CRY BABY - The Storyfic escrita por puremelodrama


Capítulo 2
Dollhouse




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 Melanie sempre ansiava pelo final de semana, não que houvesse um grande evento prestes a acontecer, mas o adorava pelo simples prazer de não ver Francis Walter e os risinhos e dedos indicadores apontados para ela durante todo o tempo de aula.

 A garota quase se envergonhava em sentir todo o ódio que nutria pela escola, porém cada dia presente naquele lugar possibilitava que esse sentimento se fortalecesse ainda mais, por mais que tentasse evitar. Sua mente, às vezes muito generosa, lhe presenteava com sonhos onde uma bomba explodia os tijolos daquele lugar, queimando todas as pessoas dentro dela. Um sorriso de satisfação transparecia-lhe no rosto.

 A família costumava receber visitas em casa aos fins de semana. Alguns amigos dos pais vinham jantar e conversar, mas, para a felicidade Melanie, ela não era obrigada a participar, sendo também um grande alívio para seus pais, que poderiam evitar a vergonha causada pela menina.

 De qualquer forma, ouvir as vozes distantes, os risos e talheres retinindo nos pratos lhe causava raiva. Aquelas pessoas não faziam a mínima ideia de como seus anfitriões realmente eram atrás das cortinas, quando ninguém estava olhando, e de qualquer forma, pareciam não se importar. Não os culpava. Sua família era mestra em fingir, fingir ser o que não é. Uma grande habilidade que talvez a própria menina não tivesse desenvolvido muito bem, caso tivesse, as pessoas ainda a veriam do jeito que a viam? Ou a atormentariam do jeito que atormentam? Oh, Melanie, por que não se cansa de decepcionar? Você só tinha um trabalho, um único trabalho.

 Era o meio da tarde, Melanie saíra de seu quarto para comer algo. O andar pleno da garota denunciava a felicidade em saber que poderia surrupiar o que quisesse do armário. Se Murcy estivesse em casa, provavelmente a repreenderia e colocaria os biscoitos de chocolate numa prateleira mais alta. “Como se ser esquisita não fosse o bastante, quer ficar gorda também?”.

 Andava pelo corredor do segundo andar, quando de repente um cheiro invadiu suas narinas. Um cheiro nunca antes sentido, mas que havia odiado. Seguiu caminhando tentando identificar de onde vinha o misterioso odor. E foi ficando mais forte, e mais forte, até que chegou ao ápice quando parou em frente a porta do quarto do irmão.

 Prendeu o nariz com os dedos e abriu lentamente a porta, evitando emitir qualquer ruído. Nada poderia tê-la preparado para a cena que a menina presenciara. O irmão. Esticado na cama. Exalando fumaça. Um cigarro entre os dedos. O quarto era banhado por um grande mar de fumaça, um cheiro que Melanie não identificava como o de um cigarro comum. Não era um cigarro comum, tinha certeza disso, os cigarros de Murcy nunca tiveram aquele cheiro.

 — J-Joseph? — Melanie tremia um pouco, chocada e horrorizada ao ver o irmão mais velho traumatizá-la e, ao mesmo tempo, arruinar completamente um último vestígio de decência que se encontrava em sua família em um mísero ato de colocar um pedaço de papel enrolado na boca.

 Joseph se sobressaltou na cama, fitando de olhos arregalados a irmãzinha paralisada na porta.

 — Melanie?! — perguntou espantado. — O que está fazendo aqui? Achei que tivesse saído com a mãe e o pai.

 — O-o que está fazendo? — perguntou a mais nova, já sentindo as temerosas lágrimas querendo surgir.

 Joseph, de repente, pareceu notar o cigarro em sua mão, apagou-o rapidamente e atirou-o janela afora. Tentou se aproximar da irmã, mas a menina estava demasiadamente assustada e se afastava dele a passos lentos.

 — Melanie, acalme-se, não é o que está pensando — disse tentando tranquilizá-la.

 Joseph tentou encostá-la, mas a garota deu meia volta e partiu correndo rumo ao seu quarto. Estava a ponto de bater a porta quando a mão de Joseph impediu que o fizesse. O garoto adentrou o quarto e fechou a porta atrás de si.

 — Vo-você estava... — Joseph se ajoelhou à sua frente e colocou as mãos sobre seus ombros, olhando fixamente nos olhos dela.

 — Melanie, preste atenção, não pode dizer nada à mãe e o pai, está bem? Por favor.

 Melanie não conseguia pensar. Nunca imaginaria o irmão em uma situação daquelas, ainda mais um garoto tão inteligente e bonito, o grande orgulho da família, ou pelo menos, o menos detestável entre os dois irmãos. Aparências. Máscaras. O irmão nunca lhe dera grande atenção. Durante todos esses anos, ele nunca brincara com ela, ou conversava, ou lhe dava um simples “oi” pela manhã, apenas uma pessoa que morava consigo. Mas, então, por que ela estaria se sentindo tão mal pelos atos dele? Sentia-se pior ainda porque seria tolice dedurá-lo aos pais, Melanie também não se importava com ele, e todos sabiam disso, o irmão apenas tomaria ódio da menina. Apenas não imaginava que seu irmão, tão jovem, de apenas dezenove anos, estaria tomando aqueles rumos, e sentia-se triste por isso.

