Renesmee.

Quando o dia chegou ao fim eu me sentia exausta e não havíamos chegado a nenhum acordo. Benjamin e Leah eram o assunto principal daquela reunião, mesmo que indiretamente. Ele, como o bom curioso que era não se cansou até descobrir sobre o Imprinting e se sentia maravilhado com isso. Já a lobinha o olhava feito boba, mas se sentia igualmente boba por seu objeto de Imprinting ser um vampiro, a raça que ela tanto desprezou durante toda a sua vida. Não demorou a que Jake convocasse a matilha para uma reunião na mansão dos Cullen. Mesmo contra a vontade dela eles precisavam saber do que estava acontecendo e o fato de um vampiro estar próximo demais à suas terras.

— Quando isso acabar vou arrastar você para um bar e te mostrar como mulheres como nós superam esse tipo de situação – sussurrei para Leah, quando ela sentou-se ao meu lado na escada.

Ela riu sem mostrar os dentes.

— Eu já ouvi isso antes.

Concordei com um aceno.

— E depois de você dizer tão sábias palavras eu vivi a noite mais maluca da minha vida – confidenciei. Lê não respondeu. Seu rosto se tornou sério e torturado rapidamente. Ela estava muito tensa com a situação e nada que eu dissesse poderia mudar –  Ele gostou de você.

— É. Mas está partindo em uma missão suicida atrás da ex-namorada na Itália – esbravejou aos sussurros – E como se todo o caos não fosse o suficiente, ela também é uma vampira. Você tem noção que eu não tenho a menor chance de ficar com o meu Imprinting?

— Leah... – comecei a falar mas ela me cortou.

— Não sou de reclamar atoa, Renesmee. Eu gostaria de saber qual é o meu problema de verdade – seus ombros caíram ao lado do corpo – Sam era noivo da prima de seu objeto de Imprinting e conseguiu ficar com ela. Jacob era apaixonado pela mãe do seu objeto de Imprinting e por mais idiota que seja ele conseguiu ficar com ela. Então... qual é o meu problema?

— Nenhum! – afirmei – Você já está desistindo e essa história mal começou, amiga. O Ben precisa ir atrás da Tia, não porque a ama, mas porque ele faria isso por qualquer outra pessoa. Ela quer se entregar para os Volturi, Leah, não há nada pior do que isso para alguém como nós.

— Ele ama ela – rebateu.

Rolei os olhos.

— Ele ama ela sim. Foram décadas juntos, não pode pedir que isso mude do dia para a noite. Mas o fato de não estarem mais juntos não quer dizer nada pra você? A nossa espécie não termina um relacionamento de tanto tempo simplesmente por enjoar.

A quileute ficou quieta fitando o vazio, o que foi o suficiente para eu compreender que precisava de um tempo para digerir tudo o que eu havia lhe dito. Então passei a prestar atenção na conversa que acontecia a pouca distancia de nós duas, na sala de estar.

— Não preciso que ninguém venha comigo – Benjamin rebateu a fala de Carlisle, de forma educada – É um problema meu. Garanto que vou saber lidar com os Volturi, não há motivos para preocupação.

Meu pai pigarreou.

— Devemos isso à você – ele disse – O seu dom é muito útil, mas caso ocorra qualquer contratempo, ter Alice, Bella e eu ajudaria.

— Sem sombra de dúvidas ajudaria, meu amigo – sorriu sem mostrar os dentes – Mas não vou coloca-los em risco. Aro e sua corja os querem tanto quanto me quer.

— Aceite o nosso apoio, querido – Esme pediu, com a voz suplicando de preocupação – Não queremos que nada aconteça com você ou Tia.

No outro canto da sala, Jacob conversava com seus irmãos, que foram liberados após as instruções do Alfa. Com os lobos fora da casa, restaram somente os irmãos Clearwater e o Black.

— Talvez eu possa ir – Leah disse atraindo a atenção de todos para si – Eles não me conhecem.

