A Aranha na Teia escrita por Elvish Song


Capítulo 18
Fugitive


Notas iniciais do capítulo

Olha eu aqui!!! Volteeeiiii!!!Entrando aqui num novo arco, decorrente do anterior; algumas coisas eu não pude descrever muito longamente por dois motivos: 1 - ia ficar um arco de uns doze capítulos, se eu fizesse isso e, 2 - não quis estragar a dinâmica de espionagem com detalhamento de coisas que não conheço bem o suficiente, então, só espero que tenha ficado a contento, porque foi feito com carinho!Beijos enormes!PS - passei a fazer os capítulos com média de 4000 palavras, pelo conforto dos leitores.



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Os dias se passaram com uma nuvem cinzenta sobre os Vingadores. Natasha estivera taciturna, preocupada, quase paranoica após os eventos em Dyatlov Pass, não apenas por culpa - ela não se deixava consumir por esse sentimento, por não ser nada além de autopiedade inútil - mas principalmente por saber os extremos a que a antiga colega poderia chegar: a rivalidade entre ambas jamais chegara a termo, e continuava intensa da parte de Nadya... Além disso, com a ex-Widow servindo à HYDRA, os riscos para ambas as Romanoff se tornavam exponenciais, incutindo na espiã verdadeiro horror ante a possibilidade de sua filha ser arrastada para essa guerra que nada tinha a ver com ela e levando-a a extensas horas de trabalho noite adentro, mesmo depois que todos os demais já haviam insistido para que se desse algum repouso.

 

 Steve, Clint e Lucy eram os mais afetados pelo estado de nervos de Natasha, não porque esta houvesse mudado como os tratava, mas pela exaustão maldisfarçada que claramente notavam sob as múltiplas camadas de disfarce que usava, e isso os mortificava por parecer que, considerando-se um perigo para eles, colocava-se além de seu alcance. A rotina, como treinar, levar a filha à escola ou participar das reuniões de trabalho com a equipe, se transcorria normalmente, e ainda assim seu olhar estava sempre tenso e agitado, a mente trabalhando a mil em qualquer momento desocupado, lidando com assuntos que se recusava a compartilhar até mesmo com Barton, para o qual a situação se tornou insustentável a ponto de, certa manhã, explodir com a ruiva na academia; longe de esboçar reação, esta o fitou de cima a baixo e apenas declarou:

 

 - Você sabe que tenho meus motivos, Clint. Confie em mim, sei o que estou fazendo.

 

 - Não se faz de sonsa, Romanoff. Está mentindo para todos nós, e ninguém aqui é idiota; você vai fazer algo estúpido e potencialmente fatal, e não está nos deixando nenhuma alternativa!

 

 - Tem razão. Não estou. É coisa minha, e se fosse para você ter alguma alterntiva eu já teria lhe falado a respeito, como sempre fiz.

 

 - O que quer que esteja fazendo, Nat, é uma péssima ideia! Pense na Lucy! Ela precisa de você!

 

 - Apelo à emoção não funciona comigo, e já devia saber, Barton. Mas se isso o deixa tranquilo, tudo o que faço sepre tem o bem estar da minha filha como o principal elemento. - Ela encerrou a discussão simplesmente saindo da academia e travando as portas de modo que tomou ao arqueiro cerca de cinco minutos para se libertar. Profundamente irritado, o outro espião se dedicou a tentar descobrir os planos da amiga, mas ela se tornara invisível! Não havia sinal dela, fora sua rotina convencional, e assim continuou por oito dias.

 

*

 

 A S.H.I.E.L.D. estava em completo caos, após a invasão sofrida. Dupla invasão, em verdade: um vírus agressivo invadiu os sistemas que armazenavam os dados dos agentes e ex-agentes, mas ao tentarem livrar os arquivos do ataque cibernético, os especialistas descobriram que as fichas de tudo relacionado ao projeto Vingadores fora não apenas deletado, mas sequer deixara marcas. Era como se as informações jamais houvessem existido, completamente apagadas... E os arquivos físicos foram roubados, sob os olhos atentos de agentes treinados que sequer conseguiram detectar a presença de alguém. O mais assustador: não haviam sido as mesmas pessoas. O vírus introduzido no sistema não tinha a capacidade de apagar qualquer vestígio, sequer tinha esse propósito; era basicamente um Trojan, com a função de roubar dados, não de destruí-los. Na verdade, sequer teria sido detectado sem a invasão anterior... Junto com as informações sobre os Vingadores, haviam sido destruídas todas as menores menções a Clint Barton e Natasha Romanof, bem como qualquer dado sobre as interações de ambos com qualquer outro indivíduo. E todos sabiam quem havia sido...

