Seus passos eram lentos na grossa camada de neve. Lentos demais. Havia algo errado.

Os sinais vieram antes, muito antes. Mas se recusou a enxergar, ou fingiu se recusar. Agora, não importava. De qualquer maneira, não tinha escolha nenhuma: precisaria seguir em frente e encarar aquela batalha, e todas as suas consequências. Por isso, seguia em frente, tentando imprimir aos seus passos uma força que eles realmente não tinham mais.

O sentimento de fraqueza tomava conta do seu corpo. O céu estava opressivamente claro. A lua cheia brilhava, e as estrelas formavam verdadeiros mosaicos no céu do Ártico. De onde estavam, era possível ver também as luzes do norte, belas e mutáveis, como uma aquarela entre as estrelas. As mãos dos dois estavam firmemente entrelaçadas, um sinal de que não se renderiam. E uma despedida.

Ambos sabiam o que estava prestes a acontecer. Eles podiam sentir, no ar gelado, a ameaça, mais sólida e tangível do que nunca. E, dessa vez, estavam numa desvantagem gritante. Mas a situação parecia tão irreal que não havia lugar para medo. Havia dor, muita dor, mas o medo estava aprisionado em um canto, inofensivo, sem poder paralisar ou incapacitar nenhum deles.

E, então, o som de um passo leve sobre a neve cortou o silêncio da noite.

Os olhos dourados dele encontraram o castanho dos olhos dela, e em ambos uma sombra de certeza e desesperança passou. Ele agarrou a mão dela, com mais força, e ela o imitou. Estavam juntos, e se tivesse que terminar tudo naquela noite, terminariam juntos. Não era um consolo em si, mas era tudo a que podia se agarrar. Ainda havia uma tarefa a cumprir, e precisava estar tão forte quanto possível para levá-la adiante.

E, então, veloz e invisível, começou a dança mortal sob as luzes do norte.