 Joseph, ao ver que Melanie não mudara a sua expressão, tentou convencê-la novamente.

 — Melanie, você deve entender que o que eu estava fazendo ali não era errado, tudo bem?

 — Não? — Melanie sentiu-se confusa. A escola fazia questão de prestar palestras discutindo os grandes malefícios dos cigarros e drogas, sem contar que sua mãe era um grande exemplo dessas consequências, a coitada parecia mais acabada a cada vez que enfiava um cigarro na boca.

 — Não! Veja bem, aquilo que eu estava fum... Experimentando era só uma coisinha que me ajuda a relaxar, diminuir a tensão, você entendeu?

 — Mas... Para quê você precisa relaxar?

 Joseph soltou um risinho irônico, se levantou e andou pelo quarto da irmã, passando os olhos pelas paredes a qual talvez estivesse vendo pela primeira vez.

 — Melanie, você não é a única que não suporta nossos pais. Na verdade, eu acho que os odeio — Joseph virou-se para ver a expressão da irmã, mas ela não demonstrava espanto, como se o fato de ele odiar os próprios pais não fosse uma surpresa para ela, o que não era. Continuou olhando e correndo os dedos pelos pertences e móveis do quarto da irmã. — Tudo isso é tão... Tão... Desgastante. Essa coisa de fingir é desgastante e me dá nos nervos às vezes. Toda vez que eu piso os pés para fora de casa ou quando vem alguma família idiota jantar aqui eu preciso fingir ser o filho dos sonhos, bonito, inteligente, gentil, cavalheiro... Eu odeio essa merda toda. Você entende, não é?

 Joseph virou-se novamente, para ouvir a resposta dela. Sim, Melanie entendia, entendia mais do que seria possível. Joseph não era tão ignorado quanto a irmã, mas talvez isso pudesse ser pior. Os pais estavam sempre com os olhos em cima dele, garantindo que ele se portasse tal como o esperado e não admitindo uma falha sequer, privilégios de irmão mais velho. Imaginou se era isso que o levava a querer “diminuir a tensão”. Não fazia ideia de há quanto tempo o menino fazia aquilo, mas ponderou se aquele era o meio que ele possuía de se levar ao seu próprio país das maravilhas. Talvez os cigarros fossem a sua fantasia perfeita, afinal, todos tinham paraísos diferentes. Melanie costumava se perder em seu mundo através de seus pensamentos, mas talvez o irmão não conseguisse criar seu próprio mundo perfeito sozinho e precisasse de ajuda para isso, então Melanie, de certa forma, conseguia entender um pouco. Mas só um pouco.

 — E então? — Joseph ainda aguardava pela sua resposta.

 Melanie pensou mais um pouco. Sua família já era fragmentada mesmo antes de tal novidade, aquilo não mudaria nada, apenas faria com que os pais dessem uma surra no irmão, e isso não o impediria de repetir o ato. Talvez algumas coisas ficassem melhores se esquecidas, por enquanto.

 — Tá bem — Melanie ainda não tinha total certeza sobre o que estava dizendo.

 O irmão suspirou aliviado. Ele se aproximou novamente dela e se ajoelhou.

 — Ei, obrigado. Sabe, não pense que eu não sei o que você passa aqui dentro. Sei que você sofre bastante e deve ser ainda pior para você, por ser tão nova. — “Então por que não tenta tornar um pouco mais suportável para mim, seu babaca?” Melanie indignou-se diante da fala de Joseph, um simples “oi” pela manhã era tão difícil de ser feito? — Você também deve ficar muito frustrada com tudo isso, então...

 Joseph olhou para a porta, como se tendo certeza que não havia nada nem ninguém ali, tirou algo de seu bolso e depositou nas mãos da irmã. Um cigarro, igual ao que ele estivera fumando. Melanie arregalou os olhos e fitou o irmão, preparava-se para citar todos os malefícios do cigarro e das drogas que a escola lhe havia enfiado na cabeça quando o irmão rapidamente tentou tranquilizá-la.

 — Ei, calma, não estou te obrigando a nada. Só porque estou te dando não quer dizer que você precisa fazer isso. Eu só estou dizendo que, caso algum dia você se sinta tão frustrada e irritada a ponto de querer queimar essa casa, você pode... Talvez... Tentar isso. Ajuda bastante se quer saber — Joseph deu alguns tapinhas no braço da irmã e se levantou, antes de sair definitivamente pela porta virou-se uma última vez. — Só... Não conte nada a nossos pais, tudo bem?

