Adrien adentrou o seu quarto dando um longo suspiro. Finalmente o dia tinha acabado. Porém antes que pudesse pensar em pegar a toalha e tomar um bom banho antes de ir dormir, se deparou com Ladybug sentada em sua cama.

— Marinette?

— Oi.

— Aconteceu algo?

— Não, eu só... Queria conversar. – olhou para o lado, fazendo com que Adrien notasse que havia algo a incomodando.

— Ah, claro. Eu só vou tomar um banho, pode deitar se quiser. – Marinette assentiu e o loiro pegou sua toalha e foi para o banheiro.

— Spots off! – desfez a sua transformação e foi direto para a cama do namorado, ficando escorada nos travesseiros e em baixo das cobertas.

Enquanto isso, Tikki pegou um biscoito que havia no pote – que Adrien tinha separado para quando a kwami viesse. Depois de comer, voou até a almofada que Plagg dormia no sofá e deitou junto com ele.

Marinette suspirou e escorou a cabeça no móvel, criando coragem para conversar com Adrien. Não é como se não tivessem intimidade para falar de inúmeras coisas, só que mesmo assim não parecia tão fácil.

Não queria parecer uma namorada controladora, que quisesse saber exatamente aonde o namorado estaria em um determinado momento – até porque não tinha razão para desconfiar dele. Porém algumas coisas precisavam ser esclarecidas, Marinette precisava de respostas. Não queria cometer o erro de não conversar com Adrien e acabar tirando conclusões precipitadas.

Depois de um tempinho, o Agreste saiu do banheiro com a toalha na cintura – tinha até esquecido de levar a roupa. O quarto estava escuro, exceto pela luz da lua que entrava pela imensa janela – que mesmo com algumas nuvens no céu, ainda iluminava o cômodo, fazendo com que Marinette ainda sim conseguisse enxergar o namorado.

A garota mentiria se dissesse que visão de Adrien de toalha e com os cabelos loiros meio molhados, não tinha a feito suspirar. Ela nunca tinha o visto dessa maneira. Mesmo que ambos tivessem dezessete anos, a relação dos dois não tinha avançado muito e Marinette tinha receio que, com tudo que acontecia em suas vidas no momento, talvez não conseguissem avançar tão cedo. Mas isso não era o fim do mundo para ela. Desde que estivessem juntos, nada mais importava.

— Eu só... Vou me vestir e já volto. – o loiro pegou suas roupas de dormir e voltou para o banheiro. Então Marinette soltou a respiração que não sabia que prendia.

Segundos depois, Adrien voltou com seu habitual pijama, calça de moletom cinza e camiseta preta. Sem dizer nada, se acomodou ao lado da namorada, na mesma posição se escorando nos travesseiros e não deitando completamente.

— Eu estou preocupada. – Marinette começou e Adrien finalmente a fitou.

— Não precisa. Tenho certeza que fez a escolha certa e os portadores...

— Não, não é isso. Estou preocupada com você. – olhou para o loiro, que não reagiu por conta da surpresa – Por que não me contou que tem faltado aos treinos de esgrima?

— E-Eu... Como... Como você sabe?

— Kagami. – ele se surpreendeu novamente – Ela veio me falar, pois estava preocupada com você. E pode culpa-la por isso? – era um pergunta retórica.

— Marinette...                                       

— Eu estou chateada com você, Adrien. Porque eu soube da sua vida por outra pessoa. Eu não imaginei que houvessem mais segredos entre nós, mas acho que me enganei. – dizia em um tom magoado, não irritado. Não queria brigar, só esclarecer as coisas.

— Me desculpa, de verdade. As coisas têm sido difíceis, eu..

— E se você está faltando aos treinos de esgrima, que é o que você mais gosta, à que mais está deixando de ir? – Adrien se calou e desviou o olhar, como uma confirmação silenciosa da teoria que a azulada tinha sobre ele estar faltando à todos os compromissos. – Eu entendo que as coisas têm sido difíceis, entendo mesmo. Mas já vimos aonde as mentiras levam. – Marinette se segurou para não chorar. Estava sobrecarregada com os problemas e ainda mais essa pequena discussão com Adrien. Ela só queria que tudo voltasse ao normal, no entanto, nem sabia qual era o normal. Tudo estava tão confuso e ela sentia que a sua cabeça poderia explodir à qualquer momento.

— A última coisa que eu queria era te magoar. Assim como você quis me poupar aquele dia, eu escondi isso porque também queria te poupar. Não queria você preocupada com os meus problemas. – admitiu.

— Seus problemas, são meus problemas. E eu sei que parece a mesma coisa, mas eu não te deixei por dentro de uma luta, você não me deixou por dentro da sua vida. – Adrien olhou para o lado novamente, se sentindo um idiota por simplesmente não ter contado a verdade. De todas as pessoas, Marinette com certeza era a que mais o entenderia.

