Sangue de Arthur escrita por MT


Capítulo 4
4- Capítulo, Servos e romance


Notas iniciais do capítulo

Título sugestivo esse hein... me pergunto o que vai rolar nesse capitulo.
Espero que gostem!



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— Resumindo, estamos sem teto. - concluiu Mordred quando o garoto terminara de apontar sua falta de conexões na cidade. - Não importa, a guerra começou. Caçamos os outros participantes e damos um fim nisso. Depois pode usar o graal como bem entender. Uma casa, uma família, riquezas, basta escolher.

Ainda não esquecera o quão irritada estava, mas a confusão da casa explodindo a permitira incutir-se um pouco de auto-controle e razão. Tinha um dever como servo e iria cumpri-lo independente do seu pai, da decepção que era o garoto a sua frente ou do estranho sentimento de que um buraco abrira-se no peito e começara a jorrar raiva, ódio e ressentimento.

— Não acho que é tão simples… - o garoto no meio desta frase foi interrompido, por Mordred, ríspida e friamente.

— Então vai simplesmente sentar esse traseiro flácido esperando que algo ou alguém resolva tudo? - queria socá-lo outra vez, atrevessar a mesa e incutir um pouco de virilidade naquela pantomima de homem. - Juro que se for essa sua intenção…

O quê, sua estúpida cabeça oca? Perguntou-se, iria matá-lo e desaparecer poucas horas depois ou talvez pretenda cuspir na sua honra como cavaleiro outra vez e se juntar a outro mestre? Suas íris correram para outra coisa qualquer. Uma das garotas em vestidos repletos de babados, saias curtas e decotes, que serviam as mesas e falavam como as mais estranhas serviçais que jamais vira. ´´Moe moe-kyun`` ouviu e quase sucumbiu ao desejo de fatiar uma delas com Clarent.

Suspirou enquanto pensava no problema de uma residência. 

— Uma hospedaria. - disse por fim. - Tem dinheiro o suficiente?

— Provavelmente, mas seria perigoso para os demais residentes se algum mestre decidir que eliminá-los junto a mim é mais vantajoso que manter sigilo.

— Está dizendo que não confia a segurança a mim? - as palavras saltaram da boca dela, os punhos bateram na mesa de vidro, que por algum milagre não despedaçou-se, e olhos curiosos os fitaram.

— Não é isso, apenas prefiro evitar que um prédio seja posto abaixo. Já era arriscado demais ficar numa área habitada, mas tinha feito alguns preparativos para minimizar danos em casa. Um hotel qualquer não é uma boa ideia.

Depois da forma como a casa fora reduzida a entulhos cinzas e fumegantes Mordred nunca esperaria ouvir qualquer menção acerca de métodos para minimizar danos instalados lá. Mas isso não importava, havia agora duas opções, uma delas, só de ser considerada, fazia o estômago da cavaleira contorcer-se. Era quase preferível apenas matar o garoto ali e dar um fim nisso.

— Pode ficar na rua, montar acampamento numa praça ou parque…

— É uma opção, mas seria incômodo a depender de quanto tempo esta guerra pelo graal durar.

— Vamos terminá-la hoje.

— Muito ingênuo.

— Não saberemos se não tentarmos! - novamente sentia que estava perdendo o controle da língua para a raiva. E começava a não encontrar motivos para não fazê-lo.

— Essa insistência… você sabe o que eu pretendo sugerir, não é? - o rapaz colocou enfim uma rota para a opção que a cavaleira destestara desde de que imaginara. 

A porta do estabelecimento foi aberta e fechada, as garçonetes vestidas de empregada saudaram e foram cortejadas, o som do sino logo sobre a entrada perdera-se no passado e na memória.

E Mordred hesitou, hesitou enquanto o rapaz a observava com aquelas íris negras como carvão, mas no fim não manteve o silêncio. 

