The Sirens escrita por jduarte
Notas iniciais do capítulo
Espero que gostem!
Beijos,
Ju!
40 minutos depois, parados na entrada do bar, com a luz do Sol batendo diretamente no rosto impassível de Carter, meus pés balançavam de um lado para o outro.
— Me desculpe. – sussurrei pela vigésima vez em alguns minutos.
Carter continuou limpando o coturno de couro, e eu agradeci aos céus por ser couro e não tecido. Do contrário, seus pés provavelmente estariam ensopados com todo o conteúdo de meu estômago.
— Nerissa, - ele disse muito calmamente, e sorriu de leve. — fique tranquila. Acontece.
Passei a mão pelo cabelo, exasperada e um tanto quanto envergonhada.
— Isso nunca aconteceu comigo, Carter...
Ele riu.
— Tem uma primeira vez para tudo.
— Isso não é engraçado, é humilhante. – retruquei, tomando mais um gole da água, que não estava mais tão gelada quanto antes. — Você teve que segurar meu cabelo, - relembrei e grunhi. — dá pra ficar pior do que isso?
Carter jogou o pano fora e se agachou ao meu lado, no meio fio, levantando meu queixo.
— Prefiro mil vezes ter você vomitando em mim aqui fora, do que voltar lá para dentro – ele indicou com a cabeça na direção do bar – e matar aquele cara que estava te assediando.
Engoli seco enquanto olhava bem no fundo de seus olhos, completamente travada.
— Então não se preocupe, Nerissa, – ele me assegurou pela enésima vez. — você me fez um favor, apesar de ter vomitado um jato no meu pé.
Revirei os olhos e enfiei a cabeça entre as pernas novamente, sentindo a ânsia ressurgir com a proximidade de Carter. Ele estava deixando meu estômago inquieto.
— O que achou sobre a proposta de Fiona? – sua voz ressurgiu depois de alguns minutos de silêncio, pegando-me completamente de surpresa.
Levantei meu rosto e olhei em sua direção. Carter havia se afastado de mim, mas sentava-se ao meu lado no meio fio, com os óculos escuros bem seguros no rosto, olhando para qualquer coisa no horizonte.
Abri a boca para responder e me senti desconcertada.
Aquela pergunta realmente havia me pego de surpresa.
Dei de ombros.
— A verdade é que não sei. – respondi com honestidade.
Carter franziu as sobrancelhas com confusão.
— Achei que estivesse mais do que disposta de pegar o trabalho para si, e não deixar para que seu pai fizesse...
Respirei fundo e foquei em observar o lacre da tampa da garrafa d’água, ao invés de olhar tempo demais para Carter. Sua presença fazia com que eu perdesse meu senso de noção.
— Meu pai e eu, temos nossos grandes problemas pessoais. Ele é um bêbado irresponsável, - eu disse e revirei os olhos. — e aparentemente depois desse meu show, não sou nem um pouco melhor do que ele.
Carter colocou uma mão em cima do meu joelho, transmitindo-me uma energia que eu nunca havia sentido. Como se estivesse me consolando de alguma forma.
— Isso não faz de você uma má pessoa, Nessa. – ele me assegurou. — Mas não achei que você gostasse de afogar suas mágoas com doses de whisky. – o sorriso de canto em seus lábios rosados fez com que eu soubesse que ele estava, definitivamente, tirando uma com a minha cara.
— Muito engraçado, Carter. – ri sem humor e ele apertou meu joelho, retirando a mão de mim, deixando-me fria por um instante com a ausência de seu toque. — Mas sendo completamente honesta, já que ultrapassei minha cota de vexames do mês, eu quero o máximo de distância de meu pai. Ele não é uma boa pessoa, e isso já foi comprovado há tempos.
Carter ficou em silêncio e eu tomei aquilo como incentivo para continuar minha história.
— Não serei aquela pessoa chata que acaba com a graça de todo mundo ao contar a história de superação de vida, triste pra caramba, fazendo todos chorarem, – revirei os olhos, ainda brincando com a tampa da garrafa, girando-a diversas vezes, abrindo e fechando a garrafa, tentando me concentrar em algo que não fossem as palavras que saíam de minha boca, ou eu provavelmente vomitaria novamente. – mas meu pai não é mais meu pai desde que minha mãe desapareceu, mais de uma década atrás.
Carter estava quieto demais e eu dei uma leve trombada com meu ombro em seu corpo.
— Não tenha pena, já superei há um bom tempo...
— Não tenho pena de você, Nerissa. – ele me interrompeu antes que eu conseguisse terminar a frase. Meu corpo se encolheu com suas palavras. — Agora sim entendo o que as pessoas tanto falam de você.
Engoli seco e lágrimas inconscientes vieram aos meus olhos. Talvez de tristeza, talvez por ainda estar levemente bêbada.
— Sei que é uma das pessoas mais fortes que já conheci, Nessa. Isso não é um motivo para sentir penas suas, e sim orgulho. – ele me olhou com firmeza. — Então não, eu não tenho pena de você, e sim orgulho.
Entreabri os lábios para lhe responder e nada saiu.
As pessoas jamais sentiam orgulho de mim. Elas não pareciam conseguir enxergar nada além da garotinha abandonada pela mãe quando ainda era nova demais para entender o que estava acontecendo, e consequentemente abandonada pelo pai alcóolico e irresponsável.
Eles nunca me enxergavam como a pessoa que tomou o irmão mais novo praticamente para si, e o criou entre trancos e barrancos para ser a pessoa que é hoje.
Nunca enxergavam a mulher que eu havia me tornado, mesmo com todos os defeitos possíveis do mundo, mas por puro mérito meu.
Era sempre a mesma frase: “Ah, mas coitadinha dela, sem mãe nem pai... Dá uma pena!”. Carter havia sido a primeira pessoa que havia dito diretamente para mim que tinha orgulho de mim. E eu nem ao menos o conhecia.
Se eu não tivesse acabado de vomitar em seus sapatos, eu até mesmo cogitaria beijar Carter ali mesmo, de gratidão.
— Isso é muito importante que você saiba, Nessa. – ele continuou. — Ninguém tem direito de diminuir sua dor, e suas conquistas.
Meu peito doeu de uma maneira nunca antes.
Sem pensar duas vezes, enlacei meus braços ao seu redor, abraçando-o. Ele ficou levemente sem reação, e depois de alguns segundos, devolveu o abraço.
— Obrigada. – murmurei em seu pescoço.
Senti seu peito se mover com a risada que seguiu e nos separamos.
— Vamos, ainda preciso levá-la para casa. – ele me disse, se levantando e me puxando para junto dele. — Quer comer algo no caminho para casa?
Meu estômago fez um barulho estranho, mas não de fome. Fiz uma careta.
— Acho melhor eu melhorar antes de mandar algo goela abaixo.
Carter riu e abriu a porta do carro preto para que eu entrasse.
— Justo, chega de vômitos por um dia, não é?
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Continua?