Sangue de Arthur escrita por MT


Capítulo 8
8- Capítulo, Até que levo jeito


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem do capitulo! Finalmente nosso rei e Mordred têm um papo de família. Aceito criticas negativas já que as positivas aparentemente estão escassas!
P.s: mas se quiser apenas elogiar, faça! Irei te amar mais assim.



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ARTHURIA, Emiya

— Então… quer um bolo? - perguntou enquanto se sentava na mesa.

Havia pedido a um colega para cobri-la servindo os clientes quando viu Mordred passar pela frente do Cyber Café, mas agora sentia-se tentada a mandar a cavaleira da rebelião embora.

Ela estava com poeira no rosto e nas roupas, o cabelo era um emaranhado sujo e grotesco, um fantasma de algo que um dia fora similar a ouro. O cheiro que emitia era ácido e quente. E estava com as íris tão apagadas, a boca tão quieta num esgar desinterassado e uma postura tão pouco ereta que Arthuria não fazia ideia de como proceder.

Nunca tivera de se preocupar em lidar com uma criança deprimida antes. Bom, teve de animar o Shirou algumas vezes e ceder a alguns caprichos da Eli quando ela ficava com temperamento irritado por tempo demais. Mas sir Mordred… aquilo não soava como algo que pudesse ser resolvido deixando-a brincar com Excalibur ou realizando uma fantasia que mantinha em segredo. 

Quando a garota não respondeu, Arthuria pediu que trouxessem o de chocolate branco. 

Mordred ergueu os olhos até ela. O rei dos cavaleiros sentiu uma agitação remoer seu corpo. Precisava se desculpar, lembrou encarando as íris da garota. Por Camelot, pelas palavras e ações que saíram de si lá, pela forma como agiu quando a reencontrou batendo na porta de sua casa.

Eu pensei que ela estivesse ali para vingar sua morte e tudo o mais que a fiz passar, lembrou de quando a vira naquela época pela primeira vez, e mesmo quando Koji-san interveio continuei a tratando com desconfiança. Que tipo de pai age assim?

— Er… bom… - as palavras fugiam dela. - Mordred, eu…

— Me desculpa. - A cavaleira disse antes que Arthuria o fizesse. Calma, firme, e continuou. - Eu fui idiota, infantil e cruel. Não devia ter pedido para ser rei, não deveria ter começado aquela rebelião. Nunca fui digna da coroa ou de ser seu filho. Realmente sinto muito por todos os problemas que te causei.

— Não precisa se desculpar. - respondeu rapidamente. Poderia ter estado zangada com ela por um tempo no trono dos heróis e até em algumas invocações, mas já refletira o bastante sobre o assunto para entender que provocara aquela atitude na garota. - Eu é quem devia estar…

— Não, você não entende. - Mordred a interrompeu. Com apenas o mais leve sinal de agitação na voz. - Eu sempre soube que era uma cópia, mas preferi fingir que era seu filho e que por isso precisava segui-la e um dia assumir seu lugar. Nunca pensei em como você poderia ver aquilo, no quanto fui irritante e desagradável. Uma aberração.

Ela esfregou o olho esquerdo de punho fechado e praguejou baixinho, mas Arthuria pôde enxergar o fio de água descer por sua bochecha. 

De certo modo ela não estava errada. Aberração, Arthuria lembrava que fora assim que se referira a Mordred quando Merlim contara-lhe sobre a criança feita de si. Recordava da sensação de nojo e repúdia que assaltou-lhe o estômago ao vê-la sem o elmo nos anos seguintes a descoberta de sua natureza. E do modo como cada palavra dirigida a ela, mesmo após aceitar sua presença, carregava um pouco de raiva. Não devia existir, recordava de ter pensado. 

Mas agora era uma mãe. Vira sua filha ir de um bebê rosado e chorão a uma garotinha enérgica que aspirava a ser um ´´rei depois da mamãe``. Eli age destemida, prefere espadas de madeira a bonecas, é dada a travessuras. Sua atitude é vivida e quente, um calor alegre de criança.

Mordred não fora muito diferente nos seus primeiros anos de serviço. Enérgica, sempre a primeira a se irritar com insolências dirigidas ao rei e desconhecida a reclamações fosse qual fosse o trabalho lhe dado. Também tinha um sorriso no rosto sempre que dirigia a ela alguma palavra.