— Meu pai não apenas participou e saiu vitorioso na última guerra pelo graal como também é o rei dos cavaleiros e amistoso com sua família. Nossa segurança quando estivessemos descansando durante pausas nos confrontos teria um incrível aumento de poder só de estar perto dele. E também podemos contar que o orgulho de cavaleiro, de rei, não permitiria que recusasse o filho de amigos. - Mordred desistiu de ignorar aquela rota, mas não deixaria que fosse levianamente vista. - No entanto, aquela é uma mulher que se casou e teve uma filha. Não há como saber se ela deixaria que algo tão perigoso como a batalha entre servos se aproximasse da sua família, mesmo que isso signifique abandonar a honra e o orgulho que carregara como rei Arthur. Só de olhá-los por pouco tempo eu pude perceber, aquela família realmente ama uns aos outros. Nunca pensei de verdade que algo como amor entre parentes fosse algo além de um sonho distante… mas ali estava. Aceitar qualquer ameaça a isso tão docilmente? Seria tolo apostar nisso e particulamente não gosto da ideia de por esse tipo de coisa em risco.

Ela o olhava, medindo-o e tentando prever qual seria sua resposta. Mas a face do rapaz permanecia quieta como águas paradas.

— Entendo, mas eu tenho meus próprios objetivos e Arthuria-san e Emiya-san são ambos exímios combatentes capazes de sobreviver e defender no caso de sermos atacados. Essa, mesmo se minha casa estivesse intacta, seria a melhor escolha. 

Não ficou surpresa. Irritada sim, muito. Ele poderia estar certo logicamente falando, mas não parecia entender como Mordred se sentia quanto a isso. E não soava como se ligasse.

— Então faça sozinho. - a cavaleira levantou da cadeira, o que surpreendeu até ela mesma. - Se precisar estarei por aí.

E partiu sem dar ouvidos aos chamados do garoto, Tatsuo Koji. 



KOJI, Tatsuo

 

Cinco anos atrás uma casa irrompeu em chamas às cinco da manhã. O homem dormia, a mulher estava fora na casa de amigas, e a criança estava de pé olhando o carmim crescer para além da pequena fogueira que erigira sobre a mesa do jantar. 

Era linda, a chama. Vermelha, amarela, laranja, às vezes parecia uma e outra todas. A mesa foi tomada em instantes pelo fogo que queimou e dançou e cresceu. O garoto foi pouco a pouco forçado a recuar, mas seus olhos jamais deixaram aquele fogo.

Mesmo cinco anos depois, com as chamas e tudo que elas tocaram enterrados no tempo, nas íris negras de Tatsuo Koji não haviam deixado de brilhar o carmim que ceifara seu pai, sua casa e tirara-lhe o amor da mãe. 

— Por isso não vou recuar agora, Mordred. - e saiu, para trás apenas um maço de notas para pagar pelo que consumira ficara sobre a mesa.

Tentou procurar por ela durante um tempo. Olhava em becos, praças e ruas, onde gatos costumam surgir. Mas como imaginara a richa da cavaleira com seu pai reascendera e dera-lhe um chute no saco dos planos, impedira-o de encontrá-la e agora atormentava-lhe os pensamentos. 

Não fora surpresa nenhuma que o que viu na casa dos Emiya a tenha abalado. Depois de anos encontrar o próprio pai com outra família, dando a esta nova o amor que lhe negara, só podia deixá-la inclinada a odiá-lo. Tatsuo Koji também tivera sua dose de afeto negado, isso fez a decisão de visitar o rei dos cavaleiros amarga, mas não o suficiente para cogitar abrir mão dessa vantagem estratégica. Não podia pensar em escolher os seus sentimentos ao invés do que era a melhor opção. Nem mesmo os dela deveriam… 

O desejo pelo qual se juntara a batalha pelo santo graal valia mais que sua moralidade e honra, repetiu pela milionésima vez, lembre-se, não esqueça.



— Desculpe, eu realmente estou sem opções. - disse para os Emiya enquanto se sentavam à mesa do jantar, apenas a espera do término da conversa para devorarem a comida.

Era uma sala ampla com a mesa no centro, a cozinha a frente dela e um sofá diante de uma televisão a esquerda. Cadeiras eram almofadas e a ordem dos lugares era matriarcal, com Arthuria sentada na cabeceira e o Emiya a sua direita.

— Não vejo problema no garoto dormir aqui contanto que mantenha as batalhas do outro lado do muro. - Shirou foi o primeiro a se pronunciar. - E se por acaso alguém atacar enquanto estiver nesta casa, bom, é para isso que existe a barreira e não somo assim tão fracos.

