Sunday escrita por Naokii


Capítulo 4
Sunday




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No dia em que levei um soco - fui parar na enfermaria e chantageei Juvia para que ela fizesse parte do meu estúpido plano de vingança -, fazia 7 anos desde que havíamos nos falado. 7 anos desde que eu havia ido embora. Mesmo que eu tivesse voltado há 2 anos, ela nunca deu brecha para que eu pudesse me aproximar novamente, então eu apenas me contentei em observá-la de longe porque pensei que estava tudo bem e que em breve não doeria tanto não tê-la comigo de novo. 

Comecei a me acostumar. Mentir para mim mesmo. Fui covarde, eu admito. Resolvi ser sonso e fingir que o reviramento no estômago que eu sentia ao vê-la no corredor era apenas azia. A fingir que eu não percebia que meu próprio corpo tentava chamar a atenção dela quando a via em qualquer lugar. Fingir que eu não notava que a minha voz se tornava mais alta e eu começava a contar alguma piada ou fazer algo que eu julgava ser inteligente apenas para ver se eu conseguia capturar o olhar da azulada. Que eu não tentava fazer abdominais durante as aulas de educação física quando nossas turmas se juntavam. Que eu com certeza nunca passei meus olhos por sua sala quando ia dar algum aviso para ver se Juvia olhava para mim ao menos uma vez, percebendo o ato falho ao vê-la dormindo usando seus fones de ouvido azúis e chamativos.

Eu poderia resolver a situação da forma mais simples de todas: conversando. Se o idiota aqui chegasse e falasse "Oi, me desculpe por ter ido embora e não ter pensado nos seus sentimentos quando voltei, eu sei que nós dois mudamos, mas você poderia ao menos me dar a chance de recomeçarmos ou de continuarmos de onde paramos?" SIMPLES. PRÁTICO. FÁCIL. 

Foi isso que o babacão aqui fez? 

a) Não. ( )

b) Nananinanão. ( )

c) De jeito nenhum. ( ) 

d) Nope. ( ) 

E) Todas as alternativas. (x)

POR QUE EU TINHA SIDO TÃO SONSO E ORGULHOSO AO PONTO DE INVENTAR A DROGA DE UM PLANO ESTÚPIDO DE "VINGANÇA" CONTRA UMA PESSOA QUE NÃO TINHA CULPA SE EU FUI EMBORA E A DEIXEI?

Estão vendo isso? Estou sendo sonso mais uma vez e perguntando a mim mesmo o porquê de eu ter feito algo.

Gray Sonso Fullbuster.

Chega. A Lockser tem razão. Eu sou um covarde, um idiota, um filho da mãe. Um babaca. Um panaca que não tem nem coragem pra admitir que...

"Você gosta de mim, Gray Fullbuster." a voz da nadadora aparece mais uma vez na minha mente, fazendo com que eu queira vomitar tudo o que eu não tenho comido nos últimos dias. "E o que eu esperava de você era isso." ela volta a falar. "Que você ao menos percebesse. Eu esperava que você fosse capaz de enxergar e ir até mim." 

Eu poderia ter feito isso. Ter aberto a porra dos meus olhos e percebido o quanto eu gostava dela. O quanto eu queria beijá-la, o quanto eu queria que eu nunca tivesse partido. Nós poderíamos estar juntos agora, mas eu assumo que entre todos os caminhos de possibilidades que eu poderia ter seguido, escolhi logo o mais egoísta. Eu fiz uma escolha e tenho que sofrer as consequências disso. 

Bom, Juvia Lockser e eu não nos falamos durante o fim de semana que se passou depois do encontro falho. Pelo contrário, ela nem sequer se deu ao trabalho de me bloquear nas redes sociais, coisa que uma pessoa que NÃO ESTÁ NEM AÍ faz.

Queria poder dizer que não fui sonso o suficiente pra chorar como se nada do que aconteceu tivesse sido totalmente e exclusivamente culpa minha, mas eu não sou forte o suficiente pra isso. Eu sou fraco.

Como eu dizia, minha reação assim que havia chegado em casa havia sido chorar até desidratar, mas no meio do caminho tive força pra andar até o chuveiro e deixar as lágrimas se misturarem com a água corrente. Depois disso, chorei em várias posições: No meu próprio quarto, no beliche do quarto de Lyon, na cozinha, no box do banheiro, no terraço, na varanda e até mesmo na parte de trás do jardim, quando fui jogar o lixo fora. Quase um kama sutra do choro. 

