The Sirens escrita por jduarte


Capítulo 3
The Calm Before the Storm


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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Durante;
01 de Junho, 2:30pm,
Key Biscayne, Miami - FL

O movimento suave das ondas no mar, fez com que eu fechasse os olhos em apreciação pela calmaria que o Oceano me trazia. O barulho, até mesmo o cheiro da água salgada me traziam lembranças maravilhosas.

Traziam as lembranças de um tempo tranquilo e feliz, quando éramos uma família completa, sem problemas. Mas tudo isso tinha ficado para trás, num passado distante, quase esquecido por mim.

Passei os dedos suavemente pelo colar que carregava no pescoço, sentindo o peso da pedra âmbar presa pelo fio de ouro. Presente dado por minha mãe antes que ela desaparecesse na noite fatídica de Dezembro, há mais de uma década.

Senti o familiar formigamento no fundo de meu nariz, fazendo minha garganta arder e respirei fundo. Não iria chorar. Não havia motivo. Não depois de mais de uma década sem receber nenhuma notícia das autoridades locais.

Sentei-me ereta na beira da praia, quase deixando que as ondas banhassem meus pés, e apoiei o queixo nos joelhos machucados, observando o horizonte. O sol mostrava sua face nos primeiros raios da manhã, colorindo todo o céu de cor de laranja.

O movimento do mar estava calmo pela manhã, muito mais calmo do que eu esperava. Fazia com que eu quisesse dar pelo menos um mergulho antes de iniciar meu turno no aquário de Miami. Mas algo me impediu.

Eu não poderia me atrasar para o trabalho, e normalmente quando entrava na água, perdia a noção do tempo por completo. Respirei fundo mais uma vez, antes de forçar meu corpo a se levantar e caminhei até nossa casa, na beira da praia.

Um das vantagens de se ter uma casa muito perto da praia, é poder ter acesso a ela a qualquer momento. Abri a porta de nosso deck lateral e ouvi o ronco de meu irmão do andar de cima. Agradeci mentalmente por ele ainda estar dormindo, e por não ter que enfrentar mais uma de suas perguntas invasivas sobre meu cronograma de sono.

A verdade é: meu sono não era mais o mesmo há semanas.

Pesadelos me assombravam quando eu caía em um sono mais profundo. Pesadelos que um dia tinham sido reais.

Preparei meu café da manhã com cuidado e zelo, e quando consegui me sentar para comer algo, uma mão arrancou o pequeno pão de meu prato, fazendo-me arquejar incredulamente.

— Hey! Eu ia comer isso! – reclamei com meu irmão e ele riu, enfiando meu pão todo na boca, dando as costas para mim.

— Desculpa, estou com fome.

Eu também, idiota, fiquei tentada em lhe responder, mas preferi segurar a língua. Kai era insuportável, mas eu era plenamente capaz de fazer outro pão para mim sem causar um transtorno maior, ainda por comida.

— Está indo para a escola? – perguntei.

Ele assentiu enquanto arrumava o cabelo preto em um coque no topo de sua cabeça e bebericava seu café preto. Arqueei uma das sobrancelhas, esperando que ele elaborasse. Kai era o tipo de garoto que faltava em todas as aulas desinteressantes, e como eu era considerada sua guardiã legal, tudo o que ele fazia, automaticamente refletia em mim.

— Kai... – comecei e foi a vez dele revirar os olhos nas órbitas.

— Nerissa, não começa com seus sermões, por favor. – Kai reclamou e cruzou os braços em cima do peitoral desnudo. — Eu tenho problemas demais para ficar ouvindo suas lições de moral logo cedo.

Abri a boca, incrédula com que ele estava dizendo.

— Você é idiota ou o quê? – minha voz subiu um oitavo e parecendo a de uma criança. — Eu ia dizer que coloquei dinheiro para você comer na escola, seu mal agradecido. – menti.

Kai riu.

— Você ainda acha que me engana?

— Pare de ser debochado. Vou te dar uma carona. – disse, enquanto pegava meu pão pronto e dava uma mordida, saboreando o gosto delicioso de um simples pão. Ou talvez eu só estivesse com fome demais mesmo.

Ele parou de rir na hora.

— Ah, não precisa. Gabriel vai passar para me buscar...

O olhei friamente.

— Isso não foi uma pergunta, Kai. Foi um aviso.

Ele engoliu seco.

— É que eu combinei com os caras que ia passar em um lugar antes. – ele disse, tentando dissuadir-me.

