Aurora Borealis escrita por Kyra_Spring


Capítulo 5
Capítulo 4: Conspiração




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            Bella tentou ligar para Edward várias vezes naquele dia, mas o telefone dele estava desligado. Estava ansiosa desde o momento em que ele simplesmente abandonara a aula sem dar nenhuma explicação, e a ansiedade ainda estava somada a um pressentimento sombrio. Não quis nem sair de casa, para não se arriscar a encontrar-se com qualquer pessoa e ser obrigada a mentir – algo que vinha fazendo com frequência ultimamente.

            Começou a se arrumar desde cedo. Escolheu uma saia preta, recém-comprada, e uma blusa vermelho-escura, coberta por um casaco de lã também preto. O cabelo, para sua sorte, estava num dos seus melhores dias, e as mechas castanhas estavam milagrosamente regulares e comportadas, quase bonitas. Mas, por mais que se esforçasse, não conseguia esconder a palidez excessiva do rosto, por isso apelou para uma grossa camada de pó.

            Charlie ainda não havia chegado, e ela resolveu descer as escadas e esperar na sala pela chegada de Edward. Ela só não fazia idéia do que diria ao seu pai. Não poderia contar a verdade, obviamente, mas a mentira deveria ser inocente o bastante para impedi-lo de fazer perguntas comprometedoras demais. Estalando as articulações dos dedos, ela observava o relógio. Ainda eram seis e dez. Seriam vinte minutos muito longos.

            Precisamente às seis e dezoito, a porta se abriu, revelando o seu pai, que a observou com um certo espanto, enquanto perguntava:

_Tudo bem você se produzir, Bells, mas será que eu posso pelo menos saber qual é a ocasião?

_Edward vai me levar para jantar – ela respondeu a primeira coisa que lhe veio à cabeça – Na casa dele. Na verdade, ele vai chegar logo. Você não vai se opor, vai?

_Eu? Me opor? Não sei se isso adiantaria muito – ele disse, com um sorriso divertido – Não se preocupe. Confio em você, sei que é uma garota responsável – o olhar dele era intenso. Na certa, ele ainda não havia se recuperado totalmente dos incidentes do último período letivo, e ainda conservava uma certa desconfiança em relação a Edward – Contanto que esteja de volta cedo, sem problema.

_Eu deixei o jantar preparado, é só ligar o microondas – ela disse, tentando esconder o alívio da permissão na voz – E tentarei voltar cedo.

            Eles ficaram em silêncio, e ela voltou as suas atenções para o relógio. E então, às seis e meia, ouviu batidas na porta. Correu para abrir, fazendo com que os saltos das sandálias se trançassem um no outro, quase a jogando no chão. Só não caiu porque, na sua frente, amparando a sua queda, havia um obstáculo deliciosamente perfumado, musculoso e vestido de azul-índigo, que a encarava e sorria.

_Chefe Swan, já pensou na possibilidade de mandar acolchoar a casa? – disse o obstáculo, Edward, enquanto ajudava Bella a se levantar. Ele parecia o mesmo de sempre, o sorriso despreocupado, as piadinhas sarcásticas a respeito da incrível capacidade de autodestruição de Bella – Não me leve a mal, mas considerando o talento da sua filha, isso seria um bom investimento.

_Isso não adiantaria – o próprio Charlie deu de ombros – Ela conseguiria achar algo em que tropeçar do mesmo jeito.

_Há-há, muito engraçado, estou morrendo de rir por dentro – Bella fuzilou os dois com os olhos – E então, Edward, vamos?

_Claro – ele encarou Charlie por um momento, antes de dizer – Espero que não se importe se eu roubar a sua filha por umas horas. Estou prometendo levá-la para jantar há semanas.

_Trate de trazê-la ilesa para casa e para mim está tudo bem – disse o outro, grave, mas o rapaz sacudiu a cabeça dizendo:

_Bem, o senhor sabe tão bem quanto eu que isso é quase uma missão impossível, então não posso prometer muita coisa. Mas prometo fazer o melhor que puder – e deu uma gostosa gargalhada, sendo acompanhada pelo primeiro. Eles se despediram, Edward deu o braço a Bella e a conduziu até o seu carro, parado em frente à casa. Antes de partirem, porém, ele disse, num tom divertido – Você pensou rápido, Bella, mas fico pensando em como seu pai interpretaria esse convite se soubesse quem eu sou. Deveríamos ter pensado nisso, eu tive que ler a mente dele para saber o que você havia dito.

