13 & Team 1: Sem Rumo e Sem Vida escrita por Cassiano Souza


Capítulo 11
O Apocalipse da Doutora - parte 1


Notas iniciais do capítulo

Que o nome da besta seja louvado.



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ALGUM LUGAR NO DESERTO DE UTAH/ DIA 30/07/2019/ 15:00 HORAS DA TARDE.

 

3 flashes de luz brilharam, e a presença de Yaz, Ryan e Graham deram as caras. Olharam em volta, com medo, estranhamento, desprezo, e muita, muita falta de esperança. O sol ardia, e o vento bagunçava qualquer penteado. Na frente do trio, uma lanchonete suja, caindo reboco, janelas e teto perfurados, piso arrasado, e uma pista desértica em sua frente, cujo nem a morte se atrevia a passar mais. O posto de gasolina ao lado, de igual estado, e se alguém houvesse, somente fantasmas, aranhas e ratos. 

— Cadê a Doutora? - Graham não a encontrou. 

— Doutora?! - chamou Yasmin. 

A loira não respondeu, e nem parecia estar por perto. Ryan pigarreia:

— Acho que ela não conseguiu. 

— Tá brindando?! - Yaz se irritou. - É da Doutora que estamos falando. A Doutora. 

— Yaz, ela não é invencível. 

— Ela vai aparecer! 

— Também quero! Mas a verdade, é que somos todos somente carne e ossos.

— Logo, logo. - insistiu.

— "Às vezes, nem eu ganho", foi o que ela já disse. - lembrou Graham cabisbaixo. - Não sei o que podemos fazer a partir daqui.

A jovem ficou sem palavras, e o jovem também. Todos queriam agir, queriam salvar a Senhora do Tempo, ajudá-la, e proteger o mundo, mas… O que lhes restara? 

— Por que aqui? - Yaz foi ignorando a tristeza e enfiou-se dentro das ruínas. - O que há de especial?

Os homens se entreolharam furiosos, mas a seguiram. Lá dentro, atrás do balcão de bebidas tão velhas quanto os dinossauros, uma senhora asiática, apontando uma arma enorme, de forma incomum, e vestida toda de calças bordô, botas estilo escoteiro, e uma camisa social branca folgada, de ombreiras enormes, e com um colete vermelho por cima. O trio apenas parou embasbacado, se entreolhou, e depois se entreolharam com a sujeita. Ela disse rapidamente:

— Por que ainda não puseram as mãos para cima?

— A cara da Margaret Cho! - notou Graham

— Não é a Doutora. - Yasmin disse.

— Jura? - ironizou a senhora. - Ah, meu espelho nunca disse. Viu meus óculos por aí? - já estava usando.

— Cadê ela? - quis Ryan saber da loira.

— Na lua. O que vocês acham?! Ela foi pega! 

O trio ficou calado por alguns segundos. A mulher parecia ter pavio curto, ser mandona, e odiar perguntas óbvias, junto ao fato de estar armada. Graham pigarreia:

— Vamos ligar as pontas, família. A Doutora nos manda para um lugar estranho e uma estranha aparece. 

— Mas a estranha sabe da Doutora. - continua Yaz. - Entende sobre ela. 

— Não é qualquer um que entende.

— Usa armas, usa vermelho. - nota Ryan. - Buscar semelhanças! Quem mais nas últimas desventuras usava? 

— A Lily tinha batom.

— O Rani tinha um colete. - Completa Yaz. 

— E armas, usavam armas. - finaliza Ryan. - E arrogância. 

A estranha sorri debochada, enche os olhos com nojo, mas ao invés de explodir ambas as cabeças, pôs a arma sobre o balcão:

— Não são tão patetas quanto eu pensava. Sério, eu pensei que tivessem o QI de um plâncton. 

Yaz revira os olhos:

— E o que quer de nós? 

— De vocês? - gargalhou intensa. - Nem os rins para vender no mercado negro! Vim matar o Anticristo. A Doutora disse que estaria aqui. Não vejo nenhum bebê, então é melhor irem fazendo um logo.

— Vamos ficar devendo. - avisou Graham. - Rose e Lucio estão a salvo, e longe de você. Agora, já pode usar a arma na própria cabeça, de decepção. 

A mulher serrou os olhos. Em seguida, revelou:

— Ela me deu a missão. Enganou o Anticristo e o traria até mim. 

— Apenas nos disse que as coordenadas nos levariam a um lugar seguro. - revelou Ryan. - E que devêssemos pensar em algo brilhante. 

— A menos… - pensou Yaz. - A armadilha na armadilha. Ela nos reuniu. 

— A Doutora mandando ela aqui?! - Graham estranhou.

— E por que não? - a Rani se ofendeu. 

