Bella

—Alice, a gente nunca vai estar cem por cento pronta para ser mãe. - falei para minha cunhada do outro lado da linha. Era quase meia noite, Aeron estava dormindo no berço dele, de volta ao nosso quarto desde a chegada de Arya, pois ele queria ajudar a cuidar da irmãzinha. Edward com a nossa menina nos braços, a embalando apesar dela já ter dormido. 

—Rosalie estava.-Ela contra argumentou.

—Rosalie queria muito ser mãe, e quando se viu grávida… foi natural. Mas, comigo foi diferente.

—Você também queria. 

—Sim, mas não me sentia tão pronta assim e tenho aprendido muito todos os dias. A real pergunta não é se você está pronta, é se você realmente quer isso.

Ela ficou em silêncio do outro lado, um fato raro para Alice. 

 —Acho que tenho que pensar mais sobre.

—Faça isso. E qualquer coisa estou aqui.

—Obrigada, Bella. Você é minha irmã favorita. 

—Não deixe Rose saber disso. - Ri, nos despedimos e desligamos. 

—Não deveria dar brechas para Alice te ligar a qualquer hora, ela pode te ligar literalmente de madrugada. 

—Ah eu sei, mas… - mostrei o celular que estava desligando. Eu amava minha cunhada, era a irmã que eu sempre quis, mas o meu sono, com dois bebês em casa, era muito sagrado.

—Boa garota. - Edward disse. 

—Ela já dormiu. - constatei.

—Sim, mas gosto de tê-la nos meus braços. Veja Aeron, parece que pulamos alguns meses, ele está enorme. Daqui a pouco vai pedir meu carro emprestado e sair para um encontro.

Ri de sua lógica desesperada. 

—Temos alguns anos antes disso. -Ele suspirou, se levantou colocando Arya no moisés perto do berço de Aeron. Se ela acordasse chorando, ele também acordaria. 

—Acho que ele quis dormir aqui porque está com ciúmes.- Comentei quando ele voltou a cama, nos aconchegamos um ao outro. 

 -Também acho, mas não é muito, não é? Ele também é um bebê. 

—Verdade. Eles vão crescer juntos. -Afinal, uma diferença de três anos não era grande coisa.

Edward me abraçou mais forte.

—Está confortável, amor? 

—Muito. - Suspirei descansando a cabeça no seu  peito. Eu estava confortável, eu estava feliz. Tudo era tão bom…

Um chorinho agudo me fez abrir os olhos do súbito. 

—Calma amor, eu pego ela. 

—A gente nem dormiu…

—Você dormiu por duas horas. - Edward disse divertido, Arya chorou mais alto quando ele a pegou nos braços, meus olhos foram atraídos para Aaron que continuava quieto no berço. Me sentei abrindo a camisola de amamentação. 

Sentia que tinha piscado, mas já havia dormido. 

—Isso amor, calma, calma.- Sussurrei para a bebê que Edward colocava em meus braços. Ela procurou pelo bico do meu seio avidamente e logo estava se alimentando. 

Ainda naquela noite, acordamos mais duas vezes, mais uma por ela, e outra por Aaron que acordou chorando dizendo ter tido um pesadelo. 

Pela manhã estávamos nos sentindo dois zumbis. 

Renesmee brincava com o irmão enquanto ajudava ele a comer. Eu queria encostar a cabeça na mesa e dormir. 

—Pai, porque não leva a Bella para dormir? - Renesmee parecia ter ouvido meus pensamentos. - Na verdade acho que vocês dois precisam dormir. 

—Arya pode acordar - Resmunguei.

—E eu acordo você. Está tudo bem, Bella. vá dormir, eu cuido de tudo. E sua mãe logo vai acordar. Pode ir dormir também, pai. 

—Tem certeza? -Edward olhou desconfiado para Aeron.

Renesmee deu um brilhante sorriso. 

—Claro que eu tenho. Vão!

Com a ajuda de Edward, subi de volta ao quarto. Deixamos Arya no carrinho no andar de baixo, a minha vontade era de voltar e trazê-la para perto. 

—Isso não vai adiantar, não acho que eu consiga dormir sabendo que ela pode acordar a qualquer momento. 

—Lembra de Aeron nessa idade? - Edward arrumou os travesseiros para que eu deitasse. -É a mesma coisa, vamos deitar, respirar… se for para dormir, você irá. Se não, vamos apenas relaxar um pouco. 

