Aurora Borealis escrita por Kyra_Spring


Capítulo 2
Capítulo 1: Marfim




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–Tem uma coisa que você nunca me explicou, sabe?

–É sério? Bem, eu não devia ficar surpreso quando a srta. Curiosa vem com mais uma rajada de perguntas...

–Se eu bater em você, não vai sentir, não é?

–Acho que não...

–É uma pena, porque tem vezes que eu adoraria fazer isso...

–Você tinha uma coisa para perguntar, não tinha?

–Como é essa história de não dormir? Quer dizer, em noventa anos você nunca dormiu... não é?

A pergunta de Isabella Swan pegou Edward Cullen um pouco desprevenido. Aliás, as perguntas daquela garota intrigante, com seu cabelo castanho e seus olhos também castanhos e também intrigantes, tinham esse poder sobre o jovem vampiro. Não adiantava. Ela era absurda, e imprevisível, e tão assustadoramente apaixonante, que ele ficava sem reação. Já estava até se acostumando, então limitou-se a dar um sorriso meio de lado e responder:

–Bem, não posso dizer que é exatamente ruim...

–Mas também não é exatamente bom – Bella o interrompeu, e ele a encarou. Ela olhou bem fundo nos olhos dele. Era um tom incomum, dourado, puxando um pouco para a cor do whisky. Mas, se ela pensasse bem, o que seria mais incomum na aparência dele? Seria o cabelo cor de bronze oxidado, levemente rebelde, mas que ainda assim parecia estar no lugar perfeito e exato onde deveria estar? Seriam as linhas do rosto, absurdamente belas e proporcionais, que pareciam pertencer a uma escultura? Ou, talvez, seria a sua pele, branca, lisa e fria como uma peça de marfim? Ou poderia ser, talvez, o perfume adocicado e entorpecente do seu hálito gelado? Mas ela sabia responder. Não era nenhuma dessas coisas. Era aquela aura irreal, sobrenatural, que partia dele. Ela aguardou pela explicação, lutando para não se perder demais no dourado das íris dele.

–Bem, acho que, por um lado, não é ruim – ele continuou, falando como se sempre soubesse de tudo aquilo, mas só naquele momento tivesse parado para pensar no assunto – Quer dizer, não fico cansado, e sempre tenho as horas da noite livres, mas... – e, de repente, ele abaixou os olhos, e deu uma risadinha levemente envergonhada – ...mas sinto falta de algumas coisas. De sonhar à noite, por exemplo. Até daqueles sonhos totalmente sem sentido, e dos pesadelos também... um pouco.

–Sente falta dos pesadelos? – ela repetiu, achando graça – Sente falta de ter medo?

–O medo faz bem – ele retorquiu – E não preciso sentir falta de uma coisa que tenho constantemente.

–Ora, quem diria que meu Superman tem medo! – Bella deu uma risada gostosa, e sentiu-se arrepiar ao perceber dois dedos frios descendo pela sua têmpora.

–De novo me comparando com personagens de quadrinhos... realmente, você não tem nenhuma criatividade – a voz dele estava zombeteira – Principalmente um tão sem-graça quanto o Superman.

–Não gosta dele?

–Na verdade não – ele deu de ombros – Ele é certinho demais. Prefiro os mais marginais, mais sombrios – e, ao ver um sorriso zombeteiro no rosto dela, acrescentou – E espero que não esteja pensando em nenhuma piadinha a respeito do Batman, srta. Swan.

–Sou tão óbvia assim? – ela fingiu aborrecimento – Então, já que não é o Batman, quem é?

–Gosto do Demolidor, se quer saber – respondeu ele – Ele também não dorme muito bem.

Eles riram um pouco, e depois ficaram em silêncio. Algo ecoava na mente de Bella. "O medo faz bem. E não preciso sentir falta de uma coisa que tenho constantemente". Ele tinha medo – mas não por si. Ela sabia que o medo dele era por ela. Afinal, alguém como ele, com força e velocidade sobre-humanas – ou melhor, nada humanas – quase não precisava ter medo por si. Mas ela, frágil e com uma tendência inexplicável de atrair sobre si todos os perigos mortais de um raio de 20 quilômetros ao seu redor, acabava exigindo muito esforço dele para mantê-la segura.

