A Namorada Do Papai escrita por Thay Paixão


Capítulo 28
A Paciênte.


Notas iniciais do capítulo

Boa noite!
Muito obrigada pelos comentários! Prometi que postaria hoje e aqui estou! Quero muitos comentários viu? Rumo aos 600 ♥️
Boa leitura ♥️



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Renesmee

 

Eu não sentia o meu corpo. Parecia que eu estava flutuando, flutuando em uma fofa nuvem e não conseguia sentir o meu corpo.

Eu não queria que aquela sensação fosse embora. 

Mas, é claro que nada era perfeito e aos poucos eu comecei a sentir tudo de volta. Algo espetava o meu braço. Os meus dois braços.

—Você está acordada? - Um sussurro conhecido do meu lado.

—Hum… - resmunguei. Alguém poderia me colocar para dormir de novo?

—Não, você já ficou muito tempo de olhos fechados. -Jane respondeu, mesmo que eu não soubesse que tinha falado em voz alta.

—Que horas são? - Sussurrei, minha garganta parecia seca, cheia de areia. -Água. -Pedi.

—Aqui. - Ela veio com algo unido em meus lábios.

—Me de a droga de um copo, Jane. - Tentei falar o mais firme que conseguia.

—Não pode, a médica disse para só molhar sua boca.

—Que grande merda.

—Acho que você já está muito bem. - Ela resmungou se afastando. Abri os olhos, o quarto era o que eu esperava, espaçoso, branco e já com um lindo arranjo de flores próximo a minha cama. Havia uma daquelas mangueirinhas no meu nariz.

—Não posso tirar isso? - Reclamei. Jane pareceu brava, depois seu rosto pálido ficou vermelho e eu pensei que ela iria me xingar, mas começou a chorar.

—Que porra, Renesmee! Como pode acordar assim? Como se nada tivesse acontecido… você… você quase morreu!

O peso daquilo me atingiu em cheio. Eu sabia que quase tinha morrido. Eu lembrava de tudo. Da dor. Meu coração parecia bater rápido demais, mesmo eu estando completamente parada de pé. Depois parecia que ele iria pular para fora do meu peito. Então me senti muito cansava, já não sentia ele bater tão forte contra o meu peito. Depois o elevador, Bella querendo respostas… tudo escureceu. E eu parecia dormir o sono mais perfeito da minha vida.

Para depois acordar nessa cama, toda furada e espetada. Eu é que devia estar chorando.

—Desculpe, Jane. -Suspirei.

—Não peça desculpas quando não se sente assim! -Ela jogou. O rosto completamente molhado pelas lágrimas.

—Eu não sei o que dizer. - Tentei dar de ombros, mas eu estava cheia de adesivos ligando fios a mim e não deu muito certo.

—Por que mentiu para mim? Por que não me disse que estava vomitando tudo que comia? - Ela sussurrou.

—Jane…

—Pensei que fosse sua melhor amiga! Eu sempre contei TUDO para você. 

—Eu não estava pensando direito. - Desviei o olhar. Pelo amor de tudo que era sagrado, quem estava na droga de uma cama era eu!

—Não estava mesmo! Você podia ter morrido ontem! Tem alguma noção disso?

—Ontem? - Me espantei. Parecia ter passado apenas algumas horas.

—Sim, ontem. Ta todo mundo aqui, sua família, seus pais, eu, Bree aquela cobra que sabia que você estava tentando se matar e não fez nada!

—Eu a proibi de falar. - Revirei os olhos. Ótimo, isso não doía.

—Como se ela fosse sua serva e devesse te seguir cegamente. Francamente, Renesmee, no que estava pensando?

—Não é como se eu pudesse controlar, Jane. - sussurrei. Jane era a minha melhor amiga e eu sentia muito mesmo por estar magoando ela. Eu não queria fazer ninguém sofrer comigo, com as coisas que passavam pela minha cabeça, por isso não compartilhava.

—Era por se sentir gorda? - ela sussurrou. Jane passou uma época muito preocupada com o peso, e eu podia imaginar o que descobrir que eu vomitava e tentava não comer significava para ela.

—Não exatamente. Eu não sei explicar. Eu nem falei isso para a psicóloga ainda.

—Deveria ter dito. Pelo menos para mim.

—Você teria me internado.

—Exatamente. - ela enxugou o rosto e deu um pequeno sorriso.

—Vem cá sua chorona. - Abri a palma da mão para que ela a segurasse. Ela fungou e segurou a minha mão.

—Você é minha melhor amiga. - Ela disse. -É a minha irmã, gêmea. A minha alma gêmea e não tem nada de romântico nisso. Eu fiquei louca quando vi você naquela maca. Você já não estava bem, desde que estava ao meu lado e eu não percebi.