E ambas, Eli e Mordred, possuem sua face. Sempre que vê a filha lembra da cavaleira e de como fora cruel. Fazia-a sentir que pisara em Eli tanto quanto na garota com qual dividia a mesa. Não posso magoá-la mais e também não posso simplesmente deixá-la de novo, no fundo ambas são crianças e nenhuma delas é menos minha.

— Não, você é uma criança e apenas isso. - foi o que lhe veio à mente primeiro ao alinhar a lembrança da filha a necessidade de reconciliar-se com Mordred. - Aberração, cópia e indigna, deixe que os adultos lidem com esses rótulos estúpidos. E se acha que cometeu algum erro, pense outra vez. É responsabilidade dos pais carregar os equívocos de suas crianças. Então, sir Mordred, se me permitir, a partir de hoje deixe-me devidamente tomar para mim o peso dos seus erros.

A cavaleira a olhou com pálpebras erguidas e os lábios um pouco afastados. Parara de enxugar as lágrimas e agora elas corriam como finos rios pelas bochechas. Arthuria sentiu o corpo enrijecer de tensão.

O que diabos eu acabei de falar?! Arrrghhhh!, desesperou-se internamente, Espero que ela não fique zangada. Que merda eu tenho na cabeça!? Mordred é um cavaleiro ungido e estou chamando-a de criança?! Graças a Deus Excalibur ficou em casa ou talvez eu mesma decepasse minha cabeça. 

 

Só quando o bolo chegou Mordred disse algo.

 

— Íamos comer um bolo assim…- Arthuria a fitou, aliviada por enfim vê-la falar. - chocolate branco e um morango em cima, eu apenas disse ´´aquele com a coisa branca``... tão estúpida. - seus olhos começaram a derramar mais lágrimas enquanto a voz aos poucos tornava-se emotiva. - Mas aí a casa explodiu, nada de bolo… o mestre choramingou como uma criança assustada, achou que tinha sido eu, estávamos brigando… um garoto tão estúpido - ergueu as íris rodeadas por carmim e água. - acho que éramos duas malditas crianças desmioladas, mas eu, eu… queria que não fossemos, queria que fôssemos como você. Incríveis, inabaláveis e fortes… mas não chegamos nem perto, pai, e eu não sei mais o que fazer.

Estavam num restaurante sentados ao redor de uma curta mesa redonda e prata. Frente a frente, pela primeira vez, como o pai e a criança que sempre deveriam ter sido. Arthuria esticou o braço e tocou a mão de Mordred. 

Por um momento pareceu que a cavaleira iria recuar, mas não aconteceu.

— Deve estar sendo difícil - o rei dos cavaleiros não sabia quais palavras deveria dizer. - Mas há lutas pela frente que você não pode evitar. Você sempre gostou de lutar, certo? E vencendo poderá ter um desejo realizado. 

Arthuria forçava um sorriso.

Ela não está parando, percebeu enquanto a garota se punha a soluçar e esfregar os olhos com as costas das mãos.

Queria confortá-la, pô-la a rir e caçar gatos como a via fazendo ao redor da fortaleza durante sua curta infância. Na época não sabia que aquela garota fora feita a partir dela através de feitiçaria. Nem mesmo se dera ao trabalho de perguntar a origem ou de que lugar provinha até que lhe chamara de pai um dia. A resposta que saiu de seus lábios para aquilo ainda a deixava para baixo. Fora fria, cruel e repugnante, algo que nunca um rei deveria ser para seus seguidores fiéis.

Respirou fundo e tentou incorporar seu Shirou interior, seu instinto materno ou qualquer coisa que a fizesse capaz de resolver aquela situação.

Inútil. Pediu outro pedaço de bolo.

A garota parara de soluçar e já começara a comer quando a outra fatia percorria o caminho até a mesa nas mãos da garçonete. 

Arthuria esperou até recebé-la e a moça sair para dizer as últimas palavras que conseguia encontrar para tentar tirar Mordred daquela inação. Mas a voz lhe falhou.

