Eu passei o resto daquela noite chorando, e não digo chorando baixinho deitada na cama como nos filmes, isso foi do jeito feio. Entrei no banheiro, e chorei berrando como uma criança. Eu me sinto estúpida, e realmente sou. Como as pessoas mais próximas á mim mentiram todo esse tempo e eu não percebi? Eu sou tão idiota. Quero cavar um lugar embaixo da terra junto com os tatus e me enfiar lá.

Em algum momento no meio de todo meu drama eu adormeci, deitada ao lado do vaso sanitário.

— Malu – redd soltou baixinho, acordando-me. Abri os olhos e a vi sentada no chão ao meu lado, encarando-me com os olhos arregalados – se queria dormir no chão, não poderia ter pelo menos tirado o vestido caro que te dei?

— Vai embora – ordenei, abraçando aquela privada, o que provavelmente não é higiênico, eu não lavo isso há uma semana. 

— eu sei de tudo.

— Você sabia de tudo e não me contou? – eu gritei, levantando do chão duro.

— Eu não sabia antes – ela soltou rápido – Harry me contou, depois fui atrás do Noah e ele me disse pelo ponto de vista dele também.

— Ah – dei de ombros.

— Você está horrível – avisou-me – toma um banho, enquanto faço algo pra você comer.

— O que você está fazendo aqui?

— Eu vim te buscar pra escola – mentiu.

— Hoje é domingo, Redd – retruquei.

— Ok... eu estava preocupada.

— O Harry mandou você?

— Não! – ela berrou, como se estivesse ofendida – eu estou do seu lado nisso, meu irmão é um idiota.

— Eu nunca mais quero ver ele –  eu disse – então isso entre nós não vai funcionar mais.

— Você está me dispensando? – ela franziu o cenho.

— Não é isso – respirei fundo, juntando as palavras – eu estou sendo lógica, não tem por que a gente continuar se vendo.

—  Sua amizade se limitava a um garoto? – ela soltou, ofendendo-me. Claro que não. Eu estava prestes a retrucar, mas ela continuou – quer saber, era disso que eu estava com medo, de você ser como todas as outras garotas que só se aproximam por conveniência e depois vão embora. Eu até trouxe canecas com nossos rostos pra você se sentir melhor, eu sou uma boa amiga, Malu. Eu venho na sua casa todo dia, maratono filmes e séries com você, e te dei um lindo vestido. não faz sentido você me dispensar por um erro que não é meu.

— Você mandou alguém fazer canecas com nossos rostos? – soltei a primeira coisa que consegui dizer, mas ela continuou me encarando séria – Sou uma grande estúpida imbecil, não é? Eu só estou muito triste – soltei como uma criancinha, começando a chorar outra vez – me desculpe – falei praticamente soluçando enquanto ela continuava me encarando séria – não quero perder a amizade de alguém que faça canecas com nossas fotos – completei, e então ela finalmente sorriu, jogando-se em mim, abraçando-me com força, retribui na mesma intensidade.

— Elas ficaram ótimas – soltou, e então gargalhamos.

— Você é a melhor amiga que eu já tive – afirmei.

— Eu sei, mas agora você precisa mesmo de um banho – ela falou, fazendo-me revirar os olhos.

Tomei um banho demorado, repassando todos os últimos meses por minha mente, desde o dia que conheci Noah, e de repente tudo pareceu tão claro. Como eu não vi nada disso antes?

Ele sempre ficava extremamente desconfortável quando eu questionava o fato de outro alguém ser meu admirador secreto, sua insistência em saber se eu gostava dos bilhetes, ele era a única pessoa com acesso liberado a minha casa para deixar os bilhetes em qualquer lugar, eu deveria ter desconfiado.

Desliguei o chuveiro e vesti meu patético moletom rosa, com um panda na frente, eu não usava aquilo a anos, mas era a minha única roupa que não tinha o cheiro dele.

Como eu odeio Noah Adams.

Quando penso poder amar alguém loucamente além dele, quando penso poder me apaixonar por um alguém misterioso que envia cartas, descubro que ele também é a porra do admirador secreto???

