Pagã escrita por Helly


Capítulo 2
Peter perdendo Wendy


Notas iniciais do capítulo

Eu revisei o capitulo um, adicionei algumas coisas no POV da Tenten para ficar mais coeso.
Esse é um dos meus capítulos favoritos da Ino.


CAPÍTULO REVISADO 05/01/23


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Quebra de tempo muito grande

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Quebra de tempo em minutos ou horas

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Quebra de tempo curta 

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Mudança de POV



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 “A decepção nos pega de surpresa

Apesar de que agora eu acho que deveríamos perceber que

Todo mundo é burro (burro, burro, burro, burro, burro, burro, burro)”

Dumb Dumb – Mazie

 

INO YAMANAKA

 

PRINCESA dos javalis malignos, futura imperatriz do deserto, noiva de um homem que quase não vejo, a mais perfeita da porcaria do plano espiritual dos deuses, cobiçada por muitos, deusa da beleza florestal, futura deusa da natureza, deusa dos filhotes, das brisas suaves da floresta, das flores, dos lagos e dos beija-flores. Nunca Ino Yamanaka, uma mulher de vinte e dois anos com sonhos e vontades. Todos esquecem que possuo sentimentos ou simplesmente esquecem que eu existo. Seria somente mais uma deusa menor sem o meu noivado, e que noivado belo o meu. Antes gostava disso, da atenção e inveja que recebia de outros deuses e deusas e possuía esperanças de meu noivo me tirar de perto da minha mãe. Agora tudo me irrita e é vazio. Estou cansada, com tédio e infeliz. Suspeito que botava esperança demais que alguém viria me resgatar do cotidiano enfadonho que possuo.

Pelo reflexo do espelho vejo minhas servas entrando segurando outra caixa de ouro. Deus do deserto, dos fantasmas, da morte, do ouro, entre outras coisas que fiquei cansada e tediosa demais para continuar lendo e gravar; em resumo, esse é o meu noivo invisível mandando sinal de que ainda está vivo. É impressionante como o deus da morte ainda não morreu depois de tudo que aconteceu ao decorrer da vida dele. Realmente, só ele sendo a morte para explicar o fato de estar vivo.

Outro dom legal dele, me matar de tédio, é me mandar presentes sem nunca ter conversado comigo por mais de um minuto. Não sei como as servas conseguem guardam tanta tralha. Se fosse um presente vindo do coração, que ele desejasse me dar com corpo e alma, Gaara teria vindo pessoalmente. Apoio o meu cotovelo na penteadeira e a cabeça na mão.

— Minha senhora. – elas se curvam. – Meu senhor pediu para entregá-la.

— Vocês já sabem o que fazer.

 Faz tempo que demonstro o meu descontentamento sobre ele não vir me ver. Custa tirar alguns minutos para a noiva? Tiro o colar que ele me deu e jogo na penteadeira. Ignoro as servas e ando para fora do quarto. Estou morrendo sufocada, afogando no mar da mesmice e invisível. Abro os braços, a fumaça surge dos pés e sobe até a cabeça e no lugar do meu corpo surge um beija-flor roxo no meio da fumaça lilás. Voar é o mesmo que andar, você nunca esquece.

 Há um lago no meio da floresta, pequeno, porém magnífico. É desse lago que os Yamanaka surgiram e possui o principal traço dele, o azul cristalino da água nos olhos. O reflexo do céu no lago tira o ar de qualquer um, menos o meu. É um ciclo que cansa, passarei a tarde toda no lago fazendo nada e depois voltarei para casa, onde não farei nada além de comer, tomar banho e dormir. Estou presa, literalmente, nesta rotina tediosa e nada e ninguém consegue tirar isso de mim.

A próxima senhora do grande deserto de Suna não pode sair da sua residência, há muitos traidores desejando o trono. Por isso deve ficar presa dentro do castelinho, como uma boa bonequinha, e voar em uma área estabelecida pelos carcereiros por tempo indeterminado, como um belo pássaro preso em uma gaiola.

Costumo voar acima da floresta, a graça de voar entre as árvores morreu há muitos anos atrás; é tudo a mesma coisa há séculos. Pouso na frente do barquinho, um presente de noivado do papai, que há no lago. Transformo-me de volta e entro no barco. É quase como uma carruagem florida e roxa. Deito fechando os olhos, na maioria do tempo eu durmo. O que mais poderia fazer? Não há nada que uma prisioneira possa fazer em um lugar sufocante e idêntico.

Os deuses aqui estão presos nesse plano astral divino, em uma eterna noite de outono. Nós, os deuses da natureza, finalmente estamos sendo apreciados graças ao fato do tempo ter parado para o mundo – não para nós, os deuses continuam envelhecendo. A maioria trabalha se esforçando ao máximo para que a vida nos bosques, florestas e das flores não acabe de vez; até porque não tem como recuperar as que morrem. Eu faço parte da minoria que não trabalha, até porque eu estou presa dentro de uma outra prisão.

 O farfalhar das flores quebra todo o padrão que sigo. Fico alerta, fiquei paranoica com as coisas que as servas falaram e como eu morreria nas mãos dos inimigos do meu noivo. Aparentemente já sofri ataques sem saber.