Desviei meus olhos dela para encarar Jake, que estava à um passo de surtar. Levantei o mais rápido que pude e caminhei até o seu lado, entrelaçando os nossos dedos. Automaticamente senti ele se acalmar.

— Não – Seth se intrometeu, parecendo quase tão nervoso quando o meu namorado – Você ficou maluca?

A morena deu de ombros.

— É uma opção – levantou-se, virando diretamente para Benjamin – Você pode ir sozinho e terminar morto com a vampira. Ou pode ir com os Cullen e os colocarem em risco. Ou eu posso ir junto e agir como um elemento surpresa. Na quase guerra essa era a ideia, né?

Benjamin franziu o cenho analisando a proposta.

— Eu não sei – disse por fim.

— Se você for, eu vou – Jacob disse para ela, e antes que pudesse rebater ele continuou a falar – Não existe a menor possibilidade de eu deixar que você vá sozinha.

— Ela não vai estar sozinha – Ben disse, recebendo uma fuzilada de Jake em resposta.

O clima ficou mais tenso do que antes, de forma que nem o dom de Jasper fosse o suficiente para nos acalmar.

— Bom... então...

— Não termine, Renesmee – Edward me cortou.

— Mas pai... – tentei argumentar.

— Não! – afirmou.

Não precisou de mais nenhuma palavra para que toda a família entendesse o que eu estava querendo dizer e começasse a protestar contra a minha decisão. Até mesmo Jacob e Benjamin entraram no grupo contra Renesmee.

— Jacob não vai sem mim – lhes disse, cruzando os braços na altura do peito.

— Então ele não vai – minha mãe levantou-se, com os olhos presos no meu namorado – Não existe a menor possibilidade de você colocar os seus pés em Volterra, Renesmee.

Bufei.

— E a conversa sobre superproteção? Se esqueceram rápido, né? – provoquei.

Edward começou a massagear as pálpebras, me fazendo acreditar que vampiros sentiam dor de cabeça.

— Você me dá dor de cabeça – respondeu os meus pensamentos – Não é questão de superproteção, querida. É sobrevivência. Mas parece que você não tem o menor instinto pra isso.

Alice pigarreou desconfortável, atraindo a atenção para ela.

— Renesmee está certa – murmurou, recebendo resmungos em resposta – Vão deixar com que eu fale? Obrigada. O que estou tentando dizer é que ela se comportou brilhantemente na floresta enquanto Demetri nos contava da novidade. Com ela por perto, Aro ficaria tão maravilhado que perdoaria tranquilamente o fato de Tia ter se entregado.

— Sem querer nada em troca? – Jasper perguntou para si mesmo – Acho muito difícil.

Dei de ombros.

— Na verdade só há uma forma de sabermos – falei.

— Não – meu pai repetiu.

— Você não vai – mamãe continuou.

— Se Jacob for eu vou – bati o pé impacientemente – Vocês não confiam em mim?

— Sem chantagem – Edward me alertou.

— Não é chantagem, pai! Tia se arriscou por mim há alguns anos atrás, quero fazer o mesmo por ela agora. Sei que somos um Clã... ou melhor dizendo... uma família, e decidimos as coisas em conjunto. Mas eu preciso fazer isso. E não há nada que vai fazer com que eu mude de ideia, tudo bem? Leah vai de qualquer forma. Jacob não deixará que ela vá sozinha. Eu não vou ficar sentada esperando.

O Alfa me fitou com o olhar feroz.

— Renesmee... – o interrompi.

— Você prometeu que estaríamos juntos até o fim, Jake. Não pode pedir que eu me afaste agora – sussurrei o encarando. Em seguida voltei o meu olhar para o restante da família que permanecia incrédulo – Eu não poderia pedir que ficassem longe de seus parceiros. Então, não façam isso comigo. Eu os amo mas já faz algum tempo que comecei a decidir por mim mesmo.

O silencio preencheu a sala e eu soube que os havia convencido.

— Vou arrumar as minhas malas.