Ele passou um braço por trás do meu travesseiro, sua mão entrando pelos meus cabelos, fazendo um cafuné gostoso. Meu corpo começou a relaxar, apesar das preocupações.

A próxima coisa que lembro é de acordar um chorinho fininho.

—Desculpe, ela está com fome. -Renesmee trazia Arya nos braços. 

—Por quanto tempo dormir? 

—Três horas. -Me endirei para pegar a bebê dos seus braços.

—Nossa tudo isso?! Onde está Edward?

—Lá em baixo com Aeron. Ele queria vir ficar com a mamãe, mas papai é ótimo em distrair ele. 

—Ain meu menininho. - Arya cravou seus olhos cinzentos em mim, a boquinha perfeita procurando meu mamilo que logo encontrou e começou a se alimentar. 

—Devagar filha, vai levar meu mamilo embora desse jeito. 

—Não parece que dói. - Renesmee observou.

—Dói, acredite em mim, dói bastante. 

Ela ficou quieta do meu lado, mas eu sentia que algo a incomodava. 

—O que houve?

—É só que eu fui sincera com Alec sobre como me sentia e ele… não respondeu. O que uma ‘’não resposta’’ pode significar?

—Um monte de coisas. Talvez ele queria falar pessoalmente.

—Eu deixei ele em Londres. Não sei se ele ainda quer me ver depois disso.

—Ness, Alec ama você. Vocês são novos, vão encontrar um meio termo. 

—Eu não quero ser aquela que tem que ceder sempre, entende? Eu gosto muito do que eu faço.

—Eu sei, e você não precisa. Se ele te ama como você merece, ele também vai saber ceder.

Ela retorceu a boca, daquele jeito Renesmee, que queria acreditar, mas não acreditava, contudo não queria procurar contra argumentos. 

Minha enteada já era uma mulher feita, com uma carreira brilhante em andamento, e bem ‘’ajuizada’’. Tinha certeza que ao colocar seus sentimentos no lugar certo, ela encontraria um jeito ao lado do seu amor, Alec.

Os dias com uma recém nascida são muito difusos, e não fiquei surpresa quando o natal nos olhou na cara, e apesar de ter nascido em dez de dezembro, Arya ficou apelidada de bebê de natal. 

A rotina na casa se estabeleceu bem naqueles dias; minha mãe e Renesmee me ajudavam com Arya e Aeron, meu pai babava nos netos e ‘’turistava’’ por Nova York com Edward. Carlisle e Esme apareceram para jantar com uma frequência que poderia ser alarmante em outras ocasiões. 

Uma grande festa foi feita em casa na noite de Natal. Eu tinha colocado um vestido vermelho longo, e saltos altos para o grande pavor de Edward que ficava me cercando o tempo todo. 

—Bobo super protetor. - beijei sua bochecha. Ele fez uma careta, aproveitou a oportunidade para me abraçar. Para uma garota que teve uma pequena família a vida toda, contar com uma grande família era reconfortante, principalmente quando meus pais estavam tão presentes com a gente. Mas não era algo permanente, e um mês se passou e os meus pais voltaram para Forks. 

—Ir está se tornando cada vez mais difícil, talvez eu convença o seu pai a nos mudarmos. -Minha mãe sussurrou para mim durante nossa despedida. Eu queria acreditar naquilo, por mais que parecesse difícil que Charlie fosse querer se mudar.  

Ter Renesmee em casa era bom, ela ajuda com as crianças, principalmente com Aeron que estava na fase da energia infinita, e ela o mantém com brincadeiras e atividades. As preocupações com sua profissão eram apaziguadas exatamente nesses momentos, quando a tínhamos por perto e vimos que a mulher que ela estava se tornando era extremamente responsável e pés no chão, contudo ainda tínhamos medo que ela se deslumbrou com a fama, ou que a fama a tornar-se alguém irreconhecível. 

Afinal, era um meio difícil de se viver. 

Eram raras as ocasiões em que eu via Tanya, mas com Renesmee em casa as visitas de sua mãe se tornaram mais frequentes, e ela externou  um pouco da preocupação com a filha comigo em certa tarde de domingo.

—Vou te confessar, achei que a essa altura Renesmee e Alec já estariam casados. - Ela disse quando estávamos sozinhas na cozinha.

—Houve uma época que o Edward também achou, daí ela foi gravar aquele filme. - Dei de ombros. - Mas eles são muito novos, é bom terem esse tempo individual.

