Laços escrita por Kaline Bogard


Capítulo 8
Então os dois quiseram tentar...


Notas iniciais do capítulo

Surprise, mãesdafoca!

Ah, amanhã é natal. Não sei se consigo postar aqui, então resolvi antecipar!

Feliz natal e boa leitura ♥



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Começar com os pequeninos na creche foi uma experiência indescritível. Era um grupo compacto, nove crianças apenas, todavia de personalidades bem diferentes. Os maiorzinhos chegaram desconfiados, desacostumados a ficar com estranhos. E foram a causa de choros intermináveis no decorrer daqueles dias! Enquanto os bebês pareceram se adaptar melhor.

Pouco a pouco foi se estabelecendo uma rotina, com Kiba e Hayate trabalhando na prática o que aprenderam na faculdade. Aos poucos o carisma de um e o jeito calmo do outro foram conquistando os pequenitos. As crises de choro diminuíram até que a adaptação se concretizou.

A princípio Kiba temeu que estar no mesmo prédio dos pais dificultasse o perfil oficial de creche. Afinal, quem resistiria a dar uma espiadinha no próprio filho enquanto a criança brincava ali pertinho? Pois aparentemente todos os pais das nove crianças resistiram à tentação. Ninguém foi bisbilhotar o andamento do arranjo. Eram pais preocupados sim, mas confiantes de que os donos da empresa ofereciam uma oportunidade incrível. Ninguém queria estragar ou atrapalhar a nova creche.

Sumire fez amizade muito fácil com as irmãs gêmeas. E com as outras crianças em idade equivalente. Logo era um sub grupinho unido dividindo brinquedos no cercadinho.

A hora do almoço tornou-se um desafio a parte! Foi o que levou mais tempo para organizar, depois resultou numa cena encantadora: as crianças organizadas nas pequenas mesas, almoçando todas juntas.

Havia jogos educativos pela manhã. Leitura e hora da soneca depois do almoço. Era o momento  em que Hayate e Kiba se revezavam para almoçar e preencher formulários de acompanhamento para cada um dos integrantes da creche.

De acordo com o contrato de trabalho, eles deviam ficar na creche até que o último pai ou mãe viesse buscar o filho, então ocasionalmente passavam do horário comercial, obviamente receberiam pela hora extra, mas não era algo que incomodasse algum dos dois. Pelo contrário, depois de tanto tempo fora do mercado de trabalho, exercer uma função oficial era gratificante.

Em via de regra, Kiba acabava ficando um pouco mais. Depois que a última criança partia, os dois rapazes encerravam o ponto registrando o controle de impressão digital, assim como os demais funcionários da “Aburame & Yamanaka TechControl”.  Então se despediam e Hayate ia embora.

Inuzuka Kiba voltava para a creche com Sumire em seus braços e ficava brincando com a filha até por volta das oito e meia da noite, quando tomava o elevador e ia até a sala de Shino, resgatá-lo e levá-lo para jantar.

Tais encontros foram marcantes. Kiba era curioso, arrancou informações de Shino com uma facilidade surpreendente. Sem que fosse planejado, o homem se viu contando sobre a infância com Ino, ambos nascidos e crescidos em uma pequena vila do interior do Japão. As dificuldades do lugar precário e as limitações impostas pelo atraso em várias áreas sociais. Como Shino, incentivado pelo pai, descobriu o fascínio pelos insetos e a brilhante mente visionária, que intuiu na tecnologia um paliativo para desgastes em espécies animais. A criação da nano-abelha revolucionou o setor científico, principalmente vindo de um calouro da faculdade. Tais habilidades foram devidamente amparadas pelo tino para negócios que corria nas veias da família Yamanaka. Ino percebeu as possibilidades e aliou-se a quem considerava um irmão. A dupla se mostrou uma combinação de sucesso garantido. Ambos vieram da humildade da baixa classe social e ascenderam como gigantes no mundo empresarial.

Em contrapartida, Shino mostrou-se um ouvinte excepcional. A honestidade em narrar suas origens foi recompensada por Kiba. O garoto contou sobre a própria família, sobre como foi crescer com a mãe e a irmã, que valorizavam os laços acima de tudo. Falou sobre a ex-namorada e a surpreendente gestação. Kiba sentiu-se seguro o bastante para segredar a verdade: sabia que Sumire não era sua filha de sangue. Todavia a amou desde que soube da gestação. Pra ele, vínculos não precisam ter relação com DNA para serem fortes e reais. Abraçou a ideia de ser pai, mesmo tão jovem, e fez o possível para garantir que a menininha viesse ao mundo. Algo que lhe custou as economias reservadas para o curso e para sua sobrevivência em Tokyo. A mãe de Sumire não se importava: livrar-se da criança através do aborto ou aguentar aqueles meses e dar a luz, permitindo que Kiba batizasse a menininha com um sobrenome. Mas, no caso da segunda opção, então que ele bancasse todas as despesas com médicos e hospitais de qualidade.