Como rei nunca agira como pai para ela e mesmo os anos com a pequena Eli não há haviam ensinado o que fazer quando sua criança está tão imersa na tristeza que nem aquilo que a diverte a trás de volta. Ouvira do filho da Tatsuo sobre quão irritada ficara Mordred com a derrota para Shirou apesar da diferença não ter sido significante o bastante para o embate ter tido um vencedor. Ali, sabia, tinha o fio para levá-la até a solução. Talvez elogiar a força dela, ou falar sobre o treino infernal pelo qual o marido passara, antes de dar-lhe a notícia fosse a melhor escolha. Mas a incerteza a sondava, uma garota frágil não batia com o que lembrava dela.

A jovem ousada, impertinente e idiota que se jogava nas mais arriscadas e loucas batalhas. A criança tola de sangue e cabeça quente. A garota que respondia com aço a qualquer insinuação sobre seu gênero. Onde estava ela naquela menina aos soluços e lágrimas? 

Ser pai é mais difícil do que ser rei… mas preciso avançar como um ou como outro.

— Você é forte, espero que esteja ciente disso. - havia tomado sua decisão e esperava que estivesse certa ou tão perto disso que não faria diferença. - Lutou por mim batalhas difíceis e impossíveis para muitos homens e saiu vitoriosa. Mesmo na derrota em Camlam conseguiu trazer o inimigo para o túmulo. Seus feitos como guerreira são grandiosos, uma ou dez derrotas não significam mais que meia dúzia de pequenas pedras atiradas ao mar. É uma das razões para que Tatsuo Koji precise de você e apenas você. A outra acho que sabe, não é? Aquele garoto só tem uma pessoa no mundo e ela não estava aqui antes de Mordred descer do trono dos heróis.

— Isso não é… - a garota fitava o próprio prato, a mão que segurava a colher tremeu de leve.

— Sim, é. Provavelmente você não conhece toda a história. A mãe dele vive fora do país desde o incêndio que matou-lhe o pai e deu um fim a casa onde moravam. Dinheiro é enviado regularmente, também uma empregada para limpar a bagunça, mas é só. Nada de visitas ao filho ou cartas e pode-se supor que não há troca de mensagens via internet. Ele abandonou a escola, ninguém aparece por lá a não ser entregadores de comida e similares, não é visto nas ruas ou em outro lugar qualquer a menos que esperem o garoto abrir a porta para receber algo. Tatsuo Koji provavelmente tem depressão e mesmo assim, desde o dia em que você surgiu, ele tem saído e passado um tempo nos lugares onde pessoas da idade dele devem passar. Queira ou não, saiba ou não, você tem o deixado respirar um pouco fora do poço no qual o garoto via-se confinado. O salvou naqueles dias e precisa fazê-lo outra vez.

Uma conversa com a vizinha do garoto e Arthuria descobrira tudo aquilo e um pouco mais. Que tipo de vida ele levava e que velhas senhoras são assustadoramente vigilantes.

— Não sei se posso. - respondeu a cavaleira. - E o abandonei, talvez ele nem me queira mais.

Ah meu Deus! Ela tá apaixonada pelo próprio mestre! Somos mais parecidas do que eu esperava! O rei dos cavaleiros teve que morder a própria língua para manter-se quieta e de expressão neutra.

Arthuria sabia após aquelas palavras que, além dela ter uma queda por Tatsuo Koji, o restante havia sido ouvido, que só precisava dá-la esperança e um motivo para agir.

— Mordred, Koji-san tem te procurado desde do primeiro dia que vocês se separaram. - Mordred ergueu os olhos com um brilho esperançoso. - Ele a queria de volta e isso era óbvio para quem quer que o olhasse.

A cavaleira começou a apertar os lábios um contra o outro e as íris lutavam para não deixar lágrimas caírem outra vez.

— E agora ele está desaparecido há um dia, você irá salvá-lo, sir Mordred? - droga, pensou logo após falar, acho que disse isso rápido demais.

Ela balançou a cabeça afirmativamente e Arthuria suspirou aliviada.

— Sim.

Mesmo o tom embargado e as lágrimas não ofuscaram-na quando sorriu. Arthuria não pôde ficar menos do que feliz com aquilo.

Até que levo jeito para ser pai, talvez o Shiro deva ser a mãe da Eli a partir de agora.