—Sim. -Ela disse de forma vaga.  - Há alguns anos, imaginar Renesmee se casando tão cedo seria um completo pesadelo. Mas eu vi como ela ficou quando eles terminaram e tudo o que eu queria era evitar esse sofrimento na minha filha. 

—As coisas mudam. - falei sem saber o que mais poderia dizer para acalmá-la. -Nessie me parece bem.

—Sim.

—Tem mais alguma coisa perturbando você, Tanya? 

Ela deu um suspiro profundo.

—Só preocupações de mãe mesmo. Você já tem uma mostra grátis. - Ela disse indicando as crianças que podíamos ver na sala. Aeron no tapete com o pai, Arya nos braços de Renesmee que fazia caretas para ela.

—Ainda tenho bons anos antes de ter adolescentes em casa me tirando a paz. 

—Queria ter aproveitado mais essa fase de Nessie. Eu estudava demais, Edward aproveitou o melhor. 

—E hoje você é uma advogada incrível, que ajuda jovens a pagarem de forma justa pelos seus crimes. 

Tanya estava fazendo um incrível trabalho com os jovens das periferias, mais do que ajudar a inocentar inocentes, acordar penas justas para os culpados, ela os dava esperança de uma vida melhor e um futuro longe do crime. A mudança na carreira de advogada teve vários pontos positivos em sua vida. 

—Vocês duas vão ficar de fofoca aí que horas? -Renesmee gritou.

—Estamos indo. - Retruquei pegando dois baldes de pipoca e voltando à sala. Me sentei no chão com meus meninos, Tanya se sentou ao lado da filha no sofá. 

—A gente tem mesmo que ver um filme meu? Eu nem apareço tanto nesse. - Nessie resmungou.

—Nunca vimos o filme todos juntos, e eu amo ver você brilhar. - Tanya disse se inclinando para beijar o rosto da filha. A campainha tocou.

—Estamos esperando alguém? - me levantei para atender. Talvez fosse Jane. 

—Estamos, mas não é Jane e Seth, que aliás virão para o almoço amanhã. - Renesmee disse dando um pulo do sofá e me entregando Arya. Troquei um olhar malicioso com os pais dela, só podia ser uma pessoa.

—Alec! Que bom vê-lo por aqui! - O comprimentei logo que ele entrou em meu campo de visão.

—Bella, você está ótima. - Ele me abraçou como pode, sem encostar em Arya. -Ah e essa é a pequena Arya, que linda.

—Quer pegar ela? - Ofereci. O tempo de ter medo de segurar bebês tinha sido superado, primeiro com o sobrinho, filho de Jane, depois com Aeron. Ela a embalou com carinho. 

—Como vai a vida do professor, Alec? - Edward o comprimentou. 

—Não tão gratificante quanto a de músico, senhor Cullen. 

—Mas aposto que tão inspiradora quanto. 

—Sente aqui, Alec. - Tanya gesticulou um lugar no sofá que ele aceitou. Renesmee se acomodou no chão, com as costas entre as pernas dele no sofá, apesar de ter lugar no mesmo. Edward e eu continuamos no tapete com ela e Aeron, que resolveu que também queria a atenção de Alec. 

—Irmãozão, vamos ver o filme da irmã. -Ele disse gesticulando para a tv. Renesmee havia ensinado ele a chamar Alec assim, o que só ficava estranho quando estávamos todos juntos em lugares públicos, porque claramente Aeron era irmão de Renesmee, mas ela e Alec não podiam se passar por irmãos. 

—Vem Aeron, vamos assistir o filme da irmã. - O puxei para o meu colo. Edward deu play no filme, e passou um braço pelos meus ombros.

—Parece que eles encontram o caminho de volta um para o outro. - Edward sussurrou no meu ouvido.

—Eu te disse que eles encontrariam. - Sussurrei de volta.

—Eu estou bem do lado de vocês, sabe. - Renesmee falou. Edward a passou o outro braço pelos ombros dela. 

—E eu sempre vou estar do seu lado, meu amor. - Beijou sua tempora. 

Bom, isso não era um fim para a história de Renesmee e Alec, nem para minha e de Edward. Era apenas mais um dia nas nossas histórias, um dentre muitos que ainda estão por vir e serem vividos.

Mas eu olharia em volta no dia de hoje, e guardaria o rosto da minha família, incluindo o de Tanya, e ficaria feliz por ter cada um deles comigo.