Informações iam de um lado para o outro, a relação ganhou outros tons, mais tranquilos e cúmmplices. Kiba imaginou que a diferença de idade entre eles ajudava, porque Shino era mais experiente e paciente, mas concluiu fácil que a própria personalidade dele combinava com a sua. Nunca se sentiu julgado ou diminuído. Shino ouvia seus problemas não como reclamações de um jovem descabeçado, e sim como algo digno de respeito. Era a melhor sensação que poderia ter! Desejava que o outro se sentisse tão bem também, em sua companhia.

Rotina que se repetiu naquela noite de sexta-feira, ao final da primeira semana efetiva de funcionamento da creche da empresa. Kiba ajeitou-se no espaço recoberto com um carpete macio cheio de estampas infantis, colocou Sumire sentada e arrastou-se para trás. Então abriu os braços e sorriu:

— Vem com o papai, princesa! Vamos lá, está na hora de treinar esses passinhos!

Sumire tinha um ano e dois meses, engatinhava bem na época do arubaito no galpão de entregas, porém, trabalhando intermitente, basicamente vivendo na rua e no carro, não era como se Kiba pudesse estimulá-la do jeito adequado. As palavras começavam a se juntar mais rápidas do que as perninhas ensaiavam os primeiros passos.

— Vem, Sumire! Me dá um abração!

A garotinha fez um pequeno esforço, resmungando palavras um tanto desconexas, conseguindo ficar em pé de um jeito precário. Uma vitória que fez Kiba comemorar.

— Isso! Menina foda! Agora vem com o papai... devagar! Vem!

Agitou as mãos chamando-a com ênfase. O tom de empolgação era envolvido por carinho inegável. E orgulho. Uma criança tão jovem, que já tinha passado por tanta coisa! Tanta privação!

Sumire deu um gritinho um tanto nervoso e colocou o primeiro pé na frente. Bambeou para o lado, mas não caiu. E então o segundo passo, balançante e incerto... uma conquista!

Emocionado, Kiba se preparou para abrir os braços e acolher a filha que vinha devagarinho, se aproximando, se aproximando e que... passou direto por ele!

— Sumire...?! — um tanto surpreso virou-se para ver até onde ela iria andar naqueles passinhos engraçados.

Foi então que descobriu Shino parado junto a porta, também observando a garotinha. Graças à atenção e aos reflexos invejáveis, quando Sumire vacilou e perdeu o equilíbrio de vez, Shino conseguiu abaixar-se e ampará-la antes que caísse no chão.

Em silêncio Kiba esperou que ele fosse ter junto a si, sentando-se no carpete sem grandes afetações e fazendo menção de entregar a menina que tinha nos braços e que começava a brincar com a gravata elegantíssima, levando aos lábios brilhantes de baba.

Todavia a oferta foi declinada. Kiba adorou a cena, sorrindo do jeito descontraído com que a filha interagia com Shino.

— Que praguinha! — riu — Pensei que vinha correndo me abraçar, mas passou direto!

— Ela tem rebeldia no sangue.

— Caralho, homem! Imagina quando ficar adolescente? — Kiba meio que resmungou, meio que brincou enquanto deixava o corpo cair para trás, cruzando as mãos sob a nuca. Deitado no carpete confortável se permitiu admirar Shino sentado ao seu lado, ninando Sumire sem se importar com a gravata cheia de saliva — Você veio. Conseguiu sair da sala sozinho.

As duas frases foram ditas num tom baixo, com certa admiração.

— Consegui.

— A crise...?

— Passou — Shino revelou — Fui ao meu terapeuta e pedi um pouco mais de tempo antes de mudar a dose do remédio. Você me ajudou muito. Obrigado.

Kiba teve um pouco de dificuldade em engolir saliva. A garganta seca moveu e foi quase doloroso. Sentiu-se a pior pessoa do mundo.

Sem que pudesse evitar, se ouviu dizendo:

— Eu queria que você voltasse...

A frase pairou no ar, incompreensível para Shino. Sumire deu um puxão mais forte na gravata, antes de continuar a morder com interesse curioso. Talvez as estampas elegantes em traços abstratos parecessem apetitosas...

