Uma canção de Sakura e Tomoyo: beijos e despedidas escrita por Braunjakga


Capítulo 11
O Orbe




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Tomoeda, 11 de agosto de 2002

Casa dos Kinomoto, Três dias depois do incidente.

 

Era começo de noite.

Havia um bule de chá verde vazio, de porcelana, em cima da mesa, na sala de jantar.

Fujitaka estava no pé do fogão, trazendo outra caneca fervente da bebida.

Ele sorria como sempre, só que sem o mesmo calor de antes, sem o mesmo calor quando veio pra jantar, a convite de Sakura.

Nem sequer estavam vestidos para uma visita. Os dois ainda usavam aventais, por conta da faxina de casa.

Enquanto estava sentado, olhando para as frestas de madeira da mesa, O chinês ficou repassando mentalmente todo o caminho que o levou até aquele momento.

Viera porque o pai de Sakura ligou para ele, querendo conversar.

Durante três dias, não conversou com a Cardcaptor, nem recebeu nenhum telefonema dela. Já pensou em fazer aquela visita amanhã, mesmo se ninguém continuasse a falar com ele.

Touya olhava para Syaoran de braços cruzados. Ele não queria conversa com o rapaz e indicava isso com o olhar.

Aquela casa estava silenciosa, só com os dois homens naquele lugar.

— E a Sakura, não tá aqui hoje, né? A Rika me falou que iam sair pra fora, e a Sakura pediu não me falar onde era… 

— Agora tanto faz você saber ou não. Ela tá na casa da Chiharu, na praia. 

— Foi todo mundo com ela, até o Kero?

— Sim. O Yamasaki, a Naoko, a Rika, menos a Tomoyo. Tava todo mundo querendo conhecer o Kero… 

— Quando ela volta?

— Vai passar a noite lá hoje e só volta amanhã… 

A resposta foi seca e desinteressada. Tentou mais uma vez:

— Todo mundo recebeu uma viatura da polícia na porta de casa?

— Todo mundo… 

Quando entrou, viu que duas viaturas da agência nacional de polícia estava de prontidão na porta da casa, esperando para agir, se necessário, e proteger a família Kinomoto. Ele não recebeu escolta, mas um policial, que também era mago, estava de prontidão no hall do seu hotel.

— Eu falei com a Rika… Ela falou que… Ela falou que ia ter depoimento, não foi? O meu tá marcado pra amanhã… 

Dessa vez, Touya não falou mais nada.

Sem ter contato com a família, só vendo a polícia apertar o cerco contra todos que tiveram contato com as cartas, Syaoran parou Rika Sasaki, a amiga de Sakura, com cabelos channel cor de vinho, para perguntar, dois dias depois da briga. Soube, por ela, que a Cardcaptor estava há dez horas na polícia depondo, explicando a aventura com as cartas.

Os outros tiveram mais sorte e só passaram três ou menos. Ele não teria essa sorte. Tomoyo passou doze horas e teve até que entregar os DVDs, imagine ele.

Era normal ela não estar lá, era normal ela não estar no meio daqui loucura toda, até mesmo ele estava com vontade de ir para Hong Kong o mais breve possível.

Mas antes, tinha que encarar Fujitaka, Touya e Sakura.

Finalmente, o chá ficou pronto e o professor encheu o bule de porcelana devagar. Touya se encarregou de colocar os outros três copos na mesma.

Fujitaka também os encheu com calma e serenidade. E depois, se sentou para encarar o rapaz.

— Syaoran, antes de começar essa conversa… 

O professor estendeu a mão para ele.

O cardcaptor soube na hora o que ele queria. 

Sem hesitar, tirou do bolso o orbe negro, de onde saía sua espada, em cima da mesa.

Touya pegou o objeto e começou a analisar.

— Você sente alguma coisa?

O rapaz confirmou com a cabeça.

— Eu também… O que eu ainda não entendo é que a gente tinha um objeto mágico dentro da nossa casa e não percebeu! 

— Ele tava lacrado, né, pai! Acho que ele só liberou os poderes quando a Sakura abriu o livro… Até mesmo o Kerberos disse que ficaria ainda preso no livro, se a ela não tivesse liberado ele.

— Eu não entendo, filho! Eu ouvi o Kerberos falando isso, mas ele fala com o sotaque de Osaka, como se tivesse vivido a vida toda lá! De alguma forma, dava pra perceber esse livro! Se o Kero aprendeu o dialeto de Osaka, então esse livro interagiu com o mundo exterior! Por que não deu pra fazer o processo inverso?

— Sei lá, pai, nem quero saber… 

“Isso é tão típico de magos que vivem no meio dos comuns, não entender seus poderes, nem a magia… Pra maioria eles, é melhor viver assim”, pensou Syaoran.