Seu cabelo é o que mais chama a atenção, vermelho vivo, e seus olhos são duas safiras na sombra. Deslizo a mão para a parte de baixo do estofado, a adaga que roubei de papai pica a ponta do meu dedo, que segue até o punho. Foi inevitável cortar a ponta do dedo. O homem dá o primeiro passo para longe das sombras que o cercam, o sol toca primeiramente na caixa em suas mãos, ouro, protejo os olhos contra o reflexo de luz que vem em direção aos meus olhos. Essas caixas de Sunagakure sempre refletem a luz do sol.

— Vim lhe trazer pessoalmente este presente, como foi solicitado por você.

O timbre da sua voz entra suavemente em meus ouvidos, rouca, baixa e serena; isso resume a sua voz. Crispo os olhos em sua direção, eles devem me achar muito burra para acreditar nisso. Nunca que a morte do deserto é alguém bonito e sereno; pelo que lembro, Gaara era muito estranho. Seu cabelo era desgrenhado e sua expressão sempre fechada dava um ar de assassino perverso.

— Vá embora, não direi a ele que você tentou me atacar. – o homem sorri de lado.

— Realmente errei em não me apresentar corretamente depois do noivado. – o vermelhinho se curva e volta com os olhos amarelos como ouro líquido. – Meu nome é Gaara Sabaku e eu sou o seu noivo. Vim fazer o que você pediu, trazer pessoalmente o seu presente.

Meu padrão é quebrado novamente, e isso é animador. Engulo em seco, a adaga some da minha mão com o solavanco do barco. Areia do deserto surge de várias direções. Somente uma pessoa tem poder para fazer isso, Gaara. A areia guia o barquinho em direção a ele, isso só pode ser um sonho. De maneira estranhamente gentil a areia me tira do barco e pousa na frente dele. Sua cabeça está virada para o lago, me dando uma mostra do seu perfil belíssimo e extremamente marcante e masculino. Suas enormes mãos estendem o presente na minha direção. Não era assim que eu esperava receber um presente de suas mãos, abro a boca para descer o sermão nele, entretanto, o forte rubor na sua bochecha me faz sorrir.

Aproximo o meu rosto para averiguar melhor as minhas suspeitas. Gaara é alto, então praticamente tenho que olhar para cima e isso me dá uma visão privilegiada da sua boca e bochechas. Meu noivo deu uma guinchada – só pode ser essa a explicação – durante a adolescência, fui maior que ele dois dedos.

— Você está envergonhado?

— N-não. – sorrio vitoriosa. Esse é o meu efeito nos homens.

 É fofo o rubor nas suas bochechas, isso o deixa mais sensível, mais doce e... Humano? Deus? Somente sei que isso não o faz parecer o guerreiro demoníaco sem coração que ele era. Gaara tem a aparência de um homem forte e traços bastante únicos, nunca tinha visto um homem tão bonito assim. Pego a caixa e a abro sorrindo, o brilho da estrela ilumina onde quer que eu olhe com o brilho azul e incansável. Esse presente é diferente. Minhas sobrancelhas se franzem em descrença, isso é o mesmo que uma pepita de ouro para os humanos.

— Meu pai fez essa estrela para achar o seu caminho para casa em toda caçada. Ao achar a estrela você acha o seu amor, foi o que minha irmã disse.

— E por que você está me dando? – suas bochechas atinge a tonalidade do seu cabelo.

— Porque vou achar o caminho para você, o caminho... – Gaara respira fundo antes de retornar a sua frase. – O caminho para o meu amor.

 De maneira involuntária a minha boca escancara. Essa é a primeira vez que ouço alguém me chamando disso, sempre fui chamada de bela, jóia, graciosa, magnifica, marco na beleza ou deusa das deusas. Nunca amor, nem sabia que poderia ser o amor de alguém. Todos só viam a minha beleza e só elogiavam a minha aparência. Meu coração acelera mais e mais a cada segundo. Eu sou o amor de alguém, isso é tão louco e surreal, fecho a boca em uma tentativa de esconder o sorriso, o que acarreta comigo ficando com um biquinho. Antes que pudesse perceber seus lábios estavam tocando os meus em um selinho castro. Ele está destruindo a minha tediosa rotina como destruiu os inimigos em batalha, impetuosamente. Gaara encosta a testa na minha.

— O que eu posso fazer para deixá-la feliz?

— Como assim? 

— As servas me contaram que você anda triste e quase não faz nada.

— Esse lugar me sufoca, morro lentamente a cada dia.

— É para a sua segurança, temo que a ataquem.

— Deuses não morrem. – sorrio sagaz, pela primeira vez o senhor fodão está errado. – Pelo menos não nesse plano e não completamente.

Não é o mesmo morrer que os humanos, a nossa forma física simplesmente para de existir e voltamos a ser parte da existência por um tempo, os deuses da natureza voltam a ser a brisa suave que balança as flores e a água gentil que as banha. Mas não é algo eterno, uma hora voltamos a assumir a nossa forma física e voltamos ao ponto de partida. É quase o mesmo que a reencarnação humana, a diferença é que não fazemos isso para nos purificar e evoluir espiritualmente, só fazemos para descansar e dar a oportunidade de outros deuses fazerem o mesmo trabalho que nós fazíamos.

— Eu sei.

