempre há formas de encontrar brechas em leis, principalmente as mais antigas.

Uma boa parte dos seres mágicos são mulheres. Duas mulheres juntas, ou dois homens, não têm como criar magias incontroláveis. Para ser "justo", a lei se aplica a todos os casais, mas nessa altura da crise, poucos ainda se importam com isso e rebeliões estão se tornando comuns nas regiões mais movimentadas. Somos diferentes dos humanos, dois iguais conseguem gerar uma vida a partir da matéria mágica de cada um, e apenas uma magia pode ser escolhida para ser gerada: o que tecnicamente tira a motivação da lei. Porém, se algo assim já aconteceu, e acho que deve ter acontecido, ninguém nunca ficou sabendo e tudo permaneceu em segredo.

Na última primavera, a última vez que deixei minha casa para um festival, ouvi a notícia de que alguns intelectuais humanos começavam a estudar a ideia de criar ou armazenar energias similares às dos raios. A ciência deles finalmente voltou a avançar e dessa vez não parece que vai parar tão cedo. Outra novidade, de que logo a água será de acesso fácil em grande parte das casas, por canos e sistemas que não entendi, e que os humanos finalmente começaram a criar o hábito de tomar banhos diários.

Alguns atribuem todos os avanços humanos a nossa influência, nossos esforços e a nossa Rainha, e eu, como uma maga protetora, não discordo dessa teoria por menor que seja a minha interação. É impossível negar a enorme influência que minha mãe e irmã tiveram sobre a vida na capital, e vejo que Miku tem a mesma sobre a cidade dela. Outros dizem que é inevitável que criaturas diferentes sigam rumos diferentes. Devido a nossa limitada capacidade de reprodução, cedo ou tarde os humanos teriam de deixar a vida confortável de ter tudo feito pela nossa magia e começar a andar por conta própria, já que no futuro poucos seres mágicos vão resistir. Pessoalmente, para a minha classe que está em extinção rápida, essa teoria é um pouco ofensiva.

Infelizmente, minha família foi dada como extinta desde o incidente há 25 anos atrás: é o que afirmam os governantes da minha capital (salvo alguns moradores curiosos que importunam de vez em quando, Miku e eu lidamos com eles). Eu não sei o motivo para ser impedida de realizar meus deveres, nem mesmo posso deixar que saibam da minha existência ou do passado que carrego... Mas confesso que essa regra eu nunca dei muita atenção, tive Luka e Miku cobrindo minhas bagunças em algumas situações. Nada nesse mundo me fez aguentar 25 anos sem me relacionar com outros. Ninguém nunca se deu o trabalho de me explicar, então eu nunca me dei o trabalho de obedecer.

Com frequência, sinto uma atração crescente no fundo do meu peito para visitar a cidade que tanto sou responsável, chega a ser físico, como um arrepio. Cuidar dos meus deveres com o rei e a rainha pessoalmente, como deveria ser. Saber suas histórias pelas fontes, pela visão dos moradores como foi quando Lily os salvou.

~ ~ ~

Enfim, final de tarde e terminei o livro. Oficialmente sem nada melhor para fazer e decidi culpar meu próprio humor pelo dia absurdamente parado. Na janela do meu quarto, parei para observar o céu escurecendo entre as árvores. Meu dedo sobre o batente da janela era a única parte do meu corpo que se movia impaciente.

Até tirei um cochilo preguiçoso depois do almoço, desisti de resistir ao tédio. Pensei em visitar Miku ou simplesmente caminhar por aí, notando os mesmos detalhes de sempre da floresta, feliz pela temporada de chuvas para mudar um pouco as coisas. Contudo, não conseguia enganar ninguém, nem eu mesma: minhas pernas sempre me guiavam para o mais perto possível dos muros ao redor da cidade.

Uma sensação familiar, que com certeza é somente fruto do meu desejo de ir, constantemente me atraía até lá… O tal arrepio. Sinto que ficou mais forte nos últimos anos, mas como minha impaciência também cresce, uso como justificativa. Uma urgência sem sentido, levando em conta o tempo infinito que eu tenho, toma conta de mim nessas horas.

O céu estava bastante nublado, então, por obra do destino ou não, eu saí de casa com a minha capa. O dia acabou mais cedo, os humanos deveriam voltar para casa mais cedo também, sem a luz do sol para iluminar suas tarefas.

Sinceramente, eu nem sabia por que deveria me esconder dos humanos normais. Só sabia, no fundo, que poderia ser perigoso e que as memórias do curioso sobre mim deveriam ser apagadas caso me encontrassem. Isso eu já fiz, com uns 3 intrometidos, há um bom tempo.