Já que a merda já estava feita, resolvi que deveria ao menos parar de chorar e esquecer Juvia de vez, assim como ela me havia recomendado anteriormente. 

Claro que eu havia esquecido um detalhe: Lyon estava apaixonadinho pela Lockser, por isso tinha feito diversos desenhos da azulada, sendo estes os motivos de eu ter chorado no beliche do pirralho. 

Qual é? Eu entro no quarto em busca de amor e carinho do meu irmãozinho e sou recebido com praticamente um museu sobre Juvia Lockser? Isso é colocar sal na ferida, cara. 

Depois do fim de semana choroso, acordei com os olhos totalmente inchados na segunda-feira. Eu parecia ter sido esmurrado. Obviamente, todo mundo percebeu e mesmo com os sussurros para lá e para cá, ninguém chegou em mim para falar sobre minha aparência. Mas Erza Scarlet não era todo mundo.

— Espero que o outro cara esteja tão mal quanto você. – disse enquanto grampeava algumas folhas.

— O quê? – perguntei. 

— Tô falando da briga que você se meteu. 

Soltei uma risada sem graça, revirando os olhos.

— Não tem graça.

— Para mim tem, sim. – respondeu. – Escuta, sei que nunca fomos próximos nem nada, mas se você estiver precisando se abrir sobre algo, saiba que pode contar comigo.

— É estranho essa aproximação depois de tantos anos. – eu disse, sorrindo fracamente, enquanto encarava os olhos do ex-Demônio Ruivo. Estranhamente tinha cumplicidade e empatia nessa troca de olhares. 

— Eu sei. – a ruiva falou. – Bota estranho nisso. Mas naquele dia percebi que somos parecidos até demais.

— Será que até na estupidez? Eu fiz algo imperdoável. Juvia nunca mais vai querer falar comigo. 

— Talvez sim, talvez não. Por que não tenta falar com ela pra saber? 

Dei outra risada, dessa vez rindo de nervoso. 

— E a pessoa que você estava atrás? O que aconteceu? – mudei o foco do assunto.

— Ele me viu assim que você e a Lockser saíram. Nós conversamos e parece estar tudo certo agora. Eu realmente gosto dele, sabe? Antes eu tinha medo de admitir pra mim mesma só que percebi que eu tenho mais medo ainda de não tê-lo comigo.

Meu coração apertou e lembrei de Juvia chorando por minha causa. 

— Você tem razão. – falei, recebendo um sorriso de volta. Finalmente tínhamos nos entendido. 

Passamos o resto do tempo até o intervalo organizando as provas da unidade. Assim que o sinal tocou, fui no lugar de sempre almoçar quando me deparo com Juvia amarrando seus cadarços. Ela sentiu meu olhar sobre si e me encarou. 

Queria dizer que eu estava totalmente digno e com uma expressão séria, mas a verdade é que eu estava com a cara toda contorcida, a encarando como um bobo. O problema era ela, óbvio. Quem consegue ficar tão bonito enquanto amarra os cadarços??????

Engoli em seco e abri a boca várias vezes na tentativa de um discurso sobre como eu queria me desculpar, mas Juvia simplesmente recolheu suas coisas e passou direto por mim. Me virei rapidamente, chamando seu nome. Ela não olhou.

— J-Juvia! – chamei um pouco alto demais, correndo desajeitado por entre as mesas do refeitório. – Por favor, vamos conversar. 

— Espera aí. – ela se virou em minha direção com uma expressão nada boa. – Será que o melhor aluno de toda a escola, o presidente do conselho estudantil que vive preocupado com suas notas chegando a utilizar métodos estranhos para realizar seus próprios projetos como por exemplo brincar com os sentimentos de alguém em benefício próprio faltou as aulas de intepretação? – o sarcasmo escorria de seus lábios. – O que você acha que eu quis dizer na sentença "Me esquece"?

— Juvia... por favor, me deixa...

— Eu achei que tivesse sido clara suficiente com minhas palavras, mas vou ser paciente e pedir novamente para você fingir que eu não existo. – eu segurei sua mão, em completo desespero.