—Eu sei esconder bem. Se quisesse seguir a carreira de atriz, Meryl Streep seria esquecida. - Brinquei.

—Nunca mais faça isso comigo. - Ela apertou meus dedos. - Eu tive que aturar até Jacob Black postando foto sua e ‘’energias positivas’’. - Ela fez cara de nojo.

—Sério?

— E ainda uns biscoiteros dizendo que você estava morta!

—Fiquei famosa com isso?

—Na verdade sim, ganhou pelo menos uns mil seguidores de ontem para hoje. Uma fez um vídeo narrando seu namoro com o Jacob, e agora tem crianças querendo que vocês voltem.

—Eca. 

—Eca. -ela concordou. 

—E Bree? Ela te contou sobre eu não comer?

—Contou a I-sa-be-lla. - ela saparou as sílabas.

—Ah que merda. -Como se Bella já não estivesse muito desconfiada.

—Bella a encurralou e ela soltou. - Jane explicou. - Ela queria ficar aqui, mas Bella a convenceu a ir. Quer dizer, a convenceu a ir com Diego.

Jane disse aquilo com olhar sugestivo.

—Diego? - repeti.

—Ele esteve aqui quando soube, como vários dos nossos amigos. Até o Jacob, mas o seu tio, Emmett o colocou para fora a pontapés. foi muito legal, acho que esse hospital nunca foi tão bem frequentado.

—Minha família, que chacota. - Ri um pouco. - Eu realmente preciso de água. 

Jane fez uma careta, mas me deu um pouco de água em um copo.

—Bebe devagar, não quero que você morra de novo. 

—Tudo bem.

—Acho que agora posso avisar a Alec que você acordou. - Jane disse digitando no celular. Meu monitor cardíaco apitou. Ela o olhou sobressaltada.

—Estou bem. - Garanti.

—Controle esse coração, se a médica disser que você precisa de um novo eu vou comprar um, não se preocupe.

—Hum, que fofa. Sempre soube que podia contar com você para um órgão conseguido por meios ilegais. - Falei, por mais que aquilo tenha me deixado assustada. Eu só tive uma baixa de insulina por inanição? havia algo errado com o meu coração? 

—O bobo do meu irmão não saiu do estacionamento desde ontem. - Jane disse ainda olhando o celular.

—Alec? - Arfei.

—Não, outro. claro que foi o Alec! Primeiro eu pensei que ele tinha vindo me buscar por ser muito legal e protetor, mas ele não foi embora menos eu garantindo que não sairia daqui e o chamaria caso quisesse ir para casa. E ele não para de perguntar sobre você. Eu sei que o Jacob estava sendo um babaca naquele dia na escola, mas… monitores cardíacos não mentem. - Ela levantou as sobrancelhas para mim.

—Para Jane!

—O que? Tá rolando alguma coisa entre você e o meu irmão?

—Não.

—Mas você queria que rolasse…

—Talvez. - Fechei os olhos.

—Ah eu sabia! Por que não me contou? 

—Não sei. Ele namora e…

—A gente podia colocar ela pra correr!

—Isso não importa mais…

—Claro que não, o Alec terminou com ela. 

—Como é?!

—Se tivesse me contado antes, eu poderia ter te contado tudo sobre esse namoro. - Ela revirou os olhos.   

—Ele realmente está ai no estacionamento? - sussurrei.

—Sim. E acaba de mandar uma carinha feliz e mãozinhas de oração quando disse que você acordou e está a chata de sempre! - Ela me mostrou o celular.

O monitor cardíaco marcou o aumento das batidas do meu coração. 

—Ok, acho melhor Alec ficar longe. - Ela riu recolhendo o celular. -Olha só o post que o Jacob fez sobre você.

Ela virou de novo o celular para mim.

Uma  foto nossa, onde ele beijava meus cabelos, aquela foto era até muito fofa. A legenda dizia: ‘’Intensidade. É a palavra que descreve nossa relação rápida. Sim, rápida e intensa. Embora nosso fim tenha sido tumultuado não diminui meu carinho por você. Mandando energias positivas! Fique bem Nessie!"

 Meu nome era seguido de um coração. Aff.

—Muita cara de pau. - Comentei.

—Sim. Agora eu vou chamar seus pais, eles pediram para chamar se você acordasse, eles iriam conversar com sua médica. -Ela guardou o celular no bolso e me deu costas.

—Meus pais?

—Sim, sua mãe saiu hoje cedo. Conseguiu sair antes. -Ela continuou seu caminho porta a fora. 

