Tô Nem Aí escrita por Youth


Capítulo 5
005. Quando Tudo Deu Errado?




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Alexei, Leia e Sehu compartilhavam uma xícara de chá no sofá longo do apartamento do casal. Estavam todos em silêncio, atônitos, os olhos arregalados e os corações acelerados. Ninguém falava do acontecido ou fazia outra coisa além de bebericar do chá amargo que mais lembrava água de cuia de tão ruim. De vez em quando a moça suspirava em tom mais audível, mas nada falava. Encaravam o papel de parede de flores do apartamento se descascar com a fúria da brisa que atravessava a rua e adentrava pela janela.

− Acho melhor eu ir embora – e foi assim que Alexei cortou o silêncio atormentador de longos minutos. Sehu e Leia anuíram, quase como se fosse um contrato selado, carimbado e assinado fingir que nada havia acontecido outrora. O vampiro bebericou mais um pouco do chá ruim, suspirou, se levantou e foi em direção a porta.

− Ei – Sehu interceptou sua saída com um olhar preocupado – Espero que fique tudo bem – ele disse em tom fraternal, mas mantendo certa distância de Alexei, que percebeu o medo do amigo, ainda que não fosse proposital.

− Eu também – Alexei respondeu, não conseguindo fingir não perceber a atitude do amigo e esconder sua tristeza com isso – Espero muito – disse por fim, enquanto deixava o apartamento de Sehu, que trancou a porta assim que ele saiu.

Suspirou, coçou os olhos e sentiu seu coração bater mais lentamente.

Precisava de bolo.

                Já estava na terceira fatia de um bolo trufado com frutas vermelhas, quando Teresa entrou na cozinha, já com as roupas casuais do dia a dia, pronta para fechar a confeitaria e ir embora. A moça encarou o amigo com um olhar confuso, guardou as chaves e se aproximou.

− Curtindo a fossa? – questionou, pegando um garfo e enfiando no bolo para poder pegar um pedaço.

− Esse não – Alexei afirmou – É veludo vermelho – disse. Teresa anuiu, foi a geladeira e pegou uma fatia de bolo normal, de abacaxi e chocolate – Não sei nem o que estou fazendo, para ser sincero... Esses dias tem sido só a ladeira abaixo na minha vida – afirmou. Teresa degustou o pedaço de bolo com delicadeza e recostou ao lado do amigo na bancada.

− Me sinto mal por não estar te ajudando tanto quanto eu queria nisso... Mas, nossa, a confeitaria e os preparativos pro casamento estão me consumindo inteira... Minha sogra é a encarnação do diabo... – afirmou a moça, com o tom desapontado e a boca cheia de bolo. Engoliu – Você já fez tanto por mim... – Alexei deu de ombros, com um olhar bravo.

− Por favor, Tê, já pedi pra você esquecer isso – afirmou ele, irritado – Você não me deve nada. O que eu fiz eu faria de novo, e de novo, e quantas vezes fossem necessárias – disse, deixando o bolo trufado de lado e limpando os cantos da boca com guardanapo de papel. – E você já me ajuda até demais! Sem você não sei o que seria dessa confeitaria... Eu entendo zero coisas de administração... Sem você aquela doida da Dulla Swanna já tinha derrubado essa confeitaria e aberto uma casa de bingo para gente velha – Teresa riu.

− Você viu ela aquele dia? – a moça questionou. Alexei coçou a nuca.

− Eu vi, mas passei longe – respondeu – Fui ver a Ramona. – Teresa demonstrou surpresa, enquanto guardava o prato e o garfo na pia de louças sujas.

− Ela voltou quando? – questionou surpresa – Ainda tá com o namorado estranho? – Alexei coçou o queixo e suspirou.

− Não faço ideia – ele disse – Ela parecia já estar lá faz uns dias, mas só ontem me contatou – respondeu – Mas não importa. Logo ela some de novo. Mais uma para me deixar sozinho – afirmou. Teresa se aproximou do amigo e lhe envolveu num caloroso e amigável abraço.