— Eu quero ser livre, não quero voltar para esse castelo e muito menos viver nesse tédio.

— Não posso tirá-la daqui ainda. – seu tom penoso só piora tudo.

 Afasto-me dele, indignada com a rapidez que sua verdadeira face voltou. Nunca pedi nada, somente isso e ele me nega? Que tipo de casamento será o nosso? Comigo presa dentro de algum lugar e ele vagando livremente pelo plano? Não, eu não quero viver presa. Posso caçar com ele, mesmo odiando isso, pelo menos estarei vivendo e saindo de dentro dos meus limites estabelecidos por todos.

— Cuidado! – encolho com a possibilidade de um ataque.

Nada, absolutamente nada. Não acredito que ele fez isso, me assustou para ter razão, ou seja lá o que for isso. Volto-me furiosa em direção a ele, porém não o encontro. Os seus soluços atraem a minha atenção, ele está na borda do lago com as mãos dentro. O lago inteiro brilha em azul vivo, a estrela. Receosa observo a caixa de ouro vazia em minhas mãos.

Areia começa a ressurgir do nada em uma abundância assustora, isso não é bom. A culpa me preenche, o pai dele o prendeu por anos dentro de uma caverna, que inundava a noite, no deserto por punição – a mãe dele entrou em um tipo de sono profundo para ele nascer um deus. Deixo a caixa ao seu lado, afasto o barco e mergulho. Nado em direção à única coisa que brilha no lago e pulsa em vida. Essa estrela realmente brilha, cada cantinho do lago é iluminado e não resta uma única sombra sequer. Amor, essa é a coisa que mais se aproxima do amor dele. Minha barriga gela, sou amada. Eu nunca fui amada, isso me assusta um pouco.

 Meu passatempo favorito na infância era nadar o menor tempo possível até o fundo do lago, por isso, como um peixinho ligeiro, alcanço rapidamente o fundo. Deuses não se afogam, no máximo sentem um desconforto no peito, e são difíceis de matar utilizando água. Toco no meu presente único, é quente e leve para algo que se assemelha com um diamante. Fico alguns segundos olhando o brilho incessante, é único e singelo.

 Pego impulso com os pés para voltar mais rápido. À medida que vou subindo a imagem de Gaara vai sumindo, contudo, não é isso que chama a minha atenção, a areia tenta a todo custo entrar na água, mas falha miseravelmente. Fecho os olhos para não entrar areia nos meus olhos. A primeira parte que emerge é a minha mão com a estrela, logo a areia e Gaara tragam o resto do meu corpo para fora da água. Sou surpreendida novamente pelos seus atos, ele ignora completamente a estrela e fica repetindo inúmeras vezes: Você voltou, você está bem. Suas feridas ocasionadas pelo, hum, como dizer, cárcere são mais profundas do que pensei.

— Eu peguei a estrela. – eu esclareço, serena para acalmá-lo.

— Você poderia ficar presa ali. – ele diz aflito.

— Não. – recupero o ar, mesmo não morrendo ficamos ansiosos quando submergimos por bastante tempo. – Não poderia, viemos daqui.

— E o que impede de ficar presa?

— Um Yamanaka nunca regressa. – com todo o orgulho, pronuncio o nosso lema.

— Isso não faz sentido. – sou puxada contra o seu peito.

 Sua blusa de seda preta fica encharcada com a água que pinga do meu cabelo e vestido. Gaara tem um cheiro forte e peculiar; como madeira, depois de muito tempo sem chuva. Fecho os meus olhos e sinto seus batimentos, estão rápidos e descompassados.

— Está tudo bem. – acaricio o seu braço. – Eu estou bem.

 O que é isso que ele está causando? Meu corpo está agindo estranho, me traindo. Essa é a terceira vez que o vejo, antes éramos somente adolescentes e ele era uma incógnita. Ao mesmo tempo em que tinha a figura do predador, Gaara tinha a figura de uma corsa inocente em seus olhos; ele é o maior contraste que já vi. Não acredito em amores a terceira vista, deve ser as expectativas sendo quebradas e esse... Homem acabou sendo algo inimaginável perto da expectativa. Será que as bochechas dele estão vermelhas? Achei tão fofinho. Ele não estava com as bochechas vermelhas, mas quando passei a encara-lo a cor veio devagarinho. Fico na ponta dos pés e beijo o seu nariz. Gaara é um homem traumatizado, que aparenta crer que a morte me persegue – e realmente persegue. Tentarei manter contato com ele, pessoalmente ou por meios de cartas. Pelo menos assim devo sair um pouco do tédio. Não é tão difícil assim fazer uma carta.

 

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 “Querido Gaara.”

Não muito nojento, odeio a palavra “querido ou querida”, mamãe diz essas palavras com desdém e para diminuir os outros. É muito difícil fazer uma carta, nem consegui sair do que o chamarei. Amor? Não, ainda não. Anjo? Ele já lutou contra os anjos de Hamura e não acabou bem para o pessoal de Hamura. Chucrute? De onde eu tirei isso exatamente? Ae, as humanas chamavam os maridos disso. Meu doce noivo? Eca, não, muito meloso. Fofinho? Eu o chamei disso, quando ele ficou aos nossos cuidados por um tempo na adolescência, e ele não reclamou. Decidido, fofinho.