 Eu não tive muito tempo para pensar em como aquilo estava sendo. A porta foi aberta de novo, e uma Tanya com expressão grave passou por ela, de volta a mulher elegante que eu conhecia como mãe. Cabelos bem penteados a alinhados, um vestido azul marido que chegava ao seus joelhos.

—Filha. - Ela me abraçou tomando cuidado com os fios em mim.

—Mãe. - Resmunguei. Eu ainda me lembrava do tratamento que recebera no presídio. -Viu, aquela poderia ter sido a última vez que teriamos nos visto, e você me tratou muito mal. - Provoquei. 

Ninguém pareceu achar graça.

—Péssima hora, Renesmee. - Ela disse se afastando. Os olhos úmidos. A médica, uma mulher morena, baixinha de olhos calorosos e sorriso aberto, arrumou a minha cama para que ficasse mais para sentada. Meu pai estava aos pés da cama, quando Tanya se afastou ele se aproximou e me beijou na testa. 

—É muito bom ver esses olhos abertos.

—Eles não ficaram fechados por muito tempo. - Tentei outra brincadeira.

Bella continuou perto da porta, parecia não saber se ficava ou saia. 

—Tudo bem, Bella? - Perguntei.

—Eu que devia estar te perguntando isso.- Ela soltou uma risadinha nervosa.

—Você parece que vai desmaiar. - Fiz uma careta.

—Acho que vou… esperar lá fora. - Ela colocou a mão na maçaneta.

—Pode ficar. Não é pai? - Olhei para ele.

—Claro.

—Então, fique. Eu quero que fique. Ainda não te agradeci por… salvar a minha vida. - A realidade do que estava acontecendo veio sobre mim.

Isabella parecia prestes a chorar. 

Ela se aproximou da minha cama, ficando ao lado do meu pai.

—Eu ainda não te agradeci também. - Tanya disse para ela.

—Não tem o que agradecer. -Bella disse.

—Você estava de olho em mim, todo o tempo. - sussurrei, minha garganta seca de novo, mas achei que não tinha a ver com a sede dessa vez.

—Talvez eu goste de você. - Ela deu de ombros.

—Talvez eu goste de você gostar de mim. - Devolvi. Ela apertou o meu dedo de brincadeira.

—É muito bom ver esse bom humor. -A médica baixinha disse. -Teremos uma conversa muito séria a partir de agora.

Lá vem.

—Renesmee, sou Charlotte Grey e estou acompanhando o seu caso. 

—Em outras circunstâncias eu diria que é um prazer.

—Tudo bem. Seu avô Carlisle e eu somos bons amigos e ele me confiou os cuidados com você. Você chegou aqui ontem com um quadro de baixa de glicose, muito grande. Você teve uma parada cardiorrespiratória por isso foi trazida ao hospital.

Ouvir daquele jeito, dito sem inflexão por aquela mulher, como se ela tivesse dito ‘’você chegou aqui com uma blusa azul e saia jeans’’ tornou tudo muito… real. Desagradavelmente real.

—E por que? - sussurrei evitando olhar para os meus pais.

— O quadro de baixa de glicose por passar muito tempo sem comer. Também fizemos exames em você, constatamos um quadro anêmico…

—Eu tomo remédios para anemia.

—Os remédios ajudam até certo ponto, se você não se alimentar…

Desviei o olhar da médica, para encontrar o olhar inquisidor de Tanya.

—Já sabemos tudo sobre os vômitos. Francamente?! Onde você…

—Tanya, não. - Meu pai pediu. Tanya bufou, mas ficou quieta. 

—Por que meu coração parou? - perguntei.

—Você tem Prolapso da válvula mitral, é basicamente quando a válvula mitral não fecha corretamente. Muitas pessoas tem esse distúrbio e vivem muito bem.

—Eu quase morri. - Sorri.

—Renesmee… - meu pai começou.

—Na verdade, Renesmee seu problema na válvula mitral não justifica sua parada. Não no seu caso. Ainda não conseguimos uma resposta para isso.

—Meu coração não funciona direito, e você está dizendo que não sabe direito o que tenho? - Aquilo era inacreditável.

—Bom, Renesmee você não tem um distúrbio tão grave. Não conseguimos por exames entender sua parada, estávamos esperando você acordar para nos dizer quais os seus sintomas.

—O que você sentiu antes de desmaiar? -Bella falou de forma branda, seus olhar me desnorteou um pouco, transmitia calma, segurança e… amor. 

—Meu coração estava batendo… muito rápido. Eu fiquei fatigada, não sei bem. Eu só queria deitar. Minha cabeça estava leve, minha vista escureceu e… não sei mais.

—Bella entrou no elevador com você.- Papai disse.

—Sim, eu lembro. -Confirmei. 