A mulher que parecia garota e que na verdade era o antigo lendário rei de Camelot franzia a testa e mantinha os lábios quietos. Nem com os cantos inclinando-se positivamente para cima ou negativamente para baixo. Os olhos pairavam sobre a mesa. 

Não era a primeira vez que notava, mas ela lembrava Mordred. O tipo físico, as cores e os traços, tão parecidos que quase não se via diferença se as olhasse sem atenção ao que acompanhava tudo aquilo. Os modos, o jeito de falar e as expressões que eram capazes de torná-las tão diferentes quanto sol e lua.   

Mas mesmo sua semelhança com alguém próximo a ele não tornou o silêncio ponderador do rei mulher, que estendia-se há quase três minutos, menos capaz de fazer com que pequenas gotas de suor frio se formassem nas costas do pescoço do rapaz.

A mente dele já passara até a repensar qual melhor escolha entre o acampamento sob céu aberto ou uma hospedaria pouco povoada.

— Arthuria. - Emiya fora o primeiro a falar uma segunda vez. 

— Ah ! - ela girou a cabeça quase num espasmo. - Sim?

— O filho da Tatsuo está perguntando se pode dormir aqui por um tempo.

— Claro, - as íris fitaram o rapaz enquanto a boca sorriu. Mesmo o sorriso delas diferem um do outro… notou vagamente. - pode ficar pelo tempo que precisar.

O ar saiu pelos lábios antes que ele se desse conta, a isso logo seguiu-se um agradecimento. A casa dos Emiya tinha espaço amplo, dois poderosos guerreiros e uma barreira mágica, pedir mais não poderia sequer ser cogitado. 

— Shirou, podemos comer agora? - perguntou Arthuria ao Emiya trajando na face olhos grandes e brilhantes. 

— Sim, claro. Elis, pode vir.

E assim que a criança tomou seu lugar a esquerda da mãe os presentes começaram a comer.

Arthuria particularmente pareceu nobre e elegante enquanto comia, comia e comia novamente. Não soava como se ela fosse parar em algum momento e o garoto logo cansou de observar. Os outros dois não pareciam partilhar daquele vigor. Na verdade Tatsuo mal os viu tocar na comida.

Começou a se levantar assim que Emiya e a pequena garota o fizeram, mas a mulher rei dirigiu-lhe a palavra e o rapaz permaneceu ali.

Assim que a criança e seu pai se acomodaram no sofá, Arthuria o encarou com olhos frios e lábios solenes que não entregavam seus pensamentos. 

— Vou direto ao ponto, quais são suas intenções com sir Mordred?

O rapaz franziu a testa, confuso, e deu ao Emiya e a criança um olhar rápido. Mas eles assistiam uma programa qualquer e sequer o notaram. A pequena brincava em torno do pai, ela virou-se uma vez para chamar a mãe que a isto respondeu que logo iria.

Eles não interfeririam, percebeu ficando estranhamente agitado. 

 A primeira coisa que lhe veio à mente após constatar aquilo foi conseguir mais informação e tempo.

— Como assim? - perguntou devagar, evitando movimentos bruscos e mudanças no tom de voz.

O rei dos cavaleiros pôs ambos os cotovelos sobre a mesa, juntou as mãos a frente da boca e o fitou. 

Era como se um enorme dragão estivesse diante dele, jugalndo-o, se perguntando qual o sabor daquela carne. E isso fazia seu corpo suar frio. Temia que uma resposta sincera a pergunta dela o matasse, mas também não sabia ao certo quais intenções tinha em mente ao se aproximar de Mordred. Mesmo que optasse pela verdade ainda lhe restaria descobrir qual era ela. 

Vitória numa guerra entre magos? Amor? Uma peça para usar? O que aquela garota rude dada a risos e birras de fato o levava a desejar, ele não tinha certeza. As respostas na cabeça do rapaz divergiam entre um profundo vácuo negro e o calor de risadas de uma garota com ouro nos cabelos e esmeraldas onde as íris deveriam estar. Uma jovem muito similar a aquela diante dele. Mas cujas diferenças tornavam-nas quase impossíveis de serem confundidas. Rei e soldado, tão divergentes quanto os cargos implicam.