Oi, fofinho.”

Não, já não gostei, muito vago e íntimo demais com “Fofinho”, o “Oi” deixou mais ainda. Se Satomi estivesse aqui, ela saberia o que dizer. Minha melhor amiga era uma humana com dom dos deuses, algum deus primordial deu a bênção para a linhagem da família dela, e a louca fugiu do seu noivo. Satomi era a única que podia nos tirar daqui, agora teremos que esperar o portal abrir novamente para ver se alguma noiva consegue entrar. Satomi foi a minha última amiga, no momento não possuo amigos e ninguém para confiar. Mantendo essas cartas com ele, e acreditando nas suas últimas palavras antes dele ir embora, de que ele virá todo final de semana me ver; finalmente terei alguém com quem conversar. É, vou deixar a carta fluir.

Olá Gaara, como anda a sua caçada? Pegou algum javali? O que você está caçando dessa vez? Desde que você foi embora, a sete luas, estou abrindo os seus presentes, acredito que ainda nem cheguei à metade. Você realmente gosta de dar presentes. Amei o vestido branco, Shay disse que esse foi o primeiro vestido que você me deu. Espero a sua carta ansiosamente.

Com amor.”

Amor? Não sei. Um “Ino” fica vago, as pessoas botam “Com amor” para os noivos. 

Com amor da sua noiva.”

É, vai assim, no caso dele não lembrar que estarei enviando cartas. Mamãe ensinou a sempre estar presente na vida do marido, obedecê-lo e marcar território. E eu sou loba? Sou uma deusa, não corro atrás de ninguém. Eu quero um amigo e não alguém para resguardar como se fosse a última carne durante a grande fome. Seguro a carta e reviso, está ótimo para uma primeira vez. A carta é retirada bruscamente das minhas mãos, o enorme cabelo marrom e a roupa vulgar denuncia quem é, mamãe.

— Você chama isso de carta? – mamãe amassa a carta e joga pela janela.

 Hwasa é má com todos, somente Satomi foi a exceção, até papai sofre nas mãos delas. Desde pequena fui criada para ser algo que nunca quis ser e com princípios um tanto duvidosos. Todas as vezes que me empolgava com algo que amava, mamãe fazia questão de menosprezar tudo e diminuir cada vitória minha. Foram inúmeras vezes que chorei por sua culpa, ela sente prazer em ser melhor do que eu. Depois de muito tempo aprendi como lidar com ela, bem básico até. Levanto da cadeira e me transformo em beija-flor, fugir é a melhor resposta.

Não poderei ir para o lago, ela me encontra facilmente lá, só há um lugar que consigo fugir de Hwasa por muito tempo. Voo o mais rápido que consigo.  O Limite é como o lago; ninguém vai, ninguém gosta. Ninguém quer ver a liberdade perdida naquele mundo. Mas há algo naquele mundo que me fascina; as crianças, as danças, as músicas, os heróis em seus cavalos, os vestidos sempre tão belos e o milagre da criação da Família Sagrada. Nascemos para protegê-los e preservar o que os nossos ancestrais criaram.

Da semente de Aru, o deus primordial da criação, veio à primeira humana. Bastou sua semente tocar a árvore da vida e logo após na boneca de argila que Megami, a deusa da morte, tinha feito para a filha, Kaguya. Vendo algo belo e pequeno como a humana, Aru impediu de serem ceifados por Megami. A deusa tinha um pé atrás em relação a humana, entretanto, sua filha amou ver uma mulher sem ser a mãe e ela. Vendo a criatura frágil que surgiu, Megami aceitou abençoar os humanos com uma parte de sua alma, que é o ar, mas a humana era só, assim como os deuses. Aru e Megami decidiram fazer mais e assim povoaram a terra, que antes era o seu jardim e somente os animais habitavam. Com o tempo eles pararam de criar e os humanos passaram a criar entre si. Vendo o dom da vida nos humanos, ela passou a vê-los como filhos. Depois de trezentos anos veio o grande extermínio que os filhos dos primordiais criaram, os tempos sombrios veio logo após e foi nessa época que fomos criados. Eram poucos os humanos que viviam, depois da queda e a vitória de Rikudou, a terra passou a ter uma cicatriz horrível, a Guerra, fome e o caos – os sinais que os filhos dos primordiais passaram por lá.

 A família Yamanaka não existia nessa época, somente os deuses primordiais como a deusa maligna Kaguya. É estranho isso, não morremos, apenas passamos os nossos poderes o próximo e viramos parte da criação até renascer. Possuímos um início, um meio e o recomeço; nunca um fim. Os descendentes de Rikudou são eternos e existem para cuidar do jardim e dos humanos.

Já o inimigo, descendentes de Hamura, são responsáveis por cuidar do renascimento espiritual dos humanos, entretanto, eles queriam mais. Os “anjos de Hamura” entraram em guerra contra os deuses de Rikudou-sennin. Eles tem uma morte complexa, que até hoje não compreendo; mas é um tipo de coma. Por isso eles evitam “morrer” e possuem um grande medo chamado: Gaara No Sabaku.