— Porque você é uma psicopata, por exemplo. Porque só iria atrapalhar…

— Porque você morreu. - lembra Ryan.

A Rani gargalha. Saca a arma novamente, dispara para cima, e aponta aos humanos, que levantam as mãos: 

— Escutem aqui, sou a mais inteligente, mais esperta, mais sagaz, e dona do cérebro mais brilhante que restou de Gallifrey. Por que estou aqui? Porque a Doutora me chamou, porque precisa, porque sabe do grau de ruínas que corremos, e porque realmente e humilhantemente, precisamos uma da outra agora. Mandou-me uma mensagem direto no banco de dados. 

— Ela queria nós 4. - continua Yaz sua teoria. - Seus últimos amigos, e últimas esperanças, para salvar o universo.

— Basta me falarem onde o Anticristo se esconde. Ele é morto, e fim da história, sem enrolação, sem confusão, simples e prático.

— Não mesmo.

— Gosta de novelas, suponho.

— Minha irmã, está sendo seu inimigo.

— Se for uma caçula, pode agradecer.

— Não precisa ter sangue, e não terá, está me ouvindo?!

— Não está na melhor condição. - acariciou a arma.

— Seu jeito quem te matou da última vez, Rani. Sua própria arrogância. Se exibindo, se expondo, e sendo 0 estratégica, com um QI digno de um plâncton. 

A Senhora do Tempo fez sua cara indignada. A humana completa:

— Vamos reparar isto. Nós 4. Temos nossa coragem e dedicação, e você a inteligência e tecnologia para refiná-la. Sou a irmã da vilã, e você tem uma super máquina telepata. Não consegue pensar em grandes ideias? Porque eu consigo. 

A Rani fez pose de impressionada, com o seu misto de deboche. Como um ser tão mísero criado de um planeta dos restos do universo poderia ser tão ambiciosa e articulada? Pensou. Imaginou ser esta a qualidade que a Doutora a fazia ter por perto. Ryan e Graham também se impressionaram. Ryan pigarreia: 

— E a sua ideia de salvar Gallifrey acabando com a Terra? 

— Delírios de um lunático. - assoprou. - Senhores do Tempo não são como jogos da velha. 

— Ouviu a Yasmin, decida-se. - exige Graham. - Vai finalmente salvar o universo como uma Senhora do Tempo ou não? 

— Onde vou viver se não o salvarmos? - revirou os olhos. - O que que vou roubar, adulterar e governar?! - riu. - Na noite escura, ratos viram gatos. 

— Então vamos agir logo. 

— Vamos trabalhar juntos, mas tem de ser do meu jeito.

Os 3 humanos respiraram apreensivos, seus corações se aceleraram, mas o que fazer? Confiar naquela que um dia quis arrasar o mundo, não uma, mas várias vezes? A segunda criminosa mais procurada da galáxia? Não havia escolha, havia? O trio, então apenas se contentou em dizer:

— Feito.

A Senhora do Tempo fez sua cara de superioridade e satisfação. Mas Yasmin declarou:

— Nos aliaremos. Mas, na primeira bobagem que fizer… Eu também apontarei uma arma. E desta vez, sem hesitação. 

A Rani, apenas sorriu de canto.

***



PREFEITURA DE SHEFFIELD/ ÀS 3 DA TARDE/ DIA 30/07/2019

 

A loira sentiu seus pulsos arderem, abriu bruscamente os olhos, e despertou-se naquela sala ampla, cheia de quadros de homens bem vestidos, cujo um dos quadros estava em uma lixeira, e a cabeça de uma raposa empalhada na parede. Estava algemada? Sentiu os braços juntos e firmes, bem por trás da cadeira, e em sua frente, uma mesa de escritório enorme, com uma jovem de olhos rebeldes atrás dela. E em cada lado da porta da sala, dois homens armados, e uma cabine de policia inglesa antiga, bem ao lado da janela. A jovem põe um pouco de whisky em um copo: 

— Não vou oferecer, nem olhe.

— Sai da Sonya. - exigiu a algemada. 

— Me obrigue.

— Me desalgeme. 

— Me divirta. - deu um gole.

— Como pode haver algo como você?

— Podendo. 

— De onde vem?

— Buscando informações, Doutora? - gargalhou - Sempre assim, perguntando, observando, e tramando. O que você devia finalmente entender por definitivo, é que não importa o quanto saiba sobre mim, nunca me vencerá. Foram batalhas perdidas, todas elas. 

— Meus amigos vão parar você!

— Seus amigos, logo, logo serão seus inimigos! Meus amigos. - jogou o copo no chão, que se espatifou. - A defesa no circuito de tradução da TARDIS não dura muito tempo. A qualquer momento…

— Graham me mandou um áudio. 