Mas, ela também sabia, era um esforço que ele fazia com todo o prazer. E que ela faria também, se estivessem em lados opostos. Eles se amavam, com uma intensidade também sobre-humana – a única coisa na qual Bella sabia que poderia empatar com Edward. Ele era a sua maior força – e ela, a maior fraqueza dele.

–No que está pensando, Bella? – ele tinha também o poder de saber o que as pessoas pensavam, mas por alguma razão não conseguia acessar os pensamentos dela. Por isso, aquela era a pergunta que ele fazia com mais frequência.

–Edward... diga-me... – ela não sabia as palavras certas. Por fim, respirou fundo, e disse – Eu acho que acabei me transformando na sua kryptonita, não é? – e, ao vê-lo erguer uma sobrancelha, resolveu acrescentar rapidamente – Desculpe, meu conhecimento sobre super-heróis é bem limitado, e eu não consegui pensar em nenhum outro ponto fraco!

–Eu percebi – ele riu, mas havia algo estranho no riso dele. Ele pensou um pouco, como se também medisse as palavras, até que disse – Sim, mais ou menos. Mas até isso muda, às vezes – ele percebeu que ela esperava pela resposta dele com ansiedade – Às vezes, você é kryptonita verde... quando se mete em alguma coisa perigosa, e me deixa fraco. Às vezes, vermelha, quando fica perto demais e eu posso sentir o seu cheiro... isso quase me enlouquece. E, quase o tempo todo... é a prateada, porque me deixa totalmente paranóico!

–Então, é isso que eu sou para você? Uma pedra radioativa alienígena? – a risada dela acabou saindo alta demais, e ela prendeu a respiração até se certificar de que Charlie Swan, seu pai e chefe de polícia da cidade de Forks, Washington, ainda estava dormindo.

–Foi você quem começou, então a culpa é sua – a voz dele estava debochada, mas logo depois assumiu um tom sério – Mas quero que coloque uma coisa na sua cabeça de uma vez por todas: eu não te vejo como um ponto fraco, e nunca vi. É claro, se alguém ousar lhe fazer mal, vai me atingir diretamente. Mas entenda, você é quem me dá forças. Não é exatamente fácil ser alguém como eu.

O perfume de Edward dançava pelas narinas de Bella, dando a ela uma curiosa sensação de segurança, conforto e carinho, enquanto sentia os dedos dele passeando pelo seu cabelo. Talvez a última frase dele fosse um desabafo, talvez uma advertência, uma forma velada e indireta de dizer a ela para desistir da idéia fixa de se tornar alguém igual a ele.

–Sabe... já faz algum tempo que eu venho pensando nisso – ela mesma se surpreendeu quando aquela confissão lhe saltou da boca. Era algo em que vinha pensando desde o hospital, e que já estava a atormentando – Você me salvou tantas vezes... será que um dia eu terei a chance de retribuir?

–Já falamos sobre isso. Você não me deve nada – disse ele, carinhoso, mas ela insistiu:

–Não, é sério – ela respirava descompassadamente. Já havia tentado dizer aquilo para ele antes, no hospital, mas a conversa acabou se transformando numa discussão. Naquele momento, não queria discutir sobre a sua transformação, mas precisava daquele desabafo – Eu penso nisso porque... se um dia, de alguma forma, você precisar ser salvo também... preciso saber o que fazer.

Ele parou, parecendo confuso de repente. Ele havia dito, uma vez, que a única forma de matar um vampiro seria praticamente desintegrar seu corpo, e que só outro vampiro poderia fazer isso. A segunda afirmação era em parte verdadeira, e a primeira, em parte falsa. Havia, sim, formas de ferir e até de matar alguém como ele – mas, convenientemente, todas elas permaneciam escondidas dele. Então, o fato não era que não havia como matar um vampiro – o fato é que ele não sabia como. E, ao pensar nisso, um estranho e novo sentimento de vulnerabilidade passou por sua cabeça. Realmente, Edward tentava se convencer de que a maioria dos outros também não sabia disso.