_Bem, eu não podia dizer que estava indo para um conselho de vampiros, podia? – disse ela, sorrindo, enquanto colocava o cinto de segurança – Ele confia em vocês, provavelmente aceitaria qualquer desculpa que eu desse.

            Eles deram a partida. Bella jamais se acostumaria com o jeito insano de Edward dirigir, e sempre ficava agarrada firmemente ao banco. Mesmo que soubesse que ele era um exímio motorista, nada tirava da sua cabeça a idéia de que um dia eles bateriam e seu corpo seria arremessado vinte metros à frente, com todos os ossos quebrados. Afinal, como o próprio Edward dissera, ela era um poderoso ímã para desastres.

_Você não vai me explicar o que aconteceu hoje mais cedo, vai? – disse ela, e a resposta dele foi um leve estreitar de olhos – Que seja, eu não vou perguntar desta vez.

_Como eu disse, você agora é parte da minha família – ele respondeu, sem tirar os olhos da estrada à sua frente – Vou dizer tudo, quando todos estiverem presentes. Esse não é o tipo de coisa que eu pretendo ficar repetindo – foi a vez de ela estreitar os olhos.

_No que você está pensando, Bella? – ele já esperava que ela reagisse assim, e disfarçou um sorrisinho torto.

_Em nada – ela respondeu, azeda.

_Alguém já te disse que você é uma péssima mentirosa? – o sorriso dele se alargou ainda mais.

_Dá um tempo.

_Você ainda não me respondeu.

_Eu só estou preocupada, está bem? – ela respondeu, por fim – Com você, com a sua família, com o meu pai, com os meus amigos... tenho medo do que esses caras podem fazer.

_Você mencionou todo mundo e não falou de si mesma.

_É claro que também estou com medo por mim.

_Mas, para você, isso é secundário, o que, na minha opinião, é uma tolice enorme.

_Exatamente.

_Diga-me, o que aconteceu com o seu senso de autopreservação?

_Ele desapareceu assim que eu conheci você.

_Junto com uma boa parte do seu juízo.

_E com uma parte do seu.

            Ele riu. Mas o riso dele não era espontâneo como aquele na sua casa – parecia seco, um pouco sarcástico. Bella permanecia com a expressão facial carregada, mas não se atrevia a contrariá-lo porque sabia que ele estava certo.

_Você realmente deve estar irritada comigo – o silêncio era opressivo para Edward – Até agora, não reclamou nenhuma vez da velocidade em que estamos... – ela acabou sorrindo, sem querer – Não que isso fosse adiantar muita coisa, é claro, mas é sempre bom ouvir a sua opinião.

_Se é essa a importância que você dá para a minha opinião, não sei porque estou indo até a sua casa hoje – respondeu ela, sarcástica.

            Ele não respondeu, porque eles acabavam de chegar. Bella reconheceu com prazer a casa branca, retangular e graciosa, cercada por densas árvores. Reconheceu o som do rio, ao fundo, e se perguntou se era esse mesmo rio que formava aquele lago radioso em que eles a haviam levado. E, também, reconheceu o gesto protetor e carinhoso de Edward segurando a sua mão, reconheceu o toque liso e gelado, reconheceu o movimento circular do polegar dele nas costas da sua mão. Só não reconheceu aquele olhar indecifrável, sério demais até para os padrões dele, a despeito do sorriso cálido e acolhedor que havia em seu rosto.

            Por dentro, a casa era a mesma, clara e branca, muito iluminada por lâmpadas em todos os pontos, fazendo Bella, com seu visual vermelho e preto, se sentir deslocada. À noite, o rio que cortava a parte de trás parecia mais profundo e imponente. Sentada no sofá, Esme os esperava, e assim que os viu, cumprimentou, no seu jeito carinhoso e efusivo de sempre:

_Que bom que está aqui, Bella – ela também estava vestida com cores claras, harmonizando com o ambiente – Já sabe, você é da família, então sinta-se em casa.

