Garden of Angels escrita por Alina Black


Capítulo 7
Te amo papai




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Dois meses se passaram após nossa primeira visita ao instituto e Alicia iniciou seu tratamento, tinha consultas semanais com o fonoaudiólogo e com o psiquiatra, hoje passaríamos com a pediatra, pela primeira vez eu estava sentindo o sentimento mortal chamado ansiedade, eu saberia mais sobre as especificidades do problema dela, saber qual o grau do seu autismo, e como eu ajudaria Jacob a lidar com isso para que Alicia fosse feliz.

Naquela manhã Jacob havia saído cedo como fazia na maioria das vezes, logo sai com Alicia em direção ao consultório, assim que chegávamos eu entregava o encaminhado dado por Isadora e então aguardamos na sala de espera.

Ao entramos percebi o olhar de alguns pais para nós, dei um sorriso tímido, era natural, erámos novas por ali. Observei as crianças sentadas, distraídas por algum brinquedo. Dava para sentir a ansiedade no ar. Manter o filho calmo enquanto espera é uma espécie de atestado de sucesso para pais de crianças com desenvolvimento atípico, de repente uma menina se aproximou, olhando para mim e em seguida para Alicia que tinha sua atenção voltada totalmente ao seu carrossel.

Dei um sorriso doce para ela, porém fiquei meio apreensiva, nunca havia visto Alicia perto de outras crianças, não sabia ao certo qual seria sua reação, a menina se aproximou ficando o mais próximo possível, e Alicia ao perceber a presença da garotinha me olhou como procurando uma resposta para aquela atitude.

— Oi como se chama? Perguntei carinhosamente – diga oi para ela Alicia!

Em um piscar de olhos a menina pegava o carrossel das mãos de Alicia e saia correndo – O que? Sibilei, mas antes que pudesse pensar um pouco mais no que fazer Alicia caia no choro.

— O que eu faço? Repeti baixinho enquanto a pegava no colo, Alicia nunca havia chorado não daquela forma.

Olhei para os lados procurando ver a pequena sequestradora de carrosséis, logo uma moça aparecia segurando a menina pela mão, ao se aproximar sorriu de forma gentil devolvendo o brinquedo a Alicia que se calou imediatamente.

— Peço desculpas, foi um pequeno descuido e ela desapareceu do meu lado!

Minutos depois, começaram a chamar os pacientes, observava o comportamento dos pais tentando acalmar seus filhos, alguns sem a mínima paciência, foi então que percebi o quanto eu estava sendo injusta com Jacob, ele era apenas pai, humano como os demais ali presentes, eu não sabia o que era ser humana até um mês atrás, o que era sentir dor, medo, receios e não ter respostas para as dificuldades da vida.

Mas alguns minutos e então recepcionista chamava pelo nome de Alicia, a segurei pela mão e entrei na sala.

— Olá como vai? A médica perguntava de forma gentil me convidando para sentar, agradeci sentando e tentando manter Alicia em meu colo sem sucesso, ela descia indo diretamente a alguns bloquinhos de anotações que estavam sobre a mesa da médica.

— Bem obrigada! Respondi voltando a atenção para Alicia.

— Ela está indo a quando tempo no fonoaudiólogo?

— Um mês! Respondi enquanto Alicia vinha até mim e me mostrava o bloco de papel.

— E já percebeu alguma mudança?

— Sim, Alicia tem se comunicado mais, fala algumas frases curtas, com mais de duas palavras, antes de iniciar as consultas ela respondia tudo com uma única palavra e poucas vezes.

— Vamos examinar essa princesa! A médica fala levantando.

Aproveitei que Alicia estava distraída demais com o bloco de papel e a sentei na maca, logo ela começou a protestar, mas como a médica era rápida com o estetoscópio não demorou a terminar o exame.

— Então como ela está? Perguntei um pouco apreensiva.

— Segundo a psiquiatra Alicia tem algumas características leves de autismo, ela tem evoluído, tem tudo para ter uma vida independente.

Sorri voltando a sentar e trazendo Alicia para meu colo.

— Acho que já sabe que autistas são muito apegados a rotina, com o tempo ela fica sabendo que toda vez que vier aqui terá que ser examinada, até o dia que não vai mais reclamar, atualmente não se trabalha com autistas apenas minimizando o estresse, mas sim dando doses pequenas de desconfortos que farão com que ele evolua gradativamente, só quando começar a lidar com tudo isso vai conseguir ficar sentada para assistir a uma aula, aguentar o coleguinha do lado perturbando, essas coisas que acontecem em uma escola.

Tudo aquilo me dava um grande alivio, pensava em uma forma de contar a Jacob, seria muito importante ele ouvir aquilo tudo, abriria sua mente e amenizaria seus medos e receios. Peguei o celular e ofereci a Alicia em troca do bloco de papel da médica e ela aceitou facilmente.

