Hinata se arrependeu de não ter dormido, porque teve que lidar com olheiras terríveis, mas foi inevitável. Ficou revirando na cama, sonhando igual uma adolescente apaixonada, as pernas tremendo de nervoso enquanto sua mente repetia infinitamente a cena.

Estou ansioso por isso.

Se ele queria matá-la, certamente aquele era o melhor jeito.

Inconscientemente, ela caprichou mais do que deveria na produção para uma simples confraternização de fim de ano na empresa. Colocou uma de suas roupas novas e, pasma, um salto. Passou maquiagem no desastre que estava seu rosto, e saiu, carregando o presente em sua bolsa.

Respirou fundo antes de entrar no prédio, olhando para o elevador tentando não ficar vermelha. Alguém tinha chego mais cedo, e retocando as decorações de natal, com algumas luzes brancas e balões dourados no teto. Encontrou Sakura e as outras subindo, e, animadas, conversaram sobre a festa.

Todas carregavam grandes pacotes e sacolas, e Hinata se sentiu desconfortável por carregar somente sua bolsa com um envelope – mesmo que o envelope tenha lhe custado muitos favores.

Chegaram no vigésimo andar, o mais sofisticado, e muitas pessoas já tinham chego. Não somente as secretárias, mas todos os funcionários da empresa. Hinata cumprimentou tantas pessoas quanto pôde, esvaindo o nervosismo inicial e ficando até mesmo animada.

— Meninas! Oi! – a voz de Kushina se fez presente, e Hinata virou rápido demais, procurando por ele.

Naruto estava um pouco atrás, mais alto que a maioria das pessoas, e usava um terno que o deixava parecido com um deus grego do Olimpo. Hinata respirou fundo, temendo entrar em combustão espontânea. Kushina se aproximou delas, perfeita com seu conjunto de terninho pérola e fazendo Hinata questionar todas suas escolhas de vida com um vestido tão sem graça, mas ela cumprimentou cada um com um abraço.

— Como vocês estão lindas! – elogiou – Eu estou tão animada, adoro essas confraternizações. – se fosse qualquer outra pessoa ela duvidaria, mas Kushina era a própria definição de sinceridade – Minato! Querido, vem aqui cumprimentar as meninas.

Hinata e Tayuya trocaram um olhar de pânico quando o todo poderoso se aproximou. Ele era absurdamente igual a Naruto, com o cabelo crescendo para os lados e pequenas rugas de expressão. Ele abraçava Kushina pela cintura e tinha um sorriso confortador.

— Elas quem fazem todos aqueles relatórios complicadíssimos, querido. – Kushina apresentou, sentindo-se a vontade.

— Oh, eu vejo. Vocês mantêm isso aqui de pé, senhoritas. Agradeço o trabalho duro. – ergueu a taça de champanhe que Hinata não sabia de onde saiu. Foi quando ela sentiu a presença atrás de suas costas, e a voz rouca em seu ouvido.

— Eu concordo.

Olá, chefe.

Hinata se virou a tempo de ver uma piscadinha, que Deus abençoe. Não teve tempo de responder – ou surtar – porque alguém chamou todo mundo, para começar a troca dos presentes e eles irem para o almoço – provavelmente foi Sakura.

Eles caminharam até o centro do andar, que estava sem as mesas habituais, amplo e iluminado.

— Bom, quem quer começar?

Kushina se ofereceu, indo até o centro e falando animadamente sobre as características da pessoa, com todos tentando adivinhar. Hinata riu algumas vezes, e, quando ela revelou, a pessoa foi até o centro, agradecendo e se preparando para falar o seu.

Hinata quis ir logo, mas ninguém a tinha tirado. Estava tão ansiosa que quis roer as unhas.

O círculo acabou, e alguém precisava se oferecer. Ela ouviu risadas, e viu Kushina empurrando Naruto para o centro. Ele parecia um pouco envergonhado, o que não combinava com a pose de CEO poderoso. Metade das mulheres na roda estavam prendendo a respiração, incluindo ela.

— Bom, olá a todos. – coçou a cabeça – Sei que vejo poucas pessoas aqui, e vocês quase nunca me veem. É um prazer. – risos – O meu amigo-secreto é uma mulher, e eu conheço bem pouco dela. Sei que é uma funcionária muito dedicada, e trabalha aqui em cima, com a papelada. – ele olhou para todos e pousou seu olhar em Hinata, que sentiu desfalecer. Seria possível? – Espero que goste do presente, Sakura.

O desgraçado deu outra piscadinha!

Sakura riu, do lado de Hinata, e foi até o centro para receber o presente. Eles se abraçaram rapidamente, e ele voltou para o lugar encarando Hinata descaradamente. Ela rolou os olhos, se acalmando do mini-ataque cardíaco.

Estava tão distraída que nem ouviu quando Sakura disse que havia tirado ela. Alguém a cutucou, e ela tropeçou, claro, até o centro. O pacote era macio, algo como uma blusa, e ela agradeceu a amiga, feliz por ter sido alguém com quem convivia.

Faltavam poucas pessoas agora – não teria graça se ela fosse a última.

— Bom, meu amigo-secreto é alguém que eu não conheço muito bem, mas eu sei que é legal. – sorriu, tentando ser misteriosa, ainda de costas para Naruto – Eu fiquei preocupada quando tirei ele, mas me esforcei bastante para encontrar algo que representasse alguma coisa para ele. Ele pode parecer intimidador, mas eu descobri que, na verdade, é bastante engraçado. – criou coragem e se voltou para Naruto, que a olhava com surpresa e um sorriso – O nosso chefe!

Houve risos e palmas, e Kushina brincou com o filho, dizendo algo sobre “dar medo”. Ele caminhou até o centro, cada passo fazendo Hinata tremer mais. Quando chegou perto, ela teve de olhar para cima, envergonhada.

— Que surpresa agradável, senhorita Hinata. – sua voz tinha uma centelha de brincadeira.

— Foi difícil, assim como eu disse. – arriscou. Estendeu o envelope e ele ergueu uma sobrancelha – Espero que goste.

Ele abriu, no centro do círculo mesmo. Quando puxou o papel, seus olhos se transformaram em uma expressão verdadeiramente admirada, que deixou seu coração aquecido, confessava. Seu sorriso era gigante.

— Reserva para o La Vie? Como conseguiu? É difícil até para mim! – ela sorriu ainda mais largo, satisfeita. O bistrô a beira-mar era realmente requisitado, e uma reserva demorava meses.

— Uma antiga amiga minha da faculdade é uma das sócias. Eu pedi por uma reserva total, então, quando quiser, o bistrô será só seu. Bem tranquilo, com uma ótima vista. – Naruto se inclinou e a abraçou com força, pegando-a de surpresa. Hinata não ouviu os burburinhos quando retribuiu, meio sem jeito.

— Aqui diz que é para duas pessoas. – sussurrou, deixando sua pele arrepiada.

— S-Sim, para levar um acompanhante. – gaguejou. Ele a afastou um pouco, com um brilho nos olhos diferente de tudo que ela já tinha visto.

— Acho que tenho uma ideia de quem quero levar.

Seu rosto podia ter derretido completamente naquele momento.

Hinata teve a impressão de que seria um bom ano – imaginou ter encontrado o presente perfeito de amigo-secreto, porque seu chefe não tirou os olhos dela pelo resto do dia.