Gaara era somente um adolescente revoltado que saiu do cárcere, os anjos temiam até a sua sombra e seu nome, tanto que evitavam falar. Diziam que se voc~e falasse o nome dele em voz alta, atraia a morte para si e para todos ao seu redor. Nessa época ele não era a morte ainda, mas já era temida a hora que ele virasse. A única vez em que ele foi ferido em guerra foi na Floresta de Rikudou, denominada hoje de A Floresta da Morte – em homenagem ao deus que mais matou anjos naquele local. Gaara lutou até ficar exausto, seu sangue dourado brilhava como sol. Foi por causa de seu sangue que o achei, estava vagando em busca de ervas para alguns humanos feridos e o encontrei desacordado. Essa foi a primeira vez que o vi, quando cuidei dele por um mês. Em seus delírios ele chamava pela mãe e não soltava a minha mão. Fiquei cuidando dele junto com alguns humanos até ele melhorar, isso foi décadas antes da nossa ruína. Após ficarmos presos, ele pediu a minha mão em casamento.

 Ah, a prisão. Enganados por Rin Nohara, A Noiva. Os Uchiha tem um incrível dom de se apaixonar errado. A poderosa feiticeira fechou o portão entre o plano dos deuses e o plano dos humanos. Somente alguém sangue do seu sangue, ou com alguma relíquia, que estiver na área do portão quando aberto – uma única vez a cada década – pode passar. A tranca é o amor entre um deus e uma humana, ela julgava que não amavamos nada além de nós mesmos – parcialmente certa ela. Satomi amava Sasuke, até certa época. O amor dela morreu na oportunidade de ter mais poder que teria não estando ao seu lado. Pelo que lembro de Rin Nohara, ela era bela, a mais bela, e fez dois amigos, deuses, lutarem por sua mão. Em algum momento foi corrompida pelo inimigo e deixou de ser nossa aliada. Obito Uchiha vive perto daqui, perto da única coisa que restou dela. Uma traição dói, uma traição de quem se ama dói mais ainda. Rin nos traiu ao ficar do lado dos inimigos e Satomi a nos sentenciar a continuar vivendo aqui. 

Transformo-me e me aproximo do portal. Não dá para enxergar nitidamente o plano dos humanos, o véu da noiva está sempre presente. O “véu” nada mais é do que uma água turva na entrada, ganhou esse nome porque parece um enorme véu dentro de um redemoinho.

O que será que acontece se eu cair dentro do véu? Viro uma Rin Nohara? Teria um véu roxo? O que há do outro lado? Ficaria presa no tempo (De novo)?

Sonho em voltar a ver os humanos, o amor, a esperança, conceder milagres, as florestas e os seus reinos de pedras. Almejo saber se as suas novas cidades continuaram a evoluir. Fecho os olhos, não posso sonhar com frequência, mas posso imaginar e lembrar cada detalhe.

 

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 Espreguiço o meu corpo, cai novamente em um sonho impossível perto do véu. Espreguiço novamente, tem algo duro embaixo da minha cintura. Toco a coisa para estudar, duro, peludo, pulsa, grande e grosso. Em uma olhadela rápida, percebi no que deito em cima. Meus olhos arregalaram lentamente junto ao processo de compreensão do meu cérebro. Um braço masculino. Mas eu estava no véu.

— Acordou cedo. – sua voz consegue sair mais rouca que antes.

— Mas que. – as palavras morrem na minha boca, né que ele é o deus da morte. 

— Temos que conversar. – o brilho em seu olhar muda, não há sentimento acolhedor.

— Que? – ainda estou despertando.

— Por que você foi ao limite? – Gaara volta a me interromper. – Por que dormiu tão perto da beirada? Fiz algo para que desejasse o eterno sono ao invés de mim? Abomina tanto o nosso casamento?

 Muitas perguntas, muitas perguntas. Ainda está cedo e ele vem com isso tudo, preciso deixar as coisas claras para ele. Aparentemente meu noivo é um tanto protetor. Formulando a resposta, formulando, formulando, foi.

— Antes de tudo, não me interrompa novamente. – ergo meu indicador. – Fui lá para me esconder de minha mãe, não lembro o resto das respostas. Não, espera, lembro-me de mais uma. Não Gaara, eu não abomino o nosso casamento e estava até feliz em lhe enviar uma carta.

 O barulho do resto do seu corpo vindo em minha direção congela a minha espinha. Sua mão toca na minha nunca, quente e áspera, que sensação estranha. Uma luta entre calor e frio é travada dentro de mim, algo em mim grita de desejo ardente. A luta cessa no mesmo instante que os seus lábios tocam os meus, uma explosão de calor por todo o corpo. Seus lábios se movimentam timidamente, esse pode ser o meu primeiro beijo, entretanto, Gaara não demonstra a mesma inexperiência que eu. Isso quebra um pouco o sonho que tive de sermos os primeiros um do outro, mas a sensação de preenchimento e paixão domina tudo. Gaara afasta lentamente, abro os olhos e a imensidão verde encara-me com curiosidade. Fico sorrindo toda boba, foi bom e a sensação no corpo com o tempo fica gostosa. Ele suspira aliviado e gruda o seu corpo ao meu. A coberta de seda é a única coisa entre nós.

— Sinto uma felicidade que nunca senti antes. Basta vê-la, pensar que iremos nos casar ou lembrar-me de você e a felicidade enche todo o meu ser. – meus olhos ardem de vergonha e desejo, o que é estranho e nunca vivenciei.