 

 Natasha desaparecera como fumaça. Câmeras, registros bancários, seguranças, amigos... Nada nem ninguém a havia visto. Ela fora se deitar como uma Vingadora, e quando o dia raiou, não havia mais sinal, como se Romanoff jamais houvesse existido em suas vidas, ao menos no que dizia respeito a vestígios e indícios que dessem qualquer pista sobre aonde fora. Clint, Tony e Steven reviraram os abrigos menos óbvios dos quais tinham conhecimento, mas ela sequer passara por ali... E então viera a notícia sobre a dupla invasão aos centros de controle da SHIELD. A espiã não estava apenas fugindo dos amigos, mas cometera um ato facilmente enquadrado como crime cibernético - talvez até terrorismo - e, graças a isso, era procurada pela agência de inteligência. Os Vingadores se encontravam de mãos atadas, na urgência de encontrar a colega antes que essa fosse ferida pelos inimigos, ou capturada pelos ex-aliados... Os membros da Shield não seriam gentis por já hver sido uma deles, em verdade isso contaria contra ela, especialmente por todos saberem muito bem o quão perigosa e habilidosa era. Não haveria misericórdia ou hesitação, e a única chance de a russa não ser jogada em um porão e esquecida, ou pior, era que os amigos a conseguissem encontrar e entender o que a fizera agir de tal modo. Uma coisa eram contas do passado a acertar, mas isso...? Havia uma explicação, isso todos os Vingadores sabiam, mas descobrir qual... Este era outro nível de investigação.

 

 Na manhã do terceiro dia, enquanto prourava novamente entre as coisas de Natasha que poderiam dar alguma direção de seu paradeiro, Steve se deparou com uma corrente dourada, com um pingente em forma de coração; ao abrir, encontrou uma fotografia em miniatura de Lucy, Natalya e de si mesmo, e teria sorrido para a imagem se esta não se desencaixasse, caindo em seu colo e revelando atrás de si uma série de minúsculos pontos e traços... Morse. Contudo, consistia apenas em uma confusa sequência de números - certamente teria algum significado -, e a interrupção causada pelo contato de Maria Hill o alarmou o suficiente para que momentaneamente a função de lidar com os correspondentes da SHIELD o ocupasse totalmente; sabiamente, o Capitão esperou antes de ver novamente o objeto.

 

 - Agente Hill? Tem alguma notícia para mim? 

 

 - Fury está fazendo o possível, Steve, mas Natasha nos deixou de mãos atadas; é um crime federal, crime de espionagem se esses dados caírem em posse de qualquer um além dela.

 

 - Sabe o quão hipócrita isso soa, não sabe?

 

 - Não sou eu que faço as leis. De qualquer jeito, Fury conseguiu segurar a ordem de execução, mas se não a trouxerem de volta em 48 horas, duvido que algum agente vá tentar apenas prender Romanoff. Não têm nenhuma ideia sobre onde ela pode estar?

 

 - Se tivesse, já estaria lá, e não aqui. Mantenha-me informado, por favor. Sabe que Natasha não faria isso se não fosse urgente.

 

 - Steve, eu tenho convicção de que ela estava nos protegendo da invasão que se seguiu, mas até haver uma prova disso, é só uma suspeita. E se esses dados caírem nas mãos de mais alguém, ainda é crime internacional de espionagem, e a pena é execução sumária. Ela sequer teria um julgamento...

 

 - Conheço as leis, Maria. Não precisa me lembrar delas. - Percebendo o quão ríspido fora, Rogers se abrandou. - Desculpe por isso. É... Um pouco demais.

 

 - Eu entendo. Vamos continuar nossa parte, Capitão. Avise-me se souber de qualquer coisa.

 

 Assentindo, Rogers desligou a chamada de vídeo, e não demorou para escutar Clint batendo à porta antes de entrar, devido à porta aberta.