–É nobre da sua parte. E estranho. E um tanto estúpido, se quer saber – ela o encarou outra vez. A expressão do rosto dele estava suave, serena – Mas agradeço a preocupação – ela sibilou nervosa, querendo deixar bem claro que "preocupação" era muito pouco perto do que sentia – Isso só deixa claro o quanto você é especial.

Ele ficou em silêncio, enquanto desenhava com os dedos o contorno do rosto dela. Era um toque frio, levemente duro, como uma mão de pedra branca e muito lisa. Ela o tocou também, no rosto, e ele fechou os olhos, procurando absorver cada fiapo de calor que a mão dela proporcionava. O cheiro dela também estava lá, igualmente delicioso e perigoso. Ele a beijou – do seu jeito de sempre, rápido, comportado e relativamente seguro – e sussurrou:

–É melhor você dormir. Teremos um longo dia pela frente, amanhã.

–Teremos? – ela deu um sorriso interessado – Você tem planos?

–Diga-me, Bella, você sabe nadar? – ele perguntou, e ela concordou com a cabeça – Então parece que pelo menos não vou ter que impedir que se afogue. De acordo com Alice, teremos sol amanhã, então espero que você tenha se lembrado de trazer roupas de banho para Forks. Me espere amanhã cedo, OK?

–Pode deixar, eu vou esperar – "e eu vou ser idiota de recusar um convite desses?", ela pensou, novamente feliz por Edward não ser capaz de ler seus pensamentos – Boa noite.

–Boa noite, Bella – ele a beijou na testa, e sumiu no instante seguinte. Antes de sair, ainda disse, com uma nota estranha na voz – Sonhe bastante, está bem?

"Eu vou", ela pensou, "e vou tentar sonhar por nós dois". Logo depois, caiu no sono, ainda sentindo em si aquele perfume indefinível de Edward, sem fazer idéia de que um temor estranho e intenso tomava conta de sua mente, enquanto ele hesitava por um segundo na floresta antes de sumir, veloz e invisível.

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Bella julgava que nem os seus esforços mais corajosos para se mostrar bonita foram suficientes, naquela manhã na casa dos Cullen. Vestindo um maiô preto, frente-única (o único que havia trazido, e que na sua mala de viagem parecia totalmente inútil), e enrolada numa canga vermelha (um empréstimo gentil de Alice), sentia-se exposta demais, e pensou que talvez seu corpo fosse desproporcional demais, magro demais, estranho demais. Alice foi a primeira a entrar em seu campo visual, o que só a fez se sentir mais miserável: impecável em seu biquíni vermelho e sua canga branca, parecia saída de um desfile de moda. Apesar disso, sentiu-se um pouco melhor ao ver Edward – e a visão do seu peito descoberto a deixou fora do ar, admirada demais para dizer qualquer coisa. Por alguma razão, havia associado a imagem dele ao Davi de Michelangelo usando um calção de banho.

–Carlisle, é um prazer revê-lo – ela cumprimentou um homem louro e igualmente belo, que estava vestido quase como Edward, mas usando uma camiseta regata, e que entrara na sala um pouco depois de Alice – Muito obrigada pelo convite.

–Ora, é sempre um prazer tê-la conosco – o tom dele era jovial e animado. Atrás dele, vestindo um conjunto de verão, estava Esme Cullen, a mãe adotiva de Edward e Alice, com seu cabelo castanho-claro cacheado e sua expressão acolhedora e maternal, abraçando-a e dizendo:

–Bella, como é bom você estar aqui! – o toque dela era frio, mas ainda assim fez com que Bella se sentisse muito bem – Espero que você se divirta.

–Jasper e Emmett vão vir? – ela perguntou, animada, e depois, lembrando-se, continuou a pergunta, com um tom bem menos empolgado – E... Rosalie?

–Rosalie não vai – respondeu Esme – Ela disse que tinha outros planos para hoje. E os rapazes já estão lá, preparando as coisas.