—Vamos fazer mais exames. - A Dra. Charlotte Grey disse. -Por enquanto vou chamar a Dra. Lindsey, para conversar com você.

—Ela já tem uma psicóloga. - Tanya disse.

—Pode chamar outra. -suspirei.

—Tudo bem.

A doutora saiu do meu quarto.

—Eu realmente estou tentando entender o que aconteceu para eu quase te perder. - Papai disse.

—Desculpe. - Pedi. - Eu achei que podia lidar com isso.

—A quanto tempo você tem esses sintomas? - Minha mãe perguntou.

—Não muito… -Olhei para Bella que tinha a boca presa numa linha firme. Se eu não falasse ela iria falar, eu poderia facilitar o trabalho dela. - Faz um tempo que eu venho sentindo cansaço, até pra subir as escadas. Um pouco de falta de ar, sinto meu coração bater rápido, um pouco de tontura.

—Por que não falou? - Meu pai parecia triste.

—Não queria preocupar vocês. Achei que não era nada demais.

—Isso é culpa nossa. -Mamãe olhou para papai seria. - A gente fez ela ser assim, achar que pode fazer tudo o que ela quisesse, e tentar resolver tudo sozinha.

—Você faz com que eu sinta só. - Falei para ela.

—Renesmee…

—Mãe, é a verdade. Eu sei que to errada em agir assim, em achar que posso resolver isso tudo sozinha. Mas você faz com que eu me sinta um peso de merda.

—Nunca falei isso de você.

—Mas me tratou assim. -Lamentei. E que merda, eu iria acabar chorando! - Cada vez em que eu quis te contar alguma coisa, mas você estava muito ocupada com Félix, ou com seu trabalho. Você sempre quis que eu fosse independente.

—Porque você parecia ser! E responsável. Então você não come, ou colocar pra fora tudo que come? Se sente mal e não diz? Não me culpe por isso, pois a única culpada é você! Eu sempre tive liberdade na minha vida, e quis passar isso para você, mas olha o que você fez com a sua?! Quase se matou querendo chamar atenção!

—Eu não quis chamar atenção! Eu não sou como você! - gritei, e que grande merda, eu estava chorando.

—Quando eu fiz algo para chamar atenção?! - Ela gritou de volta. Todos podíamos ouvir o monitor cardíaco apitando, apontando um aumento na frequência.

—Tanya, apenas cale a boca! - Papai a disse. - Filha, não queremos te acusar de nada…

—Ela quer. - Bella se meteu olhando feio para Tanya. -Não está ajudando em nada. Você foi de uma mãe preocupada, desesperada lá fora, para uma… tóxica. Aqui dentro.

—Isabella…

—Renesmee sabe que tudo o que fez foi errado e duvido que ela queria se prejudicar para chamar atenção. Ela tem um problema e precisa da ajuda de vocês. 

Tanya e Isabella ficam em silêncio se encarando.

—Como você está? - Papai me perguntou.

—Cansada. -Não tinha outra palavra para descrever.

—Vai conversar com a psicóloga? - Ele continuou.

—Sim. - suspirei rendida. - Desculpe pelo meu silêncio, papai. Isso… quase custou tudo.

O que seria do meu pai se eu tivesse morrido? 

Ele segurou minha mão, a outra em minha testa, fazendo um pequeno carinho.

—Não faça mais isso comigo. Eu entendo que você tinha um problema, mas estou… muito aborrecido. Apavorado. Com medo. E acho que fiz algo errado para você não ter confiado em mim para contar. Desculpe não ter sido o seu melhor amigo.

—Você sempre foi, papai.- Falei. Eu que fui uma estúpida. Eu não sei porque… -Engasguei com as lágrimas.

—Shi, Renesmee. Calma, vai ficar tudo bem. - Bella disse.

—Estúpida é uma boa forma de definir. - Mamãe disse. Olhei para ela que estava chorando abertamente agora. - Os pais não devem enterrar seus filhos. Nunca. É horrível e antinatural, ok? Espero que um dia, quando eu for muito velha você me enterre. E não ao contrário. Me… me perdoe, filha. Me perdoe por ficar tão ocupada com a minha vida, que não prestei atenção a sua.

—Mãe… -eu não sabia o que dizer. Minha mãe pegou a minha mão esquerda, meu pai já tinha a minha direita. Olhei para aqueles dois, tentando mais uma vez imaginar os jovens que eles foram, amigos, apaixonados, com um bebê (eu) a caminho. Éramos três pessoas muito confusas.

—Vamos ser melhores, ok? -Papai pediu. - Sem segredos, sem querer passar a imagem perfeita; não somos perfeitos. Somos  muito imperfeitos, mas somos uma família. 

