Potterlock - O Prisioneiro de Azkaban escrita por Hamiko-san


Capítulo 4
O Bicho Papão no armário




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John nem precisava ter uma mente brilhante como a de Sherlock para saber o que aconteceria depois que Snape os levasse para a sala de Poções. Moriarty, Kitty e Moran diriam que foi Molly que começou a briga, e todas as casas perderiam pontos, menos a Sonserina. Além disso, apenas John, Sherlock, Lestrade, Molly e Sally ficariam de detenção.

E acertou. O professor era tão irritante quanto previsível.

John e Sally tiveram que ajudar Madame Pince a achar os quatorze exemplares de O Livro Invisível da Invisibilidade que haviam sumido da biblioteca, Lestrade e Molly foram convocados pela professora Sprout para reenvasarem as mandrágoras que os alunos do segundo ano não conseguiram lidar, e Sherlock, em breve, teria que cumprir detenção com Filch.

Henry se recuperara com muita rapidez. Estava tão bem que já tinha forças para brigar com Harry, durante o almoço, no meio do salão principal.

— Eu só disse que você precisa controlar o seu gato!

— Ele não ia comer seu camundongo! Pára de ser paranoico!

— Ele pulou em mim! É claro que ele queria o que estava na minha roupa!

— Por que você trouxe esse bicho afinal? O inútil do meu irmão disse que você sempre deixa ele na sua casa!

— Eu já disse, meus tios o trataram muito mal da última vez! Ele está fraco porque não o alimentaram direito!

John não ligou para a briga. Nem mesmo tinha apetite. Lamentava a primeira aula de Hagrid ter terminado naquela confusão.

— Aquele Moriarty cretino... – Sally comia suas panquecas desanimada – Ele podia ter matado o Henry! A troco de que?

— Sherlock tinha me dito que ele tentaria sabotá-lo porque tem preconceito.

— Não é novidade. A família Moriarty inteira é assim. Um mundo sem sangue trouxa seria o mundo perfeito pra eles.

— Gente! – Clara estava lendo o Profeta Diário perto deles, e claramente ignorava a discussão dos outros dois colegas – Aqui diz que acham que avistaram Sirius Black!

— Onde? – Indagou John depressa. 

— Não muito longe de Hogwarts. Foi uma trouxa que viu, mas é claro que os trouxas acham que ele é apenas um criminoso comum, não é? Ela telefonou para o número do plantão de emergência, mas até o Ministério da Magia chegar lá, o Black já tinha sumido. 

— Por que ele iria querer entrar nessa escola? Pedra filosofal, Câmara Secreta… Será que tem outra coisa escondida aqui?

— Espero que não. – Sally ficou emburrada – Meus pais estão a um passo de me tirar de Hogwarts e me mandar pra Ilvermorny.

— Ilvermorny?

— A escola de magia dos Estados Unidos. Bolas, eu não quero ir pra tão longe.

— Tudo bem. – Clara tentou tranquiliza-los. – Dumbledore está aqui, não?

— Está – John falou sério – Mas basta ele sair por meia hora pra uma coisa ruim acontecer. 

— Ah, bem… Mas Sirius Black não vai entrar num local cheio de dementadores, não acham? Ele é mais inteligente que isso.

— Ele é louco, esqueceu? – Sally lembrava.

Henry e Harry continuavam discutindo. John saiu da mesa.

— Aula de Defesa Contra as Artes das Trevas. Melhor irmos.

 

~O~

 

John estava a caminho da sala de Defesa Contra as Artes das Trevas quando foi surpreendido por um Sherlock andando apressadamente, com a capa da Corvinal bem desalinhada e a pasta escolar cheia de livros.

— John?

— Hei.

— A aula do Professor Lupin já começou?

— Não…?

— Ótimo.

Sherlock colocou a pasta no chão e ajeitou o uniforme. John o mirou desconfiado:

— Por que está tão ofegante? Estava investigando algo? – indagou o loiro.

— Claro que não. Tem coisas demais pra eu fazer.