— E? - encheu novamente outro copo. 

— Quem é Vasug? Por que as pessoas repetiam isso? Não pode ter um poder de controle tão rápido e descomunal de forma tão sutil! Ninguém pode, não é possível.

A jovem ri novamente, e diz: 

— Vasug é tudo o que restará, e tudo o que importa. Vasug trás caos, e Vasug trás vida. Como controlo? As raças vivem buscando por mim, todos os seus medíocres dias. Me encontraram, agora me abraçaram. 

— Mas como eu poderia não tê-la detectado?! É quase impossível.

— Quase? - secou o copo. - Todos os gênios da tecnologia estão ao meu lado, Doutora. E eu, tenho meus próprios dons.

— Mas ter pulado de universo em universo? Eu não posso ter sido tão insignificante assim!

— Ora, ora, a Doutora pela milésima vez com medo. Sabe quantas vezes tivemos esta exata conversa? 

A loira tinha apreensão e dúvida nos olhos. A outra responde: 

— Milhares. 

— Mas tantas derrotas, tantas tentativas… Alguma de mim deve ter pensado em algo brilhante. Tem de ter pensado! 

A outra ficou absolutamente ríspida com os seus olhos, mas nada respondeu. Já a gallifreyana arregalou os seus:  

— Sim! Ora, estava tão óbvio.

— Vai começar… - revirou os olhos. 

— Primeiro, por que veio como um bebê e não um adulto?

— Não importa.

— É claro que importa!

— Nenhum significado.

— Muitos significados! Segundo, não seria nada estratégico vir com a consciência separada de seu corpo em um arco camaleão, já que coisas poderiam acontecer, e demorariam para se reencontrarem. Talvez, nunca mais nem se reencontrassem, e o plano de arruinar universos se extinguiria. 

— Ainda inútil.

— Terceiro, se não faz sentido, você, a bam, bam, bam multiuniversal saberia! Ou seja, não foi por escolha própria. Minha eu paralela fez algo brilhante, não é?

— Sabotagens baratas, seu único talento. 

— Mas você caiu! E isso a atrasou, e agora… Eu e meus amigos temos uma chance.

— Chance? - gargalhou insana, e na TV, o Papa fazia uma celebração ao vivo, para o mundo todo glorificando Vasug. 

— Chance sim, porque eu ainda não disse o quarto ponto.

— Bobagem.

— Humanos são frágeis, são temporários, não suportariam uma consciência e nem a biologia de um Senhor do Tempo. Ou seja, seu corpo está definhando, Sonya está morrendo agora. Vai ter de pular de humano em humano, ou achar finalmente o seu verdadeiro ser, um humano, porém com resquícios sanguíneos. Por que estaria sentada conversando ao invés de agindo? Não está saudável. 

A outra fechou absolutamente as suas sobrancelhas, se a Doutora não fosse necessária, já a teria eliminado. Para suavizar o seu ego, alfinetou:

— Já fiz acompanhantes seus arrancarem fora a sua língua e cabeça, Doutora. 

A loira encheu-se de repulsa. A outra completa:

— Desta vez, farei seus 3 bichos de estimação, esquartejarem você. 

— Não vai acontecer.

— Já ouvi isso. 

— E quinto ponto, se é tão poderosa… Porque continuo consciente?

A outra nada respondeu, apenas manteve seu olhar rude. A Senhora do Tempo supõe:

— É claro! Tão óbvio! Doutora lenta. Você mesma deu a dica, "me buscam todos os dias". - riu. - Você precisa de crença, e se atinge o mundo todo, e além da Terra arrasa universos… Não precisa ser apenas uma crença, pode ser qualquer crença! Crenças e fé, em qualquer deus, religião e mitologia. 

— E logo, logo, estenderei a minha influência.

— Assim, todos que correspondam a isto, são hipnotizados por suas palavras, seus comandos, sua lavagem cerebral. Já aqueles sem crença… Exterminados, não é? Vi suas câmaras de gás no caminho até o quartel. 

— Uma gentileza, não precisaram sofrer por Vasug. 

— Incorreto. Você no fundo tem medo dos ateus despertarem os seus fanáticos. Ou, é apenas um modo de massagear o seu ego de impotente?

— Calada! 

Levantou-se a jovem, e abriu as portas da TARDIS, que estava muito mais sombria do que o habitual. A jovem diz: 

— Sabe o que mais posso fazer além de falar todo e qualquer idioma, Doutora?

— Ser uma completa desprezível? 

— Sei manipular toda e qualquer tecnologia. Meus dons.

— Nada é tão poderoso! 

— Vasug é poder. 