— … Quem te deu esse livro?

— Eu ganhei de um professor de Osaka, quando fui fazer um curso lá. Pena que ele já faleceu, mas ele me falou que não conseguia abrir ele de jeito nenhum. Daí, eu também não consegui e larguei ele de lado… 

Touya deu risada.

— … Até vir uma monstrenga e acabar com tudo de uma vez! 

Fujitaka sorriu discretamente.

— Não me lembra dessa parte, filho! Já estou cansado de ouvir essa história de cartas se espalhando por aí! Foi cansativo ficar acompanhando o seu depoimento e o dela, e ainda ter que dar o meu!

Syaoran apenas ficava calado ouvindo e olhando os dois, enquanto eles examinavam o Orbe negro, que era sua espada.

O pai da cardcaptor colocou então o orbe na frente dele.

— Syaoran, pode liberar ele… 

— Tá bom…

O chinês pôs a mão no Orbe, ele brilhou e virou uma espada, em cima da mesa.

Pai e filho examinaram o fio de corte dela. Touya tocou e tirou o dedo, de uma vez, pois bastou colocar um dedo na lâmina para se ferir.

— Você sabe o que é isso, Syaoran?

— Sei. Uma espada.

— Isso não é só uma espada. Isso é sua vida. Esse orbe é você.

O rapaz ficou calado.

— Eu não entendi ainda.

— Antigamente, quando os samurais lutavam suas batalhas, eles tinham um grande zelo, pra que suas espadas não se soltasse de suas mãos. Sabe por que?

— Porque um soldado desarmado significa derrota?

— Porque a espada era a vida deles! Perder a espada é como perder a vida! Mas, usar a espada contra alguém era um gesto defesa, de preservação da vida contra um adversário. Tudo pelo seu senhor. 

O rapaz entendeu onde o professor queria chegar. 

— Eu entendi… 

— Por que, Syaoran? Porque você usou essa espada contra a Tomoyo?

Syaoran olhou para um ponto vazio, no nada, por um minuto antes de olhar de volta para Fujitaka e responder:

— Isso é um assunto entre eu e ela, só eu e ela pode responder isso.

— Você podia ter perdido a cabeça de vez e ter matado ela! Você pensou nisso? – disse Touya.

— Tudo o que eu fiz, foi ver se ela era capaz de proteger a Sakura, só isso.

— Você fez isso do jeito errado, rapaz! Precisava ter discutido com ela, como você fez? Precisava ter quase quebrado o pulso dela? Precisava ter exposto ela daquela forma?

Cabisbaixo, respondeu:

— Não, não precisava… 

— Você usou força demais! Parecia um duelo de testosteronas, para ver quem tinha mais! A Tomoyo é menina! Pensa nisso da próxima vez que você discutir com ela! 

Syaoran ouvia aquela repreensão calado, sério, mas não queria estar lá. Só a mãe o repreendia daquele jeito. Ouvir aquilo de Fujitaka era estranho ainda. Ele sempre foi um rapaz educado e atencioso para não receber recriminação de ninguém, mas daquela vez, era diferente. Bem diferente.

— Não vai ter próxima vez, Senhor Fujitaka… – O chinês se levantou da mesa e recolheu a espada de volta, dentro do orbe negro.

— Isso é ruim, Syaoran, isso é muito ruim mesmo… As coisas não se resolvem assim… Você devia dar tempo ao tempo.

— Posso falar com a Sakura? Tem uma coisa que eu preciso falar só com ela… 

— Amanhã ela volta e eu vejo com ela o melhor horário e lugar… eu também quero resolver essa discussão o mais breve possível. 

Touya ainda olhava o cardcaptor com desconfiança, de braços cruzados. Fez uma última questão para ele, antes que partisse:

— Hey, moleque! Cês brigaram por causa da Sakura, não é? Me diz: que tipo de discussão, envolvendo minha irmã, aconteceu entre você e ela? 

— Eu já disse: isso é uma coisa entre eu e ela apenas. Se vocês quiserem saber mais, pergunta pra ela, acho que ela não contou tudo pra vocês…

Syaoran fechou a porta e saiu da casa dos Kinomoto, deixando pai e filho com aquele ponto de interrogação enorme na cara, diante daquele bule de chá verde frio, que ninguém tomou. 

O chinês só terminou seu copo por educação e hospitalidade.  

— Hey, volta aqui! A gente ainda não acabou de conversar! 

Fujitaka pôs a mão no ombro do filho e acenou negativamente com a cabeça.

— Deixa ele, filho, ele ainda deve estar chateado com tudo isso… 

 

II

12 de Agosto de 2002

 

Vestido de Yukata, Syaoran aguardava a chegada de Sakura, no templo Tsukimine.