_Obrigada – Bella sorriu em resposta – Onde estão os outros?

_Emmett e Rosalie estão na sala de jantar, esperando – respondeu ela – Jasper e Alice estão lá em cima, e Carlisle está chegando. Deve ser um assunto sério, para exigirem a presença de todos – e lançou um profundo olhar a Edward, que respondeu, aborrecido:

_É um assunto sério, Esme – os lábios dele se tornaram uma linha fina – Por favor, preciso que Alice esteja presente antes de mencionar esse assunto.

            Logo, ela apareceu, vestida de azul-claro. Sorriu assim que viu Bella, e cumprimentou-a carinhosamente com um beijo na bochecha. Jasper veio logo depois, e a garota percebeu, pelo seu nível de ansiedade inalterado, que desta vez ele resolveu não usar seus poderes nela. Carlisle foi o último a aparecer, pedindo desculpas pelo atraso, e logo os seis puderam se dirigir à sala de jantar.

            Bella deparou-se com uma ampla mesa retangular, de cerejeira ricamente entalhada, com oito cadeiras de espaldar alto, sendo três em cada um dos lados maiores e uma em cada ponta. O cômodo se parecia muito pouco com uma verdadeira sala de jantar, e lembrava muito mais uma elegante sala de reuniões de uma grande empresa. Edward lançou um olhar rápido à mesa, depois a ela, e sussurrou, com uma risadinha:

_Eu também acho essa mesa um pouco de ostentação demais, mas quem disse que Esme me ouve? – e puxou uma cadeira em um dos lados maiores para a namorada, sentando-se ao lado dela. Ao lado deles, sentou-se Alice, e os outros se posicionaram em volta. Carlisle ficou em uma das pontas, e tomou a palavra:

_Bem, todos sabem que Alice e Edward convocaram essa reunião – houve um murmúrio de concordância – Qualquer que seja o assunto, se vocês vão colocar em discussão num conselho de família, significa que vamos todos nos envolver, inclusive você, Bella – ela acenou a cabeça, concordando – É assim mesmo que vocês querem que as coisas funcionem?

_Sim – Alice respondeu – Até porque acho que todos estamos envolvidos querendo ou não.

_Por que não começam contando o que aconteceu? – perguntou Jasper – Já faz várias semanas que estou percebendo uma movimentação estranha entre vocês dois.

            Eles se entreolharam, como se decidissem quem iria dar as más novas. Por fim, Edward disse:

_São os Hook. Eles estão em Forks – as reações foram variadas: Emmett soltou uma breve exclamação de raiva, Jasper cerrou o punho firmemente contra a mesa, Rosalie arregalou os olhos, Esme e Carlisle encararam cada um dos cinco filhos adotivos. Ele continuou – Já nos encontramos, e eles estão decididos a comprar uma briga muito feia.

_Vocês acham que eles querem repetir o que aconteceu no Canadá? – perguntou Rosalie, apreensiva.

_Sim – respondeu Alice – Estão se infiltrando: Dean, Emma e Simon estão até estudando na Forks High School. E já tentaram se aproximar da Bella, inclusive.

_Mas vocês têm certeza do que eles estão pretendendo fazer? – foi a vez de Emmett perguntar.

_Sim – Edward hesitou um pouco antes de responder – Tentei rastrear os pensamentos deles, mas Simon me interceptou. E, hoje... – lançou um olhar a Bella – me encontrei com Dean. Ele fez ameaças contra vocês todos. Ele diz que está atrás especificamente de mim e de Alice, mas que vai feri-los se vocês se envolverem. E deixou bem claro, também, que não está disposto a mudar a sua dieta por aqui.

            Um silêncio tenso se abateu sobre todos os presentes. Edward se sentiu um pouco aliviado ao poder compartilhar tudo aquilo com a família, mas agora sabia que havia colocado todos no olho da tempestade. Bella estava ao seu lado, sem encará-lo. Ele se perguntava no que ela estava pensando, mas sabia que talvez a resposta não fosse exatamente agradável.