 Melanie ficou parada, fitando a porta por onde o irmão saíra. Então, seu olhar se desviou para aquela coisa na sua mão. Soltou um risinho irônico. Se ela fumasse um daqueles a cada vez que sentisse vontade de queimar a casa seus pulmões nem funcionariam mais. Balançou a cabeça e jogou o cigarro no lixo ao lado de sua escrivaninha. Não contaria aos pais, não haveria benefício algum para ninguém.

 De certa forma, saber que seu irmão possuía um segredo o qual somente ela sabia e que faria seus pais arrancarem os cabelos lhe trazia certa satisfação. Talvez ela e Joseph tivessem algo em comum afinal, um fardo que ambos eram obrigados a carregar. Uma família quebrada. Um lar quebrado. Essa secreta conexão entre eles fazia Melanie crer que talvez, mas somente talvez, ela tivesse algum conforto dentro daquelas cortinas que escondiam tão bem o verdadeiro âmago de seus seres.

♠ ♠ ♠

 Quão grande foi o choque ao escutar a voz do pai a chamando na porta do quarto. De início, seu coração parou, será que os pais haviam descoberto sobre o irmão? Talvez ele tivesse confessado sobre o cigarro que dera a ela. Não teve tempo de perguntar sobre o que se tratava, pois ele a mandou descer, alegando que havia um comunicado importante a dar. O pai nunca se incomodava a chamá-la para o que quer que fosse. Se sua relação com a mãe já era ruim, com o pai era pior, os dois mal se encaravam.

 Saiu do quarto e desceu as escadas, encontrando a mãe e o irmão sentados no sofá da sala. O pai se posicionara de pé no centro do cômodo. Melanie lançou um olhar ao irmão, mas ele, parecendo tão confuso quanto ela própria, deu de ombros. Quando se sentou, seu pai, que revelava um quase sorriso em seu rosto, de nariz empinado, começou a falar:

 — Preciso que todos vocês estejam bem arrumados esta noite, usem os melhores trajes de seus armários e bons calçados.

 — Outra família idiota virá? — perguntou Joseph. — Por que eu não posso ficar no meu quarto como a Melanie?

 — Joseph, cuidado com o que diz — o pai encarou Joseph com um olhar de repreensão. — Esta noite não será nem de longe uma família qualquer, não, não. Os Thomson virão, preciso que todos vocês estejam perfeitamente vestidos e, principalmente, que não me envergonhem, será a noite mais importante da minha vida.

 A mãe soltou um riso misturando deboche e sarcasmo.

 — E por que te envergonharíamos?

 Melanie não sabia muito sobre aquela família, somente que o senhor Thomson era o chefe de seu pai e possuía dois filhos, um menino e uma menina.

 Certa vez, ouvira seu pai comentar com o senhor Thomson sobre a possiblidade de casar os quatro filhos entre eles. Claro que Melanie nunca considerou aquilo como algo sério, era simplesmente ridículo demais. De qualquer forma, aquele fim de semana já não parecia mais tão perfeito, ficar bonita e ser educada para impressionar pessoas que nem conhecia? Talvez a morte fosse menos dolorosa. Infelizmente, parecia que não havia qualquer opção de alguém se livrar daquela situação.

 — Até mesmo eu preciso comparecer? — perguntou Melanie.

 Seu pai virou a cabeça de modo curioso para ela, como se a voz dela fosse um novo som para seus ouvidos.

 — Sim, Melanie... — ele não esboçava qualquer expressão e falava numa voz suave. — Até mesmo você.

 — Isso é uma besteira — Joseph bufou, se recostando no sofá. — Por que nós temos que receber essa gente toda semana e fingir que gostamos delas?

 — Joseph... — Jose repreendeu o filho com o olhar. — Calado.

 — Ninguém aqui gosta disso. Por que a gente tem que viver para impressionar essa gente? Por que você ainda insiste nessa merda?

Melanie fitou Joseph disfarçadamente, se perguntando de onde o irmão havia tirado toda aquela coragem. Seria devido a conversa que tiveram mais cedo? Talvez tivesse finalmente aflorado o seu lado desafiador. “Bem, alguma hora alguém precisaria dizer”. Do outro lado do sofá, Murcy fitava de relance e curiosamente o rosto de seu filho.

— Joseph... — Jose o olhou mais duramente, o rosto começando a ficar vermelho.

— É você quem quer viver lambendo o saco dos outros, e ainda nos arrasta junto!

— Eu mandei se calar!

Eram raras as vezes que Melanie havia visto seu pai levantar a voz, perder a compostura e a cabeça. Seu ser era sempre tão surrealmente formal e mecanizado que aquela cena nunca teria passado pela mente de Melanie.

Ruborizando, como se de repente tivesse percebido o que havia acabado de fazer, Jose pigarreou e ajeitou a gravata já arrumada.

— Não me envergonhem — repetiu, saindo logo em seguida, um pouco atordoado.