 

 - Capitão? Alguma notícia?

 

 - Fury vai segurar a força letal por mais 48 horas, mas não tem como fazer muito mais. - O soldado seguiu para a cozinha, onde se ocupou de fazer sanduíches de manteiga de amendoim e geleia para Lucy, que estava estudando no quarto, anormalmente quieta. - Tony e eu colocamos as feições dela para serem rastreadas no sistema, para identificarem algum disfarce que possa estar usando.

 

 - Capitão, ela vai usar uma máscara holográfica. É a Nat. Só vamos achá-la se ela quiser ser achada, e é isso o que me frustra tanto.

 

 - Acho que encontrei uma coisa, mas está em código numérico. - O mais velho tirou o papel de seu bolso e o estendeu para Barton, que arreglaou os olhos ao reconhecer. - Estava dentro de um pingente, nas coisas da Natasha.

 

 - Ela nunca seria seria tão descuidada... Isso é...

 

 - Uma mensagem. Sim. Acho que a Nat não sumiu sem nos deixar alguma pista, só não deixou óbvio.

 

 - Rogers, se não fosse casado eu te daria um beijo, agora. Cuide da baixinha, eu vou começar a trabalhar nisso. - Nesse instante, Lucy saiu do quarto com aquela expressão anormalmente séria que se tornara sua companheira nos últimos dias, e o Gavião deu um sorriso triste, se abaixando. - Oi, coisinha. Como você está?

 

 - Com saudade da mama. Mas ela vai ficar bem, padrinho: ela sempre fica. Não ia estar longe da gente se tivesse escolha, mas assim que puder, vai voltar. Você sabe que ela sempre volta. - Sua voz era anormalmente calma e firme, com uma fé inabalável na mãe. 

 

 Barton sorriu e pegou a afilhada no colo: essa criança era a cópia da mãe, sempre cuidando de todos em volta... Abraçando-a com amor, declarou:

 

 - Devíamos ser nós a te acalmar, sabia?

 

 - Mas eu tô calma, e vocês estão preocupados com ela. É a pessoa mais calma que tranquiliza as outras, tio Clint. Tá tudo bem, vocês também podem ficar com medo. - Pegando o sanduíche na pia, continuou. - Obrigada, daidí. Padrinho, você devia comer, também. O papai eu faço se alimentar, mas você deve estar que nem a mamãe fica. - E num gesto espontâneo, deu metade do sanduíche para o tio, que sorriu ternamente, do mesmo modo que Rogers. 

 

 - Você é nossa princesa. O que faríamos sem você?

 

 - Seriam tristes. Que bom que estou aqui. - Com um carinho no rosto do tio e outro no do pai, perguntou. - Tudo bem se eu ficar no quarto? 

 

 - Sim, meu bem. - Steve beijou a testa da filha. - Papai vai continuar trabalhando, então vou pedir pra Yukio vir dormir aqui, tudo bem? - A adolescente ocasionalmente trabalhava como babá da pequena, especialmente quando esta se encontrava triste, e hoje parecia a melhor opção. Ante a anuência mud dela, insistiu. - Tudo bem?

 

 - Tudo bem, papa. Eu só queria ser grande, já, pra poder ajudar.

 

 - Ser grande não ia ajudar, agora, meu bem; sua mama dá um baile em todos nós, independente da idade. Eu só quero que você continue ficando calma e confiando na sua mama e em todos nós. Consegue fazer isso?

 

 - Eu sempre confio, daidí.Agora, você e o tio Clint precisam trabalhar pra achar a mama. Eu prometo que vou ficar bem.

 

 - Quando isso acabar, vou tirar duas semanas e ser todinho seu. Prometo.

 

 - De dedinho?

 

 - De dedinho. - Steve deu mais um beijo na cabeça da filha, e se levantou. Depois que a filha voltou para o quarto, onde se ocupava lendo, desenhando e brincando, o Vingador se voltou para o amigo. - Ela vai dar um baile em todos nós antes dos quinze.

 

 - Dos doze. É a Nat cuspida, e não sei se é uma coisa boa... Vou cuidar de decodificar a mensagem. Você tem alguma pista?