Eles saíram, em direção ao monstruoso jipe de Emmett, usado para os passeios fora da estrada. O tempo estava agradável, quase um milagre para os padrões de Forks: o sol brilhava, apesar de haver várias nuvens no céu que o escondiam com frequência, e a temperatura estava quase agradável, também. Ela olhava para o lado, de vez em quando, para perceber uma alegria infantil estampada no rosto do namorado. Eles entraram no jipe, e logo no segundo seguinte o veículo disparava.

–Parece que você gosta mesmo desses passeios – disse ela, com um sorriso – Vai me dizer para onde vamos?

–E estragar a surpresa? – ele a encarou, também sorrindo – De jeito nenhum! Você terá que ver e entender por si só.

Depois de um monte de solavancos, voltas, freadas bruscas e aceleradas, Bella sentiu que sabia o que uma maçã sentia dentro de um processador de alimentos. Até que, por fim, pararam. A estrada – ou o que quer que aquilo fosse – havia acabado, e agora havia apenas uma trilha tortuosa entre as árvores. Bella engoliu em seco. Não dava para esperar diferente deles...

–Acho que você vai precisar de uma segunda carona – sussurrou Edward no ouvido dela, zombeteiro, enquanto estendia a mão a ela – E lembre-se de fechar os olhos.

Ela sabia. Ainda não se sentia muito confortável ao ser carregada por ele, mas já começava a se acostumar. Dessa vez, porém, foi um pouquinho pior. Com as costas e o peito dele nus, assim como os braços dela, o contato físico foi bem maior do que das outras vezes. Ela fechou os olhos, e no instante seguinte sentiu uma rajada de vento passar pelos seus cabelos, indicando que já estavam correndo.

A oportunidade era boa demais... ela precisava se certificar de que ele era real. Com as pontas dos dedos, começou a desenhar o contorno do peito dele, com um certo receio. Era perfeito – a pele lisa, as proporções perfeitamente iguais, os músculos definidos e belos. As mãos dela seguiram pelos ombros, a parte de cima dos braços, e depois até as costas. Ele parecia uma estátua de marfim – lisa, branca, fria, bela por si só e bela por sua raridade e preciosidade. Ela continuou deslizando as mãos, dessa vez voltando para o peito, até que...

–O que está fazendo? – ela parou, congelada. Em nenhum momento passou pela sua cabeça se Edward iria gostar do seu atrevimento ou não. Mas a voz dele não parecia irritada – parecia intrigada.

Ele nunca se importava em transportar Bella em suas costas. Para ele, ela era leve como uma pluma, e ainda havia o prazer adicional de sentir o perfume levemente floral que vinha dela. Mas, quando começou a sentir os dedos dela, leves e delicados, correndo rápido pela sua pele, sentiu-se estremecer. Por algum tempo, não queria que parasse: o toque macio e morno contra sua pele fria era delicioso, viciante. Mas, então, começou a sentir que poderia perder o controle – como vampiro, como homem, enfim, qualquer tipo de controle – e, de má vontade, resolveu fazer Bella perceber que ele estava sentindo, sim.

–Não está gostando? – ela gaguejou. "Sua estúpida, o que pensa que está fazendo, alisando ele desse jeito?", uma vozinha em seu cérebro berrava – M-me desculpe... eu não...

–Está tudo bem – disse ele, e ela percebeu, aliviada, que ele sorria – É só que... você me assustou.

O resto do percurso foi feito em silêncio. Eles pararam, enfim, e Bella se arriscou a abrir os olhos. Era lindo, simplesmente lindo: em uma clareira banhada pelo sol, um dos rios da floresta formava uma cascata, caindo em um lago profundo e longo. As samambaias e avencas cresciam nas fendas das pedras, e algumas flores tímidas se destacavam entre o verde do musgo e das plantas rasteiras. O som da queda d'água era belo e constante, assim como o da brisa úmida soprando entre as folhas das árvores próximas.

–É lindo... – ela sussurrou, com um sorriso – Como acharam esse lugar?

–No meio de uma caçada, logo quando chegamos aqui – respondeu Alice, rindo – O som da água caindo nos atraiu, e então nos deparamos com esse pequeno pedaço de paraíso na terra.