 As três pessoas restantes no cômodo ficaram em silêncio. Joseph foi o primeiro a se levantar e sair, deixando Melanie e Murcy para trás. Esta última, por sua vez, não mexeu um músculo, continuou parada e fitando um ponto fixo a sua frente. E então, sua mão se dirigiu até um dos bolsos de seu robe amarelo, tirando de lá um cigarro e um isqueiro. Enfiou o cigarro na boca, já se preparando para acendê-lo, porém Murcy subitamente interrompeu-se no meio do ato. Retirou o cigarro da boca e fitou o objeto cilíndrico por longos segundos. Devolvendo o objeto ao seu lugar de origem, Murcy finalmente levantou-se e saiu.

♠ ♠ ♠

 A casa estava impecavelmente arrumada, nem se parecia com a que Melanie havia visto minutos atrás. Jose depositava na mesa uma garrafa do melhor vinho que havia na casa, pelo visto, estava disposto a fazer o que fosse preciso para impressionar o chefe. Ele usava um terno de cor preta e uma gravata borboleta, estava usando os seus óculos, o que nunca fazia a não ser que fosse ler algo. Seus cabelos estavam bem penteados e repartidos.

 Melanie virou o olhar para onde sua mãe estava. Ela aprontava a mesa de jantar, a qual estava repleta de bolos, tortas, massas, assados, sopas, bebidas e doces. Melanie duvidou de que fosse a mãe a ter preparado tudo aquilo, ela odiava cozinhar e às vezes recorria aos restaurantes grandes da cidade. Não estava muito diferente do que Melanie costumava ver, usava a mesma quantidade exagerada de maquiagem e os longos cabelos louros estavam presos em um coque baixo enquanto sua franja caía pela lateral do rosto. Usava um vestido longo azul escuro de renda e saia ampla, além de um bonito colar de diamantes.

 Localizou o irmão largado no sofá com expressão de tédio, usava os cabelos repartidos de lado, uma camisa social branca junto a uma calça com suspensórios e uma gravata borboleta como a do pai. Melanie se aproximou dele. Depois do que acontecera naquela tarde, talvez ela tivesse pensado que poderia tentar criar algum vínculo com Joseph, mas não sabia se ele estaria suficientemente interessado nisso.

 — O que eu preciso fazer? — perguntou Melanie.

 — Quase nada — Joseph agora fitava suas unhas, como se não houvesse nada melhor a fazer. — Só precisa sentar, comer e sorrir. Só fale se lhe perguntarem algo.

 — Entendi... — bem, talvez não fosse tão difícil assim, pelo menos lhe parecia que não.

 Sem saber como continuar a conversa, Melanie fitou o ambiente ao redor. Engraçado. Era impressionante até onde o ser humano poderia se permitir chegar por aprovação. Melanie imaginou quantas pessoas já haviam vivido dentro daquela casa. Imaginou se todas elas já haviam passado por alguma situação parecida. Se todas elas também possuíam um histórico de teatros como aquele. Estaria aquela casa amaldiçoada pelo fantasma da superficialidade e fingimento? Não. Pessoas. As pessoas eram os seres amaldiçoados.

 Num espelho próximo a porta de entrada, Melanie notou Jose novamente arrumando obsessivamente a gravata que não estava desarrumada, treinando cumprimentos e tons de voz. Engraçado.

 Jose sempre fora um enigma para Melanie, assim como ela era para ele, assim como todos ali eram para todos. Sempre havia encarado o desejo de parecer perfeito como um fruto da própria insegurança que qualquer ser humano possuía. Porém, seu pai representava um conceito muito além daquilo. Seu pai era um homem doente. Doente. Obcecado. Louco. Melanie imaginou que conflitos internos uma pessoa como aquela enfrentaria. Jose não poderia saber quem ele realmente era, vivia sendo constantemente enganado por si próprio, ou melhor, por várias versões dele próprio. Melanie se perguntou qual delas choraria à noite sem que ninguém soubesse.

Melanie aproximou-se sem deixar que o pai a notasse.

 — Vai dar tudo certo. Vai dar tudo certo — Jose sussurrava para si mesmo. Gotas de suor eram visíveis em sua testa. — Você vai conseguir, você tem que conseguir. Não pode deixar isso passar. Tem que ser o melhor. Precisa impressioná-los. Precisa ser o melhor. Ajeite o cabelo.

 Abaixo do espelho, uma mesinha de três pernas sustentava um vaso de lírios brancos e, ao lado, um porta retratos com uma foto de Delia, a mãe de Jose. Este pegou o retrato nas mãos e fitou-o.

 — Você vai se orgulhar. Eu prome...

 Todos pararam subitamente quando ouviram o som da campainha sendo tocada. Seu pai parecia prestes a enfartar. Ele recolocou rapidamente o porta retratos em seu devido lugar e correu para atender a porta. Melanie, Murcy e Jose se posicionaram lado a lado, prontos para receber os convidados.