Entrou na máquina do tempo, cambaleando, enquanto a dona dela continuou impossibilitada de agir, algemada e vigiada pelos dois guardas, exigindo para a outra parar. A jovem chega ao console, opera alguns comandos, e o restante de luz que havia nas coisas redondas nas paredes, se apagam por completo. Por sua face, nem ela pareceu ter entendido. A loira comenta:

— Está pondo em dormência a minha nave, ou até ela está protestando?

— Não se faça de boba! - continuou operando. - Quando fez sua sabotagem?

— Não tive tempo! Sabe quantas coisas fiz de ontem pra hoje?! Adoraria, mas realmente não levarei esse mérito.

De repente, o monitor se ascendeu, e Rose Smith estava na tela:

— Olá, se esta mensagem chegou até você, significa que já morri, já estou longe, Lucio está seguro, porém o mundo continua em perigo.

— Brilhante! - berrou a loira.

— Inferno. - resmungou a outra.

— Sendo assim. - continuou a imagem do monitor. - Usei as próprias interfaces da TARDIS para me ajudar e sabotar tudo. Ela está em um modo de gasto de energia extremo, codificado em gallifreyano antigo, e só irá parar com uma senha. A senha, uma palavra que somente eu e a Doutora sabemos qual é. Boa sorte, Doutora. Saudades. 

A gravação acabou, e a jovem atacou a tela, furiosa, e berrando. A loira comenta:

— Não foi dessa vez. Eu disse, meus amigos são brilhantes.

— São tolos! - veio até a gallifreyana. - Cegos por você, marchando rumo ao matadouro. Se sente orgulhosa? Devia se sentir pior do que eu. 

— Salvamos pessoas! 

— Condenando outras.

— Melhor do que você!

— Apenas cumpro o meu papel.

— Ser um monstro?

— Ser a carcereira, para que o juiz entre em cena. Já pessoas como você, fundam os criminosos 

A loira não soube o que dizer. Era mesmo isto? Não poderia aceitar tal ideia. Então questionou:

— Qual a sua história?

— Não importa. 

— Sempre importa. Por que está entre os Senhores do Tempo? Pura estratégia? 

— Não importa.

— Importa. 

— Cale-se! Nunca cala essa boca?! Você apenas irrita, qualquer um! Este é o seu dom. 

— Enfim, o sexto ponto, se Lucio e Rose provavelmente retornaram ao passado com a TARDIS, Lucio talvez ainda esteja vivo, mas idoso. E sem TARDIS, sem detecção. 

— Me dê energia, e veremos. 

— Não há energia suficiente aqui.

— Discordo. - estalou os dedos. - Homens, tragam da UNIT o conversor de energia. 

— Sim, grandiosa ama. Que o nome da besta seja louvado! - saíram da sala.

— Voltem! Lembrem-se de quem eram! - berrou a Doutora, mas ignoraram.

— Tão impotente. - riu, sentando-se na mesa. - Como se sente?

— Sinto que vou matar você.

— Um nada, Doutora, da sua parte.

— Desta vez, não falo mais por mim mesma.

— Veremos. - Encheu. O copo de bebida novamente. - E quando eu enviar minhas palavras a 666 planetas, Senhora do Tempo, sua infeliz carne testemunhará as abençoadas chamas de Vasug. Que o nome da besta seja louvado. - secou o copo. -  Agora, fale a senha.

— Ora, eu também não faço ideia! - pela cara, parecia realmente não saber. 

*** 



UTAH/ 15:33 DA TARDE/ TARDIS DA RANI

A Senhora do Tempo operava o seu console prateado, e a ampla sala era bem iluminada, repleta de prateleiras com livros, além de estatuetas de suas antigas regenerações, e coisas triangulares nas paredes. O plano estava em curso, com Graham vestindo seu disfarce, uma roupa formal de escritório, Ryan vestindo um traje espacial, e Yaz vestindo o capacete telepático da máquina do tempo. A Senhora do Tempo apanha um giz no sobre o console e vai até uma lousa:

— Missão; salvar universo idiota.

— Original. - zombou Ryan.

— Calado. - começou a rabiscar. - o que sabemos?

Graham olha para o monitor:

— Segundo o celular da Yaz, o rastreio da Sonya e Doutora bate em Sheffield.

— Sim, o lixão. - continuou rabiscando. - Sabem o que significa?

— Se formos até lá somos alvos fáceis. - argumentou Yaz. - A lavagem cerebral parece rápida, e ainda não entendemos como funciona. Além de quê, provavelmente possuem alguma tecnologia que impediu a Doutora de fugir. 

— Se até pessoas que correm de igreja feito o meu pai ficaram hipnotizadas, então acho que não se precisa crer no Anticristo. - disse Ryan.