Um vento frio e forte soprava, agitando as lanternas, os tetos de lona da barraca, os papéis e os sinos de orações do templo. 

Aquele fenômeno era bem atípico para o verão, mas uma massa de ar frio, vinda do polo norte, baixou as temperaturas em todo o Japão. 

Era manhã ainda, mas faltava meia hora para o meio dia.

Enquanto esperava, ficou lembrando quando Fujitaka ligou no hotel, naquela manhã. Ele falou que Sakura desejava falar muito com ele, que ela ficou triste por saber que ele tinha ido na casa deles ontem, sem ela por perto. Sakura pediu para se verem o mas breve possível. Marcaram para perto do meio dia, no templo, antes do depoimento dele, que seria na parte da tarde.

Aquele era um lugar especial, onde terminaram de capturar as Cartas Clow. 

Isso animou Syaoran. Seu coração palpitava dentro do peito, ansioso, só de lembrar daquilo. 

Aquele também foi o lugar onde ele disse para ela: eu te amo.

Mas também, há alguns metros dali, era o local onde tinha visto o beijo entre as duas.

Agitando a cabeça, tentando esquecer isso, Syaoran levantou os olhos para a escada e viu Sakura chegando, correndo, usando a yukata azul marinho, com estampas de peixes que compara para o encontro com ele… junto com Tomoyo, é claro. 

— Syaoran!

A garota abraçou o rapaz com força.

— Sobreviveu?

— Sim, eu e as meninas. A gente tava comemorando, o fim dos depoimentos, sabe? Aquilo foi um saco… Você não depôs ainda, né?

Sakura olhava o rapaz com preocupação. Já sabia a resposta dele, com aquele desvio de olhar. 

— A Tomoyo não foi com você, né? Ela não quis ir?

— Eu não convidei ela… 

A cardcaptor falou num tom triste, olhando para baixo. O chinês se voltou para ela surpreso.

— Por quê? 

— Porque eu sei o porquê de vocês brigarem… 

Os dois se calaram e olharam para o vazio de novo. 

— Sakura… Eu tô me arriscando muito aqui… Tô deixando minha mãe de lado, tô deixando minhas irmãs… Meu time… Eu nem sei se isso vai dar certo… mas eu tô fazendo isso… Eu… 

Antes que terminasse, a garota cortou ele no meio:

— Pensa que eu não tô vendo isso? Eu te amo, Syaoran! Eu te amo mesmo! Eu te disse, não te disse? Te disse na torre do relógio, pegando a carta esperança? Eu também me arrisquei muito por você naquela hora, dando aquele salto no vazio… 

Sakura começou a chorar muito e seus olhos começavam a ficar vermelho.

— Eu chorei por você! Eu chorei quando você partiu! Eu chorava quando você tava longe de mim! Eu só tinha aquele urso preto pra abraçar na hora, quando eu queria ter você por perto! Você pensa que eu tô brincando? 

— Mas você ama a Tomoyo também, não é? – Syaoran sorriu de incredulidade – Isso é tão… estranho? Muito estranho pra mim, sabe? Imagina se você falar pro seu pai… 

— … Ele falou comigo! Ele me perguntou! Eu não falei nada ainda pra ele… ainda, mas, o Touya tá desconfiando.

— Desconfiando, é?

Sakura não se segurou e desabafou:

— Pra ser sincera, pra ser sincera mesma, eu não sei o que deu em mim naquela hora. Eu gosto muito, muito mesmo da Tomoyo… Daí ela falou que não tem mais tempo, que não tem tempo… Eu senti um negocio aqui no peito e… E eu beijei ela. Foi bom, na hora, eu gostei, ela sabe beijar bem… 

Sakura sorria com a lembrança e Syaoran baixou a cabeça.

— Sei… 

Sakura colocou a mão no queixo dele e levantou a cabeça dele. Os dois agora se olhavam olho no olho. Sakura agarrava os ombros dele.

— Mas isso não muda nada o que eu sinto por você, aqui dentro de mim! Eu já tenho 13 anos, e eu já tô crescidinha pra tomar minhas decisões… E eu sei que, mesmo não conhecendo tudo de você ainda… Eu sei que, é com você que eu quero namorar, Syaoran! E mais nada! E então? Quer namorar comigo, mesmo que seja à distância? 

O chinês arregalou os olhos e sorriu de felicidade.

A cardcaptor interpretou aquilo como um convite para avançar mais. Colocou as mãos no pescoço dele e os dois se beijaram diante do templo, com aquele ar gelado unindo os corpos deles, balançando as yukatas. 

 

Continua…  


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