 Richard Thomson era um homem que aparentava ter cinquenta anos, tinha barba e bigode grisalho, rugas em seus olhos claros e trajava uma roupa parecida com a de seu pai, mas levava uma cartola na cabeça.

 A senhora Thomson aparentava ser bem mais jovem que o marido. Era uma moça bonita de corpo escultural e cabelos dourados bem arrumados em um coque, alguns cachos caíam pelos seus ombros. Ao contrário da mãe, usava uma maquiagem leve e neutra, seu vestido era de renda, longo, dourado e um pouco apertado em volta da cintura.    Ela aparentava ser agradável e mostrava um sorriso simpático.

 Atrás deles, estavam os filhos gêmeos, Alexandre e Katherine Thomson. Ambos tinham os olhos claros do pai e cabelos dourados como o da mãe, porém extremamente lisos. Alexandre vestia um terno cinza escuro e Katherine, um vestido amarelo. Não pareciam ter mais que catorze anos de idade.

 Seu pai curvou a cabeça em respeito ao patrão, desejando-lhe uma boa noite, a qual Thomson retribuiu. Depois, beijou com delicadeza a mão da esposa do patrão.

 — Permita-me lhe dizer que está encantadoramente bela esta noite — disse o pai.

 A moça deu uma leve corada e agradeceu o elogio com um sorrisinho. Melanie fitou de relance o rosto de sua mãe e viu que a mesma revirava os olhos e, num gesto impulsivo, cruzou os braços, mas o desfez assim que percebeu o que havia feito. As famílias foram apresentadas umas às outras e o pai deu passagem à família Thomson.

 — É uma grande honra recebê-los esta noite. Por favor, queiram se dirigir para a mesa de jantar, há um grande banquete lhes esperando.

 O pai, antes de ir para seu lugar, puxou a cadeira para que Jane, a esposa de Thomson, pudesse se sentar. Murcy não recebera o mesmo tratamento, então foi sentar-se sozinha na outra extremidade da mesa. Melanie observou o irmão realizar o mesmo ato com Katherine, e enquanto a garota corava de vergonha, estava explícito no rosto do irmão que ele fazia aquilo apenas por obrigação. E então, tomou um susto ao ver que Alexandre fazia o mesmo com ela. Ao contrário das outras moças, não agradeceu o gesto.

 Seu pai bateu duas palmas rápidas e, de repente, um homem que Melanie nunca tinha visto saiu de dentro da cozinha, era rechonchudo, quase não tinha cabelo e usava as roupas de um mordomo. Melanie franziu o cenho e fitou os rostos das pessoas na mesa, seu pai tinha um ar de convencido e seu irmão fazia toda a força do mundo para não rir. Era de fato, hilário. Um mordomo falso. Até aonde Jose iria com aquilo?

 — Louis, por favor, queira nos servir.

 Enquanto Louis, o mordomo, servia a todos, o pai puxava assunto com o senhor Thomson sobre o trabalho. Melanie entendeu que o assunto da noite seria aquele e bufou, não poderia haver coisa mais chata. O modo como seu pai se portava diante de Richard era simplesmente assustador e surreal. Ele falava entusiasmadamente, ria e até mesmo fazia piadas. Quantos anos de prática em fingimento seu pai tivera? Ele era mesmo mestre naquilo.

 Somente os dois homens na mesa conversavam. Seu irmão apenas comia em silêncio, assim como ela, Kat e Alex. Nenhum dos quatro parecia minimamente interessado na conversa, o que era compreensível. Jane Thomson sorria e concordava com a cabeça de vez em quando, como se estivesse executando seu próprio papel naquele teatro todo, porém, não falava nada.

 Melanie virou o rosto em direção a sua mãe, onde Louis Falso Mordomo, mais uma vez, enchia a sua taça de vinho. Sua mãe estava fazendo o que fazia de melhor. Beber. De fato, não vira ela fazer outra coisa durante todo o jantar. Queria saber o que se passava pela cabeça dela naquele momento. Será que ela também era frustrada? Será que havia ficado doente de tanto fingimento? Um gole de vinho. Parecia cansada. Suspirava de vez em quando. Mais um gole. Melanie quase podia sentir pena de Murcy. Erguia a taça mais uma vez. Louis a enchia sem questionar.

 Em meio à conversa entediante dos homens na mesa, Melanie entendeu que Richard era dono de uma das fábricas mais importantes e ricas da cidade, e que o pai tinha algum tipo de cargo importante naquele lugar. Esta noite, talvez, poderia ser a chance de conseguir uma promoção.

 — Você é um dos meus funcionários mais confiáveis, Jose — dizia Thomson. — Trabalha para mim há anos e nenhuma vez sequer me decepcionou. Sua esposa deve estar orgulhosa.

 Jose soltou um riso convencido.

 — Ah, claro. Murcy sempre me diz que se continuar bem assim, acabarei tomando seu lugar — complementou rindo, Richard o acompanhava. Melanie fitou a mãe, que exibia o sorriso mais falso que tinha.