 

 - Essa foto é do dia que fomos às docas, quando ensinei Lucy a pescar. Nat tinha um contêiner ali... Não no nome dela, mas acho que pode haver alguma pista. Ela não deixou essa foto específica de modo aleatório.

 

 - Vale a investigação. Assim que conseguir decifrar o código, entro em contato. - Clint estava abalado, como Steve ainda não o vira antes. Não era comum que Natasha o excluísse daquela forma e, dessa vez, ela fora muito longe... Colocara toda a SHIELD atrás de si. Contudo, a perspectiva de uma pista fazia o arqueiro recobrar o ânimo. Com um tapinha amigável no ombro de Rogers, Barton seguiu para a sala de processamento de dados, onde poderia se dedicar a desvendar o que Natasha deixara para eles.

 

*

 

 Romanoff checou a rua com atenção, deixando atrás de si o cadáver do informante estirado no chão; para qualquer um, seria um infarto fulminante, sem qualquer vestígio de assassinato - um infarto provocado por uma toxina que se degradaria em alguns minutos, antes de poder ser detectada - e que ela não precisou de mais do que um segundo para identificar. Seu informante, alguém que lhe devia coisas, que tinha informações valiosas, e que a SHIELD sabia ter contato com ela. Era o terceiro assassinato de pessoas ligadas a ela desde os tempos da Rússia, e Natasha soube de imediato o que acontecia... Estavam sabotando sua imagem, tentando atribuir a ela cada um dos crimes. Até o momento, ela roubara e deletara informações da SHIELD, e agora parecia estar eliminando testemunhas.. O típico trabalho de uma espiã a eliminar o próprio rastro, e não havia como provar que não fora ela...

 

 - Filha da mãe... Aprendeu bem a lição, enfim... - A ruiva entrou no carro da vítima (ele não precisaria disso, de qualquer modo) com a maleta de pertences que reunira entre dinheiro, documentos falsos e celulares, nada de que o morto fosse dar falta, mas lhe seriam profundamente necessários. Contudo, não utilizou os celulares, mas os trocou com um contato do mercado negro. Não poderia se garantir de que os aparelhos não estivessem grampeados, e por isso da transação. Seu próximo passo era um de seus últimos contatos fora do radar da SHIELD, mas já sabia o que ia encontrar...

 

 - Por favor, Isaiah... Esteja vivo... - De arma em punho, subiu as escadas do complexo de apartamentos, mas o simples cheiro de sangue denunciou tudo... A porta estava aberta, arrombada, e o corpo do contador jazia atravessado no chão. Não, não... Ah, deus! estava vivo!!!

 

 Como uma flecha, a Viúva se abaixou junto ao conhecido, pressionando o sangramento em sua clavícula esfaqueada; removendo o cinto do homem, usou para envolver sob seu braço e sobre o ombro oposto, puxando e pressionando com força para estancar a hemorragia. 

 

 - Olha para mim. Respira fundo, você está vivo, e é como vai continuar! - Não teve tempo de puxar o celular... Gritos e botas na rua e escadaria a alertaram... O celular de Isaiah tocou e, mesmo sem ser atendido, uma voz feminina falou:

 

 - Tomei a liberdade de chamar seus amigos da SHIELD para verem seu trabalho, Natushka. Seu império é pó. Vou assistir à sua queda, de meu camarote. - A ligação emudeceu, e a espiã tinha duas opções: ficar ali e ser presa, talvez executada, ou fugir. Não podia esperar mais... Precisava parar Reclusa, limpar o próprio nome, encerrar essa nova iniciativa de Sala Vermelha e resolver essa enorme bagunça... Assim, foi com dor no coração que deixou o amigo no chão, ainda com o torniquete apertado, e desapareceu escada acima até o terraço.

 

— ROMANOFF! ALTO! MÃOS NA CABEÇA! - Os gritos que chegaram a ela só a fizeram correr com mais agilidade, saltando nas paredes para impedir uma mira precisa; cruzou a porta para o exterior e a usou como aríete direto no rosto do perseguidor mais próximo, roubando-lhe a arma e usando-a com barra para travar a passagem. O indivíduo desfalecido não ficaria assim por muito tempo, então a agente decidiu assumir de vez todos os risco, correndo em direção ao parapeito: saltou a distância de dez metros até o prédio vizinho, mais baixo, como um gato salta entre telhados, e do momento em que fugiu a plenas vistas não havia mais volta. Rolando para amortecer o impacto, ergueu-se outra vez e retomou a fuga, logo saindo do alcance dos disparos que choveram sobre si. Muito bem, agora a ordem seria execução... Seu dia estava apenas "melhorando", e ela iria estrangular Reclusa por isso. O que começara como uma rivalidade infantil havia se tornado uma guerra que envolvia duas agências de inteligência e as vidas de dezenas de pessoas... 

