A vida não é uma novela escrita por Laila120


Capítulo 1
Capítulo 1




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No ultimo verão antes de terminar o ensino médio, o avô de Ana convidou a passar um mês trabalhando no seu resort a fim de decidir quem vai ser o herdeiro. Começando hoje dia quatro de janeiro, ela será a assistente de eventos do Resort Carmalia.

Enquanto esperava seu chefe trazer sua lista de tarefas, ela resolveu se sentar no balcão da lanchonete Coco Feliz e repassar o mapa do local. Apesar de ela ser neta do dono nunca tinha colocado os pés dentro do resort, pois seu avô foi contra o casamento de sua mãe com seu pai e mantiveram as relações cortadas até alguns meses atrás.

Ana abriu o mapa e começou relembrando as quatro divisões de área: praia, campo, shopping e floresta. Ela riu pensando em como o resort é tão grande que duas pessoas poderiam ficar meses nele sem se encontrar. Quando parou de rir voltou a se concentrar no seu principal objetivo. A garota ergueu os olhos e olhou ao seu redor. Estava na área da praia, um bom local para começar. Estava na principal lanchonete da área, olhou para o mapa e localizou o desenho com o símbolo do Coco Feliz. Ao lado ficava o hotel de dez andares de altura e decoração inspirada no Rio de Janeiro, e na frente ficavam duas piscinas infantis e a piscina de ondas. Se seguisse em frente, atravessando as pontes que uniam as piscinas encontraria a ilha dos toboáguas, ponto de saída dos sete brinquedos gigantes.

Sentindo calor e não podendo pular na piscina, Ana pediu um suco de abacaxi com coco para se refrescar e resolveu estudar a área do campo. Ela localizou no mapa uma pequena fazenda onde os hóspedes podem interagir com os animais, e a área onde ficam os chalés e restaurantes, com comidas e decoração típicas do interior.

O suco ficou pronto e ela resolveu dar uma pausa. Enquanto bebia ficava pensando que tipo de pessoa se hospedaria no hotel enorme que estava na sua frente: provavelmente artistas famosos, como os atores que via nas novelas, e os donos de empresas que vão tirar férias com a família. Quanto mais ela pensava, mais ela ficava curiosa para saber como aquelas pessoas se comportavam, já que nunca tinha conhecido ninguém com tanto poder assim. Se fosse numa novela, com certeza teria um vilão que só se importa com o dinheiro, menosprezando os pobres e um herói que lutaria contra ele para ficar com uma garota humilde... ou talvez não. Afinal, a vida não é uma novela.

Com esses pensamentos Ana virou o seu olhar para o copo, observando como o gelo derretia em seu suco e em como a vida que conhecia ia se desfazendo da mesma maneira até se tornar parte de algo novo como o gelo que se mistura no suco. Isto lembrou-a que esse seria seu último ano na escola e que a partir do ano que vem ela faria parte de algo novo, entraria em uma excelente faculdade e teria uma profissão.

Quando retornou à realidade decidiu ir procurar seu chefe, afinal, já fazia mais de meia hora que ela estava esperando. Ao se levantar do banco ainda com o suco na mão, acaba derramando o suco em uma garota que passava correndo. Percebendo a besteira que fez, Ana grita para trazerem um pano e fala:

— Me desculpa, eu não te vi! Sinto muito mesmo!  Você esta bem?

— Como?

Ana percebe que a garota fala inglês, pega o pano e dá para ela falando em inglês:

— Me desculpa, eu não te vi. Quer que eu te ajude?

— Não, tudo bem — respondeu enquanto tentava se limpar. — Você trabalha aqui?

— Mais ou menos. Meu nome é Ana, tem alguma coisa que eu posso fazer por você?

A garota começa a rir sozinha e Ana ficou seria.

— Quem me dera se você pudesse resolver os meus problemas.

— Eu não posso resolver, mas se você quiser falar — Ana fala, e volta a se sentar.

— Então, eu até que gostaria, mas... — A garota abre um sorriso e aponta com as mãos para o corpo ainda molhado. — eu estou meio grudenta no momento.

Ana se levanta de novo e a garota volta a rir:

— Me desculpa, eu também tenho que trabalhar.

— O que acha de nos encontrarmos depois? A que horas você sai?

— Não sei. — Ana respondeu, torcendo para que a garota não pensasse que ela estava mentindo.

— Sério? — Ana respondeu que sim com a cabeça e as duas voltaram a rir. — Vamos fazer assim: eu te dou meu número e você manda mensagem?

— Não é uma boa idéia um funcionário ficar mandando mensagem para um hóspede. — Ana respondeu pensativa.

— Não se preocupe — a garota insistiu, enquanto pegava o celular para ver o seu número.

— Mesmo assim, eu não acho uma boa ideia — Ana respondeu torcendo para que ela não pensasse que era só uma desculpa.

Porém a garota guardou o celular e respondeu:

— Ok. Então nos esbarramos por aí.

As duas se olharam e começaram a rir de novo. Ana ficou aliviada por dela ter compreendido. Quando percebeu que seu chefe finalmente chegou, ela se despediu:

— Então até outra hora!

— Tchau! Eu sei que você não perguntou, mas o meu nome é Elice.

Elice vai embora correndo e Ana volta a encarar o seu chefe, que se aproxima com uma pasta vermelha na mão:

— Desculpe a demora. Eu sou o chefe do setor de eventos e o antigo estagiário pediu massa de macarrão ao invés dos macarrões usados na piscina. Tive que concertar o erro. Enfim. — Ele abre a pasta e folheia, conferindo tudo.

— Tudo bem. — Ana respondeu sorridente, um sorriso que se desmanchou quando seu chefe fechou a pasta e a olhou sério.