_Por que não nos contaram antes? – Carlisle quebrou o silêncio – Se não perceberam, isso é algo da competência de todos nós!

_Carlisle está certo – Emmett concordou prontamente – Caramba, isso é uma questão de família!

_Se eu contasse, vocês poderiam querer ir atrás deles – respondeu Edward, na defensiva – E também, Alice e eu estamos tentando evitar um combate direto.

_É uma tentativa louvável, mas estúpida – argumentou Esme – Vocês deveriam ter nos contado.

_Isso não vem ao caso agora – Jasper tomou o partido dos dois – Agora, temos que decidir o que fazer.

_Estou tentando manter o Dean no escuro – pela primeira vez, Bella se manifestou – Ele não sabe que eu sei quem vocês são, mas não sei por quanto tempo vou conseguir manter a situação assim.

_Isso nos dá um certo tempo – disse Carlisle – Mas, Bella, espero que você esteja ciente de que assim também está se expondo.

_Eu sei disso – disse ela, com um tom determinado – Mas acho que é o mínimo que eu posso fazer por vocês, depois de tudo o que fizeram por mim.

            Alice não pôde deixar de sorrir ao ouvi-la falando assim. Edward, porém, engoliu em seco. Ela estava se arriscando muito mais do que antes, comprando uma briga que definitivamente não era dela. Ele segurou a mão dela, sentindo-a quente e macia. Ela o encarou: o olhar dela, intrigante como sempre, determinado e teimoso como nunca. Não era possível que ela estivesse assim tão segura!

_Bom, eu tenho uma idéia – Emmett tomou a palavra – Na verdade, é uma espécie de... conspiração.

_Conspiração? – Jasper ergueu uma sobrancelha – Que tipo de conspiração?

_Não vamos dar o primeiro passo – o primeiro esclareceu – Bella, isso depende de você. Você vai precisar se aproximar ainda mais dos Hook.

_Você ficou louco, Emmett? – sibilou Edward, irado – Quer mandá-la para a cova dos leões?

_Quer me deixar terminar de falar? – o outro retrucou – É nessa parte que nós entramos. Você e Alice darão cobertura a ela. E eu e Rosalie ficaremos por perto, dando suporte a vocês.

_Nossa, isso é reconfortante – rosnou o primeiro, cínico – É uma idéia estúpida e não vai dar certo, mas continue.

_Esme e Jasper, por sua vez, vão monitorar Justine e Will. Carlisle, você também pode fazer isso, afinal você é médico e não despertaria suspeitas do resto da cidade – ele continuou – Enfim, nenhum de nós ficará sozinho, e sempre haverá outra pessoa da família de prontidão. Um protegerá o outro.

_Isso é estúpido – reclamou Alice.

_Muito estúpido – enfatizou Edward.

_É perigoso demais – opinou Rosalie.

_Eu topo – disse Bella, atraindo para si os olhares de todos.

_Você é louca? – Edward a encarou, fulminado de raiva – Tem idéia do perigo que estará correndo?

_Claro que tenho – ela se defendeu, encarando-o, e passando o olhar a todos os outros, que a encaravam ansiosos – Emmett, isso é brilhante. Poderemos mantê-los sob vigilância, e eles pensarão que estão no controle da situação.

_Você deve saber que Dean tem um talento especial – observou Carlisle – Ele consegue fazer com que qualquer um faça o que ele quer.

_Eu sei – ela confirmou – Mas, enquanto ele pensar que eu não sei de nada, estou segura.

_Também temos que impedir que eles ataquem a população da cidade – argumentou Jasper – Como fizemos no Canadá. Se nós não os atacamos, eles também não têm esse direito.

_Você tá certo – concordou Rosalie – Bem... Emmett, honestamente, eu acho isso loucura. Por outro lado, Bella também está certa, e podemos impedir que o que aconteceu no passado se repita. Mas, Bella, pense bem – a loura se virou na direção da garota, que se espantou ao não encontrar a costumeira expressão de desprezo de sempre – É um risco enorme. Se eles descobrirem, você não terá defesa alguma, e pode ser que não sejamos rápidos o bastante. Você se dispõe a isso?