— Mas alguma crença possuiam. - conclui a Rani. - Todos nós temos algum tipo de crença em algo. Eu creio em mim, vocês, em folclore, whatsapp e arqueologia. Ou seja, ou matamos a caçula, ou a libertamos. Embora eu não veja diferença.

— Votamos em libertação. - disseram os humanos.

— Cringes. A Anticristo funciona como um grande roteador, e os cérebros de pudim como celulares em busca de Wi-Fi. 

— Então bastaria desligar o wifi? - indaga Ryan. - Ou a "rede" ficaria salva.

— Ainda não sei. Mas provavelmente, sim. Geraria padrões psíquicos, e mesmo uma vez se libertando estariam vulneráveis novamente.

— Então se desligar o roteador está fora de questão, o quê? - Graham preocupou-se.

— Essa é a pergunta certa. - enfiou uma mão nos bolsos e em seguida atirou uma pílula à Yasmin. - Engole.

— Suspeito vindo de você. - Yaz encarou a droga.

— Não é doce. São instruções psíquicas, mas não para você, para a sua irmã. Seu consciente deve encontrar o consciente dela, dentro do inconsciente, e repassá-las. O Anticristo será temporariamente adormecido, e assim o removemos com um arco camaleão. 

— Então feito. - Yasmin engoliu. 

— Precisamos mesmo conseguir, família. - Graham brilhou os olhos. - No meio deste inferno, uma coisa boa… Descobri ser pai.

— Maravilhoso! - felicitou Yaz.

— Sério? - Ryan boquiaberto. - E eu vou ganhar um irmão. Quer dizer, pode ser irmão também.

— Parabéns. - o avó abraçou o neto.

Já a Rani, revirou os olhos enojada com tantos humanos sendo humanos juntos, voltando ao console:

— Por mim era mais simples, apenas explodir toda a prefeitura ou cidade. Contudo, nossa coleguinha irritantemente desprezível está lá, e a outra. 

— Porém. - Ryan parou pensativo. - Mesmo se conseguirmos esta libertação global, não quer dizer que não haverão sequelas, quer? As pessoas vão realmente voltar como eram?

Yaz e Graham se entreolharam preocupados. A gallifreyana respondeu:

— A cruel questão. Não, não é garantia de nada. Ou voltam bem, ou… Não voltam. 

— Mas precisamos tentar - insistiu Yaz.

Graham e Ryan permaneceram cabisbaixos e calados. Era realmente uma cruel questão, mas o que fazer? O tempo corria, e os planos da Anticristo iam junto. Graham pigarreia: 

— É a verdade, precisamos tentar. Se nunca temos uma certeza, e eu voltei dos mortos… Tudo o que mais quero é que todos também vivam.

— Escolhas difíceis, respostas complicadas, e falta de opções. - completa Ryan. - Quero minha família inteira de volta. 

A Rani sorriu maliciosa para o trio, sentia cheiro de coragem:

— Brilhante. Como minha nerd menos favorita dizia. - começou a manusear o console. 

Yasmin respira parecendo procurar coragem para falar,  pois ter citado a tal nerd lhe gerou curiosidade, onde perguntou à Rani, a mulher de olhos malévolos e frios:

— Faz tempo que você e a Doutora se conhecem?

— Mais do que eu mereço. - revirou os olhos, clicando em botões.

— Desde o colegio? Digo, a academia. 

— Sim. - soou emburrada.

— Ela se sentava na frente ou no fundo?

— Ela é uma desordeira. - deu uma martelada no teclado. - Sempre foi do fundo. Já eu, bela e comportada, na frente.

— É engraçado imaginar. - sorriu.

— Sou uma criminosa altamente fria e imprevisivel. Como pode conversar comigo com tanta tranquilidade? 

— No meu trabalho preciso dialogar com pessoas de carácter questionavel o tempo todo. 

— Ah, advogada. 

— Policial.

A Rani fez careta. Graham dá um último nó em sua gravata borboleta e pergunta:  

— Se não me engano você era casada, não? - questionou para a Rani.

Ela fez a sua cara de repulsa: 

— Qual botão desliga as malditas bocas de vocês? 

— Não me diga que traiu sua próprio clone. 

— Por que acha que eu teria ela? Cumpriu o seu papel. Se não seríamos mais fundadores de Gallifrey, então tornou-se minha reserva de energia regenerativa. 

— Ela era parte de você. - estava abismado. 

— Era um clone, um mísero clone! Não me venha com a sua piedade seletiva humana de quinta, não funciona comigo.

— Ainda vive? 

— Fugiu. Talvez. 

— Pessoas não são descartáveis. - continuou Ryan. - Quando matou todos aqueles Tetraps… Realmente não sentiu nada? 