–E Jasper e Emmett? – a primeira perguntou – Eles já estão aqui?

–Aqueles dois devem estar disputando uma corrida ao longo do rio – respondeu Edward, coçando a cabeça – Eles são exibidos, vivem fazendo isso.

–E você não participa? – ela deu um sorriso, e ele sorriu em resposta, dizendo:

–Não... não quero fazê-los se sentirem miseráveis – ele se sentia totalmente à vontade – Na verdade... eu prefiro fazer isso!

Ele correu em direção ao lago limitado pelas pedras – não como na floresta, mas de um jeito mais "humano", por assim dizer. Mas não havia nada de humano naquela cena: assim que entrou na área banhada pela luz do sol, sua pele começou a brilhar como se estivesse coberta por milhares e milhares de minúsculos cristais. Ela deu alguns passos para frente, a tempo de vê-lo se chocar contra a água. A única imagem que veio à cabeça dela foi a de um cometa, ou uma estrela cadente, mas esse era mais um dos devaneios que manteria escondido de Edward para sempre.

–Você vai entrar, Bella? – absorta pela visão, ela não percebeu imediatamente que ele a chamava, mas logo enxergou o seu rosto radiante – em todos os sentidos – enquanto sacudia os cabelos castanho-avermelhados – É fundo o suficiente para pular dessa altura... acho que tem bem uns quatro metros.

Quatro metros eram o bastante, e Bella se saía bem na água. Recuou alguns passos, deixando a canga (dobrada e protegida como se fosse uma relíquia sagrada) sobre uma pedra, e depois correu em frente, saltando de pé dentro do lago. A água estava gelada, mas clara e muito límpida. Ela se deixou submergir por alguns segundos, sentindo a água mover gentilmente seus cabelos, e sob seus pés, percebia os seixos redondos e lisos. A visão estava embaçada, mas era impossível não perceber aquele facho de luz submerso bem ali ao seu lado. Mesmo difusa, aquela cena tinha uma beleza surreal. Com um impulso forte contra o fundo do lago, subiu até a superfície, para respirar.

Mas apenas por um instante. No segundo seguinte, já com os pulmões cheios, voltou para dentro d'água. Havia plantas aquáticas, e pequenos peixes, mas nenhum deles conseguia desviar a sua atenção de Edward, ainda submerso, ainda brilhante. A água era límpida demais, e deixava a luz do sol passar totalmente. Só subiu quando a necessidade de ar falou mais alto.

–Não sabia que você nadava tão bem – de repente, ouviu uma outra voz feminina, acima de sua cabeça. Era Alice, acenando – Dê um espaço, eu também vou pular.

Outro salto – e outro facho de luz dentro do lago. Esme também entrou, por uma escada natural de pedras. Carlisle, por sua vez, saiu pela floresta, dizendo que ia atrás de Emmett e Jasper. Assim, havia três pontos brilhantes de luz dentro d'água – e ela, Bella Swan, a mais abençoada dos mortais, tinha a chance única de assistir àquele espetáculo.

–A água está ótima hoje – depois de muito tempo, Edward voltou à tona – Clara, limpa e transparente. Eu poderia nadar até o oceano, se quisesse.

–Provavelmente Jasper já está lá – disse Alice, aborrecida – Às vezes, acho que ele quer, sei lá, chegar ao Japão a nado ou coisa assim.

–Por que não aproveita para apresentar o lugar à Bella, Edward? – disse Esme – É uma paisagem tão bonita, garanto que ela vai querer conhecer tudo aqui.

–O que acha de um passeio aquático? – ele sussurrou no ouvido dela, e ela respondeu acenando a cabeça – Venha, eu lhe mostro.

Ele submergiu, e ela fez o mesmo. Era impossível perdê-lo de vista. O ritmo de natação dele estava lento, e ele respeitava as paradas dela para respirar, até que estivessem longe de Alice e Esme. Já não estavam mais no lago, e sim ao longo do rio, profundo, calmo e bem mais estreito. Ela percebeu que era onde as árvores conseguiam projetar a sua sombra sobre o curso d'água. Foi sob essa sombra que Edward ficou, e começou a encará-la de uma forma profunda e grave...