—Uma família que se ama. -Mamãe comentou com um sorriso pequeno. Eles se olharam por um momento sorrindo um para o outro e tudo pareceu mais leve. 

Apenas fale, Renesmee. É hora de falar. Pensei, aproveitando o momento de calmaria para relaxar e me preparar para contar tudo aos meus pais. Desde toda a insegurança da minha infância, até o derradeiro namoro com Jacob.

Eu não vi quando, mas em dado momento reparei que Bella não estava mais no quarto, me deixando a sós com os meus pais.

(Musica *Possibillity - Lykke Li)

 

É difícil falar esse tipo de coisa. É difícil olhar para dentro de si e descobrir, reconhecer onde você está quebrada e quando foi. Haveria um estopim? As cobranças da minha avó, Sasha, geraram uma menina cheia de medo de engordar? A minha família diferente, onde meus pais não eram um casal fizeram eu me sentir inferior as demais crianças? Ou foi a ausência constante da minha mãe durante o meu crescimento? Sua cobrança excessiva para que eu fosse a melhor em tudo que fizesse?

Ou seria a ausência de frustração material? Tudo que Renesmee quer, Renesmee tem.

Ou eu só queria chamar atenção? Então era culpa minha certo? Riley era um bom namorado, talvez eu apenas não tenha entendido o ponto dele, a necessidade dele. Jacob… eu queria estar no controle com ele, por isso dei a minha virgindade a ele. Achei que o prenderia a mim, e eu estaria no controle. Mas ele me usou e, pior, eu achei que estava fazendo tudo que eu queria. Ele me manipulou direitinho.

Todo mundo era assim? Usava os outros? Manipulava os outros? O que tinha de errado comigo afinal? Até meu pai, a pessoa que eu mais amava no mundo, eu não conseguia ser completamente aberta com ele.

É claro que eu chorei copiosamente ao derramar tudo isso em Edward e Tanya. Papai e mamãe. Afinal, o que eles tinham em comum? Apenas eu. Eu era o erro, o peso, a corrente que os prendia um ao outro.

Tudo seria mais fácil se eu não existisse.

Eles choraram também. Acho que até a psicóloga - que apareceu quando eu mesma já estava gritando verdade - queria chorar, mas ela era uma profissional. Eu não sei o que ela achou de tudo isso, porque depois de um tempo que eu parei de falar, e só soluçava com a cabeça no peito do pai, enquanto minha mãe tocava meus cabelos, algo foi injetado no meu soro por uma enfermeira com cara de pena, e eu dormir.

Dormir tinha o potencial de se tornar meu esporte favorito. Eu não pensava, não sonhava… tudo era muito perfeito enquanto eu dormia. 

Acordar era o oposto de tudo que eu gostava.

Eu acordei sozinha daquela vez, o que foi bom, eu tive tempo para apenas curtir a decoração hospitalar do meu quarto. Onde estaria meu celular? Coloquei minha cama numa posição mais sentada, e fiquei ali, paradinha olhando para a porta.

Até que ela foi aberta pela psicóloga de antes.

—É bom ver que já acordou. Meu nome é Emily. -Ela tinha traços indígenas, um sorriso iluminada. Foi estranho, eu me senti aquecida com aquele sorriso.

—Acordei faz um tempo. Por quanto tempo dormi? - Não tinha a droga de um relógio naquele quarto, não ter noção de tempo era horrível.

—Apenas o resto do dia de ontem e toda a noite. são…- ela olhou o relógio em seu pulso - oito e meia da manhã.

—Ótimo. Onde estão meus pais?

—Seu pai pelo o que sei foi obrigado a ir em casa, sua mãe está na sala do seu avô, Carlisle junto com alguns membros da sua família. Devo dizer que você tem uma família muito dedicada, muitas pessoas estão aqui no hospital.

—Sou uma querida. -Resmunguei, saiu mais ácido do que pretendia.

Ela se sentou no sofá de um lugar ao lado da minha cama.

—Então, vamos conversar?

—Eu tenho muito a dizer. - A preveni.

—Eu tenho muito tempo disponível para ouvir. -Ela sorriu de novo.

Eu não sei o que tinha na doutora Emily, eu não sabia se era o seu sorriso, aberto e que parecia sincero, ou se eu tinha chegado a um ponto sem volta onde eu precisava apenas colocar tudo para fora, mas eu derramei tudo em cima dela. 

Desde não me lembrar de coisas da infância e descobrir que o médico da minha avó tinha me feito esquecer, a como eu me sentia o tempo todo. Sobre o relacionamento com Riley, e então Jacob.