Mas estava escuro e tão perto, ninguém me notaria com a capa, ela tinha esse efeito. Me convenci de que precisava saber se estava tudo indo bem, por mais óbvia que fosse a resposta. Ajeitei a capa maior que eu sobre o corpo e me escondi no capuz. Caminhei o mais normalmente que pude nas sombras das ruas praticamente desertas. Por sorte, não chamei atenção de ninguém e fiquei aliviada por comprovar na prática o efeito camuflagem da capa da família. Ninguém veria os desenhos dourados se não fosse a luz do dia para refletí-los diretamente.

Continuando pelas sombras, desviei da maioria das casas sem sair do rumo do centro. Tinha um destino em mente, as antigas luminárias de Lily. Durante os longos minutos de caminhada, quando avistei a praça, senti um cheiro doce imprevisto trazido pela brisa. Eu quis sentir mais de perto, saber do que era, e avancei mais um pouco, agitada sem motivo.

Um trovão me assustou e me fez olhar por toda minha volta, a praça estava vazia, sem nem uma alma por perto por mais estranho e raro que isso fosse. As primeiras gotinhas de chuva caíam e imaginei que estivessem em suas casas, sem vontade de se molhar, principalmente em volta da rica área comercial do centro. Os poucos que restavam pelas ruas afastadas corriam para se esconder.

Tive a estranha sensação de que eu tinha de estar ali. Senti o arrepio junto de alguma presença, o aviso de que alguém me observava. Nem todos estavam escondidos em suas casas, tinha um menino numa janela próxima.

O vento veio com tudo e retirou o meu capuz, jogando todo o tecido livre da capa para trás. Cobri o rosto, mas sabia que seria inútil, o garoto estranho na janela já tinha me visto. Foi nessa hora que que o vi levantando e percebi que eu corria riscos. O coração acelerado e o meu desespero entregavam que eu não deveria ter saído de casa. No entanto, meu corpo não me obedeceu e eu não corri, feito um gato assustado... Na verdade... eu não quis correr. Tinha algo estranho acontecendo ali.

Miku tinha uma amiga humana, não tinha? Mas duvido que ela tenha sentido que algo não estava certo. Ele estava mais perto, eu conseguia sentir. Eu estava do lado da casa dele por ter seguido o cheiro doce de laranja feito uma criança com fome. Eu sabia que humanos também tinham alguma presença, porém, não era nem um pouco parecida... com... era quase... como se não fosse... Tinha alguma coisa muito errada.

Ele estava na porta, há poucos metros de mim, ignorando completamente a garoa, não molhava nada mesmo. Quase tão chocado quanto eu, mais um trovão nos assustou e dessa vez foi seguido por um relâmpago.

Parecia ter a minha idade. Eu tinha mesmo que correr, isso não era nada bom. O que eu tinha na cabeça pra não reagir a um suspeito?! A idade não importava. Foi chegando mais perto e eu me encontrava cada vez mais tensa.

— Tem certeza de que quer ficar na chuva? – ele perguntou.

As memórias. Minha magia de sobrevivência.

Decidi fazer contato visual, um único e necessário. Levantei as mãos na frente do rosto e os tons de dourado tomaram nossas visões por um segundo. Ele não se lembraria de nada disso. Talvez ele fique tonto e desmaie, mas está em frente de casa e essa parte não é problema meu.

Comecei a correr antes que o efeito do medo acabasse, segurando o capuz com firmeza, a chuva apertou. Meu nervosismo não me deixava controlar a capa para me proteger, o vento e a chuva me acertavam. Me sentia culpada, decepcionada pela minha primeira visita, um instinto me dizia ter sido um grande erro.


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Notas finais do capítulo

00:00, por pouco não posto hoje ainda ahhhh

Sim, sim, 1699. Porém: zero (0) compromisso histórico (ou com a realidade no geral). É uma história de fantasia onde os humanos desenvolveram suas vidas e sociedades de uma forma um pouquinho diferente por causa da ajudinha extra de algumas criaturas de magia e tals, coisas que vão ficando mais claras com os próximos capítulos. Uma coisinha ou outra só que foi baseada em algo da nossa realidade.

Enfim, espero que não se importem com as várias informações e divagações dos personagens. Me diverti muito escrevendo e quero ver esse mundo sair bem bonitinho da minha imaginação, principalmente no começo, então aprecio a paciência ♥
Escritora apegada com cada linha escrita (com muito esforço ou sofrimento) e que tem dó de apagar depois? Eu mesma, todinha, 100% euzinha. Ainda bem que não tenho editores ou betas, ou eles sofreriam comigo.

Parece que o tempo passa de um jeito diferente quando eu escrevo ou resolvo postar. Agora é 00:08, mas juro que comecei a escutar Master of The Heavenly Yard depois da meia noite, e a música acabou agora, mesmo tendo mais de 15 minutos (?).
Tenho essa impressão com o tempo no microondas também. 30 segundos pra esquentar um pão de queijo nunca é qualquer outros 30 segundos da vida.
Pelo menos foi mais devagar, e não mais rápido ahaha

Obrigada pela leitura ♥



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