— Viu? Ela está interagindo bem mais, não fica mais tão apegada às coisas...

— Verdade! Respondi sorrindo e Alicia sorriu animada com o aparelho nas mãos.

Ouvi mais algumas explicações da pediatra e logo voltamos para casa, no caminho resolvi comprar lápis de cor e caderno de desenho para Alicia, segundo o psiquiatra e o fonoaudiólogo isso a ajudaria muito, fora que já havia percebido nos dias de recreação o quanto ela gostava de pintar.

Finalmente chegávamos em casa, ao entramos vi que Jacob estava acompanhado de uma moça, era muito bonita, eu nunca havia a visto, Alicia segurou minha mão e me olhou.

— Chegaram, demoraram hoje, o passei foi bom? Jacob perguntava enquanto olhava um pedaço de papel.

— Alicia gosta de passeios! Respondi.

— Deixa eu fazer as apresentações, Leah essa é Renesmee a babá de Alicia!

— Muito prazer! Respondi estendendo a mão para cumprimenta-la, mas ela apenas me olhou voltando a atenção para ele.

— Eu acho melhor dar o jantar de Alicia! Falei a puxando pela mão.

— Alicia não vai dar um beijo no papai? Jacob falou sorrindo e se abaixou.

Ela me olhou novamente e eu sorri, então caminhou até o pai dando um beijo em seu rosto, Jacob sorriu a abraçando e ela não esboçou rejeição ao abraço dado por ele, assim que ele a afastou de seus braços ela o olhou sorrindo.

— Te amo papai ! Ela sussurrou correndo envergonhada para o meu lado e me puxando para seu quarto, olhei para trás e Jacob a olhava sem reação, com um sorriso largo nos lábios.

Como era rotineiro, brinquei com Alicia por algumas horas, dei seu jantar e contei uma história para ela antes de dormir, mostrava as figuras do livro de histórias infantis enquanto lia e ela prestava atenção até finalmente adormecer, havia encontrado uma forma de consegui cansa-la para que dormisse já que essa hora sempre era difícil.

Arrumei o quarto guardando alguns brinquedos e ouvi uma conversa um pouco alterada vindo da sala, sai do quarto e caminhei lentamente e assim que me aproximei vi a namorada de Jacob sair e bater à porta enquanto ele passava as mãos no rosto.

— Aconteceu alguma coisa?

Jacob me olhou disfarçando – Não, coisa boba, briga boba de casal!

— Ah sim, entendi! Respondi o olhando, mas depois desviei o olhar sentindo que minhas bochechas haviam corado.

Ele aproximou-se e então senti suas mãos tocarem as minhas as segurando.

— Não sei como te agradecer por hoje, foi a primeira vez que Alicia demonstrou sentimentos por mim.

— Não significa que ela nunca o amou, só não sabia como dizer isso a você, agora já aprendeu! Respondi um pouco sem graça pela aproximação, Jacob nunca havia se aproximado tanto de mim.

Um silêncio se fez entre nós dois.

— Eu preciso ir! Sussurrei tirando minhas mãos das dele.

— Claro, posso deixa-la em casa...

— Não precisa o interrompi!

— Tudo bem, eu preciso trabalhar, preciso de ideias para uma nova campanha publicitária! Ele respondeu tentando puxar outro assunto.

— Isso é bom, é sobre o que? Perguntei pegando minha bolsa.

— Uma grife famosa lançou uma marca de perfumes! Espera – ele caminhou até o escritório e em seguida voltou com uma pequena sacola nas mãos – A vantagem de ser responsável pelo marketing é que temos acesso ao produto antes de sair para venda! Ele me entregava a sacola e eu sorri recebendo.

— Obrigada! Respondi abrindo e pegando uma embalagem rosa sem nada escrito apenas com o frasco de perfume, em seguida espirrei sobre o braço, a fragrância era boa, me lembrava um jardim.

— Gostou? Ele perguntou sorrindo.

— Muito, obrigada e boa sorte na sua criação! Falava enquanto abria a porta, saindo, o olhei mais uma vez antes de fecha-la.

Minha relação começava a ficar melhor com Jacob Black.

Peguei um taxi e voltei para casa, durante a viagem senti novamente o cheio do perfume e sorri lembrando de suas mãos segurando as minhas, depois guardei o perfume saindo de meus devaneios – Só pode está louca Renesmee, está mesmo pensando nele? ” Sussurrei, paguei o taxista e então desci entrando no prédio.

Subi as escadas pensando no que aquele perfume me lembrava, entrei em casa e fui para a sacada, aproveitei para cuidar um pouco do meu pequeno jardim enquanto olhava a paisagem da cidade, então uma ideia me veio à mente.


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