Em nenhum momento eu me preocupei em perder Harry, o que só me fez ter certeza que eu só estava iludida com a ideia de um desconhecido ser meu clichê secreto. Eu nunca estive apaixonada por ele, o que é bom, considerando que ele é um puta mentiroso do caralho. Estar com ele parecia certo, mas desde o primeiro beijo eu quis fugir, mesmo naquela época que tudo parecia ideal, eu só queria ir pra longe daquela suposta perfeição e correr para a bagunça que Noah é.

Quando finalmente sai do banheiro, Redd estava sentada na cama escolhendo algo na Netflix.

— Eu sou tão burra assim? – soltei, e ela me encarou – quer dizer, eu não percebi nada. Me envolvi com um idiota e simplesmente idealizei um conto de fadas ao seu lado, abafei todos meus sentimentos por Noah por ter certeza que ele nunca se apaixonaria por alguém como eu, mesmo quando ele me dava tantas dicas.

— Você não é burra, Malu. você só queria o simples e fácil. Mas sabe de uma coisa, você precisa parar com isso do Noah não te merecer, isso definitivamente ajudou você a não descobrir, você é linda, é inteligente, o salvou várias vezes das loucuras dele, o fato dele ser popular-e-lindo-e-engraçado e mais um milhão de adjetivos bons, não é nada, por que mesmo sendo uma total desconhecida nerd no colégio, você é genial e cheia de camadas maravilhosas, se tem alguém que não te merece, é ele. –  eu gargalhei, como se ela estivesse contando uma piada – E ele concorda com tudo isso.

— Nós devíamos falar sobre outra coisa!

— Ele é louco por você, são palavras dele. E disse também que entenderia se alguém genial como você não quisesse ficar com um fracassado como ele.

— Ele disse isso? – sussurrei, e ela balançou a cabeça em concordância, sorrindo – Eu o amo – quase sussurrei.

— Você devia contar isso pra ele – soltou, fazendo-me cogitar a ideia de correr pelas ruas até o pulmão arder, então quando o visse no meio da rua o beijaria apaixonadamente e diria o quanto o amo ao som de James Arthur.

— Eu não vivo dentro de uma comédia romântica, tudo isso é uma loucura – disse, mais para mim mesma do que para redd –  Ele mentiu para mim, não quero mais vê-lo. Nós não precisamos de homem pra viver, não é?

— Não precisamos – ela concordou, rindo.

— Podemos ser um casal de amigas até ficarmos velinhas, mudamos pro interior e cultivamos uma plantação de milho. 

— Fale por você, eu vou ser uma mulher bem sucedida – recusou, fazendo-me revirar os olhos.

Enquanto Redd continuava escolhendo o que assistiríamos, peguei meu celular, fui até contatos e exclui o número de Harry, sem responder nenhuma de suas cinco mensagens. Em seguida fui até o número de Noah, que constava cento e vinte mensagens, sem exagero, mostrava exatamente esse número, eu não iria ler nenhuma. Olhei sua foto de perfil uma última vez, era uma foto de nós dois, eu estava em suas costas beijando seu rosto, enquanto ele sorria, não lembro quando tiramos isso, mas de repente estou chorando outra vez.

— Preciso que apague pra mim, eu não consigo – apontei o celular para redd.

— Você é tão dramática, mesmo que o exclua do seu celular continuarão se vendo todo dia na escola!

— Só por mais cinco dias, então finalmente o colégio termina.

— Ah é verdade, é seu último ano.

— Apague logo — mandei, ansiosa. 

— Apaga você, não quero me meter nessa confusão de casal.

— Apaga ou tiro seu cargo de melhor amiga — ameacei. 

— Isso não é justo – ela pegou o celular, e então o olhou por uns instantes – pronto, Noah Adams está excluído dos seus contatos e suas cento e vinte mensagens também! – então comecei a chorar feito idiota outra vez.

— Malu – redd começou a gargalhar se aproximando de mim – ele não morreu.

— Morreu pra mim – soltei com a voz rouca, deitando-me na cama.

— Meu Deus, eu nunca vou mentir pra você – ela continuou rindo, e então deitou-se ao meu lado, abraçando-me – vai ficar tudo bem – ela sussurrou, e então eu caí no sono, dessa vez pra valer, em uma cama de verdade.