Mordred fazia piadas, em maioria estúpidas, o xingava quando era ordenada a algo abaixo da dignidade de um cavaleiro, como comprar pão, e não segurava-se nas reações a séries que assistiam, nunca imaginaria que alguém usaria tanto o termo ´´filha da puta`` enquanto assiste tv. 

Mas Arthuria era outra história, ela movia-se com elegância, passos firmes, olhos rumo ao horizonte, queixo erguido, com íris que não demonstravam nada além da diferença entre os outros e um rei. O garoto não conseguia deixar de admirar e dizer a si mesmo que não era digno de dirigir-lhe a palavra. 

— Veja bem, Koji-san, há claramente algo acontecendo entre todos os mestres e servos que participaram da última guerra. Quando voltamos a vida e entramos em consenso de cessar as hostilidades, só ignore o assédio do rei dos heróis, logo foi presenciado o casamento da caster e de seu mestre, acho que era o segundo ou eles já eram noivos? Foi repentino, mas aparentemente a relação entre eles estava um passo à frente desde o começo. Enfim, depois de um tempo Rin e archer assumiram estar namorando, aquilo também me surpreendeu e Shirou pareceu realmente irritado consigo mesmo, digo o ele do futuro. Foi aí que percebi que corria perigo. Sakura continuava rondando o Shirou e até a pequena Illya, que de algum jeito eu imaginava que ficaria quieta com o beserker em algum lugar longe dali, andava por perto. Então eu decidi pedir a mão dele aos seus pais. - os dedos dela apertaram mais uns aos outros. - Mas ele era órfão.

O garoto engoliu em seco, aquela conversa o fazia lembrar do quão vazia era sua vida social e que nunca uma garota como Arthuria pediria sua mão em casamento. Ele não se importava com o fato dos pais do Emiya estarem mortos. Antes assim do que vivos para te decepcionar e abandonar.

— Para minha sorte Taiga servia como a responsável legal dele na época, então pedi para que me deixasse desposar Shirou ao que ela respondeu dizendo que poderia fazer isso apenas quando ele terminasse o colégio. Depois só o comuniquei do acertado. Houve um pouco de discussões e reações exageradas, mas não levou uma semana para que houvessemos encerrado o assunto. Como rei é vergonhoso admitir que demorou dias, porém mentir seria pior. 

Ele continuava observando-a, sem dizer nada, apenas os dedos tamborilando sobre a própria coxa. Arthuria pareceu notar aquilo ao terminar sua última frase.

— Enfim, o que quero dizer é que a maioria dos servos permaneceu próximo ao seu mestre. Gilgamesh vez ou outra, quando está em Fuyuki, aparece junto ao falso padre. Rider e Sakura quase nunca são vistas separadas. Lancer está em um grupo de mercenários lutando numa guerra qualquer no Iraque, o que faz dele a única exceção. No fim a maioria manteve o laço com seu mestre. Então, pergunto a você, que tipo de relação vem construindo com sir Mordred?

Tatsuo Koji não tinha nada além de incertezas como base para sua resposta. Mas por quê não mentir? Rei ou não, tudo acabaria quando tivesse o cálice em mãos.

— Eu não consigo me imaginar casando com ela ou tendo um relacionamento amoroso. Sinceramente tenho algumas dúvidas de que sequer é ´´ela``, Mordred quase me espancou quando comentei sobre seu gênero e até agora tenho um pouco de receio de acabar descobrindo que o filho do rei Arthur é realmente o filho. Então acho que seriamos só amigos. - e atualmente nem disso tenho certeza, mas esse trecho deixou por dizer.

— Bom, quanto ao gênero posso te assegurar que minha filha é uma garota. Eu acho… não sei bem como homúnculos funcionam.

E aquilo encerrou a prosa sobre servos e romance.

 


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Notas finais do capítulo

Bom, me pergunto o que vem por aí. Você tem alguma ideia? Diz aí, tô realmente curioso.
Arthuria realmente come bastante, haja dinheiro.
E esse comentário sobre o rei dos heróis? Acha que ele aparece ainda nessa temporada?
Enfim, também não sei como homúnculos funcionam, se alguém souber, comente por favor.



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