— Tudo bem, nada. Este ano estamos com vários hóspedes importantes e não podemos cometer nenhum erro. Eu quero que você seja o meu quinto olho, ou seja, durante as montagens de todos os eventos, quero que cheque cada item dessa lista e se algo não estiver sendo feito da maneira certa, concerte.

— Entendi. E em relação aos meus horários? — Ana resolve perguntar tentando fazer uma cara fofa.

— Nem começou e já quer saber quando acaba. 

— Não eu só quero... — Ana tentou se desculpa, mas tudo que conseguiu, foi fazer seu chefe respirar fundo.

Com mais calma do que aparentava ele se sentou numa mesa que estava perto e convidou Ana para fazer o mesmo. Sentados de frente um para o outro, ele explicou:

— Você não quer nada, os hóspedes querem! Nós temos que fazer o que for possível para eles ficarem felizes, por isso nós somos os melhores em atendimento. Em relação ao seu horário, você só tem que trabalhar até o evento começar, por exemplo, amanhã tem um show em homenagem a uma cantora de MPB que deve começar as 17:00 em ponto. Se você deixar tudo organizado as 16:45, você já estará liberada.

— Entendi. — Ana respondeu com calma, se preparando para fazer mais uma pergunta. — E sobre eu usar as dependências?

—Como você é a neta do patrão, você pode perguntar para ele se você pode desfrutar as dependências, nas suas horas livres. — Ele entregou a pasta para ela. — Mais alguma pergunta?

— Se tiver algum problema que eu não puder resolver?

Seu chefe se levantou e apontou para a pasta dizendo:

— Na última folha tem uma lista com vários telefones e nomes é só ligar para algum deles. Se não tiver mais perguntas, você pode bater o seu dedo em qualquer área dos funcionários para poder registrar os seus horários e começar a trabalhar. 

— Entendi, obrigada. — Ana acenou com a cabeça.

Ele saiu e deixo Ana olhando a pasta com a lista enorme de itens para checar. Decidida a cumprir tudo com perfeição, ela se levantou, foi correndo para área dos funcionários, bateu o dedo no relógio, e correu novamente para a casa de shows, que ficava na área do shopping.

Assim que entrou, foi atraída por uma linda voz que vinha de uma moça que ensaiava no centro do palco. Queria terminar de escutar, mas um homem alto e moreno acenava para ela do fundo do palco.

O ensaio acabou ao mesmo tempo em que Ana chegou ao palco, sendo logo cumprimentada pelo homem:

— Tudo bem? — Perguntando dando um beijo rápido na bochecha de Ana, que ficou sem ração. — Eu sou o Mauricio, o responsável por esse espetáculo e acredito que você seja o quinto olho.

— Sou eu mesma. Meu nome é Ana — ela respondeu sem jeito. — Então essa historia de quinto olho é seria?

O homem arregalou os olhos e deu um leve sorriso.

— É claro que sim! — Agora foi a vez dela arregalar os olhos. — Acho que você ainda não conheceu os outros olhos.

— Eu ainda não conheço — respondeu enquanto se repreendia por não ter lido todas as folhas da pasta. Com certeza teria algo sobre eles lá.

— Bom não importa. Vamos aproveitar que você esta aqui, para eu te apresentar a estrela de amanhã. — Mauricio falou chamando a cantora, que em um piscar de olhos, estava parada ao lado dele olhando fixamente para a Ana, com um sorriso forçado no rosto. — Essa é Milena, que prestará uma homenagem à cantora de MPB ER.

— Sou a quinto olho, é um prazer conhecê–la. — respondeu Ana cumprimentando Milena, e torcendo para buscar em sua memória qualquer informação sobre essa cantora ER.

— Também é um prazer conhecê-la.

— A senhora tem uma bela voz. — Ana elogiou chegando à conclusão que não fazia à menor ideia de quem era ER.

— Por favor, me chame de você, senhora me faz parecer uma velha.

— Tudo bem então.

Recebendo uma ligação Mauricio se despediu das duas, deixando as sentadas em uma das mesas, conversando sobre o show. Ana aproveitou a deixa para fazer algumas perguntas que correspondem a seu trabalho de conferir se tudo esta certo.

— O seu figurino já foi escolhido?

— Sim, o segundo olho ficou de o pegar na costureira — respondeu olhando para o lado, deixando bem claro que aquela conversa era chata.

— Então o ensaio geral vai ser amanhã antes do almoço — afirmou Ana para confirmar. — Tem alguma coisa que esta faltando ou que você quer ajuda?

Milena soltou o ar bem forte e olhou nos olhos de Ana enquanto se levantava.

— Sabe o que eu quero, que você pare de falar. Eu quero que tudo seja perfeito amanhã. Quero que a minha única responsabilidade seja subir naquele palco e canta  — ela falou apontando para o palco. — Mas isso nunca acontece, porque vocês sempre cometem algum erro que somos obrigados a corrigir dois minutos antes de entrar no palco.

Ana ficou quieta, sentada na mesa, vendo a cantora ir embora. Pela primeira vez, ela parou para pensar que seu sucesso não iria depender só dela. Saiu da casa de shows, sem ter certeza do que faria. Quase não conseguiu comer na hora do almoço, mas já era hora dela voltar para o trabalho.

Chegando à casa de shows, estranhou que tinha um monte de pessoas correndo por todo lado preocupados com alguma coisa. Do meio delas surgiu Mauricio correndo em sua direção.

— Ana, por favor, me diz que você sabe onde ela está. — Ele parecia desesperado e estava todo suado.

— Onde está quem? — Ana perguntou confusa.

— A Milena sumiu!


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