John inclinou a cabeça para o lado e formou uma ruga entre os olhos enquanto analisava o rapaz que ajeitava a capa. Pensou ter visto uma delicada corrente dourada em seu pescoço, e até se arriscaria a ver o que era se o corvino não tivesse acabado de se recompor e voltado a colocar a alça de sua pasta no ombro.

— Então, vamos? – Sherlock não esperou ouvir a resposta para continuar sua trilha.

O professor Lupin não estava em sala quando os dois chegaram para a aula. Os alunos se sentaram, tiraram das mochilas os livros, penas e pergaminho e ficaram conversando até o professor finalmente aparecer. 

Lupin sorriu vagamente e colocou a velha maleta surrada na escrivaninha. Estava mal vestido, como sempre, mas parecia mais saudável do que no dia do trem, como se tivesse comido umas refeições reforçadas. 

— Boa tarde – Cumprimentou ele. – Por favor guardem todos os livros. Hoje teremos uma aula prática. Os senhores só vão precisar das varinhas. 

Os alunos se entreolharam, curiosos e silenciosamente eufóricos. Parece que depois de Quirrel e Lockhart, finalmente teriam uma aula de Defesa Contra as Artes das Trevas decente. John só esperava que as aulas práticas não fossem diabretes da Cornualha soltos pela sala.

— Certo, então. – Disse o professor Lupin, quando todos estavam prontos. – Queiram me seguir. 

Intrigados, mas interessados, os alunos se levantaram e o seguiram para fora da sala. Lupin os levou por um corredor deserto e virou num canto até parar na sala dos professores.

— Entrem, por favor. 

Lestrade e Sherlock não puderam deixar de trocar olhares travessos entre si. Não fazia muito tempo que os dois se esconderam lá para bisbilhotar a conversa dos professores e, em seguida, salvarem Molly.

— É aqui. – Disse o professor apontando para um velho armário em que os professores guardavam capas e outros acessórios.

Justamente o armário que Sherlock tinha se escondido com Lestrade da vez passada. Os dois ficaram lívidos quando viram o objeto subitamente se sacudir, batendo na parede. Seja o que for que havia lá dentro, se tivesse encontrado os meninos no ano passado, poderia ter capturado-os antes mesmo que os professores sequer conversassem sobre a Câmara Secreta.

— Não se preocupem – Disse Lupin calmamente – Há um bicho papão aí dentro. Bichos papões gostam de lugares escuros e fechados como guarda roupas, o vão embaixo das camas, os armários sob as pias... Pra terem uma ideia, eu já encontrei um alojado dentro de um relógio de parede antigo. 

John estava maravilhado. As historinhas assustadoras que ouvia quando criança, no fim das contas, tinham um fundo de verdade.

— Este aí se mudou para cá ontem a tarde – Lupin continuava – Perguntei aos professores se poderiam deixá-lo para eu dar uma aula prática e eles concordaram. Bom, a maioria. Então, a primeira pergunta que devemos nos fazer é, o que é um bicho papão?

— É um transformista. – Respondeu Soo Lin Yao, da Corvinal – Ele assume a forma do que achar que pode nos assustar mais. 

— Muito bem! Dez pontos para a Corvinal. O bicho papão que está dentro desse armário não assumiu forma alguma, mas quando eu o deixar sair, ele imediatamente se transformará naquilo que cada um de nós mais teme. Por isso, no momento, nós temos uma enorme vantagem sobre ele. Alguém sabe dizer qual é?

— Estamos em grande número? – Lestrade arriscou – Ele não vai saber qual forma assumir.

— Excelente! Dez pontos para a Lufa Lufa. – Colocou as mãos atrás das costas e andou de um lado para o outro – Tenham isso em mente. Não importa quão forte você seja, sempre enfrente um bicho papão acompanhado. Assim ele se confunde. Uma vez duas crianças exploravam um armário. Uma tinha medo de baratas e a outra tinha medo de pessoas esquartejadas. O bicho papão se confundiu e se transformou em meia barata. A companhia é sempre uma vantagem. 

John nunca ficara tão interessado em uma aula de Defesa Contra as Artes das Trevas desde que chegara em Hogwarts. Prestava a atenção em cada detalhe.