_Sim – respondeu ela – Até porque, até onde eu sei, vocês também estão correndo riscos por minha causa há muito tempo, principalmente agora.

_Bella, por favor, não – o tom de voz de Edward era quase suplicante – É perigoso demais. E se eu não estiver por perto? E se alguma coisa te acontecer?

_E se alguma coisa te acontecer, se eu não estiver lá? – retorquiu Bella – Por favor, não tente me impedir.

_Você está mesmo decidida a fazer isso? – perguntou Esme – É uma decisão muito séria.

_Eu sei – afirmou ela, suspirando – Mas é a minha chance de poder ajudar.

_Então, está decidido – disse Carlisle – Emmett, vamos colocar o seu plano em prática. E Edward, nossa prioridade vai ser manter Bella em segurança. Está tudo bem?

            Todos, menos Alice e Edward, concordaram prontamente, e um a um foram saindo da sala de jantar. Sobraram apenas os dois, e Bella, que se recusava a encará-los.

            O silêncio estava opressivo. Edward ainda não se recuperara totalmente do que havia escutado. Entre todas as atitudes suicidas de Bella, com toda a certeza aquela era a mais idiota. Por que ela estava se prestando àquele papel? Por Charlie? Pelos seus amigos? Por ele? Nenhum motivo lhe parecia forte o bastante para justificar aquela loucura. E ele não conseguia pensar em nada para demovê-la.

_Está tarde – disse Bella, automaticamente – Será que você poderia me levar para casa?

            Ele concordou com a cabeça, sem dizer nada. Ela entrou no carro dele, e Alice também resolveu ir com eles. Uma boa parte do percurso foi feita em silêncio, e ela percebeu que ele estava forçando o acelerador até o máximo que o carro permitia.

_Edward... – o silêncio estava sufocando Bella, que tentou começar uma conversa, num tom indeciso, mas ele a cortou, o tom de voz estranhamente azedo, dizendo:

_É melhor você nem começar a dizer nada.

_Quer me deixar explicar?

_Será que você tem idéia do que fez? – e então, ele a encarou, furioso, os olhos estreitos e escuros, a voz áspera e mais alta que o costume – Isso é suicídio, entendeu? S-u-i-c-í-d-i-o!

_Eu não vou discutir com você a esse respeito – disse ela, secamente.

_Eu é que não vou te deixar fazer isso – retorquiu ele – É loucura, será que você não entende?

_Entendo melhor do que você pode imaginar – retrucou ela – Já tomei a minha decisão, e você não me fará mudar de idéia.

_Essa luta não é sua – ele sibilou, furioso – Nem de mais ninguém. Eu te avisei, Alice, contar aos outros foi uma decisão idiota. Essa briga é minha, e eu posso resolver sozinho os meus problemas.

_Se eu pensasse assim, nem você teria ficado sabendo – Alice se defendeu – Bella, sou obrigada a concordar com Edward. É perigoso demais, você tem certeza disso?

_É claro que tenho – respondeu a garota – E que outra idéia vocês têm? É sério, o plano de Emmett é perfeito... arriscado, mas perfeito. E, se a situação sair do controle, vocês terão a chance de ir embora e evitar um confronto direto.

_Mas a que preço? – esbravejou Edward – Se a situação sair do controle, como você diz, você será a primeira a ser atingida! E como acha que eu vou lidar com isso? O que acha que eu vou fazer se alguma coisa te acontecer? – encarou-a, a expressão do rosto raivosa e angustiada – Você acha que estará me salvando, quando na verdade só vai me destruir! Não vou suportar se algo te acontecer! – e, num tom mais baixo, quase envergonhado – Isso chega a ser egoísmo.

_Eu sei – para sua surpresa, ela respondeu muito calmamente – Mas, como eu já te disse outras vezes, quero ter a chance de salvá-lo como você vive me salvando.

_Pode me prometer que nada vai te acontecer?

_É claro que não, e você sabe disso.

_Então não irá me convencer. Eu posso enfrentá-los de igual para igual, mas você não.