− Você não tá sozinho, Dente Doce – ela disse carinhosamente. Alexei sorriu e se sentiu amado por alguns instantes. Dente Doce era o apelido que recebera da amiga quando ela ainda era paciente numa clínica onde Ramona também esteve internada, quando fazia doações de bolos e doces para as reuniões dos viciados anônimos. – Mas você precisa, sabe, seguir em frente, migo. Você estagnou aqui e não consegue nem progredir, nem regredir – ela afirmou de maneira direta e clara. Alexei arqueou as sobrancelhas e alisou a nuca.

− Eu sei... Mas por onde eu começo? Meu deus! Eu tenho feito de tudo nesses últimos dias e nada pareceu surtir efeito! – afirmou, lembrando-se de todos os acontecimentos que rondaram suas últimas semanas, como uma guerra de bolos, uma discussão calorosa, sexo com um bonitão desconhecido e aparentemente casado, uma caminhada sem rumo pela cidade, o encontro com um estranho de dois metros, enfrentou a fila de uma balada (Sem muito sucesso), entrou nos aplicativos de pegação e quase chupou sangue da namorada do melhor amigo. Alexei suspirou, irritado – Eu só queria que tudo fosse mais claro e eu soubesse exatamente que fazer!

Teresa se desvencilhou do abraço do amigo, pegou o celular de seu bolso e abriu a lista de músicas. Alexei olhou confuso.

− O que você tá fazendo? – questionou. Teresa lhe olhou e sorriu.

− Uma aposta arriscada – contou – Isso já te ajudou uma vez. Quem sabe ajuda de novo? – ela disse. Alexei questionou se ela se referia ao episódio do “Melhor se arrepender do que passar vontade” no outro dia – Vamos lá, aleatório, seja o que deus quiser – ela disse, apertando o botão de reprodução aleatória. Alex observou tudo com um olhar descrente.

I want it, I got it, I want it, I got it

You like my hair? Gee, thanks, just bought it

I see it, I like it, I want it, I got it

Alexei encarou Teresa, com um olhar desapontado, mas não surpreso, enquanto a amiga revirava os olhos e suspirava.

− A segunda vez é da sorte – afirmou, apertando a reprodução aleatória novamente.

Tô nem aí, tô nem aí

Pode ficar no seu mundinho eu não tô nem aí

 

Alexei pareceu se iluminar com uma estranha esperança advinda da ironia do destino. Involuntariamente, seu queixo foi ao chão e seus pelos se arrepiaram, enquanto o coração se agitava e os pensamentos se pintavam de teorias e mais teorias das conspirações do destino: era a música que ouviu no dia que decidiu deixar Dominic para trás e viver por si mesmo.

− Eu... Nossa – foi tudo que ele soube dizer. Teresa sorriu, confiante, devolvendo o celular para o amigo.

− Eu disse – afirmou – essas coisas nunca falham.

− Mas... E o que eu tenho que fazer agora? – questionou – Ouvir essa música até deus ter pena de mim e fazer tudo mudar? – Teresa bufou inconformada com o quão lento o amigo era.

− Não sei – ela disse, por fim – A música foi só brincadeira, bobo, foi só para você perceber que tudo tá conspirando para as coisas darem certo pra você. Sei lá... Sai por aí... Se reinventa, escreve sua história, muda seus ares, vire a página — vire a página. Vire a página. Vire a página. Vire a página.

Vire a página.

Vire a página.

Alexei repetiu aquelas palavras na mente por toda a noite e por todo o dia seguinte. Não sabia o que de tão impressionante ou mágico elas guardavam, mas sentia todo o poder que elas emanavam. Estava diante de seu futuro – e a única coisa que impedia de prosseguir era ele mesmo (Só não havia percebido ainda).

No caminho para a sessão com Versa à tarde, decidiu parar na sorveteria alguns quarteirões além de sua confeitaria e tomar alguma coisa doce antes de encarar palavras amargas da terapeuta. Dominic sempre levava sorvete de morango para Alexei nas tardes mais quentes do verão, nunca outro sabor, acompanhamento ou mesmo de outra sorveteria. Sempre a mesma monotonia em forma doce e gelada. Foram poucas vezes que Alex escolheu o sabor que degustaria até que seu cérebro congelasse.

− Chocolate, por favor – ele disse ao atendente, com um sorriso inesperado. A sensação de estar, pela primeira vez em tempos, tendo o poder da escolha de algo tão simples o fez mais feliz e poderoso do que poderia imaginar. Era estranho. Muito estranho. Mas agradável.