— Não entendi — ele revelou a dúvida, colocando-a em palavras.

— Aquela manhã no parque, quando a gente se conheceu. Eu voltei mais vezes lá... com esperança de te encontrar de novo.

— Por quê? — a incredulidade de Shino foi indisfarçável.

Kiba calou-se. Conquanto o rubor que lhe cobriu as faces tornou-se resposta mais efetiva do que qualquer outro gesto.

O que poderia dizer? Que se sentiu atraído pelo desconhecido? Pelo jeito misterioso e exótico? Que o coração batia mais forte a cada pensamento de vê-lo novamente?

Kiba recebeu ajuda de muitas pessoas generosas e gentis.  Mas foi em frente ao homem de longo casaco e óculos de sol que aquela faísca do interesse se reacendeu. Dia após dia, secretamente, havia aquele tracinho de esperança de um bem fadado reencontro!

Quando o destino conspirou para reuni-los, a situação era a mais tensa possível. Kiba estava sofrendo forte chantagem. Sentia-se pressionado e assustado, prestes a perder a filha. Então, infelizmente, quando Shino lhe ofereceu ajuda, temeu ter que pagar caro por aceitar.

Aquele tempo trabalhando na “Aburame & Yamanaka TechControl” lhe lembrou a mais fundamental premissa do convívio humano: pessoas eram boas. Kabuto era exceção, não a regra.

Shino era bom. E decente. Nunca deu sequer a entender que esperava algo de Kiba; a não ser, claro, um profissional competente e dedicado.

A cada dia, a cada momento, aquele interesse inicial ia retornando aos pouquinhos, porque Kiba tinha muito defeitos, muitos mesmos (e ele nunca tentou negar isso), porém não era alguém leviano e supérfluo. Que tem como peso de avaliação apenas as coisas boas ou que lhe dessem vantagem. O interesse que sentiu por Shino não era algo que desapareceria porque ele sofria de um transtorno.

Na verdade, quanto mais observava Aburame Shino, mais interessado em desvendá-lo ficava. Negar ou fugir disso era uma covardia que nunca faria parte das atitudes de Kiba.

Shino aproveitou que o silêncio se prolongava para analisar a face do outro, valendo-se da proteção dos óculos escuros. Leu claramente o que ia na mente de Kiba, tão transparente em suas reações que transpassava o encantador. O rubor recusava-se a abandonar-lhe as bochechas.

A cena, de um modo geral, era íntima. Havia algo no ar... algo que Shino queria preservar entre eles. Fosse o calor conhecido de Sumire em seus braços, a criança que foi dia após dia com o pai ajudá-lo a vencer o medo de conseguir sair do próprio escritório. Fosse a intensidade no olhar de Kiba, que já vira em outras ocasiões, ainda que inflamado por motivos diferentes.

— Posso convidá-lo para jantar? — a pergunta foi feita por Shino. Não surpreendeu a nenhum dos dois adultos.

— Pensei que não ia perguntar! — Kiba gracejou, começando a sentar. Nem bem endireitou a postura, sentiu uma mão firme prende-lo pela nuca, enquanto era puxado para mais perto de Shino, o suficiente para que os lábios se unissem em um beijo que era mais do que desejado por ambos.

Shino ainda teve o cuidado de mover o braço, afastando Sumire o bastante para que a menina em seu tórax não ficasse presa entre o corpo dos adultos.

O beijo seguiu calmo, suave; duas pessoas sondando um ao outro no contato que, surpreendentemente ou não, pareceu mais do que certo.

Ao se afastarem, estavam sem folego. Porém o sorriso de Kiba demonstrou como ele se sentia: feliz.

— Vamos lá — ficou de pé, ajeitando as roupas — Que tal ir no Ichiraku, onde nossa história começou?

— Claro — Shino concordou, também levantando-se do chão, com Sumire agarradinha em seu pescoço, já desinteressada da gravata, meio sonolenta.

Pareceu uma ideia excelente, ir ao lugar em que a vida deles se entrelaçou para comemorarem não um novo começo, mas uma nova oportunidade. A relação estava em vias de mudar.

Se bom ou não, se certo ou não; o tempo iria dizer. Apenas uma certeza os envolveu: naquele instante os dois queriam tentar.


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Notas finais do capítulo

E acabou! Espero que tenham gostado tanto de ler quanto eu gostei de digitar. Obrigada pela companhia nesse ano de 2019. Espero que 2020 traga mais inspiração para todos os fãs desse casal

See ya!



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