Estava enrolada em sua manta às margens do lago devorando um livro de poções avançadas, quando sentiu exemplar ser retirado de suas mãos de forma brusca. Olhando para cima em busca do ladrão a Weasley soltou uma risada frouxa ao observar seu primo favorito bagunçar, ainda mais, os cabelos castanhos. 

— Me devolve - ela estendeu o braço esperando que o primo lhe devolvesse seu mais precioso bem , naquele momento.

—Alice quer me enlouquecer - Ele falou lhe devolvendo o livro e sentando-se ao lado da prima, quase implorando para que a mesma a dividisse a manta quentinha com ele. Ela estendeu o tecido para que ele se protegesse do frio com ela . 

— Ninguém mandou você abusar da creche .

— Eu não achava que ela ia se apaixonar - o olhar que a ruiva lhe deu dizia tudo, ele tinha pensado na possibilidade, ele sabia, mas era a única maneira de saber como Lily estava dentro da torre da grifinória, e isso ela sabia - Hugo não teria me contado metade do que ela me contou. 

— Argumento inválido, Potter . - Ela soltou uma risada baixa e anasalada - Você usou seu charme para conseguir as informações, sabia que estava brincando com os sentimentos da menina

O sorriso sarcástico que brincava no rosto de Rose e Albus apenas deu de ombros rindo baixo sabendo que a sabe tudo da sua prima estava certa , novamente. Mas havia feito o que tinha que fazer. Lily havia passado as férias inteiras enfurnada dentro do quarto, havia implorado para que não fosse para a Toca várias vezes, mesmo que suas tentativas não tenham tido muito efeito tinha deixado todos muito preocupados. A caçula dos Potter's também não demonstrava apetite e por vezes viu Gina quase implorar para que a filha comesse ao menos uma fruta.  Ninguém, além de Alice Longbottom, parecia entender o que acontecia. Por isso Albus fez o que tinha que ser feito e de uma forma muito persuasiva tinha conseguido o que queria- e esperava poder ajudar sua irmã. Contudo, tinha que arcar com as consequências, mesmo que elas fossem ter Alice em seu pé para sempre. Ela era até fofa.

—Rosie! - A voz melodiosa de Rebecca chegou aos seus ouvidos conforme a morena se aproximava - Você não almoçou, sabia? 

— Estava me esforçando para não lembrar. - ela sorriu para a amiga , se encostando no ombro de Albus. Viu a amiga lhe oferecer um bolinho silvestre e quase negou se não tivesse visto o olhar raivoso da de cabelos acastanhados em sua direção - Não vou mais pular refeições para estudar, prometo!

— Não faça promessas que nunca ira cumprir , Weasley. 

— Eu irei comprir essa , Becca. Se eu não comprir deixo vocês… lerem meus resumos no próximo ano !

 Viu sua amiga se sentar ao lado de Albus na grama sorrindo para ela, Becca a faria cumprir a promessa até o fim de seus dias. Era isso que a amiga fazia, cuidava dela, elas passavam tanto tempo juntas que já se entendiam pelo olhar,  brigavam - as três- quase diariamente, mas sempre que precisavam , mesmo que achassem que não, estavam juntas , unidas e grudadas. Havia sido difícil chegar aquele patamar de confiança e entendimento, afinal, os únicos amigos da Nott antes de entrar em Hogwarts eram Scorpius e Anthony Zabini, mas dividir o dormitório por tanto tempo com as Weasleys  havia sido uma mudança ímpar em sua vida- na vida das três. 

 Começou a comer o bolinho , fazendo cara de deboche para a amiga que ria e contava a Albus algum caso novo do dormitório feminino. Se divertiam ao seu modo, ficaram conversando por o que pareceram horas na frente do lago, dividindo uma manta grossa e rindo. 

Perto das férias de natal Rose recebeu um convite inusitado : passar as festas na mansão dos Malfoy´s. Ela riu da tentativa de Scorpius de explicar como a mãe fazia questão que depois de três anos com o filho passando o natal na casa dos Weasley que ele levasse os amigos para festejarem como os Malfoy´s. Ficou tentada a aceitar, porém o medo de criar outra briga em casa foi maior. Todavia, quando recebeu uma carta de sua mãe dizendo que a mesma passaria o natal com a parte trouxa da família para não criar - mais- confusões na ceia dos Weasley, Rose aceitou.

—Você está mentindo! - O loiro falou revirando os olhos quando a ruiva lhe contou que passaria o natal com eles  

—Eu não minto - Rose falou com falsa inocência , fazendo todos que estavam na mesa de estudo rirem e a ruiva revirou os olhos bufando, se dando por vencida. -Por Morgana, eu não estou mentindo sobre isso. Pelo menos .

— Vamos passar o natal juntos ? 

— Não esperava que eu passasse o natal com Dominique , esperava? 

Scorpius mal podia acreditar no que a ruiva dizia, ela iria. Albus e Roxanne também haviam aceitado, mas Rose , para ele, era a maior conquista.  Ele conteve o sorriso, mantendo a máscara de indiferença enquanto a ouvia , piscou para a menina assim que a mesma se calou. Só acreditaria quando a visse entrar pelos grandes portões negros em Wiltshire.