Mas agora chega de omitir. Falaria tudo o que estava guardado dentro de si para a namorada.

— Eu sinto falta da minha mãe.

— Eu sei. Nós vamos...

— Não, você não sabe. – falou calmamente, não queria parecer rude, pois não era a intenção – Eu sinto muita falta dela. E a pior parte é saber que ela está lá e eu só não sei como trazê-la de volta. Pode imaginar como eu me sinto depois de ter recusado isso quando usamos o poder total dos nossos Miraculous juntos? – nesse momento Marinette deixou que algumas lágrimas rolassem pelo seu rosto.

— O poder tem um preço.

— Talvez eu estivesse disposto a pagar. – deu de ombros.

— Não diga isso. – não podia nem sequer imaginar que algo acontecesse ao seu amado.

— O fato é que eu fico lá em baixo com a minha mãe durante horas. Eu conto sobre o meu dia, sobre os meus sentimentos. Me sinto mais próximo à ela. – fitou a azulada, também deixando que algumas lágrimas escapassem. – Só que não é a mesma coisa.

Marinette se sentia idiota por ter brigado com ele. Só que ambos estavam guardando sentimentos demais dentro de si e isso não era saudável.

— Me desculpa, Adrien. Principalmente por achar que eu entendo a sua dor, quando na verdade ela é bem pior do que eu imaginava. – fungou e segurou a mão do namorado. – Eu vou te ajudar a trazer sua mãe de volta. E não vou descansar até conseguir, eu prometo. Vamos fazer isso juntos, como sempre. Eu te amo, Adrien. – sorriu de leve e então o loiro se ajoelhou na cama e inclinou o seu corpo para o lado da garota, em seguida segurou o rosto dela. – Sem mentiras e segredos.

— Sem mágoas. – encostou sua testa na dela – Eu também te amo, Marinette. Vai dar tudo certo, eu sei. – ela assentiu e beijou o loiro calmamente, sendo retribuída logo em seguida. – Eu não sei o que eu faria sem você. – disse e voltou a beijá-la, porém de um jeito mais urgente.

***

— Marinette, você vai se atrasar! – Sabine chamou pela quarta vez e enfim decidiu checar a filha. – Marinette, por que você ainda está na cama?

— Eu não vou ir hoje, estou com muita dor de garganta. – falou baixo.

— Ah, tudo bem. Você quer que eu busque um remedinho?

— Não precisa, eu já tomei.

— Quer um chá então?

— Pode ser. Muito obrigada, mãe.

— De nada filha, eu volto logo. – sorriram uma para outra e Sabine voltou para a cozinha.

Marinette pegou seu celular e enviou uma mensagem para Adrien e Alya, avisando que estava com dor de garganta e por isso não iria a aula.

Não era uma total mentira, a chuva que tinha pegado entregando os Miraculous contribuiu para uma pequena dorzinha, mas tinha condições de ir na aula mesmo assim. Só que ela não queria.

Bom, na verdade ela não queria ir em muitos dias. Só que hoje, a azulada planejou tirar o dia para pesquisar sobre o que poderia fazer em relação a mãe de Adrien. Tinha prometido ao namorado que ajudaria, então cumpriria sua promessa.

A grande questão é que seria complicado, pois não é todo dia que seja acha um artigo sobre como ressuscitar uma pessoa. Muito menos sob condições de Miraculous danificados. Então, ela teria que fazer uma pesquisa mais específica, para isso, faria o uso da chave reserva da casa de Mestre Fu, que o guardião tinha dado a ela. Lá ela encontraria livros e informações que poderiam ser úteis na sua pesquisa, mas é claro, não poderia sair de casa como Marinette.

— Aqui está.

— Obrigada mãe. – pegou a xícara das mãos de Sabine – Depois que eu tomar, vou dormir um pouco. Então...

— Tudo bem, não vou incomodar. Melhoras. – deu um beijo na testa de Marinette, que retribuiu com um sorriso, e saiu.

Marinette começou a tomar o chá, enquanto olhava as redes sociais. Rena Rouge tinha feito uma aparição na madrugada e impedido dois assaltos. A azulada sorriu involuntariamente ao ver que estava tudo de acordo, ao menos até o momento.

Depois de terminar de tomar a bebida quente, Marinette acordou Tikki e contou sobre o seu plano. Em seguida, se ajoelhou ao lado da cama e pegou a caixa de Miraculous, já que também não poderia sair como Ladybug e atrair atenção – de Adrien, principalmente.

A garota guardou os brincos na caixa, em seguida, pegou o Miraculous do rato e colocou o colar, liberando o kwami cinza.

— Olá, Marinette.

— Olá. – se cumprimentaram com um sorriso – Vou precisar trazer a Multimouse de volta.

— Então é só dizer as palavras mágicas.

— Mullo, chase on!