Inclinei-me sobre a mesa do café da manhã, estreitando meus olhos em sua direção.

— Se eu descobrir que você está armando algo, cortarei sua língua fora, você está me ouvindo? – perguntei. — Eu tenho sua localização no meu telefone, esqueceu?

Kai sorriu angelical, e eu bufei.

— Eu nunca faria nada para te prejudicar, minha irmã. Você sabe disso. – ele me assegurou. Seu semblante se tornou sério. — Já teve notícias de nosso pai?

Cruzei os braços em cima do peito e reclinei-me na cadeira de madeira.

— Não. Mas Garret disse que eles já voltaram da pesca, talvez ele tenha ido direto para o trabalho. – disse, sem me preocupar.

Meu pai já era adulto, sabia muito bem o que fazer com a vida dele. Ele certamente não precisava de uma babá para ficar tomando conta de todos os seus passos.

— E Alix? Ela ficou me mandando mensagem a noite inteira perguntando se você estava bem.

Apoiei meu rosto nas mãos e bufei.

— Alix não tem mais o que fazer além de ficar espionando os vizinhos? Eu fui dar uma volta na praia quando não consegui dormir, apenas...

— Você saiu às 2 da manhã, Nerissa. Voltou faz meia hora. – seu tom de voz não era acusatório, era preocupado e fez meu coração bater mais rápido.

Dei de ombros.

— Foi uma noite conturbada. – me limitei a responder.

Meu irmão tocou meu ombro, com o rosto triste.

— Se precisar de qualquer coisa, sabe que estou aqui, não sabe? Se seus pesadelos voltaram, podemos conversar com sua psiquiatra, ela pode te receitar um daqueles remédios...

— Não, Kai. Não vou tomar remédio nenhum, eles quase tiraram você de mim por isso. – minha voz era desesperada.

Meu irmão engoliu seco e afagou meus braços por cima da mesa de café da manhã, quase derrubando a xícara de café que eu bebia.

— Vai ficar tudo bem.

É claro que ia ficar tudo bem, tentei confortar a mim mesma e sorri, amarela.

Peguei a camiseta azul com o logotipo do Aquário de Miami e sorri enquanto arrumava meu cabelo escuro em uma trança bem segura. Hoje seria mais um dia muito quente, e eu precisava parecer apresentável sob o sol desgastante em minha cabeça.

Liguei a máquina de café na esperança de conseguir pelo menos tomar um gole e ouvi a comoção de Alix, nossa vizinha de porta, do outro lado da parede da cozinha. Ela também parecia estar atrasada para seu trabalho.

Meu irmão ligou a televisão no último volume e eu reclamei. Ele se desculpou e abaixou o volume. O canal transmitia um dos noticiários locais, e a mulher entrevistada gesticulava demais em direção à água, deixando-me confusa.

— Kai, aumente o som. – pedi e me debrucei sobre o sofá, prestando bastante atenção no que a mulher dizia.

"— Um monte de gente saiu correndo da água, porque aqueles bichos tavam vindo pra cima dos barcos. Foi uma loucura!" seus olhos esbugalhados e claros, estavam vermelhos.

Estreitei os olhos para ler o rodapé que passava rápido demais para que eu conseguisse acompanhar. Meu coração gelou por um instante. Era impossível, não?

"Um grupo de Sirens foi avistado hoje pela manhã por um dos pescadores, circundando um dos barcos na baía de Miami. As autoridades temem que esse grupo seja responsável pelo desaparecimento de diversas garotas nos últimos meses."

A jornalista falava e gesticulava demais para meu gosto, enquanto algumas pessoas passavam por trás das câmeras, fazendo gracinha pelas costas da mulher com casaco de chuva. Rolei os olhos nas órbitas. Era tudo tão patético.

Sirens não existiam. Eu tinha plena certeza disso.

Kai se levantou abruptamente do sofá, deixando a televisão ligada enquanto olhava no celular.

— Preciso ir, mas te vejo mais tarde, certo? - ele perguntou, levemente preocupado. — Caso encontre com nosso pai, peça que ele responda minhas mensagens, por favor.

Assenti e recebi um beijo na testa de meu irmão. O observei saindo sorrateiramente pela cerca de nossa casa, entrando no carro de seu amigo. Um aperto novo se fez presente em meu peito, e a preocupação que me invadia fez com que eu automaticamente pegasse o telefone e mandasse mensagem para ele:

"Não faça besteiras. Senão vou matar você."