_Então me transforme, e assim também estaremos em pé de igualdade.

_Eu não vou discutir esse assunto com você outra vez, Bella.

_Você é engraçado... fala que não vai discutir, e é o primeiro a me criticar!

_É claro, você faz uma besteira dessas e espera que eu aceite?

_Querem parar vocês dois? – então, Alice resolveu cortar a discussão ali mesmo – Não é hora para isso. Edward, não vai conseguir fazê-la mudar de idéia, então pare de agir como se pudesse. E Bella, tente ser um pouco mais tolerante. Céus, onde acham que vamos parar se continuarem assim?

            Os dois suspiraram baixo, ainda com raiva, e o resto do percurso até a casa de Bella foi feito num silêncio incômodo. Ela não desceu quando o carro parou; em vez disso, disse, azeda:

_Se quiser discutir isso civilizadamente, apareça por aqui mais tarde – e, sem dizer mais nada, deu as costas, batendo a porta com força. Edward não foi atrás dela, e nem sequer se mexeu. Tudo o que fez foi engatar a marcha e virar o volante para voltar para a estrada.

            Uma vez longe, porém, Alice disse:

_Você foi totalmente ridículo esta noite.

_Não comece também, Alice – disse ele, sem nem se virar para ela – Vocês não vão me convencer.

_Todos nós ficaremos de olho. E eu também vou – retrucou ela – Também não gosto do rumo que as coisas estão tomando, mas essa pode ser a única chance que temos. E eu o entendo perfeitamente, sei que está preocupado por ela, mas precisa ser racional.

_Como eu posso ser racional se ela faz isso comigo? – retorquiu ele, o tom de voz surpreendentemente débil e desesperado – Não me importo em protegê-la, pelo contrário. Mas o que ela está planejando é perigoso demais, e eu sinto que não poderei salvá-la dessa vez.

_E como acha que ela se sente em relação a você? – a outra observou – De repente, Bella percebeu que também pode perdê-lo, e está tentando impedir isso como puder. Você nunca hesitou em se arriscar por ela. Achou que ela não faria o mesmo?

_Eu esperava que ela ainda tivesse algum juízo.

_Pense bem, se as coisas correrem como Emmett planejou, não há como dar errado. Até você tem que admitir que é brilhante.

            Ele passou alguns minutos em silêncio, pensando. Era inacreditável, mas Bella, exatamente a mais frágil entre eles, era a primeira a tomar uma atitude. Seu lado racional concordava com Emmett e Alice, mas o seu lado apaixonado, irracional, humano, lhe dizia que aquilo era loucura. Mas, ele também sabia, ela insistiria até o fim naquela idéia. Aquela era Bella Swan, teimosa, irresponsável, com quase nada de juízo. E era exatamente por isso que a amava.

_Eu não vou conseguir impedi-la, não é? – Edward disse, por fim, num tom cansado.

_Receio que não – respondeu Alice.

_Nesse caso, então, – ele respirou fundo – vou ajudá-la. É loucura, eu sei, mas vamos tentar. Mas se alguma coisa sair do controle, eu vou atrás deles e é melhor que ninguém me impeça.

_É justo – ela fez um sinal de positivo – Bem, vamos logo para casa. Acho que você tem algo a tratar com Bella, e é melhor que não a deixe esperando.

            “Eu não vou deixá-la esperando”, pensou ele, sentindo uma aflição crescente em seu coração. Seu pressentimento, agora, estava mais forte do que nunca, mas ele não simplesmente deixaria que ela se ferisse sem fazer nada para impedir. Seguiria o plano de Emmett – mas também ficaria vigilante em relação à namorada. Sabia que, cedo ou tarde, as máscaras cairiam e aquela conspiração iria por água abaixo, mas até lá, com um pouco de sorte, já saberiam que rumo tomar. Até lá, porém, precisava ser forte – por Bella, pela sua família, mas principalmente por si mesmo. Se falhasse, ele sabia, não só se destruiria como arrastaria consigo todos aqueles a quem amava – e isso era algo que ele jamais poderia permitir que acontecesse.


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