P.O.V. Autora

Se passaram alguns meses desde o dia da Sala Precisa. E também do dia da traição de Severo. A partir daquele dia, Lily mudou. Pra pior. As palavras dele martelavam em sua cabeça. 

" Eu não preciso da ajuda de uma sangue-ruim como ela"

Isso causou um efeito de raiva e indignação instantânea em James, que tentou defendê-la. Ela porém negou sua ajuda, embora se sentisse agradecida. Ela se sentiu nojenta quando falou que ele era pior. Se arrependeu mais ainda das suas últimas palavras.

" Você me dá náuseas "

Ela estava se sentindo culpada por ter falado aquilo, por tê-lo magoado, pois sabia que isso não era verdade. Isso fez com que se isolasse três dias depois, quando a ficha tinha caído. Ela estava dividida em vários pedaços. A parte de amor próprio dela dizia que não era culpa dela, que ela estava confusa emocionalmente, e que, naquele momento, a raiva tomou conta dela, já que era instintivo.

Outra parte dela, a parte que ela tinha de ódio próprio, dizia que ela era culpada de tudo, e que se James desistisse dela depois daquilo, não seria surpresa. Ela, por mais que não quisesse aquilo, concordava, e essa era uma parte que desencadeava o seu choro toda vez.

A parte da raiva estava dividida entre Severo e James. Estava com raiva de Severo por tê-la chamado daquilo, e de James por ter mexido com ele, por ter acabado com a amizade deles.

Seu coração estava despedaçado, por mais que já esperasse isso de Severo, pelo tipo de pessoas que ele tinha se aproximado nos últimos meses. E também por ter, provavelmente, perdido o amor de James.

Ela começou a se avaliar, a avaliar a parte racional e emocional. E ela então começou a avaliar o que sentia pelo Potter. Ela já vinha se sentindo boba toda vez que ele aparecia, ficava encantada quando ele mexia no cabelo por costume e quando sentia uma emoção forte, e cada sensação um jeito diferente de mexer. Começou a prestar um pouco mais de atenção nele e percebeu que ele andava de um jeito próprio para cada ocasião.

Ela puxava essas visões da memória, e ela nunca percebera que prestava tanta atenção assim no garoto. Não sabia que os dentes brancos e perfeitamente alinhados do garoto, à mostra no sorriso que seus lábios médios, levemente puxados para frente, abriam tão verdadeiramente, chamavam sua atenção tão facilmente daquele jeito. 

Ela também nunca reparara que seu coração descompassava quando ele se aproximava para fazer mais uma tentativa falha de chama-la para sair, que se encantava com ele bagunçando ainda mais o cabelo hidratado e brilhoso nervosa e medrosamente e que se hipnotizava com os olhos castanhos esverdeados esperançosos e um pouco apreensivos e medrosos. Neles ela podia ver um garoto comum, triste por nunca ter tido irmãos, isolado dos trouxas em um gesto de proteção dos pais por conta da guerra. Ela viu que adorava aquela voz dele a chamando de Lirio. Ela nunca reparou que seu coração se incomodava de ouvi-la dizer "não" toda vez, e que se magoava ao ver a mágoa e a tristeza em seus olhos.

Ela percebeu que nunca usou o coração com ele, ela usava o coração com todos e não com ele. Seu coração deixava isso para sua cabeça por não ter condições de se controlar quando ele estava perto. Ela usava a cabeça com ele, e não o coração. Ela viu que sente alguma coisa por ele. Não era ódio, não era raiva. E não era empatia ou pena. Era mais que amizade.

Era amor. Algo profundo e complexo demais para entender e forte demais para conter. Não era o amor fraternal que sentia pelos seus amigos, era mais. Era curioso para saber se ele estaria pensando nela, como eram seus lábios no beijo que as outras falavam. Ela se imaginava montando uma família, a família que sempre quis, ao lado dele. Ela se viu de mãos atadas outra vez. Era fato: Lílian Evans estava amando James Potter.