Estava deixando a sorveteria com sua casquinha de chocolates de chocolate, absurdamente orgulhoso de sua escolha e exaustivamente doce com o gosto do sorvete, quando deu de cara com a mais apimentada das emoções, personificada em um homem de corpo másculo e pele oliva, com olhos tão negros quando amoras maduras e cabelos cacheados como fios de anjo. Estavam frente a frente. Alexei tentava sair e ele tentava entrar. Houve um silêncio constrangedor por parte de ambos, que não sabiam o que dizer, como agir ou sequer pensar. Um cara a cara com o outro. Ignácio Cruz coçou a nuca, com um sorriso envergonhado de um homem abandonado. Alexei engoliu seco e tentou olhar para tudo, menos para o outrora amante.

− Sai da frente – Dulla Swanna disse à Alex, que congestionava a entrada e saída da sorveteria. Era uma mulherzinha meio ardilosa, com olhos caninos e dentes de sabre. Era baixinha e tinha cabelos curtos – SAI DA FRENTE EU SOU UMA SENHORA TENTANDO PASSAR! –e ela usou a cartada da idosa. Céus, Alexei detestava como aquela mulher usava a idade para conseguir tudo, de doces de graça à empregos para amigos. Mal sabia Dulla Swanna que Alex tinha o dobro de sua idade e, logicamente, maior preferência que ela, mas nada dizia, apenas evitava o labor de ter que aturar mais que trinta segundos de sua ladainha interminável e desgastante.

Deu espaço para que a irritante mulher, seu marido e seu poodle Floque passassem, acabando por esbarrar em Ignácio no caminho. Alexei teria corado se não fosse um vampiro. Sentia seu estômago voar com borboletas num jardim de primavera. Seu sangue corria mais rápido que nunca, os poros abriram e o coração britava como um terremoto. Meu deus— ele pensou.

Ignácio não estava menos envergonhado que Alexei, mas pareceu estar disposto a cortar o clima tenso e silencioso, assim que a comitiva de Dulla Swanna passou.

− Então... – ele disse. A voz grossa como de um locutor de rádio – Ela não parece muito simpática – Alexei engoliu seco e teve dificuldade em saber o que responder, sem saber também como falar sem deixar transparecer a mágoa por ter sido amante de um homem casado.

− Você nem imagina – foi tudo que soube dizer. O sorvete de chocolate derretia com todo o tempo perdido e toda tensão que havia entre os dois. Teresa teria xingado alguma coisa em espanhol por ele ter desperdiçado algo tão delicioso. Sehu teria chorado como um cãozinho para poder ficar com o sorvete enquanto Alexei encarava o algoz do seu atual momento. Suspirou, fechou os olhos e sentiu um peso na consciência e no coração. Fez menção a sair, sem sequer se despedir ou olhar nos olhos de Ignácio.

− Não, por favor – Ignácio disse colocando a mão sobre o ombro do vampiro. Alexei se virou e o encarou. Percebeu, então, que não havia prestado atenção o suficiente nos olhos de Ignácio, que tinham um brilho único, impressionante e apaixonante. Tão poderosos quanto o sorriso quase religioso de Dominic. Não! Aqueles olhos não eram religiosos: Eram iconoclastas, rebeldes, hereges... Eram quebradores de dogmas religiosos... Eram o lado misterioso da eternidade... Eram... Nossa. Alexei se percebeu hipnotizado por dois pares de olhos negros como a noite – Eu só queria entender... Eu fiz algo, sabe, errado?

Alexei engoliu seco e se livrou da maldição dos olhos penetrantes, voltando seus pensamentos para a fotografia da família de papel de parede no celular e sentindo todo o peso de ter sido o outro, mesmo que inocentemente, cair sobre si como se a gravidade desaparecesse de repente. Suspirou profundamente.

− Não... Eu só – Alexei não era o melhor dos mentirosos. Suspirou – Eu só preciso de tempo – afirmou. Era a desculpa mais clichê possível, mas também a mais convincente. Ignácio alisou a nuca, com um olhar preocupado e decepcionado.

