Elisabete

Agora sim ela podia dizer que sua vida era roteiro de um filme. A companheira era gêmea de dois membros da elite do submundo das trapaças, o pai era um mafioso que matou seu próprio pai para assumir o poder e agora tivera pretensão de usar o neto. Num dia ela estava apavorada verificando o celular á cada meia hora ou o segurança postado do lado de fora de sua casa, no dia seguinte recebe a informação que o pai reagiu á um assalto e foi baleado, morreu á caminho do hospital.

Bem, essa era a versão oficial que ela e milhares de pessoas que viam o noticiário sabia, a versão verdadeira estava nos arquivos da Divisão, ela havia perguntado o que tinha acontecido de verdade com o pai, mas Quitéria e Carolina disseram á ela e Elias que quanto menos eles soubessem da verdade, menor seria a crise de consciência quando as emoções se acalmassem.

E pelo noticiário e sites mundo a fora, se via falar de grandes empresas ligadas á máfia agora estava sendo investigada ou fechada, e milhares de pessoas foram presas ou sumiram ou morreram em acidentes diversos. Pessoas importantes á anônimos, por todo o mundo qualquer um ligado á máfia da qual seu pai fazia parte estava sendo caçado. Ela tinha ficado surpresa com a velocidade com que as coisas aconteciam. Sabia que as cunhadas eram ligadas á pessoas poderosas, nunca ousou imaginar que o poder daquela gente se estendia pelo mundo todo.

As repercussões dos casos ainda eram visto nos noticiários três meses depois. Enquanto a Divisão agia em absoluto sigilo livrando o mundo daquela escória criminosa que traficava pessoas e tudo que se podia ser vendido, as coisas mais perto de casa acontecia de modo inesperado e perigoso.

Nicolas Navarro, primo de Jonas e seu chefe sete meses atrás, era o pai de Artur. Ele queria a guarda do menino e assim que envolveu seus advogados na questão, Dandara ligou para o pai na Itália que veio imediatamente. Mas a intervenção dele foi desnecessária, quem tinha chegado antes era ninguém menos que Oliver, o chefe de Malvina, arquimilionário dono de meio mundo e mais algumas coisas. Ele resolveu tudo em uma reunião que não durou nem uma hora com Nicolas.

O que foi discutido e como o cientista conseguiu convencer o contador tão rápido, ninguém além dos dois sabiam dizer. De qualquer modo, Nicolas assinou os documentos de adoção permitindo que Jonas e Dandara seguissem sendo pais de seu filho de modo legal. Os pais dele obviamente não gostaram da ideia, tentaram interferir e só conseguiram deixar Dandara irritada.

Artur sabia quem era sua família biológica, conhecia sua história e mesmo assim ele preferia a mãe e tias adotivas com toda sua confusão, segredos e mistérios. Ele tinha permissão para passar os fins de ano e férias prolongadas com os avós, se fosse sua vontade. Não era, se o fizesse era mais por que Jonas tinha pedido do que por que desejava.

Malvina tinha voltado com Oliver para a casa deles. Só restava esperar até a próxima visita ou acontecimento imprevisto que a trouxesse de volta para lhe virar a vida de cabeça para baixo com sua intromissão em assuntos adormecidos. Não que Elisabete reclamasse da intervenção da gêmea malvada de sua esposa, mas podia muito bem passar sem sua presença os próximos dez ou quinze anos.

— Almoço servido – gritou Amanda da cozinha na nova casa do casal, que era na frente da casa azul com janela e porta vermelha no bairro mais perigoso de todos, na pequena cidadela chamada Ipê que acolhia todos os perdidos e os deixava vagar sem limites pelos becos e vielas, abrigados do mundo lá fora que era feito de caos e medo.

Ela estava em casa. Sorriu colocando o filho no berço e para encontrar o resto da família.