— Você vai adorar a biblioteca particular da mamãe - Scorpius falou apenas para ver os olhos azuis brilharem .

Passaram dias planejando o que fariam durante os oito dias que estariam todos juntos. Tiveram até uma pequena discussão sobre as atividades, uma vez que Rosie se negou a participar de qualquer atividade que incluísse uma vassoura. A ruiva passou três dias sem falar direito com os amigos, afinal.. ela tinha suas razões para não gostar de voar. 

Faltando uma semana Becca, que estaria presente apenas nos dias de festa com a família, as ajudou na escolha de roupas para as festividades - afinal, não eram nada parecidas com as festas que ocorriam na´Toca. Rose sabiam muito bem como se portar e vestir diante de ocasiões como aquela, mas agradeceu infinitamente a Nott, não queria fazer feio num evento social que ela julgava tão importante , sem nem saber o real motivo. 

 No dia que desembarcaram da estação a sardenta foi para a casa dos Potter's com Albus , Lily e James. Tinha enviado uma carta quatro dias antes para que seu pai avisando que passaria alguns dias em casa, ele não tinha se disposto a responder e muito menos a aparecer na estação. Por isso teve de pedir a sua tia Gina para que a adotasse por pelo menos aquelas pequenas férias em que nem Hugo havia ido para casa.  Seus tios a haviam entendido e acolhido, porém Gina não parava de falar em como seu irmão era um abutre por como estava tratando a situação e os bens mais preciosos de sua vida. Sua tia parecia furiosa com seu pai. Ela também estava. 

Os cinco dias que passou com os Potter´s a ajudaram a se entender , mais ou menos,  com James. O que foi um milagre ímpar. O mais velho parecia ter entendido que aquele pé de guerra que os forçava a viver só havia depreciado a pobre relação que tinha com o irmão. Além do que, Rose um dia já havia sido sua prima favorita e agora apenas a infernizava pois ela tinha tido , na cabeça dele, o azar de cair na casa das serpentes. Entraram em um acordo mútuo de que Rose pararia de ser uma megera com ele a cada vez que tivesse a chance  e que ele não voltaria a maltratar os mais novos. Tudo que ocorreu foi ideia de Harry, que parecia indignado em como as coisas haviam chegado naquele ponto, afinal eram só casas - e ele não queria que os filhos cometessem os mesmo erros que ele havia cometido em sua adolescência. Eram família, afinal.

—Então estamos acordados, cabeça de cenoura?

—Do que você me chamou, Potter? - o olhar raivoso da menina para o primo poderia ter o matado, se ela pudesse utilizar magia fora de Hogwarts.

— Poderia ter sido pior.  Algo como ferru.. 

—Não termine essa frase, idiota.

—Você vai me impedir como, molho de tomate? Quer duelar? Ah sim.. você não pode! 

—Perdão, lindinho, será que você esqueceu que eu não preciso de magia para provar que sou melhor que você ?

—Então você me acha lindo ? 

O sorriso quase sarcástico que James deu foi o cúmulo para a Rose, que apenas saiu enfurecida da cozinha naquele dia, jurando que a próxima gracinha que aquele Potter fizesse ela o estuporaria e nem sequer se importava se iria ser expulsa de Hogwarts, ela se inscreveria em Ivomory se fosse necessário, mas ela acertaria o nariz presunçoso de James com uma infinidade de feitiços e azarações.   Ela escutou a risada do mais velho ecoar antes de escutar a fatídica frase. 

—Estamos de trégua, priminha.

Hermione apareceu algumas vezes na casa dos Potter's para visitar a filha, sempre pedindo desculpas pela ausência e levando livros que a achava que a primogênita iria gostar. Via nos olhos da mãe como ela se sentia culpada pela situação, mas não conseguiu controlar sua língua afiada quando o assunto do divórcio veio a tona.  

— Mãe, se desculpar não vai mudar os fatos. Eu e Hugo não entendemos o que aconteceu por que ninguém se dignou a explicar nos. - a ruiva passava as mãos no rosto constantemente, tentando não elevar o tom . 

— Rosie.. -  sua progenitora começou mas pareceu perder a voz quando viu o olhar frio da filha. 

— Ninguém apareceu para me buscar na estação, e eu entendo que eu não seja a pessoa favorita do meu pai, mas…- ele desviou o olhar do chão para os olhos castanhos da mãe- Nem Hugo , que ama o natal, quis sair do castelo. - os olhos azuis estavam gélidos, ela se segurava para não chorar e empinava o nariz - Se vocês querem se separar, tudo bem. Mas não misturem as coisas, não nós ponham no meio , ainda somos família, sangue. - a ruiva respirou fundo e proferiu as palavras que estavam engasgadas em sua garganta a tempos.- E sangue é um laço que não se renega.

Aquelas palavras haviam quebrado sua mãe por dentro. 

Rose abraçou sua mãe com força , deixando uma lágrima, solitária, cair por seu rosto. Ela era dura demais , realista demais, mas acreditava que pelo menos um deles tinha que escutar aquelas palavras. Estava doendo tanto neles como nela. Porém , se tinha que ser ela a chamar a atenção para tudo que estava caindo aos pedaços naquela família, ela o faria .