— Agora, o feitiço que repele um bicho papão é simples, mas exige concentração. – O professor explicava – A coisa que realmente acaba com um bicho papão é o riso. Então o que precisam fazer é forçá-lo a assumir uma forma que vocês achem engraçada. Vamos praticar o feitiço com as varinhas primeiro. Repitam comigo, por favor. Riddikulus!

— Riddikulus! – Repetiu a turma. 

— Ótimo. Mas a palavra sozinha não basta. Na hora em que se depararem com o seu medo, vão precisar ter em mente uma forma de deixá-lo engraçado. Agora, eu gostaria que todos gastassem algum tempo para pensar na coisa de que têm mais medo e imaginar como poderia fazê-la parecer cômica.

A sala mergulhou num silêncio introspectivo. Sherlock olhou para John:

— Alguma coisa em mente?

— A única coisa que me vem à cabeça é o Aragogue. E você?

— Acho que o Basilisco. – Ele se arrepiou – Péssimas lembranças.

— Imagine ele cego e banguela. Deve funcionar.

— Todos prontos? – Perguntou o professor e a turma fez que sim – Todos para trás. Hopper, você primeiro.

Molly retesou, sendo empurrada para frente por alguém.

— Quando eu contar três, Hopper. Um... Dois... Três... Agora! 

Um jorro de faíscas saltou da ponta da varinha do professor e bateu no puxador. O guarda roupa se abriu com violência e a criatura que emergiu de lá foi Jim Moriarty. O resto da turma não sabia como reagir, nem mesmo o próprio Moriarty, que até então estava quieto.

Tremendo de medo, a lufana empunhou a varinha e bradou:

— R-riddikulus!

Logo aquele Jim Moriarty estava com as roupas de dormir rosa berrante do professor Lockhart, e com os cabelos cheios de rolinhos numa toquinha em forma de rede. John caiu na gargalhada tão repentinamente que teve que se segurar no ombro de Sherlock para manter-se equilibrado. E não foi o único. Muitos da turma não conseguiram levar aquela criatura a sério, até mesmo Sherlock se via obrigado a cobrir a boca com a mão fechada, como se aquilo fosse conter a hilaridade.

— Inesperado! – Lupin exclamou – Lestrade, avante!

Molly saiu da fila e o bicho papão Moriarty avançou em Lestrade. Ouviu-se um estalo e onde o bicho papão estivera havia agora uma múmia com as bandagens sujas de sangue. Um “oooooh!” se ouviu em toda a sala e o lufano atacou:

Riddikulus!

Clac! A múmia ganhou calções de banho de bolinhas brancas, tropeçou nas próprias bandagens e caiu.

A essa altura todo mundo queria entrar na fila para ser o próximo, se empurravam eufóricos e balançavam a varinha frenéticos. Apenas Moriarty mantinha-se no canto da sala, com os braços cruzados e olhar de desprezo. O bicho papão de John se transformou em uma acromântula gigante, enchendo a sala de gritos. O Watson gritou o feitiço e “Clac!” a acromântula ganhou patins em todas as patas e se desequilibrou, tombando no chão. Sally foi a próxima. “Clac!” O bicho papão se transformou em um espírito agourento. “Clac!” O espírito agourento estava com a voz da Murta-Que-Geme. 

“Clac!” Uma mão decepada. “Clac!” A mão dançava com um chapeuzinho e um bastão. “Clac!” Uma cascavel. “Clac!” Uma pessoa decapitada. “Clac!” “Clac!” “Clac!”

Muitas formas estavam sendo assumidas e algumas já nem eram assustadoras. A turma ouviu o Lupin gritar “Isso! Estamos confundindo o bicho!” no mesmo momento que o bicho papão começou a se aproximar de Sherlock. O jovem Holmes preparou o contrafeitiço, esperando o basilisco.

Mas o que apareceu lá fez o seu sangue gelar.