Sobre Alec. Esse foi o mais confuso de expressão e me peguei dando risadinhas. 

Falei sobre Isabella e como a odiei quando vi o que ela significava para o meu pai. Como eu me senti um peso. Como eu tinha estragado o cabelo dela com descolorante e me sentia culpada sobre isso.

Eu falei e falei e a doutora Emily ouviu parecendo muito interessada e envolvida com o meu relato. Era hora do almoço quando ela deu nossa sessão por encerrada, já que uma mulher entrou trazendo meu almoço. 

Ela se despediu prometendo que voltaria no dia seguinte.

Mamãe e papai apareceram para almoçar comigo. 

—E Bella?

—Ela virá no horário de visitas com muitos visitantes. - ele tinha um sorriso contido ao dizer isso.

No horário de visitas, meu quarto ficou cheio. Isabella apareceu com Jane, Maggie, tia Rosalie, tia Alice, tio Jasper, tio Emmett (que trouxe um urso imenso que coloquei na minha cama), tia Irina, tia Kate, vovó Esme, vovô Carlisle, Laurent pai da Maggie e meu primos Paul e Sam.

—A vovó queria vir, mas ela está muito fraca. -Maggie disse.

—Tudo bem. Quando eu melhorar vou visitá-la. Não era certo ficar guardando rancor de Sasha.

—E agora a minha paciente…Nossa. -Era Charlotte que parou na porta olhando o quarto cheio. -Quando você disse que sua neta receberia um pouco mais de visitas do que estávamos acostumados eu não pensei que seria uma festa. 

Ela brincou.

—Como pode ver, doutora, sou muito amada e querida. -Dei de ombros.

—O que a monstrinha tem doutora? - tio Emmett perguntou.

A médica contornou meus primos, Sam e Paul, se espremeu entre tio Emmett e tio Jasper, para ficar mais próxima a minha cama.

—como já conversamos, você tem Prolapso da válvula mitral, e vamos vigiar a evolução desses sintomas. Seu avô, eu e outros médicos cardiologistas concordamos que o melhor no momento é medicar você para lidar com os sintomas.

—Remédios? Podíamos dar um coração novo a ela, me de vinte quatro horas e terei um coração para Nessie. - Jane disse pegando o celular. O pessoal riu, eles realmente achavam que ela não estava falando sério.

—Ela não precisa de um transplante de coração, ele está forte. No máximo, se os sintomas não melhorarem com a medicação, ela vai precisar de uma troca de válvula.

—Como um carro. -Paul disse assentindo.

—Não seja idiota, Paul. -Sam sacudiu a cabeça.

—Na verdade é uma boa alusão, o corpo humano funciona como uma grande máquina. -Vovô disse.

—Por que esperar dar defeito para trocar? É melhor ela sair desse hospital novinha. -Jane estava nervosa.

—Querida, uma cirurgia é algo sério, é sempre bom evitar. -Bella tentou tranquilizar.

—Mas você viu Isa...vui como ela ficou. Viu que ela quase...Morreu. -Jane engasgou na última palavra.

—Jane… -Bella a abraçou pelos ombros, Jane estava chorando.

—Eu não vou morrer. Não antes de sermos velhas e loucas. -Prometi.

—O assunto está morbito demais, ok? -tia Rosalie se meteu. -Se os médicos dizem que remédios são o melhor, então são o melhor.

—Sim, querida. -Vovô concordou. -Não precisa passar por uma cirurgia agora.

Agora.

Dra. Charlotte ficou mais um pouco, falando sobre os cuidados que eu precisava ter a partir de agora, e a minha família ficou muito mais tempo que o permitido para uma visita normal.

Tia Rosalie convenceu minha mãe a dormir em casa naquela noite, ela ficaria comigo. Também foi boa em convencer meu pai a ir para casa.

Tio Emmett disse que passaria a noite no hospital. Tia Rosalie trincou os dentes e fez um som de deboche ao jogar os cabelos para o lado depois dessa declaração dele. Eu achei tudo muito engraçado. Parecia que a raiva que ela tinha pelas mentiras dele havia passado.

Jane deixou claro que só iria embora depois do jantar.

—Você janta no refeitório, Rosalie, deixe a comida de acompanhante para mim. Estranhamente gosto de comida de hospital. -Jane disse.

—Vamos, Rose. Tem um restaurante aqui perto, podemos jantar lá. -Tio Emmett deu a ideia.

—Eu não vou jantar com você Emmett. 

—É um restaurante de comida japonesa. E eu sei que você ama comida japonesa. - Vi que ela ficou balançada.

—Ei, tudo bem irem jantar, mas nada de japonês. Li em algum lugar que mulher grávida não deve comer peixe cru. -Eu não sabia se era verdade, mas não podia arriscar e tia Rose perder o bebê que tanto sonhou em ter.