 

Xingando mentalmente, a espiã buscou abrigo na rede de esgoto, sempre uma alternativa válida e rápida para se mover pelas cidades maiores sem ser destectada; Las Vegas não era excessão, e em verdade havia mesmo um excesso de pessoas habitando permanente ou temporariamente determinados setores. Reclusa não ia parar... Não era sobre vencê-la, era sobre destruí-la... Não bastaria vencer ou matar sua perseguidora: a única forma de recuperar sua vida seria expor Nadya e suas ações sob o comando da Hydra... Precisava fazer o próximo movimento. Havia deixado rastros suficientes, precisava de uma isca para poder se antecipar à outra... E a ideia perfeita lhe ocorreu...

 

Flashback on

 

— Você é a favorita, eles nunca me dão uma chance de verdade, porque as missões que valem algo sempre vão para a "estrela" deles!- Nadya gritou na face de Natasha, frustrada. - Eu poderia ser melhor, poderia ter minhas próprias missões solo!

 

— Você não iria sobreviver cinco minutos lá fora, numa missão dessas, malishka da mama! Lá ninguém vai pegar leve por você ser a dotchurga da Treinadora. - A voz de Natasha era deboche e acidez, mas havia raiva, também. - Mimada! Eu sou a favorita porque dou meu melhor!

 

A menina de dezesseis anos empurrou com violência a mais velha para trás, furiosa... Ser a favorita era a única coisa que "abrandava" seu calvário. Se na maioria dos dias dormia com comida na barriga, se as punições haviam se tornado mais raras e menos intensas do que ao longo de sua vida, era porque não deixava brechas para falhas, porque cuidava de ser a melhor a cada segundo... Mas isso vinha com preços. Preços que ela queria não pagar, mas a vida era o que era. Agora, ter a filhinha mimada da Treinadora desmerecendo os poucos "privilégios" que quase se dilacerava para conquistar, a preços extremamente altos... Isso não admitiria. Mas empurrar a outra não fora inteligente... Nadya se recuperou do momento de desequilíbrio e, com ódio nos olhos, tentou golpear Natalya, a qual bloqueou o golpe.

 

O que começou como uma discussão acalorada se tornou um combate corpo a corpo violento; o som dos golpes trocados parecia com um martelo atingindo carne, as tábuas do piso estalando sob a brutalidade das moças; um grito de dor e raiva se fez ouvir, e Nadya se viu presa sob o corpo da ruiva, a qual tinha um pé entre suas omoplatas, sentava-se sobre a parte posterior das coxas da morena, os braços da outra dolorosamente repuxados para trás enquanto tinha expressão de ferocidade no rosto.

 

— Renda-se!

 

— Vá pro inferno, Romanova!!

 

— RENDA-SE! Ou vou deslocar seu braço!!! — A ruiva puxou com mais força, o braço esquerdo de Nadya quase saindo do lugar, mas uma voz estrondou pelo corredor.

 

— ROMANOVA!

 

Como um gato, a moça saltou para longe da rival, erguendo-se para ver as figuras de Melina Vostokoff e da Treinadora em pé ao fim do vão. A cor fugiu de seu rosto, e adotou postura marcial enquanto aguardava. Ao seu lado, Nadya também se ergueu como um raio, imitando a posição da colega mais nova.

 

— O que acham estar fazendo? - Melina avaliou Natalya de cima a baixo com expressão de censura, e segurou o rosto dela para examiná-la. Furiosa, esmurrou a barriga da menina. – Hematomas?! Voltou a ser uma criança? Ande, vá colocar gelo sobre isso: você tem um trabalho a fazer! Trate de cobrir isso muito bem com maquiagem: Dreykov a levará consigo à recepção para os oficiais. Você deveria ser a encarnação da beleza, não uma pirralha suja e ralada por brigar!

