Uma canção de Sakura e Tomoyo: beijos e despedidas escrita por Braunjakga


Capítulo 12
A Decidida




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Tomoeda, 13 de agosto de 2002

 

I

 

Hospital central de Tomoeda, Tarde.

 

Uma enfermeira enfaixava a mão de Tomoyo.

Depois, ela aplicou uma anestesia na veia. 

Havia um inchaço grande no pulso dela.

Os dois pés da costureira já estavam engessados. Uma muleta já estava a disposição para ela.

A enfermeira deu um apertão final, Tomoyo contraiu as pálpebras e sentiu muita dor.

Sakura estava no corredor, atrás de uma janela, vendo a cena toda.

Sentiu uma mão invisível esmagar seu peito. Pôs a mão no coração, tentando diminuir as dores e a sensação desconfortável.

Sonomi Daidouji, mãe de Tomoyo, estava ao seu lado. 

— Desde quando ela tá assim?

— Faz três dias que ela tá sentindo dor. 

— Três dias? – Sakura ficou tão surpresa, que a sensação ruim do coração aumentou. – E você nem pra chamar ela, Sonomi-san?

— Ela que insistiu em não vir. Perguntei pra ela o que tinha acontecido, ela falou que tava tudo bem… 

— Como assim, tava tudo bem? Com esse inchaço no braço, é? – Sakura estava mais tensa e nervosa do que Sonomi.

— A Tomoyo me explicou o que aconteceu. Ela me falou de você, me falou das Cartas Clow, me falou que aquelas luvas, aquelas botas, aquela bastão… Tudo era por você, pra proteger você… 

A Cardcaptor sentiu um choque no coração.

— Ela falou quem fez aquilo com ela?

— Ela disse que foi na luta com o cara de armadura vermelha… 

Sakura entendeu o que estava sentindo. Sentia culpa dentro de si, esmagando o coração.

— Esse negócio de inchaço demora pra aparecer, né?

— Demora mesmo. Foi só quando a gente foi na polícia que as dores começaram. Assim que ela não conseguiu mais pôr o pé no chão, ela resolveu vir no médico. Isso foi ontem. 

— O que o médico falou?

— Quebrou o osso do pé e do pulso. Vai demorar dois meses pra sarar… Mas escrever, ela ainda consegue… 

Sakura se aproximou ainda mais da janela da sala da enfermagem, colocando as mãos no vidro.

— Acho que não vai dar pra ela te ajudar mais, né?

A enfermeira terminou de fazer os curativos e Tomoyo levantou a cabeça, olhando para a janela.

O olhar das duas se encontraram.

 

II

 

Tomoyo foi transferida para um quarto do hospital, até o efeito da anestesia passar. Estava deitada no leito, coberta com um lençol.

A dor e o inchaço eram tão grandes que, com a demora na procura por atendimento, a enfermeira aplicou uma anestesia local, nas pernas dela.

Ela não poderia andar por algumas longas horas.

Sakura bateu a porta e a mulher abriu.

— Pode entrar.

A profissional já havia terminado os procedimentos e estava se retirando.

— Vejo que você tem visita, Tomoyo! Amanhã, vamos observar a evolução do seu inchaço e depois você está de alta.

Ela colocou as seringas numa bandeja e fechou a porta do quarto. 

Só ficaram as duas no lugar.

Sakura, mesmo não querendo, hesitava.

O olhar de Tomoyo era triste, mas sorridente.

— Foi pra praia, né? Nem me falou nada… 

Mesmo hesitando, respondeu decidida:

— Eu ia te chamar pra praia e você ia passar mal lá, é? 

As duas sorriram de leve.

— Você podia ter me falado… 

— Eu não falei, Tomoyo, precisava desse tempo só pra mim… Pra pensar em tudo o que eu fiz e… Tudo o que aconteceu até agora.

— E o que você pensou?

Tomoyo cavava a mente de Sakura como uma broca, sem medo de chegar mais fundo. Sakura, pelo contrário, se sentia invadida pelas perguntas dela, despida, pouco a pouco, por ela. 

Queria que ela parasse com isso, mas, por incrível que pareça, ficava mais decidida ainda a cada pergunta da amiga querida.

— Bem.. pensei que… – Sakura ficava olhando pelo quarto, procurando agarrar o olho em alguma coisa. Mas aquele quarto era tão branco que a costureira era a única coisa que fixava a atenção de Sakura. – Pensei muito Tomoyo, naquilo que a gente fez… Lá no templo… 

— Sei… Eu gostei, tá? Nunca me senti tão bem e tão à vontade do seu lado! Pensei que você não ia gostar, mas a gente se demorou um tempão fazendo aquilo, né? Você riu, eu também ri com aquilo… 

A costureira estava animada, relatando o beijo.