 Escondo a minha cabeça em seu peito. As bochechas queimam sem parar enquanto meu coração dispara loucamente como um cavalo selvagem. O que é isso? Essa sensação de paz, essa sensação de companheirismo. O que esse homem ferido causa em mim exatamente? Sua mão desce e sobe pelas minhas costas, a seda e o tecido do vestido falham miseravelmente em separar o seu toque calorento. Inspiro todo o cheiro amadeirado que exala dele, traços caminhos invisíveis em seu braço desnudo, sua pele é áspera devido a areia. Sempre tive uma meta de homem e Gaara está muito longe dela, entretanto, cada detalhe dele me atrai e me instiga a desejá-lo. Consigo sentir o seu coração ribombando contra o meu tórax.

Nunca fui amada, até agora. São sentimentos estranhos que o amor dele causa. Ele não será um marido como papai, um marido de fachada e distante, somente isso basta para mim. Procuro o meu espelho pelo quarto, desejo ver o nosso reflexo. Esse não é o meu quarto, desvencilho de seus braços e corpo. Que quarto é esse?

 Todo o quarto é em tons escuros e há somente uma cor predominante nos móveis, preto. A cama não possui fronhas de seda em volta, como a minha, e as fronhas são de um tom de ouro sujo. Toda a iluminação vem de quatro tochas espalhadas de uma forma que ilumine o quarto, porém falha; não sei se está de noite ou se a luz realmente não ilumina o suficiente. Aponto para frente e viro para olhar Gaara.

Palavras me faltam. Meu soberano, que peito, que abdômen, que barriga, que gominhos e que corpo. Gaara está sem blusa e estou absorta com tudo isso. Como? Que? Oi? Peitoral? Abdômen? Noivo? Cadê a blusa? Que visão meu soberano, como o senhor me arranja um momento assim? Gaara senta na cama, Soberano da existência! Esse gominhos fica mais... Mais! Principalmente quando o abdômen se contrai.

— Durmo sem blusa, somente de calça, espero que não se importe. – solto uma risada escandalosa.

— Quem sou eu pra me importa. – Continua assim!

— A minha mulher. – senhor soberano, Rikudou, assim o senhor dificulta para o meu lado.

 Toco no peito dele e concordo com a cabeça, rindo maliciosa. Tento parecer que somente estou tocando-o para dizer que está tudo bem, contudo, só quero tocar nisso. Meu soberano, que corpo! Soberano, obrigado por me arranjar um noivo assim. Gaara pode não possuir sobrancelha, porém, seu abdômen vale pelo total. Sem falar do rosto angelical, a Morte do Deserto é algo tão... Sensual. Continuo rindo como uma estranha, que corpo.

Gaara toca na minha mão. Desvia o olhar besta! Deixei óbvio ao encarar, o seu abdômen, que isso me seduziu um pouco – demais de repente. Por mais que vire a cabeça rapidamente, minha mão continua gruda em seu peito como pixie. Desisto, assumo que estou hipnotizada por esse corpo e completamente seduzida pelo encontro maravilhoso que é o seu jeito e corpo. Encaro seu rosto para não olhar diretamente nesse templo por muito tempo, mas isso se prova uma escolha errônea. Gaara sorri malicioso para mim. Não faz assim comigo homem, se não eu me desmonto aqui por completo. Poxa Soberano, achei que era uma deusa boa, por que o senhor está fazendo isso comigo? Pai, às vezes o senhor joga algo na minha vida que é difícil raciocinar.

— Você gostou do meu corpo? – concordo com a cabeça, até porque estou envergonhada demais para falar. – Quando nos casarmos, você o verá assim toda noite.

 Meu rosto queima como o sol. Solto um gritinho fino e deito na cama em um pulo, cubro todo o meu corpo com a fronha. Tudo bem, isso é castigo, compreendo, o fiz ficar assim no lago e agora o soberano me castiga na mesma moeda. Sua risada é gostosa de ouvir, baixo a fronha o suficiente para ver o seu sorriso. Isso com toda a certeza, em todos planos e em toda existência é a coisa mais perfeita que já vi. Seus olhos brilham em algo vivo. A morte e a vida em um único ser.

Gaara joga o corpo em direção a mim, seus braços ficam sobre o meu corpo. Rosto a rosto, Gaara é estranhamente magnífico. Ele mudou a minha visão sobre ele e não foi graças ao seu corpo delicioso. Acho que me apaixonei, por incrível que pareça não foi pelo seu abdômen divino e sim pelo seu sorriso. O jeito dele comigo, a preocupação e o seu amor, tudo me encanta.

 

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 Gaara estava tão feliz com ela, comigo ele não é assim. Apoio no muro; faz tempo que não venho no Limite. A última vez que vim aqui foi há um ano e meio, quando Gaara me levou para sua casa pela primeira vez. Foi uma época boa, como uma primavera agradável depois de um verão, outono e inverno castigadores.