 — Sim, mas obviamente quem herdará minhas posses será meu filho, Alexandre.

 — Ah, não, desculpe se lhe fiz entender-me mal — respondeu Jose nervosamente. — Não quis dizer que quero tomar-lhe o lugar, é claro, eu já sabia que é herdado ao parente mais próximo.

 — Sim, mas concordamos que ainda é muito jovem para este tipo de responsabilidade — Jane Thomson falara pela primeira vez desde que chegara ali. Melanie notou um leve sotaque francês suspeitosamente falso em sua fala. — Tomará suas devidas posses quando atingir uma idade adequada. Queremos que se concentre primeiramente em suas lições.

 — Acredita que esse garoto ousara me pedir o comando às viagens externas? — contou o pai de Alexandre. — Mas é óbvio que eu nunca permitiria isso, imagine só, um filho meu rodando pelo mundo afora com um bando de operários de classe baixa. Já tenho um número incontável de homens para realizar este tipo de trabalho. Preciso de alguém de confiança e experiência para cuidar de minhas posses.

 Melanie olhou para Alexandre, ele apenas cutucava a comida com o seu garfo e parecia constrangido. Mel notou um pequeno rubor colorindo suas bochechas. Tentou imaginar o que ele estaria pensando daquela situação toda. Ao contrário do irmão, Katherine, de repente, aparentava bastante interessada na conversa, sentava de costas retas e seus movimentos eram bastante delicados. A garota conseguia ser delicada apenas enfiando alguns punhados de comida na boca. Realmente. Muito. Impressionante.

 — Estou ficando velho e sem forças — continuou Thomson. — Minha saúde já não é de ferro. Caso me aconteça algo antes de meu filho herdar o que é seu por direito, preciso que você assuma meu papel nisso, Jose. Será que pode fazer isso? Você já trabalha comigo há mais anos do que posso contar, precisa ensinar a ele tudo o que ele deve saber.

 — Verdade mesmo? — os olhos de Jose brilharam de excitação.

 — Bom, se aceitar pode pegar suas coisas e vir trabalhar diretamente comigo em meu escritório, teremos muito que conversar e aprender.

 Jose revelou uma expressão de felicidade extrema. Aceitou a proposta e agradeceu ao chefe, propondo um brinde logo em seguida. Os dois seguiram longos minutos a mais conversando sobre o trabalho, e, para a alegria e tristeza de Melanie, a conversa acabou se direcionando para os filhos. Como esperado, Jose elogiou Joseph o máximo que pôde, enquanto o garoto apenas se obrigava a sorrir falsamente para os que o encaravam. Jane Thomson fez o mesmo com sua filha, Katherine, se orgulhava dos bons modos da menina e de como poderia ser comparada a uma dama respeitável da classe alta.

 De repente, em meio à conversa, alguém citara a palavra casamento. Melanie imediatamente ergueu a cabeça e prestou atenção.

 — Imagine, só, senhor Martinez — Jane falava entusiasmadamente e parecia um pouco sonhadora demais. — Como seria casar minha linda Katherine com seu adorável Joseph. Olhem só para eles, formam um casal perfeito.

 Melanie torceu o nariz. Não parecia que Joseph tivesse se importado muito com a garota desde o início. Na verdade, durante o jantar, Kat talvez tivesse tentado puxar algum assunto com ele em voz baixa, mas o garoto não tirava os olhos da própria comida e respondia algo que fazia a menina voltar a atenção para seu prato, parecendo decepcionada. Mel fitou o jovem casal, que sentavam lado a lado. Katherine tocava levemente os lábios com um guardanapo enquanto seu irmão tentava, sem sucesso, arrancar a carne de um osso de galinha com os dentes.

 Melanie ria da possibilidade de aqueles dois acabarem se casando, quando foi atraída de novo para a conversa ao ouvir seu nome sendo citado.

 — Melanie? — era o pai quem falava. — Ora, Melanie é uma garota excepcional. Muito estudiosa, obediente, elegante, toca piano e até faz aulas de francês.

 Melanie rapidamente fitou o pai, tentando disfarçar seu espanto e nervosismo. Piano? Francês?! Elegante?!? Melanie podia jurar que ouvira um risinho irônico vindo de Murcy, mas ignorou tal coisa.

 — Ora — respondeu Richard Thomson. — Se ela for suficientemente adequada como você diz, não vejo por qual razão não poderíamos ter dois casamentos por aqui.

 Melanie não conseguia dizer uma só palavra. Fitou o irmão, mas ele apenas tentava disfarçar o riso diante da situação. Casamento? Ela mal fizera dez anos de idade e já tinha seu casamento planejado por outras pessoas? Tentou manter a calma, é claro que ninguém ali a obrigaria a casar com uma pessoa de que nem gostava, obrigariam? Claro que sim. Sua família era louca, todos ali eram loucos. Não. Sob hipótese nenhuma ela se casaria, nunca. Sua vida já era suficientemente ruim para ter que se preocupar com algo como um casamento que ela nem mesmo queria. Não. Não iria acontecer. E se acontecesse, fugiria, para bem longe.