— Pelo rosto de Boe. - revirou os olhos e puxou uma alavanca. - Não, não senti nada. Assim como quando matei você e o seu vovozinho boçal. Qual lógica teria em me sentir mal?

— Éramos todos vidas! Os Tetraps fizeram tudo por você, te protegeram, e o que ganharam?  Escravidão, tortuta, sofrimento e dor… Sem fim. 

— Um talento para poesias, eu admito. - puxou outra alavanca. 

— Por que tanta arrogância? Se era amiga da Doutora, não pode sempre ter sido esse monstro. 

A Rani respirou fundo, se segurou para não sacar a arma, e forçou um sorriso sínico:

— Porque não sou humana. Outra sociedade, outras regras.

— E ser uma Senhora do Tempo justifica?

— Claro.

— Se regenera, mas até isso tem limites. Não é imortal, não é indestrutível, não é uma deusa, não é nada demais. 

A Rani encheu a boca para retrucar, mas antes que continuasse, Yasmin interrompeu:

— Pessoal?! O tempo está correndo! Temos uma TARDIS, mas tem coisas que não poderemos voltar e mudar. O que importa é o aqui e o agora. Agora, que continuemos nos odiando, mas concentrados no que realmente importa! Dane-se se somos humanos ou Senhores do Tempo! Nenhum tempo é todo o tempo que temos, e na noite escura, ratos viram gatos, certo?

A discussão então cessou. A Rani emburrada no console, e Ryan e Graham pondo os seus manipuladores de vortex. A gallifreyana pergunta:

— Coordenadas acertadas?

— Sim. - Ryan e Graham respondem.

— Certo. Não morram tão desprezivelmente quanto eu gostaria.

— Boa sorte. - dedicou Yaz. 

Os dois bateram continências, e sumiram em um clarão. O que fariam? Parar a hipnose. Como? Graham chegou na NASA, disfarçado de inspetor chefe, usando papel psíquico, filtro de percepção, onde espalhou vários mine hackeadores de sinal pelos computadores. Já Ryan, vestido como astronauta, enchia de nano hackeadores de sinal os satélites ao redor do mundo, e a estação espacial internacional da NASA. A Rani pretendia usar todo o sinal de transmissão possível para sabotar a hipótese que era minuto a minuto divulgada, onde tiraria todas as instruções da Anticristo do ar. Já Yasmin, estava vestida no capacete neural, para sua mente adentrar a rede hipnótica do Anticristo, e tentar resgatar Sonya, usando a sua mente para tomar o controle do corpo novamente, assim, quebrando o encanto sobre o mundo. 

Correntes elétricas se rastejavam do console até o cabo do capacete, e a humana deu um doloroso grito. A Rani clicava em vários botões. 

***



— Diga! - a Anticristo usava um teaser elétrico no estômago da gallifreyana.

— Eu não sei! - berrou sem fôlego.

— Esse corpo não tem muito tempo. - pressionou na região renal. - Se não disser, migrarei de humano a humano, até não restar ninguém para lhe fazer companhia. 

— Quanta paciência! Posso te chamar de Sonya? Ou prefere Elizabeth?

Por que não entrar na Doutora? Porque um corpo suporta apenas uma consciência de Senhora do Tempo, e caso tentasse, a defesa do outro corpo se ativaria, onde regeneraria e o invasor seria vaporizado. Outro choque a Anticristo dá na loira, que gritou desesperada. Parou e sentou-se meio zonza:

— Vai mesmo sacrificar a irmãzinha de sua amada?

— Yaz é minha amiga! E você é quem a mata. Realmente não sei de senha, e não sei o que fazer… - apenas desespero na face. 

— Nunca tive um nome. 

— Enfrentei muitas pessoas se intitulando o Anticristo. Não é a primeira vez que passo o horário do chá no juízo final. 

— Me chame do que quiser.

— Certo, Sonya. Seu criador nunca te deu um nome? 

Antes de Sonya responder, caiu de olhos arregalados e revirados no chão, sem espasmos, sem gritos, e sem dificuldade.

Enquanto o conversor de energia da UNIT, continuava a recarregar a TARDIS. 

***

 

— Sonya?! Cadê você?! - chamou Yasmin.

Estava ela, em um ambiente escuro, corredores para todos os lados, centenas ou milhares de portas, todas fechadas ou trancadas, mas nenhuma janela. Nas paredes, quadros de rostos borrados e indecifráveis. Em todas as portas, o número 666 estava borrado de preto, como uma pichação. Os corredores quando dados as costas, pareciam se encolher ou esticar, e muitas portas não abriam. Yaz começou a tentar uma por uma, e algumas simplesmente davam em mais corredores, e escadarias com finais identificáveis, rumo ao breu absoluto. No teto dos corredores haviam lâmpadas,  entretanto, nenhuma acesa, ou interruptores nas paredes.