Matsuri para cá, Temari para lá e a burra aqui o vendo preferir elas duas do que a mim. Doeu ver a traidora dizendo que eles formam um belo casal e Gaara simplesmente ficar corado e rindo em resposta. Ele tinha que ter negado na hora! A troca de olhares entre eles era intensa, não queria acreditar no que via, por isso vim aqui. Tenho medo dele ser igual aos outros e ter mais de uma esposa, não aceito isso, quero um amor que pertença somente a dois e não a três ou quatro. Em um ano me afoguei no amor e agora temo que tenha sido enganada por belos olhos verdes e um sorriso encantador.

Não tenho a menor chance. Matsuri tem o apoio de toda a família Sabaku e todos os deuses maiores, todos desejam o casamento deles e anseiam por esse momento como um bebe anseia pelos peitos da mãe. E eu? Meus aliados são deuses menores com corações como o meu e sou uma nada, no máximo uma das deusas mais belas. Matsuri é uma deusa cheia de dons e coisas e eu? Bonita. Ela tem uma personalidade que cativa todos e em segundos todos a amam pelo que ela é.

O jantar de hoje serviu para me lembrar quem eu sou perante a todos. No jantar das famílias principais fomos ignorados, os Yamanaka nunca sofreram tamanha humilhação antes. Mais uma vez Gaara “não viu”, lógico ele não saia de perto da Matsuri e me deixou sozinha no canto. Como poderia ver algo além dela? A perfeita Matsuri e sua família importante. Não sou ciumenta, somente iludida.

Suzuka, a mãe dela e infelizmente a minha tia, piora tudo espalhando seu veneno. Ela e mamãe não negam que são gêmeas, até a maldade delas chega a ser assustadoramente igual. Se Suzuka não se vestisse como uma dama de alta classe, a confundiria com mamãe direto. E se o meu lugar no coração dele realmente tiver acabado e Matsuri pegou para si o que sempre foi dela?

Matsuri não parece uma Chikyu – o clã de nossas mães –, somos dotados de uma beleza sem fim e ela é normal, não há nada de extraordinário nela. Como ele pode olhar para ela e não para mim? Matsuri nem é tudo isso, ela é normal e sem graça com suas roupas marrons. Eu estou impecável com o meu vestido roxo, todos olharam para mim com desejo. Mas só isso, ela que tinha o respeito e admiração, eles gostaram dela. 

 Suspiro cansada. A verdade é que ela me deixa insegura. Matsuri é tudo que não sou, tudo que mais combina com Gaara. Até os costumes, gostos, trejeitos, hobbies e conversas. Somos a vida e a morte e eles são a morte e a morte. Tenho medo de perder o meu amor agora que o possuo. Todos vivem falando como ela seria a rainha perfeita dele e o que o povo de Sunagakure mais precisa neste momento difícil, como ela é a rainha dos sonhos do povo de Suna, do amor que até os mais necessitados de Suna a amam e como eu sou o oposto dela.

 Meu corpo tomba para frente, tenho somente tempo de pegar em uma raiz que tem antes do Véu da Noiva. É uma reação de sobrevivência, que eu não sabia que deuses tinham. Encaro a pessoa fixamente, estou sem reação. Por quê? Por que ela está fazendo isso comigo? O que de cruel eu fiz para merecer isso? Encaro-a chorando, o medo de cair é tanto que não consigo formular uma simples palavra.

Meus olhos transbordam súplicas e dor, coisas que não consigo dizer devido o pavor. Com um galho ela bate no meu rosto repetidas vezes. Onde Gaara está? Por que ele não surge como nas histórias dos livros que li? O mocinho sempre salva a dama. Estou prestes a morrer, ele não sente isso? Uma vez meu noivo segregou que sabe quando um de seus servos vai buscar uma nova alma. Gaara me quer morta? Por que ele não vem me salvar? Ele está ignorando até a minha morte?

— Solte, caia de uma vez. – isso dói.

 Luto para ignorar a dor do galho arranhando meus olhos e minhas bochechas. Não sei ao certo se o que está escorrendo pelos meus olhos são lágrimas ou sangue. O galho some, no entanto, não consigo ver devido o sangue em meus olhos. Não quero morrer, eu não quero morrer, eu não quero morrer, eu não desejo morrer. Finalmente consigo fazer algo, pena que não é de grande ajuda. Por favor, alguem me salve! Eu não quero morrer, não quero morrer, não quero morrer. Socorro, por favor, socorro!

— Socorro! – grito, o pânico de morrer faz as minhas cordas vocais finalmente funcionarem. – Socorro!

 Sangue e lágrimas impossibilitam ver qualquer coisa, no entanto, a garganta está ótima, continuo gritando o máximo que consigo. O baque é dolorido. Solto a raiz à medida que vou desmaiando e caindo no véu da noite. A última coisa que vejo é o seu rosto familiar. Ela teve coragem de empurrar o banco de pedra em cima de mim.

O que fiz para ter tanto ódio contra mim? Quem é cruel ao ponto de jogar um banco de concreto no rosto de uma pessoa indefesa? Então isso é morrer? Os humanos sentem a essência da vida ser aprisionada? Eu esperava paz, sou indigna da paz? A morte está com tanta raiva assim de mim? Por que?

Meu peito queima em brasa com a água que invade a boca. O Véu não passa de um lago que não há como nadar. Pela primeira vez na existência, afogo-me. Os meus sentidos estão fora de controle, desespero reina no meu corpo enquanto o pânico tenta usurpar seu lugar. Devido o desespero tento puxar ar pela boca e nariz e engulo mais e mais líquido frio e azedo. Gostaria de dizer que o que mais dói é isso, mas não. Minha cabeça dói como se estivesse cheia de água e sangue. Inchada de dentro para fora.