 

— Por favor, Melina... É apenas uma recepção, outra Wid... - Natasha tentou escapar ao aperto firme, enojada com a missão a ela outorgada.

 

— Ele falou você, não outra. Coloque-se no seu lugar e pare de ser voluntariosa. Você vai a essa recepção, e vai sorrir como se fosse o dia mais feliz de sua vida. - ambas sabiam que a alternativa eram punições pesadas.

 

Segurando a mais nova pela orelha e cabelos, a Widow mais velha desapareceu com Romanova, deixando Nadya sozinha com sua mãe, a qual parecia o retrato do desgosto. 

 

— Satisfeita, Nadya? Pode ter estragado a missão dela. - antes que a filha protestasse, ela ergueu a voz. ‐ NÃO. Isso é sobre a SV! Sobre o que é melhor para o país, não sobre alimentar seu ego inflado infantil! - Um punho cerrado atingiu o rosto da garota. - Você nos é inútil, e ainda tenta sabotar as habilidades de Natalya. Pois bem, se quer ser uma Widow, está na hora de ser uma. Todos foram muito brandos com você, e isso vai acabar agora. - Arrastando a filha pelos cabelos, a Treinadora a forçou a seguir para o alojamento. Widows eram endurecidas sob o porrete, e Nadya iria endurecer muito, ou seria eliminada do Programa.

 

*

 

Os últimos anos haviam apagado de Nadya todos os traços infantis que a proteção materna lhe haviam permitido de alguma forma manter; da menina que costumava ser, restava apenas a animosidade contra a colega, Romanoff. E isso ficava evidente para todos, fosse nos treinos de combate, onde nenhuma adversária era mais brutal e cruel do que ela, ao se defrontar com Romanoff, ou no modo como seus olhos se mantinham abertos ao menor deslize da outra. Não se tratava de inveja, dizia a si mesma... Tratava-se de eliminar a concorrência. Ela seria a melhor, se não fosse por Natalya. Teria para si todos os privilégios e o afeto de Dreykov, se a mais moça não estivesse sempre um mísero passo adiante, apenas o bastante para eclipsá-la. Do mesmo modo como a Lua, muito menor e sem brilho próprio, eclipsava o Sol unicamente por estar mais perto da Terra. Porém, até o presente a ruiva fora inteligente o bastante para jamais ser pega em um deslize relevante.

 

Com 25 anos, Romanova mantinha a liderança absoluta no sucesso em campo e nas avaliações do treinamento; até mesmo seu atual treinador marcial, o implacável Soldado Invernal, precisava se esforçar para manter por muito tempo um combate corpo a corpo contra a assassina, cujas habiidades enfim aviam atingido o auge, com a idade e o aprimoramento resultante do Soro. Orgulho da Sala Vermelha, superando até mesmo as Widows de gerações anteriores. A ela eram dadas as missões mais difíceis, para ela disponibilizavam recursos e suprimentos restritos... A maioria não se recordava da última vez em que a ruiva fora punida, ao menos publicamente, mas como poderia ser? Uma arma perfeita, desprovida de emoções ou piedade, quase infalível. Ao menos era o que todos diziam... E ver a rival ocupando aquele lugar destruía Nadya por dentro. Ela sabia que Natalya mentia, e seu grande momento enfim chegou por um simples descuido, não da outra Viúva, mas do Soldado Invernal. Uma simples faca esquecida no alojamento, grande demais para o armamento discreto que as moças usavam ou para as mãos pequenas de Romanova, arranhada pelo atrito contra o metal da mão do Soldado. Ao ver aquilo, ela soube. Espreitou e vigiou, até testemunhar a transgressão da dupla, para então reportar ambos: e nada jamais lhe trouxe a mesma satisfação de ver sua rival tentando lutar enquanto ela e o amante eram arrastados para ter suas mentes totalmente apagadas e reprogramadas. Vingança. 

