Uma canção de Sakura e Tomoyo: Vamo alla flamenco escrita por Braunjakga


Capítulo 4
Proposta




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Tomoeda, Japão

20 de Junho de 2007

 

I

 

Era tarde.

A escola fundamental de Tomoeda estava vazia. Os alunos tinham tido prova no dia anterior e estavam descansando. Era o local perfeito para a prática dos castells.

Quatro pessoas se juntavam e formavam um círculo entre elas, as mãos bem agarradas no pescoço do companheiro. Outras quatro pessoas subiam em cima dessas primeiras e faziam o primeiro andar. Outras e mais outras quatro pessoas subiam pelo corpo das segundas e fazia mais um andar. Quanto mais pessoas subiam, outras pessoas no chão agarraram os ombros das primeiras e faziam uma espécie de corrente para segurar as demais. Em caso de queda, aquele monte de gente que ficava em baixo servia até como cama elástica. No final, um adolescente ou uma criança bem leve subia em cima de todo mundo até o topo. Esses eram os castells, tradição cultural na Catalunha. Para que os outros pudessem subir, uma cinta vermelha forte estava amarrada na cintura de cada um.

Tomoyo era a penúltima naquela torre humana. O castelo ficou tão alto que superou a altura da torre do relógio da escola. A morena até conseguia olhar para o relógio, marcando uma da tarde.   

— Hey, Tomoyo, cuidado com o meu olho! — reclamou Quim, logo embaixo dela.

— Acho que isso já chegou no limite, né? A gente tá fazendo mais alto que os castellers de Tarragona! — disse Tomoyo. 

Então, todo mundo no castell tremeu e a torre humana desabou. Felizmente ninguém se feriu. 

 

II

 

Fora do pátio da escola, na rua, Chiharu, Rika, Naoko e Sakura olhavam para a torre humana cheia de gente vestida de amarelo desabando, curiosas.

— Gente, que é aquilo? Será que tá todo mundo bem? — perguntou Naoko.

— Eu li no “Tomoeda todo dia” que eles são de uma espécie de circo da República da Catalunha, alguma coisa assim, vieram aqui falar da independência… Acho que eles tão treinando…  — disse Rika.

— República da Catalunha? Nunca ouvi falar… — comentou Chiharu.

— Deve ser um desses países novos que aparecem todo dia, a gente tava estudando sobre Kosovo e Montenegro na aula de geografia… — disse Naoko.

Sakura se aproximou dos muros da escola e olhou para um cartaz bilíngue que dizia “Area de testes dos Castellers da Universidade Pompeu Fabra de Barcelona — Entrada proibida”. A Cardcaptor apertou a mão na chave do lacre como se tivesse alguma coisa com um poder incrível do outro lado, chamando-a.

— Que foi, Sakura? Vai me dizer que tem alguém com poder mágico lá no meio daquele circo? — perguntou Naoko, excitada. — A gente pode ir lá e falar com ele ou ela! 

— Deixa disso, Naoko! Sempre tem gente com poder mágico por perto! O Touya, o Yukito, o pai da Sakura! — disse Chiharu. 

As meninas continuaram a caminhar, mas Sakura ainda olhava para trás. 

 

III

 

Mais de cem estudantes da universidade vieram para Tomoeda, em missão da delegação de exteriores da Catalunha para promover a cultura do país no Japão. Como não tinha hotel em Tóquio para colocar tanta gente assim, todo mundo alugou um hotel inteiro de Tomoeda, por uma semana. 

Como Tomoeda não era cidade turística, os quartos tinham beliches e camas para cinco pessoas. Marc, Núria, Laura, Joaquim e Tomoyo ficaram no mesmo quarto. 

— Essas camas dos japoneses são pequenas, né? — disse Marc, um rapaz de cabelos negros e curtos.

— Melhor que os buracos que alugam em Barcelona por um preço caríssimo, você não acha? — respondeu Laura, uma menina de cabelos loiros e lisos, sorrindo com malícia para ele

— Entendi a indiretinha! Minha mãe é conselheira da habitação da cidade e só eu sei o quanto ela luta contra isso! Se você quiser, eu vou pra outro quarto! — disse Marc, irritado.

— A gente é da mesma classe, Marc! Não é bom que a gente fique disperso por aí! — repreendeu Tomoyo.  

— Pelo menos os armários são grandes pra gente guardar nossas roupas! — disse Núria, uma menina de cabelos negros cacheados, examinando a mobília.

De repente, a campainha da porta tocou. Quim, um rapaz de cabelos castanhos espetados, foi atender:

— Oi? 