Tia Rosalie ficou corada, e olhou para o chão. Tio Emmett lívido.

—Você está grávida? -Ele sussurrou de modo audível.

Tia Rosalie levantou a cabeça daquele jeito orgulhoso e superior. Olhou bem para ele antes de responder.

—Sim.

—E quem é o pai? 

Ela riu.

—Certamente não você.

—Rosalie…

—Eu vou comer na cantina, meninas. Jane, conto com você, faça Renesmee comer todo o jantar.

Eu estava com fome, ela nem precisava pedir isso a Jane.

Ela saiu a passos firmes, sendo seguida por tio Emmett.

—Eu acho que esses dois tem volta. -Jane disse.

—Talvez quando eles forem velhos. Bem velhos. -Respondi. -O pai do bebê dela é bem gatinho.

—Mas ela ama o Emmett, isso é óbvio.

—Além das mentiras dele, agora tem um bebê na balança, um bebê que ele nunca quis. Não sei se tem volta, não pelas próximas décadas…

—Você não é nada romântica. -Ela me acusou.

O que eu poderia dizer? Era melhor ficar quieta.

—Mas como eu sou romântica tenho uma surpresinha para você. - ela bateu palmas e saiu.

—Jane? -chamei já era tarde demais, ela havia fechado a porta.

Eu já estava a quase três dias no hospital e nem sinal do meu celular. Como eu tinha companhia o tempo todo, não estava sentindo tanta a falta do aparelho, contudo parecia que eu estava em uma realidade alternativa sem ele. 

Talvez Jane pudesse trazer o meu aparelho, ou me emprestar o dela para eu acessar minhas contas.

Uma batida suave na porta, devia ser o jantar porque ninguém mais além da moça responsável por trazer minha comida batia na minha porta.

—Pode entrar. - falei. Se Jane demorasse voltar eu comeria sozinha. Algo nesse soro devia me dar fome.

—Com licença. -a voz com certeza não era da moça que trazia as minhas refeições.

Primeiro ele colocou o carrinho com as refeições para dentro, então eu vi Alec Volturi, com uma camisa social branca, com os botões de cima abertos, os cabelos meio bagunçados. Os olhos brilhavam, o rosto parecia um pouco corado.

—Alec?! -Aquilo era inacreditável! Eu estava com a droga de uma camisola hospitalar, o cabelo nojento a três dias ou mais sem lavar, um soro no braço! Como Jane podia ter feito aquilo comigo?!

—Ei você.-Ele tinha um maldito sorriso lindo!

—Como você entrou aqui?

—Pela porta. -Ele deu de ombros. Ele se movia pelo quarto com rapidez, pegou a pequena mesa para refeição do meu acompanhe e colocou próximo a minha cama. Arrumou as cadeiras uma de frente para a outra, colocou um pequeno jarro com uma única tulipa vermelha, e arrumou o jantar na mesa.

—De que se trata isso, Alec? -Perguntei. Eu não queria pensar na minha cara pálida e nas minhas olheiras.

—Eu precisava te perdir desculpas. Mas parecia impossível ter um tempo a sós com você. É uma paciente muito popular. 

Eu não podia debater aquilo.

—Roubou meu jantar? 

—Não posso levar o crédito, foi ideia de Jane. Quer ajuda? Nossa, você pode sair da cama? - ele fez uma cara apavorada e eu tive que rir.

—Posso sair sim, só preciso de ajuda com o suporte do soro. E para matar a sua irmã, que armou tudo isso e nem pra me trazer uma roupa ou uma make. Devo estar de dar medo.

—Não verdade você está bonita.

Fiz uma careta, era possível eu estar bonita.

Alec me ajudou a descer da cama, e puxou a cadeira para eu me sentar. 

—Me me diga que nossa jantar tem batata frita.

—É literalmente a comida do hospital, me desculpe. 

Havia purê de batata então já era uma coisa muito boa.

Comemos um tempo em silêncio, Alec prestava muita atenção em mim naquele momento.

—Então você sabe todo o porquê de eu estar aqui. -Quebrei o silêncio.

—Jane salientou que eu deveria ter certeza que você comeu.

—E então você está aqui. -Sinalizei nossa jantar.

—Eu te devo desculpas. Depois do que aconteceu com o Jacob, eu devia ter…

—Esqueça o Jacob, ele é passado. Eu que deveria super me desculpar com você por ele ter te batido.

—Jacob é um idiota e você não me deve desculpas.

—Então você também não me deve.

O sorriso dele era tão bonito que devia ser crime.