 

Contudo, para exasperação de Nadya, a lavagem cerebral não comprometeu as habilidades da mais nova; ainda assim, a glória imaculada de Romanova se fora quando a suposta perfeição enquanto agente se mostrou apenas uma hábil mentira. E de fato, com a mácula no nome da outra espiã, a Widow mais velha foi capaz de se alçar um pouco mais; a rivalidade, contudo, era visceral demais para se apagar, e jamais deixou de estar presente. Um dia, jurava a si mesma, ela seria a responsável pela total destruição de Romanova.

 

Flashback off

 

Natasha estava disposta a jogar perigosamente; entrando em contato com sua rede, cuidou de vazar a própria localização de modo a parecer totalmente acidental: comprando uma passagem de avião para Phoenix, Arizona, uma para Salt Lake City, Utah, e a terceira para Washington, NY, no outro extremo do país, deixou-se filmar por um mínimo segundo no aeroporto, suficiente para que as autoridades a reconhecessem, e mais uma vez disfarçou a própria aparência com máscaras holográficas. Ela sabia que Reclusa estava apenas um passo atrás de si, e cuidava de seguir os passos esperados pela outra. 

 

Com o coração pulsando nos ouvidos, aproximou-se furtivamente de um senhor de meia-idade a entrar no carro; para as câmeras, apenas conversaram, e ninguém viu a arma com que ameaçou a vítima para levá-la aonde pretendia ir. Isso era errado em infinitos níveis, mas fora longe demais para pensar em questões morais menores, agora. Não era apenas Nadya: ela tinha a HYDRA por trás de si, e esse confronto entre ambas arrastaria incontáveis inocentes para isso, se não encerrasse tudo de vez. Devia isso ao mundo. Devia isso principalmente a Lucy, antes que a rival cumprisse as ameaças e fosse atrás da pequena... 

 

O motorista forçado a levou para Utah, mais precisamente Oak City, onde marcara o encontro com Alzirah, irmã de Elijah. Esperava ansiosamente conseguir encontrá-la na casa vazia dos irmãos, monitorara a movimentação da mulher pelo celular, estava a ponto de chegar... Forçou o motorista a deixá-la fora da cidade, de onde rumou a pé, sozinha, atravessando pela vegetação alta; já podia visualizar facilmente a casa antiga, quando ouviu três disparos! Com um grito de frustração e raiva, correu em direção à cabana com arma em punho, arrombando a porta do fundos com um chute: 

 

— Eu sei que está aqui! Era a mim que queria, eu estou aqui! Pare de se esconder como um rato, ou está com medo demais de mim para me enfrentar cara a cara?

 

Um risinho divertido soou da sala, em cujo piso Romanoff podia ver a figura inerte e ensanguentada de Alzirah, a camisa rasgada por três perfurações no torso... A seus pés, Nadya tinha um sorriso de vitória, e encarou a ruiva com superioridade:

 

— Tarde demais. Como sempre, apenas um segundo tarde demais, Natalya. Você não tem como salvar a todos, sabe disso. Eu conheço suas técnicas, seus passos... Não ia resistir a se entregar a mim, porque seu complexo de heroína não lhe permitiria outra coisa. - Ela grunhiu quando Natasha disparou seguidas vezes contra si. - Não perca seu tempo: eu não viria aqui sem um traje blindado. Dói, mas a dor é uma velha conhecida, não é? Ainda se lembra disso?

 

— Eu me lembro de tudo, ao contrário de você. - Natasha rosnou e, sem baixar a pistola, abaixou-se junto à outra, procurando a garanta. Viva. Muito bem, o colete à prova de balas e a bolsa de sangue falso estavam cumprindo bem seu papel. Precisava pagar Alzirah muito bem por essa encenação depois, mas a primeira prestação seria colocar a assassina de Elijah numa cova. A Widow ruiva viu o movimento da figura pequena, mas se manteve de olhos fixos em Reclusa pelo segundo que se passou antes de sentir a dor de uma agulha perfurando suas costas, injetando um sedativo potente o suficiente para derrubar uma Widow. Uma dor deliciosa: sua vítima mordera a isca.

 

 

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Espero muito que tenha ficado bom, porque a ação está começando! Gostaram? Odiaram? Obrigada de coração a todes que estão lendo, aocmpanhando, participando... Vocês me motivam a continuar sempre o melhor possível! Querem dar um palpite de qual é o jogo da Natasha? Já aviso que ser pega é apenas uma parte disso tudo.Beijos enormes, flores!!!



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