 Após terem comido, Louis Falso Mordomo retirou toda a mesa. Os adultos foram à sala se embebedar ainda mais e deixaram as crianças constrangidas apenas com a companhia umas das outras.

 — Por que os dois não levam Alexandre e Katherine lá para cima para se conhecerem melhor, hum? — disse Jose. — Tenho certeza de que se darão muito bem.

 Joseph ofereceu o braço para Katherine, claramente dando uma de bom rapaz. A garota aceitou e os dois subiram as escadas. Por favor, não. Por favor, não. Por favor, n...

 — Poderia me dar a honra? — Alexandre estendia o braço para ela, imitando o gesto do irmão.

 Melanie não gostava nem um pouco da ideia de estar sozinha com Alexandre. O que faria? Ela estava demasiadamente envergonhada, e, além disso, não queria dar a entender que poderia gostar dele de alguma forma, ela nunca gostaria dele, e muito menos se casaria com aquele garoto.

 Melanie, em meio a um surto interno, ignorou o garoto e subiu as escadas contra a sua vontade, sozinha, mas sentindo os passos do menino atrás dela segundos depois. Viu o irmão entrar em seu quarto com Katherine, mas, obviamente, deixando a porta aberta. Será que o cheiro ainda pairava por lá?

 Mel andou a passos largos para seu quarto, com zero vontade de dar alguma satisfação àquele garoto, ao mesmo tempo em que torcia para que ele não pensasse que era estranha ou má educada. Vá entender. Sentou-se em sua cama, observando o menino adentrar a porta e correr os olhos pelo local.

 — Seu quarto é bonito.

 Não respondeu. Tentou, mas a voz não saía. Talvez estivesse um pouco nervosa demais com o fato de que havia um garoto no seu quarto. Havia um garoto em seu quarto. Encarou os próprios pés, que se balançavam para frente e para trás.

 — Olhe só, Melanie — disse Alexandre. —, eu sinto muito se não era o que você queria, sei que está incomodada com a situação, mas não quer dizer que eu também não esteja desconfortável — Melanie encarava os olhos azuis do menino enquanto ele falava. — Nossos pais já planejaram o resto de nossas vidas e, infelizmente, não podemos contrariar. Mas também não me vem à mente a imagem de eu cuidando de um grande negócio, chegando em casa e sendo recebido com um beijo pela minha esposa e por meus filhos.

 Melanie viu um fio de esperança surgir. Se Alexandre também era contra toda aquela loucura, então poderiam juntos convencer os pais a desistirem daquela ideia ridícula. Naquele momento, o menino já não parecia mais tão idiota.

 — Então você poderia falar com o seu pai — disse Melanie animada. — Poderia fazê-los desistir. Diga que não é o que você quer, e que eu concordo plenamente.

 — Não é fácil assim, Melanie. Você não conhece meus pais, eu não posso desobedecê-los, tenho que seguir as ordens deles.

 — Fodam-se os seus pais! — exclamou Melanie, assustando o menino por ter dito aquela palavra. Pela expressão dele, era óbvio que não esperava ouvir algo do tipo, principalmente de uma garota. — Não pode viver o resto da vida como um cachorrinho numa coleira, sempre fazendo o que os outros querem. Pense no que você quer.

 O menino refletiu por alguns segundos, e, de repente, adquiriu um ar sonhador e exibiu um sorriso simpático.

 — Eu sempre quis explorar o mundo. Ver coisas novas, pessoas, culturas, línguas e comidas diferentes. Sair por aí em um navio e enfrentar o desconhecido. Dizem que no mar existem grandes monstros ferozes e sanguinários, além de mulheres bruxas com rabo de peixe que afogam homens. Meu pai já tentou usar isso para me fazer desistir dessa ideia, mas encarei como um desafio que eu queria enfrentar — Melanie achou bonitinha a forma como seus olhos brilhavam à medida que ia falando.

 Alexandre sentou-se ao seu lado na cama.

 — E você, com o que sonha?

 — Eu? — Alexandre assentiu. Melanie pensou por alguns instantes. — Bom, acho que a realidade faz todo o possível para prender meus pés no chão, mas eu sempre consigo me soltar. Eu tenho um sonho, não tão impressionante quanto enfrentar monstros e bruxas sanguinárias... — Melanie fitou Alex, que exibia um sorrisinho. —, mas eu queria muito que se realizasse. Sinceramente, eu só queria fugir, sumir. Queria ir para algum lugar que não fosse aqui, o lugar para onde fui destinada, o meu lugar — tinha dificuldades em achar as palavras adequadas. — Não sei se consegue entender, sinto que o mundo onde eu vivo não é onde eu deveria estar.

 — Como assim? Você nasceu em outro estado? — perguntou Alex sem entender.

