Camapheus Burke tomava seu café da manhã em completo silêncio na Mansão dos Burke, ou como gostavam de chama-la, Castelo do Vale. A construção era do século XI e dispunha de três torres ao redor de uma extensa ala principal, ao redor da propriedade, um rio demarcava seu contorno entre duas montanhas irlandesas.

Sentado na varanda que tinha vista para o rio, lia o Profeta Diário enquanto bebericava uma xícara de chá e mordia um pedaço de bolo de morango feito pelos elfos de sua família. Ao seu lado, uma caixa com artefatos mágicos chineses repousava, havia chegado naquela manhã e ele pretendia estuda-los no mesmo dia mais tarde, na loja da família.

Escutou quando seu filho, Darwin, e sua mulher, Cora, chegaram na mesa para fazerem o desjejum.

— Bom dia, senhor. – Darwin disse de forma educada, beijando a mão de seu pai.

— Bom dia, marido. – A senhora Burke falou submissa, dando um delicado beijo nos lábios de Camapheus.

Logo que os dois sentaram, ouviu-se um pio de uma coruja, a qual pousou no poleiro ao lado do patriarca.

Ela estendeu a pata para que a correspondência fosse retirada e para receber o pagamento. Camapheus despejou dois sicles no bolsinho de couro da coruja e desamarrou o jornal com folhas brancas, já o entregando para sua mulher.

Aquele era o exemplar semanal do periódico As Crônicas das Sagradas, que tinha como objetivo, assim como seu nome diz, manter a alta sociedade bruxa a par dos acontecimentos nas outras famílias.

Observou quando Cora pareceu surpresa com algo na primeira capa e logo abriu o jornal, procurando a informação que queria. Seus olhos corriam rápido pelas páginas enquanto sua boca se curvava para baixo. A respiração estava pesada e quando baixou o jornal, tinha um olhar irritado direcionado ao único filho e herdeiro.

Colocou o jornal na frente do marido que pode observar o título da notícia que ocupava uma página e meia.

Segundo contrato oficial de casamento entre Black’s e Lestrange’s é oficializado.

Há cinco anos noticiamos a primeira junção direta entre as árvores genealógicas das famílias tradicionais e puros-sangues, Black e Lestrange, protagonizada pelo filho de Joseph e Hadassa Lestrange (em memória), Rodolphus e pela filha de Cygnus e Druella Black, Bellatrix. Agora, nos é informado que há de haver uma segunda junção dessas mesmas famílias, no entanto dessa vez protagonizada pela herdeira mais jovem da família dos lobos e prima de Bellatrix, filha de Orion e Walburga Black, Zaniah. Como de se esperar, eu contrato foi firmado com o segundo herdeiro Lestrange, irmão de Rodolphus, Rabastan.

Ao nos comunicarmos com as famílias para recebermos mais detalhes, obtivemos os seguintes conhecimentos:

“Nunca foi difícil de observar que Rabastan e Zaniah eram atraídos um pelo outro, sabe? Nenhum de nós ficou surpreso quando essa atração começou a se tornar um relacionamento firme.” Diz o filho do meio de Orion e Walburga, Régulos, irmão mais velho de Zaniah e melhor amigo de Rabastan.

“Zaniah é uma garota inteligente, poderosa, determinada e ambiciosa. Será uma ótima integrante do clã Lestrange, tenho certeza disso. Sobre meu filho, só posso dizer que estou muito orgulhoso por sua escolha. Zaniah será a mulher ideal para gerar os futuros herdeiros do meu clã e caminhar ao lado do meu filho para o resto de suas vidas.” Diz Joseph, patriarca da família Lestrange. 

“Quando nossa garota nasceu, nosso mundo se fez mais completo do que jamais fora. Enquanto ela crescia, observávamos todo seu potencial e acreditamos lealmente que esta é a melhor das opções para as duas famílias. Estamos muito felizes em juntarmos nossos nomes.” Dizem Orion e Walburga Black, pais de Zaniah.

“No meu interior, eu sempre soube que este seria o futuro de meu irmão e da minha prima por casamento. Zaniah sempre foi minha preferida e eu nunca escondi isso, acho incrível a visão de compartilharmos do mesmo clã e das mesmas obrigações num futuro nada distantes.” Diz Rodolphus Lestrange, irmão de Rabastan.