A mesma forma profunda e grave que usava quando estava preocupado com alguma coisa.

–Esse lugar é fantástico – ela supôs que talvez fosse melhor ela própria começar a falar – É tão tranquilo, e transmite tanta paz... Vocês descobriram mesmo um pequeno pedaço do paraíso, aqui.

–Você se lembra daquela clareira em que eu te levei? – ele disse, o olhar distante – É mais ou menos assim. Só que aqui é de uso comum da família, e aquele lugar... é só meu – olhou em volta, evitando cuidadosamente o olhar de Bella – Aqui podemos ser nós mesmos, para variar.

Bella não sentia mais o frio da água porque precisava se manter batendo os pés para ficar na superfície, mas sentiu um arrepio percorrer a espinha. Os olhos dele estavam claros, dourados – mas tristes, preocupados, tensos. Ela não quis perguntar o que estava acontecendo, mas podia pressentir as más notícias.

–Bella... – ele segurou a mão dela. Estavam ambas frias – Droga, por onde vou começar?

–Que tal do começo? – ela tentou fazer um gracejo, mas ele não sorriu – Pode me contar, tudo bem.

–Você está em perigo – ele disse, de supetão, e ao ver o rosto dela suavizar e quase dar lugar a um sorriso, sacudiu a cabeça, e disse, num tom mais urgente – Não, você não está me levando a sério!

–Você me diz isso desde quando nos conhecemos – ela riu – E não mudei de idéia: não vou sair do seu lado nem que você me prenda dentro de um baú.

–Desta vez não sou eu – os olhos dele se estreitaram, assim como os lábios – Acredite, desta vez não é por minha causa que estou dizendo isso. É... outra coisa.

Ela ficou com uma enorme interrogação estampada no rosto, mas preferiu não dizer nada. Ele apertava a sua mão com um pouco mais de força – apenas um pouco, sem machucá-la – e continuou a encará-la, ainda tentando medir as palavras corretas. Se ela fizesse idéia... ele tentava manter o rosto o mais impassível que pudesse, mas seu coração borbulhava de apreensão.

–Há alguns anos atrás... bem, há vários anos atrás – começou ele, lentamente – eu e minha família meio que cruzamos o caminho de uma outra família... os Hook.

Ela já tinha alguma teoria a respeito do que ele estava contando, e também tinha experiências – nada agradáveis – com outros vampiros além dos Cullen.

–É uma família grande, composta, até onde eu sei, por cinco pessoas – ele continuou – Mas eles sempre foram a favor de vivermos... por assim dizer... de acordo com a nossa espécie – ele a inquiriu, erguendo uma sobrancelha, e ela acenou a cabeça – Na época, vivíamos no Canadá. Eles ameaçaram atacar os moradores da cidade onde morávamos, e tentaram a princípio nos convencer a ajudá-los. Quando não aceitamos, começamos a brigar – outra pausa, mais longa – E... numa dessas brigas... um deles atacou Alice, e eu o ataquei. Quer dizer... – encarou-a, preocupado com as reações dela – Eu o matei. E os Hook nos juraram de morte, por causa disso. E, há alguns dias atrás, Alice teve uma visão deles vindo para cá.

Ela praticamente parou de respirar, e encarou-o com olhos arregalados. Ele deu de ombros, e com um sorrisinho visivelmente triste e falso, disse:

–Pelo amor de Deus, não me olhe assim! – e os olhos dela se estreitaram, de irritação – Eu fiz o que tinha que fazer. Quando escolhemos não ferir os humanos, acho que acabamos herdando uma certa obrigação de não deixar outros iguais a nós o fazerem. E ele ia matar a Alice!

–Edward, cale-se! – disse ela, fitando-o com olhos ameaçadores – Não me importo com o que você fez, aliás, acho até justa a sua atitude. O que me irrita é o seu desprezo pela situação.

–Desprezo? – dessa vez, os olhos dele se estreitaram – Pareço estar desprezando a situação?

–Eles são vampiros, tão fortes quanto você – a voz dela subiu alguns tons – E você vem falar que eu estou em perigo? Que droga, e quanto a você? E quanto à sua família? Eles já sabem?