− Talvez a gente possa, não sei, ir tomar alguma coisa... Um café... Ou jantar qualquer dia desses... – Ignácio propôs, com um fio de esperança segurando as rédeas de seu coração. Alexei sentiu-se culpado, como se fosse a pior pessoa do mundo. Seu coração murchou como uma flor sem água, seu mundo ficou cinza e tudo ao seu redor pareceu lhe julgar. Suas veias latejavam com o fluxo sanguíneo interminável. Lágrimas invadiram sua face de maneira violenta.

— Eu... Eu não posso fazer isso, me desculpa – ele disse, deixando a casquinha cair no chão e correndo dali, sem rumo, indo para o mais longe possível de seus pensamentos. Ignácio, boquiaberto, ficou estagnado, confuso, magoado e sem saber o que fazer.

− Eu não sei, eu só não podia encarar ele – Alexei disse à terapeuta assim que terminou de contar da desventura de outrora. Suspirou, usou as mãos para cobrir o rosto e tentar, inutilmente, estancar as lágrimas copiosas que voltaram a sair assim que ele abriu a boca para falar, após uma corrida interminável e silenciosa. Versa Coumarine observava tudo atentamente, com o típico olhar frio e de julgamento, com os óculos exageradamente junto ao rosto. – Eu... Meu deus! Eu sou um desastre! TUDO, absolutamente TUDO tem dado errado na minha vida. O que eu fiz para merecer isso? É o karma voltando por terminado com o Dominic? Esse tempo todo era isso que o universo queria? – supôs, irritado. Versa suspirou.

− Obviamente não – e foi tudo que ela disse, com a voz exageradamente pausada e a indiferença marcada na expressão impassível. Alexei se admirou com a frieza exagerada da terapeuta, que sequer por um instante se compadeceu de sua dor, de seu medo e suas angústias, mas, antes que pudesse reclamar de algo, Versa encarou no fundo de seus olhos, com aquelas pupilas enormes, ampliadas pelo grau do óculos – Alexei, serei sincera – ela disse com certo pesar na voz, fazendo Alex engolir seco, assustado – Você diz que, de repente, tudo começou a dar errado... Mas eu lhe pergunto: quando foi que deu certo? Quando você era parte de um relacionamento tóxico? Quando você era usado como escape emocional de um parasita de sentimentos? Quando você era traído dia após dia, ficava em casa chorando e acabava sempre perdoando seu ex arrependido? Quando você se privava de tudo, até de falar palavrões, única e exclusivamente para agradar Dominic e ser um “esposo” perfeito? – Alex ficou boquiaberto. Sentia sua espinha se agitar e os pelos da nuca se arrepiarem. O coração acelerou. – Você tem se culpado demais pelas contravenções do destino e pelas coisas cotidianas da vida. Acontece, Alexei, a vida é feita de muitas quedas e poucas caminhadas prazerosas – ela contou sem esboçar compadecimento algum. Alexei engoliu seco, irritado com a frieza da mulher.

− Por que você sempre tem que ser tão... – ele não pode completar, pois sentia que a raiva que surgira por Versa não passava do fruto da raiva que ele sentia de todo o resto. Versa pareceu perceber do mesmo, sorrindo forçosamente, em concordata. Alexei abaixou o rosto, envergonhado – Desculpe, eu...

− Você está procurando colo – ela sentenciou, jogando a prancheta pro lado e se curvando para ficar olho a olho com Alexei, o olhar sempre impassível – Mas eu não sou sua mãe, Alexei. Jamais serei, inclusive. Filhos? Deus me livre e proteja – ela disse, em um tom mais leve – Não espere que eu seja a pessoa mais amável e protetora do mundo, serei sempre a pessoa que está aqui pra te ouvir e te ajudar a encontrar o melhor caminho entre dois ou mais meios. Você pode sentir que precisa de colo para sobreviver, afinal, você dependeu por tantos anos... Mas você tem que caminhar com as próprias pernas e enfrentar seus próprios problemas. Eu estou aqui meramente para te ajudar a clarear as escuridões da sua vida. Você é sua própria luz.

− Você falou que nem um coach agora – foi tudo que Alexei soube dizer. Versa o encarou, admirada e irritada. Alex teve certeza que viu uma veia saltar na testa, provavelmente de raiva.