 

KOJI, Tatsuo

Telhas empilhadas umas sobre as outras, sacos de cimento, canos e ainda mais itens usados para construções. O galpão era grande tanto em altura quanto largura. Nenhum dos materiais parecia estragado, mas além deles três ninguém aparecera por ali. 

Aquilo o deixava com a péssima sensação de que uma morte se apresentaria em sua vida e que teria lugar de honra no funeral que a seguiria. Apesar de ser bastante difícil acreditar que alguém faria um por mim.

— Encontrei-a, mas ainda acho que esse plano é idiota. -  o servo assassin disse quando se materializou ao lado deles. - No melhor dos casos vamos ter perdido um bom tempo matando eles após uma longa e penosa peleia.

— Não precisamos matar ninguém. Ela escutará a razão, se juntará a nossa causa e esse cara vai abrir mão de seus selos de comando. Não somos assassinos.

O servo fitava seu mestre com um semblante rígido e tenso. Tatsuo podia vê-lo cerrando os punhos e quase esperava assisti-los discutirem e exporem como pretendiam se mover naquela guerra. Mas não aconteceu.

Mesmo amarrado e confinado num lugar estranho diante de dois inimigos, o rapaz conseguiu sentir vontade de rir. O mestre era um tolo ingênuo dotado de misericordia e seu servo transbordava desagrado. Aquilo tornava as chances para uma reviravolta bem promissoras.

Pensou que poderia tentar convencer o assassin a virar a casaca. Ou formar uma aliança com o garoto que desejava passar por um evento onde a vitória depende do assassinato dos rivais sem assassinar ninguém. Mas logo percebeu que era quase tão tolo quanto o rapaz que o raptara. Tatsuo Koji não fizera de si um solitário por ser um exímio orador e as palavras erradas só o levariam a mais equívocos verbais que por sua vez o trariam um fim precoce. 

Ficar atento, dar suporte a Mordred quando a luta começasse, e ela quase certamente iria, e estar pronto para aceitar qualquer proposta idiota que o desse liberdade e os selos de comando era a melhor coisa que poderia fazer. 

O chão estava sujo sob sua bunda e cimento e argamassa irritavam-lhe o nariz. Feixes de luz passando pelas entradas entre o teto e a parede permitiam que pudesse ver cada entalhe do local. Os raptores o haviam posto no canto contrário a porta deixando-o com amplo campo de visão. As pilhas de canos estavam amarradas na borda esquerda, mas o que prendi-as estava velho e desgastado. Sacos de cimento, argamassa e outras matérias cinzentas em pacotes viam-se em prateleiras de madeira apoiadas nas quatro barras longas de ferro que serviam-lhe como colunas. Do outro lado telhas de diferentes cores e formatos ficavam empilhadas uma atrás da outra.

Não conseguiu imaginar como nada ali fosse ser realmente útil. Cortar os sacos e derrubá-los podia gerar uma cortina de fumaça, mas qual o uso disso quando seu servo luta melhor diretamente e sem truques e você não consegue fazer isso rapidamente? Talvez fosse capaz de romper as cordas que seguram os canos no caso onde se faça preciso para uma distração ou algo similar, mas antes teria que livrar-se das próprias amarras e não soava-lhe provável a cada vez que as forçava e falhava em rompê-las. Quanto às telhas, pensou que poderia usar uma das pequenas para acertar o mestre inimigo, mas novamente o problema de estar restringido o restringia.

Com tantas utilidades acho que Mordred pode realmente acabar se unindo ao inimigo, concluiu sentido um sopro gélido preencher seu corpo. Não seria a primeira a me abandonar.

— Traga-a até aqui para podermos conversar e chegar num entendimento. - o olhar dele voltou-se ao cativo, duas íris azuis claras que poderiam derreter o coração de uma donzela. Um tremor percorreu Tatsuo ao lembrar que, ao seu modo, Mordred era uma. - Espero que esteja se sentindo cooperativo.


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Notas finais do capítulo

Preciso dizer que no próximo vai rolar show de luzes e nobres fantasmas?
Então, se estiver lendo e disposto a comentar, o que têm achado da fanfic? Sério pode falar mesmo que seja um ´´estou decepcionado`` ou ´´você enrola demais`` ou ´´por que o Gilgamesh não chamou ninguém de vira lata ainda?``.
Prometo não ser hostil caso tenho opiniões negativas a respeito desta história.



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