Excuse-me? Do you know someone in this room, from the class of architecture, that can speak my language? Her name is Tomoyo, is all the information that I received (Desculpe-me, você conhece alguém desse quarto, da turma de arquitetura, que fala a minha língua? O nome dela é Tomoyo, isso é tudo o que eu sei).

— Tomoyo, pra você… — disse Quim, deixando a porta entreaberta. A menina de olhos púrpura examinava uma mala quando recebeu o aviso. Ela levantou-se, andou até a porta e tomou um susto. 

— Professora Tsutsumi? — disse ela, com a mão no peito. 

— Tomoyo, é você! Que mulherão você se tornou, hein? Quase não te reconheci! Você consegue me acompanhar até o parque do pinguim? Preciso da sua ajuda! — disse a professora, suplicante. 

Tomoyo apertou a mão no peito, hesitando, olhando para o lado.

 

IV

 

Parque do pinguim. 

Era uma tarde tranquila daquele junho. O sol se punha nas montanhas e uma leve brisa de fim de primavera soprava no rosto das duas. Havia poucas pessoas no parque. Um carrinho de tayaki, uma espécie de doce em forma de peixe com recheio de feijão, passava na frente delas, cheirando bem. 

— Tomoyo, você quer? Eu compro pra você! Faz tempo que você não deve comer nada da sua terra, né? 

— Tem restaurante japonês em Barcelona, professora…  

— Nossa, eu nem pensei nisso!

— Mas eu aceito. Comida japonesa de fora é diferente da de casa… 

A professora deu saltos de alegria e foi logo comprando um saco com o moço. Depois, voltou a se sentar do lado dela e continuou:

— Me diz, você passou bem esse tempo todo? Você tá muito diferente, seu cabelo mudou, seu corpo… 

— Bem, estou viva, né? Agora sou mais espanhola que japonesa! Nem o guarda do aeroporto me reconheceu! Acho que ninguém aqui se lembra mais de mim… 

— Não diga isso, Tomoyo! Claro que o pessoal se lembra! Fui sua professora de matemática desde a terceira série e contava que a minha melhor aluna retornasse pra fazer a oitava série comigo, justo no ano das olimpíadas… Eu ia te inscrever e tudo mais… Você pensa que eu não fiquei triste? Você nem pra me falar nada! Todo mundo ficou comentando durante a semana que você não ia voltar mais… 

Tomoyo não falou nada. Ficou olhando para o chão, comendo tayaki.

— Eu lamento mesmo que as indústrias Daidouji tenham falido! Muita gente ficou desempregada…  

Tomoyo continuava a não falar nada, só comendo o saquinho de tayaki. A professora resolveu mudar de assunto:

—  E aí, como tá a ação na justiça?

— Na mesma… Nem vai pra frente, nem vai pra trás. A gente tá a ponto de recorrer na terceira instância… 

— Que coisa! Mas chega aqui… — a professora agarrou a mão livre de Tomoyo. — Não vim falar disso. Vim aqui pra pedir a sua ajuda. 

— Minha ajuda?

— Sim. Eu tô organizando um festival de cultura espanhola na escola e gostaria que mais gente viesse. Daí, eu li no jornal que vocês viriam se hospedar na cidade e faria uma apresentação de castells em Tóquio, na semana da cultura catalã no Japão. Daí eu pensei: por que eles não dariam uma prévia pra gente? Tomoyo, você não sabe como eu fiquei feliz por saber que você tava aqui! 

Tomoyo soltou um tímido sorriso e respondeu para a professora:

— Profe, esse pessoal não tá nada a fim de participar de um festival de cultura espanhola, não… 

— É uma pena mesmo, eu já devia saber… Eu tô acompanhando tudo pelos jornais… 

— Mas sabe… Eu sei dançar flamenco e sei cantar umas coblas, posso tentar convencer o pessoal da minha classe na faculdade a participar… Queria ver mesmo como está a escola Seijou nesse tempo todo que fiquei fora… — Tomoyo sorria, de olhos fechados.

A professora saltou excitada do banco e abraçou Tomoyo com tudo, comprimindo o rosto dela contra seu peito.

— É sério? É sério mesmo? Você me deixa tão feliz, Tomoyo! E já tá na faculdade! 

— Vou fazer o terceiro semestre agora, profe! 

— Que orgulho! Pode ter certeza que sua professora aqui sente orgulho quando um aluno nosso vai longe! Vai ter surpresa, tá?     

— Tá, Só espero que não seja uma bomba… — concluiu Tomoyo.

 

Continua… 


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