− Vou fingir que não ouvi isso – ela disse por fim, com o ódio estampado na voz. Alexei engoliu seco – Voltando... Você fez uma loucura por minha conta, certo? E deu errado, certo? Mesmo você insistindo em não dizer o porquê... Existem mil e uma outras maneiras de se viver que não se limitam a homens. Agora é encarar o que aconteceu, olhar para frente e partir pra próxima. – ela tocou Alexei delicadamente no rosto, provavelmente o máximo de demonstração de afeto que alguém como Versa poderia fazer – Alexei – a voz, ainda que ela dissesse que não o faria, estava carregada de demonstração fraternal de apoio – Vá e viva. Aproveite sua vida. Essa é a única loucura com que você deve se preocupar em cumprir. – Versa se afastou e riu – Meu deus, é tão claro para mim, por que não pra você? Viver, meu caro, como se você não estivesse preso a nada. Sentir sua liberdade fluir. Esse é o maior ato de loucura que você pode fazer. É como, não sei, fazer um bolo sem precisar seguir a receita, ter todo o prazer de fazer à sua maneira, a sua vontade... A sua imagem e perfeição.

Alexei engoliu seco, de olhos vidrados em Versa e na sua surpreendente maneira de hipnotizar mais que os olhos de Ignácio, só que com as palavras. Seu coração havia se acalmado e a ansiedade diluído. Ela estava certa – e ele sabia perfeitamente. “Virar a página” as palavras de Teresa voltaram à mente; “não deixa o medo te privar das coisas, cara, você já ficou muito tempo privado de tudo” foi o que Sehu disse.

− Viva – foi o que Versa disse, com um sorriso que Alexei tinha certeza que ela nunca mais mostraria a alguém – Comece aos poucos. É uma tarefa mais simples do que você imagina – e deu uma piscadela para ele, indicando a saída com a mão.

Alexei estava próximo a atravessar a porta para ir embora, enquanto Versa havia se imergido nas anotações e estava completamente distraída. Pensou em sair, deu meia volta, riu, se aproximou da terapeuta e lhe deu um caloroso e apertado abraço, com direito a um beijinho no rosto. A terapeuta se assustou num primeiro momento, mas retribuiu o carinho aos poucos e, alguns segundos depois, estava empurrando o vampiro para longe, se recompondo e fingindo não ter gostado.

− Vou tentar – Alexei entrepôs.

− Vai conseguir – Versa respondeu.

Estava voltando para confeitaria numa caminhada lenta e reflexiva, questionando-se tudo que poderia fazer para poder viver verdadeiramente. Pensou em tudo que foi privado ou se privou de fazer, tudo que ainda deseja, todos que quer conhecer e todos que queria se afastar. Observou as fachadas, vitrines, pensou em comprar novas roupas, fazer novos sabores de bolo, dançar até cair de cansaço, beber até passar mal – o que era vampiricamente complicado, mas não impossível −, beijar mais desconhecidos, adotar um cachorro ou um gato, plantar rosas na varanda do prédio, nadar nu, chorar até amanhecer, dançar na chuva... e... e...

Ele finalmente sabia o que fazer.

Se ele tinha que viver e também que virar a página, não tendo absolutamente nada a perder, ia começar mudando a si mesmo.

E depois mudando todo o resto.

                A entrada de Alexei no Veludo Vermelho foi a como a volta de Jesus Cristo. Todos pararam o que estavam fazendo e encararam o vampiro com curiosidade, alguns ficaram boquiabertos, outros maldisseram, alguns sussurraram... Sentiu uma pontinha de insegurança correr pelas veias, engoliu seco, respirou profundamente e voltou a caminhar por entre as mesas, não deixando que ninguém percebesse seu medo e sua ansiedade.

                Teresa foi a primeira pessoa relevante a botar os olhos no seu visual, no exato instante que ele adentrava na cozinha e a encontrava no horário de almoço. O queixo da amiga foi ao chão e o sanduíche que comia acompanhou. De olhos arregalados, ela se levantou da mesa, foi até Alexei, que ficou esperando alguma palavra, xingamento, crítica, mas ela se calou, observando atentamente.

                − You like my hair? – Alexei disse.

                − Por que rosa? – foi tudo que ela soube dizer. Alexei riu e agitou os cabelos em tom rosa-claro, quase pastel.

                − Não sei – respondeu – Me lembrou glacê.


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