Ele visualizou e respondeu com uma carinha feliz.

Kai era responsável por muitas coisas em nossa vida, mas o fato dele ainda ter o teor de irresponsabilidade constante em alguns aspectos de sua vida, fazia com que eu surtasse em muitos momentos do dia.

Assim que terminei de colocar a louça na lava-louças, meu telefone apitou estridentemente.

"Reunião de Emergência! Todos os funcionários tem que marcar presença às 08:30 em ponto! - Fiona."

Fiona era nossa chefe, dona do Aquário, e ela fazia questão de marcar semanalmente uma reunião geral para que todos estivessem na mesma página em questão do gerenciamento das áreas do aquário.

Desliguei a televisão sem nem ao menos me importar com a outra notícia que era transmitida, e segui para meu carro, fazendo questão de deixar a chave de casa embaixo do capacho para quando Kai chegasse.

Se eu conhecia bem meu irmão, ele talvez tivesse esquecido de pegar a sua antes de sair de casa.

O caminho até o aquário foi cheio de pensamentos referentes à matéria de hoje mais cedo, e quando estacionei o carro, tive que respirar fundo algumas vezes, para conseguir me situar novamente.

— Hoje será um dos melhores dias do mundo. - tentei me reafirmar enquanto me olhava pelo retrovisor do carro, e fiz um péssimo trabalho tentando convencer a mim mesma.

Por mais que meu trabalho fosse cansativo, era um dos meus maiores orgulhos, porém o fato de trabalhar no mesmo lugar que meu pai, não tornava meus dias tão alegres assim.

Talvez fosse exatamente por isso que eu almejava mudar de cidade e recomeçar, para talvez me ver livre do peso que carregava ao viver sempre às sombras de meu pai.

Tranquei o carro antes de entrar para bater o ponto, quando Jack, um dos supervisores, segurou meu braço e me arrastou para o lado da máquina de café, com os olhos esbugalhados.

— Garota, onde é que você estava quando eu precisava? - ele perguntou, parecendo exasperado.

Minhas sobrancelhas se juntaram em confusão.

— O quê? O que é que você está falando?

Sua expressão se suavizou levemente, e ele apertou a ponte do nariz enquanto respirava fundo.

— Eu passei a noite inteira chorando por causa do babaca do Emmanuel, e você nem me atendeu quando eu liguei!

Soltei uma gargalhada e aproveitei que estávamos ao lado da máquina de café para tomar mais um - como se a xícara que eu tivesse ingerido em casa, não fosse o suficiente.

— Eu não estava com meu telefone, desculpe. Foi uma daquelas noites, - me permiti compartilhas parte da verdade com Jack. Ele era um dos meus melhores amigos, consequentemente não precisava mentir para ele. — enfim, isso não importa. Vocês vão voltar, como sempre, e a paz será instalada na Terra novamente. - respondi irônica.

Jack bufou e cruzou os braços em cima do peito, irritado.

— É tão desgastante ter esse relacionamento com ele, você não faz ideia. - ele confidenciou, visivelmente chateado.

Afaguei seus braços enquanto esperava a máquina apitar, num gesto de carinho. Não conseguia dizer nada para melhorar a péssima situação em que nos encontrávamos. Eu não tinha conhecimento sobre relacionamentos para conseguir lhe dar um conselho decente.

Se alguém era a maga dos relacionamentos, essa era Fiona. Nossa chefe era uma expert no assunto.

— Se você está tão cansado disso, por que não termina logo de vez? - perguntei inocentemente.

O jeito que Jack olhou para mim, como se eu tivesse chutado um cachorrinho na sua frente, fez com que eu quisesse me esconder.

— Nessa, eu sou um dos seus melhores amigos, você não pode me falar uma coisa dessas! - ele disse, inconformado.

Tirei minha mão de seu ombro, e revirei os olhos enquanto pegava meu café.

— Eu não sei dar conselhos sobre relacionamentos, nunca nem estive em um. Então não reclame. - rebati, rindo. — Mas se eu posso dizer algo é: se te faz feliz, vá em frente. Lute até enquanto for saudável para vocês dois.

Os olhos de Jack marejaram e ele se abanou.

— Chega! Não vou chorar mais, não! - ele disse e me abraçou de lado. — Vamos logo pra essa reunião, antes que eu me jogue no tanque dos tubarões.


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Notas finais do capítulo

Continua?



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