— Eu nunca quis que isso acontecesse. – falei. – Só deixa eu me explicar apenas uma vez. Por favor.

Ela tirou minha mão da sua com delicadeza e me lançou um olhar tão gélido que senti arrepio em cada centímetro do meu corpo.

— E se eu disser "não"? Vai se vingar? – debochou e foi embora. 

Suspirei, tentando pateticamente diminuir a vontade de chorar. É oficial, Juvia Lockser nunca vai me perdoar.

***

De volta à estaca zero, me tranquei novamente em meu quarto por dias. Tive sorte. Nossa escola teve um pequeno recesso pós-provas, por isso passei os próximos 7 dias trancado no meu quarto, assistindo doramas, vendo o live action da Pow Blue Girl - porque eu sou o shipper nº #1 dela com o líder do F4 -, comendo miojo e relendo meus mangás antigos. Ajudei Lyon com a lição de casa e devo admitir que o ajudei a colorir alguns desenhos de Juvia porque ninguém é de ferro, né? Às vezes você sabe que tá na merda mas não custa nada se ferrar mais um pouquinho.

Na real,depois de 4 dias eu até havia melhorado, mas o diabo atenta e isso aconteceu quando papai perguntou sobre a Lockser (mamãe tinha contado das visitas que a azulada tinha feito aqui dias antes), fazendo com que tudo o que eu havia recuperado de sanidade mental se perdesse novamente.

Agora eu estava deitado no sofá da sala, ouvindo uma playlist de música. À princípio me empolguei pois o shuffle colocou uma música de hip hop super animada mas aí o aleatório colocou a música "blue" do BIGBANG, o que foi o suficiente para que eu derretesse no sofá, deprimido.

— Gray, será que você poderia me ajudar no jantar? – mamãe pediu.

— Tudo bem. – disse, tirando os fones e largando meu celular na mesa de centro, me direcionando à cozinha.

Comecei cortando alguns legumes enquanto minha mãe lavava a carne.

— Sabe, no colegial, eu me apaixonei por seu pai no primeiro dia de aula. – ela começou falando. – Ele fazia parte do clube de música, por isso sua banda fez uma apresentação para os novatos. Apesar de sermos da mesma turma, eu era novata na escola, então fui surpreendida por ele. – deu um sorriso.

— Papai me contou que você foi a única estudante que não os aplaudiu depois da apresentaçao. – eu disse, colocando as cenouras numa panela separada e ligando o fogo, ao lembrar do que meu genitor havia me dito um tempo atrás.

— Eu estava tão empolgada que simplesmente travei. – riu. – Quer dizer, a música era boa, a banda tocava super bem e seu pai ele... ele era incrível no palco. – me passou uma batata para que eu descascasse. – Eu já te contei como começamos a namorar? 

— Não, acho que não. – respondi, balançando a cabeça em sinal de negação.

— Resolvi criar um plano para que ele me notasse. Eu não tinha coragem de falar com ele pessoalmente, então a minha única iniciativa foi a de deixar uma carta em seu armário e torcer pra que ele lesse. 

— E ele leu? 

— Sim. Mas não a que eu havia mandado. A verdade é que seu pai não apenas me tinha como admiradora, mas também metade de todas as meninas e meninos do colégio. Ele leu que eu havia planejado um plano maluco para ele se apaixonar por mim e que eu apenas queria sua popularidade.

— Nossa... 

— Pois é. Assim que eu soube, resolvi ir atrás dele. Tomei coragem para ir na sua casa contar toda a verdade. Peguei meu violão, minha bicicleta e fui lá. 

— E o que aconteceu? 

—  Quando eu estava na metade do discurso, Silver me olhou chocado e pediu para que eu parasse de falar. 

— Ué, por quê?

— A verdade é que mentiram para mim quando disseram que Silver havia lido uma carta com mentiras sobre mim. Na verdade ele não tinha lido nenhuma carta nas últimas semanas. Ou seja, eu havia acabado de me declarar sem perceber.

Soltei uma risada. 

— Ai, meu Deus. 

— Assim que me pediu para parar, seu pai me beijou. Ele me contou que gostava de mim há algum tempo e que nunca imaginaria que eu iria retribuir seus sentimentos. Começamos a namorar depois de poucos dias e depois de alguns anos nós tivemos você.

— