Eternidade escrita por Deusa Nariko


Capítulo 2
Parte II: Tudo o que é Efêmero


Notas iniciais do capítulo

Segunda parte!
Boa leitura!



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Eternidade

Parte II:

Tudo o que é Efêmero

Escrito por Deusa Nariko

 

Tonight, gonna take you somewhere

Leave it all behind

We'll go into the stars

 

Forget time

In an infinite universe

I know you feel alive

Let it take you away.

Ison - Nebula

 

✧ ✦ ✧

OS SONHOS MUDARAM DEPOIS QUE SAKURA conversou com Ume na cafeteria. Ao invés do campo de batalha e do sangue e da morte, ela via planícies verdes e intermináveis, e desfiladeiros colossais de calcário, e lagos e mares, e montanhas cobertas pela neve. Esses sonhos eram pacíficos, mas definitivamente não eram monótonos. Deixavam-na com uma sensação calorosa no peito e no estômago, e em algumas vezes faziam-na, até mesmo, despertar com lágrimas escorrendo pelo seu rosto e travesseiro.

Uchida Sasuke estivera presente em todos eles, acompanhando-a como um intruso bem-vindo em cada paisagem onírica. E exceto pelo cabelo negro estar mais comprido e pelo semblante sereno trazer uma aura imperturbável de sabedoria, Sakura não tinha dúvida de os dois serem a mesma pessoa. Os olhos escuros jamais mentiriam, eles sequer mudavam. E ela sempre reconheceria aqueles olhos profundos e imperscrutáveis.

Então, um dia, enquanto pegava o trem para ir visitar a casa da mãe, afastada do centro agitado de Konoha, ela o encontrou por acaso outra vez.

Ele estava distraído e a poucos metros dela, o olhar fixo num ponto qualquer. Agarrada à barra de apoio, Sakura se permitiu espiá-lo — e apreciá-lo — com discrição. Pegou-se admirando o ângulo elegante do nariz dele, os lábios bem desenhados e pressionados, o contraste do cabelo preto como as penas lustrosas de um corvo com a pele perfeita do rosto.

De repente, ele olhou na direção dela e Sakura mais que depressa abaixou o rosto, temendo ser reconhecida; não queria que ele pensasse que ela o estava seguindo como uma psicótica. Seu coração batia descompassado, entretanto. Contou mentalmente até dez antes de arriscar roubar um último olhar dele. Uma voz feminina e artificial anunciou a próxima parada do trem, na próxima plataforma suspensa de desembarque. Ela quase se esqueceu de respirar quando o surpreendeu fitando-a com uma expressão intensa.

Abriu a boca, mas não soube o que dizer de novo. Talvez não houvesse nada a ser dito. O trem foi desacelerando, as rodas travando sobre os trilhos de metal. Ela ainda o olhava, estupefata, quando Sasuke quebrou o contato visual com ela, e se afastou para sair pelas portas automáticas no instante em que se abriram. Desapareceu na estação antes que Sakura tivesse a chance de lhe dizer alguma coisa.

✧ ✦ ✧

Os sonhos com Sasuke se tornaram ainda mais intensos a partir de então, ao ponto de fazê-la despertar constrangida e indignada. O desejo cantava no seu sangue em igual proporção. Perguntava-se por que estava sendo acometida por aqueles sonhos. Por que era Sasuke a protagonizá-los. Exceto por algumas trocas de olhares e aquela única vez em que falou com ele não eram nem um pouco próximos.

Ainda assim, todas as noites, ela sonhava com ele. De novo e de novo. E nos sonhos eles se beijavam, trocavam carícias e, até mesmo, faziam amor sob um teto de luares e de estrelas. Num dos sonhos, ele até mesmo chegou a deslizar a mão pela curva sutil da sua barriga enquanto pressionava os lábios contra os seus cabelos e lhe sussurrava promessas de amor.

Sakura despertou com lágrimas escorrendo pelo seu rosto na manhã posterior a esse sonho dolorosamente vívido, as mãos apertadas contra o ventre plano e oco, e ainda sob os seus efeitos remanescentes. Desejou então que não tivesse sido um sonho, e sim que tivesse sido real.

Que todos aqueles sonhos doces dos últimos meses tivessem sido.

✧ ✦ ✧

Os rumores que cercavam a família de Sasuke eram os mais respeitáveis possíveis, de modo que o sobrenome Uchida estava sempre nas bocas dos estudantes do Instituto. Diziam que os Uchida eram descendentes diretos da Kyuudaime Hokage, que permaneceu no cargo durante um longo período de paz e prosperidade para Konoha. Mas isso havia sido há mais de trezentos anos, e ninguém afirmaria com certeza se a informação procedia ou não. O que não anulava a integridade inquestionável dos Uchida. Eles haviam servido na Força Shinobi desde a sua fundação e eram merecidamente reconhecidos por isso.

Apesar da rotina agitada do Instituto, Ume a tinha convencido a comparecer à inauguração de uma casa noturna, alegando que ela precisava desenterrar um pouco o nariz dos estudos e se divertir. A própria Sakura não se opusera a isso: vestiu um dos seus melhores vestidos e se preparou para passar uma noite descontraída ao lado da melhor amiga.

O lugar era aconchegante, mas estava um pouco cheio demais na opinião de Sakura — o que não a impediu de tentar se divertir um pouco. Teria sido a oportunidade perfeita para espairecer e esquecer-se um pouco dos sonhos que a atormentavam se ela não houvesse avistado Sasuke em meio à multidão, uma cabeça mais alto do que a maioria dos frequentadores e tão lindo que lhe roubara o fôlego.

Ele também a avistou, ou foi isso que Sakura concluiu pelo modo como cruzaram os olhares mesmo com dezenas de pessoas entre ambos. Ela foi a primeira a desviar o olhar, afastando-se sem uma direção definida em mente, como se temesse que apenas fitá-lo por tempo o bastante o fizesse descobrir sobre os seus sonhos constrangedores que ele protagonizava.

As luzes estroboscópicas pulsavam dentro do recinto escurecido, criando miragens e efeitos ilusórios sobre a multidão de jovens que se divertiam. Sakura seguiu sem rumo até encontrar uma porta pela qual saiu da casa noturna para um beco e para o ar frio da noite. Estava decidida a respirar um pouco de ar fresco e voltar para se reunir com Ume apenas quando sentisse que tinha todos aqueles sentimentos sob controle.

Abraçou-se, a pele nua dos braços estava arrepiada. Olhou para o céu escuro, para os aerodeslizadores que sobrevoavam toda Konoha, serpenteando por entre os edifícios altos, as luzes dos seus propulsores pulsando tão distantes quanto estrelas. Encostou-se à parede e procurou relaxar até ouvir o som de passos no beco. Tombou o rosto só para se deparar com ninguém menos do que Sasuke.

Sentiu-se tensa de repente e desencostou da parede. Ele não fez qualquer menção de se aproximar, mas tampouco fez menção de ir embora. Com os punhos escondidos nos bolsos da jaqueta que usava, encostou-se à parede como ela fizera antes e pareceu observar as luzes que piscavam lá em cima.

Sakura mordeu o lábio e travou uma batalha consigo mesma, tentando decidir se deveria conversar com ele ou não. No fim, optou por fazê-lo, aproximando-se um tímido passo dele:

— Não imaginava que te encontraria aqui hoje à noite, Sasuke-kun.

Sakura quis se estapear por haver iniciado a conversa com aquelas palavras, de todas as opções. Mas Sasuke abaixou o rosto depressa para fitá-la, e aquiesceu.

— Eu também.

— Você... é o Uchida-san — ela recomeçou com um sorriso simpático, umedecendo os lábios. Claro que ela saberia o seu nome, todos sabiam, mas achou que seria uma boa forma de recomeçar a conversa.

Ele não lhe ofereceu uma resposta daquela vez, porém desencostou da parede, as mãos ainda escondidas nos bolsos da jaqueta preta que usava. Sakura tomou o silêncio dele como um convite para se apresentar:

— O meu nome é...

— Haruhi Sakura — completou por ela, surpreendendo-a por um momento.

Sakura conteve o reflexo de enrubescer por constatar que Sasuke também sabia o seu nome. Sob as luzes artificiais, os olhos dele se tornavam ainda mais profundos, mais enigmáticos. Ela teve o súbito desejo de se afogar neles, de olhá-los pelo resto de sua vida.

— Nós estamos na mesma turma — ela disse impensadamente e quis se estapear mais uma vez; claro que ele também já sabia disso, estudavam todos os dias seis vezes por semana na mesma sala havia meses.

Suspirou internamente, tinha certeza de que ele a acharia uma estúpida colossal depois dessa noite — se não achava ainda. Sasuke se aproximou mais um passo e o corpo dela reagiu a isso com um rebuliço.

Era difícil ignorar o som do seu coração batendo tão forte, pulsando no seu ouvido e vigorosamente impulsionando o sangue pelo seu corpo. Sakura apartou os lábios e exalou. Não conseguia mover um músculo que fosse, estava presa, em transe devido ao magnetismo irresistível que Sasuke exercia sobre ela, um poder que a mantinha refém sempre que ele a olhava, paralisando cada centímetro dela.

Por um momento, ela teve a ideia absurda de que ele queria beijá-la. Teria rido de si própria se conseguisse. Nos seus sonhos, ela já o havia beijado pelo menos uma dúzia de vezes: beijos doces e rápidos, roubados dele num instante de distração, beijos sôfregos e excitantes que a faziam se contorcer de desejo; beijos nos lábios, no rosto, nas pálpebras cerradas, no pescoço, no peito e em lugares que ela não deveria, em hipótese alguma, pensar agora ou enrubesceria.

Recusando-se a desviar o olhar, tentou lê-lo. A expressão que tomara o seu rosto, a postura do corpo alto e forte. E, mais uma vez, falhou em fazê-lo. Não conseguiria adivinhar o que ele estava pensando, mas daria qualquer coisa para descobrir, para ter cada pensamento dele desvendado.

Então, o encanto que a prendia se rompeu quando a porta de metal próxima a eles se abriu. Os dois quebraram o contato visual, embaraçados, enquanto uma dupla de amigos atravessava o beco aos risos.

Sakura fitou os próprios pés, lutando contra o reflexo de olhar de volta para Sasuke. E quando finalmente o fez descobriu-se sozinha no beco. Ele havia partido, deixando-a para trás com mais perguntas do que respostas. O que era aquela atração entre ambos? Aquela força irreprimível que os aproximara antes.

Ela não sabia, mas tinha um palpite de que teria outro sonho vívido e bastante interessante com Sasuke naquela noite outra vez. Suspirando, voltou por onde havia vindo, não menos frustrada do que quando cruzou aquela porta mais cedo.

Ume ainda estava à espera dela lá dentro.

✧ ✦ ✧

De algum modo, a chegada do inverno trouxe mudanças significativas para a vida de Sakura. O frio e a neve marcando o começo de um novo ciclo para ela. Sasuke se aproximou de forma inesperada dela alguns dias depois do ocorrido na casa noturna. Nos primeiros dias, apenas a olhara com maior frequência, chegando a embaraçá-la pelo número de vezes que o surpreendia a encarando.

Diferentemente de antes, Sasuke não avertia o olhar, mas continuava a fitá-la. Então, ele começou a conversar com ela. Frases curtas e educadas que tinham um significado especial para ela de qualquer maneira. Em pouco tempo ela foi apresentada ao melhor amigo dele, e vice-versa e, antes que percebesse, os dois começaram a passar uma pequena parte do dia juntos, estabelecendo uma rotina agradável em conjunto.

Almoçavam na companhia um do outro e embora Sasuke não fosse alguém de muitas palavras, Sakura se via ansiosa a cada dia para estar com ele. Nesse interim, conheceu mais a respeito dele como a família, seus sonhos e projetos, seus gostos pessoais e mais da sua personalidade atraente. Estava se envolvendo com ele, percebeu um tempo depois, e se viu dominada pelo medo e pela excitação em proporções iguais.

Tornou-se óbvio para Sakura, com o passar do tempo, que ela estava se apaixonando por Sasuke. Talvez já estivesse na verdade, mas os sentimentos que tinha por ele estavam aflorando e se fortalecendo apenas agora.

Nunca se esqueceria da primeira vez em que o beijou, seis meses depois de conhecê-lo. Na verdade não saberia dizer com certeza qual dos dois deu o primeiro passo. Talvez houvesse sido ambos que, exaustos de continuar a ensaiar aquela dança lenta e frustrante repleta de rodeios e de recuos, finalmente decidiram se render ao desejo que os consumia.

Sakura se lembrava de ter as costas pressionadas contra uma parede, num canto esquecido do pátio central do Instituto e longe de olhares curiosos e línguas coscuvilheiras, enquanto os lábios de Sasuke enfim roçavam os seus no mais doce dos toques. Também se lembrava de sentir a respiração errática dele contra a sua pele e da sensação das mãos dele na sua cintura, do hálito dele contra o seu, do modo como ele a olhou antes e depois de beijá-la. Nunca se esqueceria.

Beijá-lo foi, até então, a experiência mais satisfatória de sua vida. Como se num instante ela houvesse encontrado algo que buscou a vida inteira, como se o universo de repente fizesse sentido e todas as estrelas sorrissem para ela. O júbilo só não foi maior do que o amor que sentiu. Um amor que teria sido o suficiente para mil vidas, cada uma delas apaixonando-se perdidamente por uma mesma pessoa; por Sasuke e Sasuke apenas.

Por um tempo, Sakura deixou de sonhar os sonhos estranhos que tinha com Sasuke. Talvez por que estivesse experienciando-os na vida real. Talvez por que agora que ela e Sasuke estivessem juntos já não houvesse mais razão para visitar o passado remoto ao qual eles pertenciam.

Enfim Sakura estava livre para voltar os seus olhos para o futuro — em todos os sentidos —, um futuro que ansiava cada vez mais ser capaz de viver ao lado dele.

✧ ✦ ✧

Apesar de estarem juntos para todos os efeitos, Sasuke e Sakura não sentiram a necessidade imediata de assumirem o relacionamento. Pareceu-lhes algo tão novo, não queriam atrair atenções desnecessárias dos colegas de turma ou dos superiores, que olhariam atravessado para um relacionamento dentro do Instituto. Por isso, mantiveram segredo sobre o namoro.

Até o dia em que Sasuke comprometeu o segredo de ambos durante uma crise de ciúmes. Aconteceu da seguinte maneira: Sakura, por ser bonita e inteligente, desfrutava de certa popularidade entre a parcela masculina dos estudantes. Era comum que ela fosse importunada vez por outra com pedidos para encontros, os quais sempre recusara o mais polidamente possível.

Isso mudou um dia quando um rapaz persistente chamado Jun tentou persuadi-la a aceitar um encontro com ele. Sakura tentou rejeitá-lo de todas as formas educadas que conhecia, presando pelos ditos sentimentos que ele dizia nutrir por ela, mas quando Jun ultrapassou a linha da inconveniência e tentou tocá-la sem a sua permissão, Sakura se preparou para rechaçá-lo ela própria quando Sasuke surgiu de lugar nenhum e o deteve, atraindo a atenção de todos os estudantes no refeitório.

O silêncio que se seguiu ao gesto abrupto de Sasuke engoliu a todos que, estupefatos, assistiram-no largar o braço do outro rapaz como quem sentisse repulsa. Sakura se levantou num rompante, antecipando o pior e se preparando para agir a tempo e evitar que Sasuke comprometesse a própria reputação por algo tão trivial que ela poderia ter facilmente resolvido sozinha.

— O que significa isso, Uchida-san? — Jun tinha questionado o comportamento insólito de Sasuke.

Os murmúrios dos demais estudantes não demoraram a encher o refeitório, suplantando o silêncio tenso. Sasuke, entretanto, limitou-se a respirar fundo, sem deixar de fulminar o rapaz por um segundo que fosse.

— Não a importune outra vez. Isso é um aviso.

— Por quê? — Jun sufocou o riso. — A Sakura-san é solteira. Ela não é nada sua.

Isso pareceu ter deixado Sasuke ainda mais tenso, ela notou. E no instante posterior à afirmação maldosa de Jun ele tinha revelado a todos o segredo de ambos e efetivamente silenciando todos os murmúrios à volta deles:

— Você está errado. Nós estamos juntos.

✧ ✦ ✧

A exposição do relacionamento de ambos quase lhes concedeu um status de celebridades no Instituto. Apesar de ter se preocupado um pouco no início com a repercussão que a revelação tomou, Sakura não pôde negar que gostava de poder ficar ao lado de Sasuke e não esconder que ele era seu. Especialmente porque ele tendia a atrair demais a atenção da população feminina — não importava a idade ou o estado civil.

Ainda assim, eles continuaram discretos com seu relacionamento. Limitavam o tempo que passavam juntos dentro do Instituto aos estudos e trocavam pequenas carícias apenas quando estivessem sozinhos num recinto e sem a possibilidade de serem surpreendidos.

Os beijos de Sasuke ainda tinha a capacidade de deixá-la arfante, contudo. E conforme as ocasiões em que poderiam desfrutar intimamente um do outro se tornavam mais e mais escassas devido à rotina intensa que viviam, mais frustrados se sentiam. Era natural que se tornassem mais ousados devido a isso, explorando um território novo que, embora desconhecido, lhes prometia um êxtase sublime e uma euforia picante.

Ela se recordava embraçada da primeira vez em que ele tocou acidentalmente num dos seus seios enquanto erguia a mão para acariciar o pescoço dela entre os beijos sôfregos que trocavam. Ou quando as mãos dela deslizaram para baixo da camiseta dele, sentindo pela primeira vez os músculos rígidos do abdome e das costas.

Lembrava-se da primeira vez em que sentiu o fogo do desejo que tinha por ele queimar as suas entranhas e fazer o seu sangue cantar nas veias. Sentia-se mais viva do que nunca nos braços dele como se de repente tivesse o poder para tocar as estrelas e desbravar o cosmo. Bastava um toque ou um beijo para fazê-la queimar por inteira, e ansiar pelo fulgor das chamas outra vez.

Os sonhos voltaram a persegui-la, fazendo-a despertar pela manhã com o coração ou apertado de angústia ou inchado de amor. Ela passou a ver Sasuke com outros rostos e em outras épocas. Era sempre capaz de reconhecê-lo pelos olhos profundos e escuros, não importava em qual rosto eles houvessem se prendido; os olhos dele não mudavam nunca.

Uma constante persistia em atormentá-la, contudo: ele jamais ficava ao lado dela. Partia consumido pelo ódio na calada da noite, despedia-se dela com nada mais do que palavras de agradecimentos e morria durante batalhas violentas que estremeciam céus e terras. E, invariavelmente, despedaçava o coração dela, deixando-a para trás com a sua dor e solidão. Vida após vida. Geração após geração. Século após século num ciclo inquebrável de paixão e de tormento.

Devido a isso, Sakura passou a nutrir um terror visceral de que os seus sonhos se tratavam, na realidade, de uma forma de presságio e de que a qualquer momento ela perderia Sasuke do jeito mais doloroso possível. Por isso, agarrou-se a ele, agarrou-se ao que tinham e, numa noite, sussurrou-lhe, entre lágrimas, que o amava. Que o amaria por toda a eternidade, não importava quantas vidas ela vivesse. Era dele, e dele seria. O universo assim havia determinado na aurora dos tempos quando todas as estrelas ainda eram jovens e a história era tola e ingênua.

Sasuke tinha afastado o rosto para fitá-la, olhando-a com uma expressão enternecida que ela jamais havia visto até então. Os olhos dele eram como órbitas negras que tudo atraíam, tudo engolfavam. Um céu profundo e sem estrelas que a puxava para mais perto, para dentro do seu eixo. Ela nunca seria capaz de resistir àqueles olhos.

— O que você disse? — ele perguntara, estupefato.

Sakura umedeceu os lábios. A parede contra as suas costas e os braços dele à sua volta eram tudo o que a mantinham de pé. Então repetiu o que lhe confessara num cicio tímido, dessa vez com a voz clara e firme:

— Eu disse que te amo, Sasuke-kun. E que vou te amar por toda a eternidade. Não importa quantas vidas eu viva. É a única verdade que carrego comigo, é a única certeza que possuo. Mesmo que nos percamos um do outro de novo. Mesmo que tudo conspire para me separar de você. Isso jamais vai mudar. — Ergueu as mãos para envolver as faces dele, mal conseguindo se importar com o que ele acharia do seu comportamento estranho e desesperado: — Eu te amo. Por favor, nunca se esqueça disso. Nunca duvide disso. Às vezes eu tenho a sensação de que posso te perder a qualquer momento e esse é o meu maior medo, é o que mais me assusta.

Sasuke afastou as mãos de Sakura para descer o rosto até o seu outra vez. Mas em vez dos lábios, foi pelas lágrimas dela que ele buscou. Secou-as com a boca, beijando os rastros úmidos que marcavam as faces dela. Envolveu-a nos seus braços outra vez, abraçando-a forte, e, finalmente, beijou-a de novo.

Não lhe sussurrou promessas, não lhe ofereceu certezas nem palavras, exceto por aquelas que o seu corpo e os seus gestos eram capazes de expressar, externando o que ele jamais conseguiria de outra forma. E Sakura compreendeu. E sentiu-se grata por isso.

Sasuke também a amava, isso era o suficiente para sobrepujar os seus medos. Isso bastava.

 

 


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Notas finais do capítulo

E chegamos ao final da segunda parte! A última parte será publicada amanhã!

Eu não resisti em incorporar alguns elementos da Novel Sasuke Retsuden à trama de Eternidade XD

Queria agradecer a todos que desejaram melhoras à minha cachorra. Muito obrigada mesmo, mesmo, mesmo pelo apoio!

Obrigada por ter chegado até aqui! E até a próxima e última vez por aqui! Xoxo



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