— Eu também gostei, Tomoyo. – Sakura fez cara de choro. – Sabe qual a pior parte? Essa é a pior parte! Eu gostei, eu gostei daquilo, eu faria de novo isso com você, mas… 

Sakura buscava as palavras dentro de si para responder para Tomoyo, sem magoá-la, mas elas não vinham. Encontrou forças para falar justamente quando a morena envolveu suas mãos com as dela, acariciou de leve, dizendo para ela com o olhar “não se preocupe”.

— … Mas não dá, Tomoyo! – Sakura começou a chorar. – Isso é esquisito! É esquisito demais! Como eu posso tá falando que eu gostei de ser beijada por você? Isso não tem lógica! Não tem lógica mesmo! 

— Não tem lógica porque só menino beija menina? Não tem lógica porque nós somos duas meninas?

— É isso mesmo! É isso mesmo! Eu devo tá ficando maluca! Como é que eu pude! Como é que eu pude! 

— Você se sente culpada, Sakura, porque beijou uma menina? – Tomoyo sorriu melancólica, sem a alegria de antes. – Ou você se sente culpada por que você nunca viu menina se beijar com menina e acabou gostando disso? 

O olhar de Tomoyo era gélido e impassível como o gelo.

O aperto que Sakura sentiu no peito quase fez seu coração explodir.  

— Tomoyo, não confunda as coisas! Eu gosto do Shoran-kun, a gente já é namorados e você não devia ter feito uma coisa dessas comigo, tá legal?

— Eu não sabia que você já estava namorando o Syaoran-kun, estou sabendo disso agora. 

Sakura se enrolou.

— Ai, sabe como é, é que isso foi ontem e… 

— Você não veio falar disso comigo ontem, então, eu não sabia. Quer dizer que, antes de ontem, vocês não eram namorados, não é?

— Mas eu tinha muitos sentimentos pelo Shoran e você sabia disso!

— Sim, eu sabia. Mas eu não achava certo manter, aqui, dentro de mim, uma porção de sentimentos que eu também tenho por você.

— E você precisava me beijar pra me dizer isso? 

— Precisei, precisei sim, porque você não me entenderia. Mas eu falo aqui e agora, se você prefere assim: eu te amo, Sakura! Eu te amo muito! Eu sempre te amei, desde os primeiros momentos que eu te vi, na terceira série, e eu sempre vou continuar te amando, não importa onde você esteja, não importa onde eu esteja… Eu queria que fosse comigo, mas vou respeitar suas escolhas…  

Sakura corou com a declaração. Seu coração palpitou com o dobro da velocidade. Sua mão suava, seus dedos tremiam. Nem conseguia mais olhar para Tomoyo. Não conseguia olhar diante da sinceridade, seriedade e alegria no olhar que ela transmitia.

Não aguentando mais, arrancou suas mãos das delas com tudo e gritou, nervosa:

— Isso é esquisito, Tomoyo, isso é esquisito! Meninas não foram feitas pras outras meninas! Você me enganou esse tempo todo, você se aproveitou de mim, me fazendo vestir aquelas roupas, me filmando, tirando fotos minhas, como eu fui tonta! Como eu fui tonta! 

— Sakura… 

— Não chega perto de mim! Não chega, vai, não chega… 

A garota chorava tanto com a revelação que seu rosto ficou muito vermelho. Estava encharcado de lágrimas e muito inchado. Seu nariz estava entupido e respirava com dificuldade.

— Se você quiser falar comigo depois… 

— Não quero! 

A Cardcaptor saiu do quarto com tudo, abriu a porta numa velocidade que quase bate num paciente, andando com uma bolsa de soro.

Todo mundo daquele hospital olhava para ela espantado.

 

III

 

Sakura correu as ruas de Tomoeda, com o rosto inchado, cheio de lágrimas, até chegar em casa. 

Chegando lá, abriu a porta de entrada com tudo, fechou a porta do quarto com uma batida forte e jogou-se na cama, agarrando o travesseiro com força contra o peito, que insistia em doer mais ainda, a cada vez que berrava.

Kero ficou olhando pra tudo passivamente, desde a sala de estar da casa, onde assistia televisão.

O guardião amarelo flutuou até o quarto da Cardcaptor e abriu a porta devagar.

— Sakura, você conseguiu falar com a Tomoyo? 

Ela não respondeu.

Kero achou por bem sair do quarto e deixar a mestra em paz. Quando fechava a porta, ela falou:

— Consegui sim, Kero! O pior de tudo é que eu consegui sim! Como eu não queria ter conseguido, como eu não queria ter conseguido!

 

Continua… 


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