Redd realmente é uma amiga perfeita. Posso dizer com toda certeza, pois ela ficou deitada ao meu lado durante o resto daquele domingo. Ela podia estar em uma festa, ou um clube, mas ficou deitada ao lado da amiga dramática que dormia as duas da tarde.  

Quando finalmente acordei eram cinco da manhã, eu realmente estava exausta. eu nunca havia dormido tanto, e só acordei por que Redd me obrigou.

— Nós precisamos ir pra escola – ela soltou.

— eu não quero ir – reclamei, virando-me de lado.

— Hoje começam as provas finais, se quiser tirar nota zero e repetir o seu último ano o problema já é seu. – Soltou, levantando-se. Bufei, e levantei-me em seguida.

Quando terminei de me arrumar, recebi uma mensagem.

“eu preciso de você”

era de noah, mesmo depois de apagar seu contato, eu sabia seu número de cor, provavelmente deveria bloqueá-lo, mas ainda não conseguia. Apaguei a mensagem rapidamente... Eu me arrependeria disso para sempre.

Assim que chegamos na escola, Harry já correu em minha direção, fazendo-me revirar os olhos.

— Bom dia, maninho! – redd cumprimentou.

— Você está do lado de quem aqui? – repreendi.

— Ok, já estou indo pra sala – ela soltou, afastando-se de nós.

— Malu, precisamos conversar – disse o duas-caras – tudo aconteceu tão rápido entre a gente e parecia tão mágico, eu não ia me perdoar por estragar.

— E então resolveu mentir? – ironizei entredentes – preciso fazer a prova mais importante do ano agora, não quero olhar na sua cara, seu falso.

— Você não pode ficar com raiva de mim – ele soltou, fazendo-me arquear a sobrancelha – eu menti pra você, claro, mas você também mentiu pra mim, fingiu que me amava quando na verdade, é louca por Noah Adams como qualquer outra nessa escola – senti minha mão espatifar em seu rosto, antes que pudesse ter algum controle sobre isso.

— Ok, eu mereci – ele colocou a mão sobre o rosto.

— Eu nunca disse que te amava, seu babaca – cuspi as palavras, e então me afastei.

Antes de entrar na sala pensei na expressão que faria ao ver Noah, ficaria séria e o olharia com desprezo, ou o ignoraria, um dos dois, mas quando finalmente entrei por aquela porta ele não estava lá. Sentei-me no lugar de sempre, olhei ao redor, talvez ele tivesse mudado de lugar. Ele não estava ali.

QUE PORRA, NOAH!

Onde você se enfiou no dia das provas finais?

Eu não devo me importar. Se você repetir o ano, é problema seu. Repeti isso para mim mesma, mas não é como se fosse verdade. Eu me preocupo com você mais do que com qualquer outra pessoa. Levantei-me da mesa e andei até a professora que havia acabado de entrar na sala.

— Senhora Carter, eu preciso falar com você sobre Noah Adams.

— Sente-se, Malu!

— Ele ainda não está aqui, por favor espere um pouco antes de aplicar a prova, eu vou ligar pra ele e mandá-lo vir agora.

— Você não devia fazer isso.

— Como assim?

— Malu... espere – pediu – turma, preste atenção – ela falou em alto tom, e de repente todos nos encaravam – O pai de Noah Adams se suicidou na madrugada de ontem. – meu coração disparou – O velório será a partir das onze horas, quem quiser, depois das provas estão liberados para ir até lá e dar força ao amigo de vocês.

Ela continuou dizendo, mas não ouvi mais nada. Todas aquelas cento e vinte mensagens era sobre isso, ele precisava de mim pois estava passando pelo momento mais difícil de sua vida. Eu sou tão egoísta e estive tão presa no meu próprio drama que não estive presente pra ele no seu pior momento. Senti as lágrimas descerem por meu rosto, lembrando-me de todas as vezes que Noah me contou que havia brigado com seu pai, ou que ele havia bebido no serviço, e pensei em como ele deve estar destruído.

Andei em direção a saída daquela sala sufocante.

— Maria Luiza, liberados depois. Se você sair agora, saiba que não repetiremos as provas finais!

— Que se fodam as provas.

Eu preciso ver meu melhor amigo.