–Não. Só eu e Alice, por enquanto – respondeu ele, a voz áspera – Eu não me preocupo comigo porque sei me virar... e porque sei que a maneira mais fácil e segura de me atingir é atingindo você!

Ela parou, baixando os olhos, de repente. De novo, ela era o ponto fraco, a kryptonita verde. Ele a fez erguer o rosto, empurrando gentilmente seu queixo para cima, e dizendo:

–Por favor, entenda – a irritação se fora, também – Eu não tenho medo deles, mas não quer dizer que eu vá me descuidar. E não pretendo começar nenhuma briga. Não vamos contar nada aos outros até que isso se torne uma ameaça real.

–Então, se isso ainda não é uma ameaça real – ela sussurrou – por que está me contando?

–Porque você, mais do que eles, precisa estar de sobreaviso – ele sussurrou, de volta. Eles ficaram sem dizer nada, parados, se encarando, até que Bella começou a sentir as pernas dormentes. Edward percebeu, e com delicadeza segurou-a nos braços, e sussurrou em seu ouvido – Prenda a respiração, tem uma coisa que eu quero que veja.

Ela obedeceu, e ele submergiu em seguida. A rapidez com que nadava era comparável à sua velocidade ao correr. Mas, dentro da água, a sensação era mais agradável do que fora dela. Por fim, depois de um trajeto curto e de uma ou duas paradas para ela retomar o fôlego, eles pararam num ponto em que o rio era atingido em cheio pela luz do sol. Edward voltava a brilhar, e a segurava pela mão, para submergir novamente em seguida.

Aquele ponto era privilegiado. As pedras, lisas e polidas pela ação contínua das águas, formavam reentrâncias onde brotavam plantas e algas. Havia peixes coloridos, que fugiam à medida que eles se aproximavam. A luz refletia nas pedras do rio, dando àquela paisagem aquática um encanto todo especial. Permaneceu dentro d'água enquanto o fôlego permitiu, e subiu para respirar por apenas alguns segundos antes de voltar a afundar.

–É um lugar muito bonito, não é? – disse ele, trazendo-a à tona outra vez – É uma pena que você não tenha visto isso aqui no auge do verão...

E foi então que sentiram duas correntes absurdamente velozes dentro da água. Bella se assustou, mas Edward apenas revirou os olhos, dizendo:

–Jasper e Emmett... parece que não tivemos que resgatá-los no Japão, afinal – e suspirou – Vamos voltar, Bella, e à noite nós conversamos melhor, está bem?

Ela concordou, e ele novamente a tomou nos braços e saiu disparando pela água, de volta ao lago com a cascata.

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Namorada? Aquele desgraçado do Cullen tem uma namorada? – ele ouviu a novidade sem acreditar.

–Eu estou falando sério – disse o outro – É o que estão dizendo. E, pela descrição, a namorada é uma garota humana...

–O tipo de idiotice que podíamos esperar da laia dele, mesmo.

–E então, o que você vai fazer? Você sabe que a irmã dele é vidente, a essa hora eles já devem saber.

–Não... eles não. Pelo menos, não todos. Sei como a mente dele trabalha. Eles não vão colocar a família em alerta.

–E então, o que você pretende fazer? A mesma coisa que ele fez com o Max?

–Não... – e, então, um sorriso crispou seus lábios – Eu vou fazer um pouquinho diferente. Eu quero fazê-lo sofrer bastante, antes. Acho que vou atrás dessa namorada dele...

–Isabella? Não sei se é uma boa idéia, você sabe que os Cullen a protegem.

–Confie em mim... eu sei o que estou fazendo...


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Notas finais do capítulo

Nota da autora: Bem, gente, eis o primeiro capítulo. As informações a respeito da kryptonita e suas cores foram retiradas de episódios de Smallville, uma série que deixei de acompanhar há décadas. Espero encontrá-los aqui em breve para lerem o próximo, OK? Deixem reviews, por favor, me deixem saber o que vocês acham dessa fic! Beijos a todos e até a semana que vem, babies!



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