 Melanie achara graça da confusão do menino.

 — Não, não. Eu nasci aqui e nunca saí daqui, e esse é o problema. Eu sinto que não estou no lugar certo, não estou no mundo onde fui destinada a estar. E eu sinto que o meu mundo está me chamando para voltar, voltar para casa, mas eu não sei como isso é possível, quero dizer, eu estive aqui mesmo a minha vida inteira, trancada nesse quarto, mal saio de casa. Mas, enfim, eu não espero que entenda, ninguém entende a bebê chorão.

 — Como?

 Melanie suspirou. Deveria ou não contar ao garoto? Há algumas semanas nem mesmo sabia de sua existência, poderia confiar nele? Surpreendentemente, uma vozinha dentro de si dizia que sim. Contar não faria seus problemas desaparecerem, e também não mudaria coisa alguma em suas vidas, de certa forma, sentia-se constrangida com o que iria contar. Porém, naqueles poucos minutos em que estiveram juntos, Alexandre tinha se mostrado uma pessoa não má, não como as crianças da escola. Melanie pensou que talvez o garoto valesse a pena.

 — Bem, é que na escola as crianças me xingam e riem de mim, todos os dias, eles me chamam de bebê chorão.

 — O quê? Mas por que te chamam assim?

 — Ah, acho que ser a menina mais estranha e feia do mundo dá a eles a oportunidade perfeita para descontarem a raiva em mim.

 E Alexandre fez algo que a pegou completamente de surpresa, segurou a sua mão com delicadeza enquanto a acariciava com o polegar. Melanie arrepiou-se diante do toque do garoto, ao mesmo tempo em que se sentia relutante quanto ao mesmo, e, embora ela nunca fosse admitir, talvez tivesse gostado um pouco daquilo.

 — Eu não acho que seja estranha, nem feia — Alex sorriu. Melanie retribuiu o sorriso temendo que a vergonha estivesse visível em seu rosto. — Você devia contar aos seus pais, procurar ajuda. Não podem te tratar assim.

 O sorriso de Melanie morreu. Ela nunca cogitara a menor possibilidade de contar à sua família, pois nenhum deles se importaria, nem a de pedir ajuda a alguém, além do constrangimento, sentia-se mal colocando seus problemas em cima de outra pessoa. Mel discordou do garoto e o fez prometer que não contaria a ninguém. Alex, mesmo não concordando com a decisão da garota, jurou que a ajudaria no que fosse preciso.

 Melanie e Alexandre passaram longos minutos conversando. Mel nunca pensou que poderia se dar tão bem com alguém, mas Alexandre havia realmente gostado dela, assim como ela de Alexandre. Poderia ele ser chamado de amigo? Melanie não sabia, talvez ele estivesse agindo apenas por educação. O pensamento fez Melanie entristecer-se.

 Ouviu seus nomes serem chamados no andar de baixo. Melanie despediu-se da família Thomson enquanto saíam pela porta. Antes de ir, Alexandre dissera-lhe que desejava vê-la novamente em alguma outra ocasião, e logo depois lhe dera um beijo rápido na bochecha (Melanie definitivamente ficara corada). A garota subiu de volta para o quarto, repreendendo a si mesma por ter gostado dos lábios de Alexandre tocando seu rosto, e fechou a porta. Um sorriso bobo surgiu em seu rosto. Não sabia o que estava sentindo, mas com certeza era algo novo.

 Mas não entendia o porquê de Alexandre ter sido tão simpático com ela, não chegava nem perto dos padrões de uma daquelas donzelas da sociedade, não era como Katherine Thomson, então, o que o atraía? Seus pensamentos se voltaram para o resto de sua família, e em como eles se portaram durante toda a noite. Se não os conhecesse, diria que eram pessoas comuns e felizes. Melanie era a única que os conhecia como realmente eram, eram bonecas em uma casa de bonecas. Se Alexandre descobrisse a verdade, se visse a realidade daquela família, poderia nunca querer falar com ela de novo.

 Entristeceu-se novamente ao pensar que apenas o teatro bem feito e nojento de sua família mantinha a confiança de Richard Thomson em seu pai, e a simpatia de Alex por ela. Sonhos. Sonhava em arrancar as cortinas que escondiam o que realmente acontecia dentro daquela casa. Sonhava em não ter que ser a boa irmã. Sonhava não ter que assistir sua mãe embebedar-se até desmaiar. Sonhava em nunca ter sentido o cheiro da fantasia de seu irmão. E sonhava em nunca acreditar que a mulher com quem tinha visto seu pai entrar em casa naquela noite não fosse sua mãe.

 Melanie sabia que não havia nada que pudesse fazer, o que a bebê chorão poderia fazer? Tinha que ser a boa menina e sorrir para a fotografia. A fotografia que enquadrava a mais falsa e pútrida realidade disfarçada de beleza. Mel apenas assistia tudo sozinha em seu quarto.


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