Não era uma cobra gigante que se formava diante de Sherlock. Era uma figura encapuzada e macabra, que deixava o ambiente mais gelado e fazia-o lembrar de uma dor alucinante corroendo em seus membros. Sherlock tremeu. Não estava preparado pra isso. Suas pernas ficavam bambas e a varinha escapou de sua mão enquanto a náusea e o mal estar o consumiam. Os colegas se transformaram em borrões, e em algum lugar se ouvia as risadas de Kitty, Moran e Moriarty.

Só não perdeu os sentidos porque o professor se colocou na frente dele e o monstro rapidamente deixou de ser um dementador para virar uma esfera branca.

— Riddukulus! – Entoou Lupin.

A esfera branca se transformou em uma bexiga furada, que saiu circulando pelo teto. Lupin chacoalhou a varinha, abrindo o armário, e o bicho papão em forma de bexiga furada foi parar lá dentro.

— Bom, isso é tudo. – Lupin ajeitava o terno e enxugava um pouco de suor da testa – Dez pontos pra cada um que derrotou seu bicho papão. Para dever de casa eu quero uma redação sobre as habilidades de um bicho papão adulto. Isso é só.

Apesar do que aconteceu com Sherlock, a turma do terceiro ano saiu animada com a aula de Lupin. Não faltavam comentários muito entretidos. “E Moriarty no robe do Lockhart?”, “E aquela múmia com calção?”, “Viram como eu dei um jeito naquela mão sequelada?”.

— Viu como Holmes ficou paralisado? – Kitty comentava maldosamente com Moriarty, alto o suficiente para todos ouvirem – Que medroso! E ainda disse que enfrentou o basilisco!

— Não enfrentou coisa nenhuma! – Moran caçoava – Ninguém viu. Vai ver que ele abriu a Câmara Secreta e armou tudo. É um charlatão feito o Lockhart.

John, que ouvia tudo, se limitava a fechar os punhos dentro dos bolsos. Achava que Sherlock estava seguindo-o, mas não estava. Sendo assim resolveu matar dois coelhos com uma única cajadada. Procuraria por Sherlock e se livraria das vozes irritantes daqueles sonserinos.

 

~O~

John encontrou o jovem corvino perto do jardim, encarando a paisagem com os braços cruzados e tremendo, de frio e de nervoso. Sherlock olhava para a grama muito mal humorado, ignorando o vento gelado batendo em seu rosto anormalmente pálido.

E por mais que gostasse de John, a voz dele era a última coisa que queria ouvir agora.

— Sherlock!

Sherlock puxou a capa mais para perto de si e saiu andando com cara de poucos amigos. John apertou o passo até alcançá-lo.

— Hei, hei! Espera! Sherly!

— O que foi? – O jovem Holmes girou os calcanhares abruptamente na direção do rapaz.

— Você tem medo de dementadores! Por que não me disse?

— Porque eu não sabia!

— Como não sabia? Você tem tanto medo que não consegue pensar em nada engraçado pra substituir essa imagem. Sherlock. Sherlock, espera! – John segurou o amigo pelo cotovelo quando ele fez menção de voltar a andar. – Tem que pedir ajuda pro professor Lupin!

— Eu não vou reprovar em Defesa Contra as Artes das Trevas por causa de um bicho papão, John.

— Não estou falando do bicho papão, estou falando dos dementadores! O castelo está cercado deles! Você paralisou com um de mentira e desmaiou com um de verdade!

Sherlock olhou pra outra direção. Os dentes bem cerrados.

— Eu sei… – O corvino tremia de raiva – Esses dementadores mexem com a minha mente.

— E você tem que aceitar que é mais vulnerável a eles. Eu vi o seu estado no trem. O diretor precisa saber disso.

— Não, ele não precisa! Agora pare de me aborrecer e vá cuidar da sua vida! 

— Do que você ta falando? To preocupado com você. Somos amigos!

— Eu NÃO TENHO amigos!

John reagiu como se tivesse levado um soco muito forte. Os olhos de Sherlock emanavam uma censura fulminante pra cima do rapaz, fazendo-o desistir de fazer qualquer coisa que planejava.

— Ok... – John baixou a cabeça sentido – Ta. Ok. Fique sozinho.

— Ótimo.

E sem dizer mais nada, cada um seguiu seu caminho.

 

Continua


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