“Zaniah é a filha que eu não tive. Quando fora me dada de afilhada, jurei protege-la e mimá-la com tudo que os Malfoy poderiam oferecer. Considerando que minha nora é uma Black, a prima de Zaniah, Narcisa, posso garantir que esta é a oportunidade perfeita para ambas as famílias, sem falar, é claro, no nítido carinho que os dois sentem um pelo outro. Vida longa à junção Black-Lestrange-Malfoy.” Diz Abraxas Malfoy, padrinho de Zaniah.

Ao lado, podemos observar o anexo do contrato assinado por Joseph Lestrange e Orion Black, visto que os dois noivos ainda são menores de idade.

E na segunda metade da página uma grande foto mágica de Rabastan e Zaniah abraçados e acenando posava.

Camapheus respirou fundo.

— Você só tinha um trabalho a fazer, Darwin Burke. E falhou. Miseravelmente. – Falou irritado, no entanto passivo, olhando o filho.

— O que esperava que eu fizesse, pai? O senhor leu as entrevistas, todos dizem que a atração entre eles é antiga.

Camapheus bateu o punho na mesa, fazendo pratos, copos e talheres se chocarem contra a madeira.

— Acha que eu me importo com a merda da atração entre eles? – Questionou retoricamente, sentindo seu rosto esquentar. – Em o que mais todos concordam nas entrevistas? Você viu? Todos falam que é a melhor opção para as duas famílias. É óbvio! Zaniah é a única filha do patriarca e não há nada que os irmãos não fariam por aquela garota. – Camapheus respirava afim de se acalmar, quando conseguiu, falou com a voz suave, mas não menos irritadiça. – Você nunca foi capaz de se aproximar dela. Estava sempre pra cima e pra baixo com a Avery, deixando espaço amplo para o Crouch. No entanto, aquele garoto é estúpido e deixou espaço aberto para o Lestrange.

— Eu não queria fazer o papel de melhor amigo, pai! É por isso que Bartolomeu não teve chance e não porque ele é estúpido! – Darwin falou irritado por ouvir seu pai criticando seu amigo de infância. – Escute, eu fiz o que eu podia, ok? Se você reparar, eu sempre estive lá por Zaniah. Em todos os momentos! Algumas vezes mais do que Bartô ou o próprio Rabastan. Estive quando ela caiu e estive quando ela ascendeu. Eu sou fiel a ela, com toda minha vida, mas não fui o escolhido, pai. Essas coisas acontecem. – Darwin disse num fôlego só, respirando fundo em seguida. – Talvez ela e a família tenham chegado à conclusão de que eu não era a melhor opção para ela. Sinto muito se lhe decepcionei, meu senhor. Sinto se decepcionei e desonrei o nome de nossa família. Sinto muito se o meu máximo não foi o suficiente.

E terminando a fala, começou a se retirar da varanda e ir em direção ao interior da casa.

— Como sempre, Joseph saiu na minha frente.

Foi a última coisa que Darwin escutou o pai falar.

Subiu em direção à sua torre particular devagar, pois seus olhos começavam a marejar.

Nunca era o suficiente para seu pai, nada do que fazia era bom o bastante.

“Artilheiro? Todos sabem que a maior glória é a do apanhador.”

“Destaque em feitiços? Transfiguração é mais difícil.”

Darwin sabia que o pai tinha uma rixa antiga com Joseph Lestrange. Rixa esta que o pai de Rabastan parecia ter deixado no passado, mas Camapheus não.

E, como se sua visível insuficiência não fosse plena, ainda tinha mais um motivo pelas lágrimas escaparem de seus olhos quando fechou a porta da torre.

Era sincero quando falava sobre sua total lealdade a seu pai. No entanto, em nenhum momento, era por interesse. Seu corpo se recusava a ficar em algum lugar oposto a Zaniah, ou como ele chamava em seu íntimo, seu ponto de gravidade.

Darwin se perguntava como poderia ter sido tão estúpido ao ponto de se permitir apaixonar por uma garota inalcançável.