Ainda bem que o monitor cardíaco tinha sido tirado de mim.

—Eu fiquei muito assustado com o que aconteceu com você. 

—Desculpa por isso. Eu não queria preocupar ninguém.

—Não foi culpa sua.

—Ainda assim eu deixei todo mundo maluco.

—É porque essas pessoas amam você.

—Doidera isso.

—Vai ficar agora?

—Eu vou tentar, de verdade. Conto com pessoas muito boas se quer saber.

—Acho que eu sei.

Terminamos de comer e um silêncio pesado nos tomou.

—Eu…

—Eu… - Dissemos juntos e caímos na risada.

Ele pegou a minha mão e meu coração apertou de um jeito estranho.

—Sinto falta das nossas conversas de antes. -Ele disse. -Eu quero estar por perto, se você quiser é claro.

—Isso seria ótimo. -Concordei.

—Amigos?

Aquela palavra não era boa o bastante.

—Só se isso não nos impedir de ser algo mais. -Falei. 

—Com toda a certeza não impede. Eu terminei com a Renata.

—Jane me contou.

—Jane. -Ele sacudiu a cabeça. -Renata foi um erro. Eu nem sei porque começamos a namorar.

—Mas vezes começamos um relacionamento por impulso. - comentei.

—Nem me lembre. -Ele riu.

—Então amigos. -Declarei. Por enquanto. Acrescentei mentalmente.

 

Faltavam 2 dias para a ação de graças quando eu recebi alta, e o meu celular de volta. Eu queria sair do hospital com as minhas próprias pernas, mas a minha mãe insistiu para que eu usasse a cadeira de rodas até o carro e Bella a acompanhou no apelo. Eu aceitei. As enfermeiras que vieram se despedir de mim pareciam aliviadas com a minha partida, afinal lidar com todos os meus visitantes devia ser algo desgastante. Com uma nova dieta, uma lista de remédios e pais e madrasta muito atensiosos eu deixei o hospital dando graças a Deus.

Havia muita movimentação nas minhas redes sociais, muitas publicações no meu mural do Facebook, menções sem fim no Instagram. Fui respostando alguns, assim que pudesse gravaria uns storys agradecendo a todos. Com excessão dos que estavam se promovendo em cima de mim. Vi a postagem que Jane tinha feito falando que eu era a melhor amiga dela, me levou às lágrimas. Eu precisaria responder a altura. 

Na postagem de Jane tinha uma foto nossa mais ou menos recente onde ambas tínhamos os olhos tampados com as mãos, e outra foto de nós duas crianças na escola. Se bem me lembro aquela foto tinha sido tirada pelo meu pai. A legenda era Jane pura: ela é apenas e simplesmente a minha melhor amiga. A gente se conheceu na pré-escola e, eu odiei o fato dela usar a lancheira da Barbie mais bonita do que a minha. Eu disse isso para ela, eu nunca tive muito filtro e, sabe o que ela fez? Fez o pai comprar uma igual e levou para mim no dia seguinte. Eu amo Renesmee Cullen. É isso. Ela vai ficar bem, vai sair dessa! E com uma lição para vocês. E biscoiteros e biscoiteras de plantão: aqui não! Quem não queria o bem dela antes, não vem aqui dizer "boas energias", porque as energias de vocês são péssimas! 

Essa era a minha Jane, com certeza em resposta a publicação de Jacob.

Levantei o rosto, tirando a atenção do celular para mostrar a foto a Bella que estava na frente ao lado meu pai, foi quando percebi para onde estávamos indo.

—Vamos deixar você em casa primeiro?- perguntei para minha mãe que estava ao meu lado.

—Estamos indo para casa, querida. 

—Eu não vou ficar no apartamento. Vou ficar na casa do meu pai!

—Renesmee…

—Eu não vou ficar sozinha com você no apartamento. E se o nojento do Félix aparecer? E se alguém que quer prejudicar você aparecer? Eu não vou mesmo! Nem você devia ficar lá.

—Renesmee tem razão. - Bella disse. 

—Eu quero cuidar você. - Tanya disse segurando minha mão.

— Você pode ficar conosco também, Tanya se quiser. Sua filha tem razão, não é bom para você ficar só. 

—Bella está certa. -Papai concordou.

—Se não for incomodar…

—Não máximo você vai incomodar a mim, mamãe. Se não me contar tudo sobre ser presa, ser solta…

—Não é assunto para você, principalmente agora.

—Acho que é um assunto que todos nós precisamos estar inteirados. - Papai disse por fim.

Tanya fechou a expressão, mas pela forma como torcia a boca eu sabia que tinha concordado.

 


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Notas finais do capítulo

Cadê as team Reneslec???
Bjs :*