Meus olhos perdem a luta conforme a água vai me matando lentamente e só isso faz passar a dor na cabeça e a sensação de inchaço dentro dela. Os relâmpagos surgem cada vez mais altos. A dor latejante nos pulmões pulsa à medida que meu coração acelera. Minha morte deve ser assim porque a morte não me ama mais. Todos tinham razão sobre ele; a morte não é gentil.

Um sobressalto, essa é a última tentativa que o meu corpo faz para viver.

 

 

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“E quando eu senti como se eu fosse um cardigã velho

Debaixo da cama de alguém

Você me vestiu e disse que eu era seu favorito…

Você desenhou estrelas ao redor das minhas cicatrizes

Mas agora estou sangrando”

Cardigan – Taylor Swift

 

INO SARUTOBI

 

 Sento na cama, mamãe está gritando desesperadamente o meu nome. Ela está com a sua camisola favorita e os olhos vermelhos cheios de lágrimas. Aconteceu algo com papai? Com Mirai? Vasculho o quarto em busca do problema. Mirai está na porta chorando compulsivamente, os olhos que ela herdou de mamãe está uma mini cópia agora. Papai. Perco o chão com a possibilidade de algo acontecer a ele.

— Mãe. – só consigo reproduzir um fio de voz. – Aconteceu algo com papai? – ela nega com a cabeça. – O que.

— Ino, meu amor, você está bem? – mamãe passa a mão pelo meu rosto.

— Estou. Mas e o papai?

— Ele está bem meu amor, você que teve outro ataque de choro. – só então percebo que ela limpa lágrimas pelo meu rosto.

 Tento lembrar de algo, mas nada vem à cabeça além de uma leve enxaqueca. Deve ter sido outro pesadelo, só isso para explicar tudo. Mamãe dizia que nos primeiros meses eles sempre acordavam de madrugada com os meus ataques de choros e gritos enquanto dormia. Nunca esperei fazê-los passar por isso de novo depois de tantos anos.

— Acho que foi um pesadelo.

— Ah, meu anjo. – mamãe me abraça. – Eu fiquei tão preocupada ao ouvir o seu choro e gritos.

— Irmã bem? – Mirai sobe na cama.

— Irmã bem. – minha princesa treme da cabeça aos pés. – Desculpa a irmã ter te assustado.

— Sonho mal?

— Sim. – Mirai abraça mamãe e eu.

— Vai passar, vai passar. – ela faz carinho no meu braço.

— Ela atendeu Kurenai. – papai entra desesperado no quarto. 

 O telefone escorrega de suas mãos. Sua respiração está acelerada e os olhos arregalados e amedrontados. Sorrio para ele, foi assim que o vi pela primeira vez. Um jovem policial com cheiro de cigarro e medo dos choros de uma criança. É a única coisa que lembro desta época. O meu sorriso é puramente para aliviá-lo, isso funcionou na primeira vez. Sou uma criatura rara, lembro-me do momento exato que vi meus pais pela primeira vez e não sei absolutamente nada sobre os seis anos iniciais da minha vida.

— Foi um pesadelo, pai.

— Você se lembrou de algo? – papai ajoelha ao lado da minha cama.

Papai ainda caça impetuosamente a pessoa que me largou sangrando no meio da floresta em um dia chuvoso.

— Eu não lembro, nem do sonho e nem do meu passado.

— Tudo bem, minha bebê. – ele limpa algumas lágrimas que teimam em cair. – O importante é que você está bem.

— Que isso? É Assuma Sarutobi chorando?

— Costumo chorar quando a minha criança chora assim.

— Querido. – mamãe lança um olhar repreendedor para ele. – Se lembra, ela é uma mulher.

— Tudo bem mãe, eu sempre serei a criança de vocês.

 Mirai deita ao meu lado. Volto a deitar cercada por eles. Mamãe nos olha com um sorriso amável, a mesma tática que eu. Ela deita a cabeça entre Mirai e eu, papai faz o mesmo. Kurenai e Assuma Sarutobi sempre foram sensíveis quando o assunto é suas filhas. Eles estão envelhecendo bem, quase não mudaram. Quando me acharam, ainda estava com seis anos, não sabiam fazer nada em relação a uma criança, hoje todos os veem como pais exemplares. Quem me olha nem imagina quanto trabalho dei a eles, desde as inúmeras fugas do banho até às perguntas como: Como os bebês nascem? E a terrível: Por que eu fui deixada?

 Há onze anos, Assuma Sarutobi achou uma menina chorona na floresta e, depois de cuidar com amor e carinho no hospital, a levou para casa junto com a sua parceira, ele nunca imaginou que viraria um pai babão. Graças à influência do vovô, na época prefeito, em um mês eles me adotaram. Desde então eles me vê como filha de sangue deles, sinto-me tão sortuda por ter pais tão amáveis e que me querem. Sinto que estou completa e que isso é a coisa mais certa em toda a minha existência. O amor deles fora maior do que tenha escondido no meu passado e me assombra a noite. O amor deles é o bastante para a minha felicidade.

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado



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