— Sonya?! - gritou com toda a sua força - É a Yasmin, eu tô aqui! 

Nenhuma resposta, apenas… O silêncio das trevas e sensação de frio e observação. De repente, uma das portas próximas de Yaz começa a ter a sua lâmpada piscando, oscilando sem parar.

— Eu vou te salvar! - foi até a porta, mas ela não abria.

Trancada? Yasmin entrou em desespero, e começou a tentar arrombar a porta, mesmo que aparentemente resistente aquela madeira. 

— Yasmin? É você? - perguntou a voz da caçula.

— Sou eu! Você tá aí?

— A porta não abre! 

— Isso tudo é a sua mente agora, Sonya.

— Eu não entendo. Eu tô com medo, e meu corpo inteiro dói.

— Esqueça explicações, precisamos nos concentrar em te tirar daqui, está bem?

— Se é minha mente, você é um delírio? Eu morri e por isso sinto dor?

— Não, Sonya! Não pense essas coisas, só vão atrapalhar.

— Mas está óbvio.

— Não, você ainda está viva, e eu tô aqui para te ajudar, minha irmã, porque eu te amo.

— Se não for uma peça da minha mente… Também te amo. - deixou lágrimas caírem. 

— Estamos na confusão da sua mente. Uma força maligna se apossou de você, mas isto tudo é seu. Concentre-se, e a porta vai se abrir.

— Não consigo. Sinto apenas dor.

— Lembra quando fomos na vovó aos seus 10 anos e ela disse que faria bolo se fizéssemos a horta juntas, sem brigas? 

— Brigamos naquele dia.

— Sim, mas esquece! Fizemos a horta, e foi a melhor da vovó. Ela amou aqueles nabos.

— Entrou em uma competição de legumes e verduras gigantes.

— Segundo lugar.

Sorriram. Yaz continua:

— Então concentre-se, Sonya. Não pense na briga, nas brigas, pense naquela tarde, e o que ela significou.

— Quando queremos, podemos. 

Sonya fechou os seus olhos, encostou a testa na porta, e inocentemente assim Yaz também fez, de repente, a maçaneta girou, e o rangido ambas escutaram.

— Yaz! - se encontraram em um abraço forte. 

— Eu te achei. Agora tudo vai ficar bem.

— Como saímos? 

— A Rani me deu instruções psíquicas. - estendeu a mão, e uma pílula metade vermelha e metade azul estava nela. - Vieram nesta forma, engula, e o Anticristo será afastado por alguns momentos, até o tirarmos de você, e a Terra se libertar.

— Não é amargo, é?

— Apenas engole.

Sonya então pegou a pílula, contudo, já aproximando-a de sua boca, uma força invisível parecia estar sobre si, onde uma mão encostava a pílula, e a outra a segurava contra. 

— Não consigo, Yaz!

— Abre a boca. - antes que Yaz pegasse a pílula para por na boca de Sonya, o seu corpo foi arremessado contra a parede, terminando de cara no chão, e vários dos quadros borrados caíram sobre si. Agora, não estavam mais borrados, e todos com a face de Sonya. Yaz levanta-se: 

— Não vou desistir!

Outro empurrão invisível recebeu, onde tombou novamente contra a parede.

— Para, Yaz! - implorou Sonya. - Não quero que te machuque.

— Não posso te deixar assim! 

— Mas vai! - os olhos de Sonya se reviraram, tornando-se brancos, e uma voz grotesca soou dela, que arrepiou a mais velha. Sonya atira o remédio para longe, e prossegue:

— Já estou entranhado demais nesta mente vazia e solitária. Tão vazia, tão solitária, tão… Precisando de você.

— Eu estou aqui!

— Muito tarde. Sonya precisou muito mais, e muito antes.

— Eu não sabia. - lágrimas Yasmin começou a ceder, e a voz tremeu. 

— Por que acha que ela a chamava tanto a atenção? Ela sempre precisou de você.

— Eu sempre estive aberta! Era só falar o que queria. 

— Não é assim que miseráveis pessoas pedem ajuda. 

— Deixa ela em paz, entra em mim.

— Não.

— Por que não? Estou mais saudável.

— Porque não sou burro, e porque não somos iguais. Vasug, que o nome da besta seja louvado. - estalou os dedos, e um vento absurdamente poderoso sugou Yasmin para a porta que antes estava aberta, para dentro de um breu descomunal, que fechou a porta novamente, onde gritou. Sonya, gargalhou malévola. 

***

 

Na TARDIS da Rani, Yasmin desperta-se do transe interpatico. A Rani encara-a esperando boas notícias, e antes que a humana dissesse, apenas começou a operar o console de inúmeras formas possíveis. A Rani repreende:

— Pare! Esse daí não! Nem esse! O que está fazendo!

— Vasug, que o nome da Besta seja louvado. 

— Mas que inferno! Eu sabia, como o meu cachorro dizia; "nunca ouça os humanos"! 

Yasmin desapareceu em um clarão de luz, e a Rani segurou-se no console, já que a TARDIS ficou agitada, e o rotor do tempo subia e descia mais furioso do que sempre. Já o monitor, trazia outra não muito agradável notícia: 

— Rumo ao sol?! - arregalou os olhos.

A Senhora do Tempo fazia de tudo para parar a viagem, mas nenhum comando lhe obedecia, nada queria fazer efeito! 

— Eu vou morrer! Eu não quero morrer! 

Já na prefeitura de Sheffield, Sonya levanta-se do chão, e nota a loira já não estar mais algemada. Ela quem estava! 

A loira manipulava o conversor de energia, e notou a outra acordar:

— Acabou. Todo o mundo está liberto. - os seguranças haviam saído da hipnose, por isso a liberdade da Doutora.

— Estava, você quer dizer. 

Os dois homens mudaram as feições, como se dor física e amargura mental os corressem, e ambos proclamaram: 

— Vasug, que o nome da besta seja louvado!

— Não! - fez careta a loira. – De novo não.

— Sua derrota foi avisada, Doutora. - levantou-se Sonya. 

— Já disse que tenho amigos brilhantes? Por que tenho, até logo! - apontou a chave de fenda sônica, que fez o conversor jorrar correntes energéticas para todos os lados. A anticristo e os homens se esquivaram em defensiva, enquanto a gallifreyana, correu sala afora, descendo das escadarias, e com o seu celular na mão, com mensagens de Graham e Ryan, sobre a esperarem na despensa. Vários seguranças começam a persegui-la, e Sonya também não pretendia se manter parada. Pelos corredores, a loira se esquiva de disparos, arpões, e até bombas de sonífero e sprays de pimenta, mas viu-se cercada no lado de fora também, já que das janelas as multidões clamavam o abençoado ou maldito nome de Vasug.

— Não pode ser.

— Doutora?! - Ryan e Graham saíram de uma cortina. - Vem?

A loira foi, e cochichou:

— Estamos ganhando, diz que sim? 

— Parece que estamos ganhando? - Graham respondeu.

— Seu anticlimático! 

— Realista. - os 3 se teleportaram para o velho restaurante em Utah.  - Fui na NASA e Ryan no espaço, e por todos os lugares, as pessoas não param de falar aquelas palavras malditas. Estou quase enlouquecendo.

— Seja forte. E por que o Ryan está tão quieto?

Ryan, então quebrou o silêncio:

— Vasug, que o nome da besta seja louvado. 

Graham e a Doutora encheram-se de pânico, mas logo Graham sofreu a mesma leitura corporal que os dois seguranças, e replicou para a loira: 

— Vasug, que o nome da besta seja louvado.

— Não, vocês não…

Graham e Ryan clicaram em seus manipuladores, seguraram a Doutora, e retornaram à prefeitura. A cortina foi puxada, a Doutora se espremeu assustada na parede, e em sua frente Yasmin e sonya, sorridentes e debochadas:

— A luz traz vida, a luz traz morte, o fogo queima, mas Vasug queima o fogo. Vasug, que seja louvado o nome da besta, que seja louvado o nome da besta, que seja louvado o nome da besta.

— Não. - Não queria crer. - Todos, menos os meus amigos… 

A Doutora estava em seu apocalipse. 

 


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Notas finais do capítulo

E agora Doutora, o que fará? Next time: O Apocalipse da Doutora parte 2
Desde que decidi retornar com a história queria esse tipo de desafio, algo tão caótico que a Doutora ficasse absolutamente desesperada e desamparada, como no final da quinta temporada, então pra um capítulo ser o apocalipse da Doutora até seus amigos teriam de ser pegos.

E ai, capítulo corrido né? Essa história desde o início foi pensada para ser rápida, ou parecer. Assim como são os episódios dessa doutora, frenéticos e energéticos. A maioria deles eu não gosto muito, ou não gosto, mas gosto da vibe.
Essa Margaret Cho é uma humorista de stand up e imaginá-la caracterizando uma Rani mais engraçada e ao mesmo tempo parecida com a clássica, foi irresistível. Das 3 Ranis da fanfic, esse é minha favorita. 3 porque caso não se lembre teve a curta aparição da Rani da Guerra no cap 7.
E sim, esse restaurante em Utah é aquele da sexta temporada. Está aqui porque gosto dele e porque é como se fosse um lembrete para a Doutora, pois no dia da lua o Doutor venceu o impossível também.



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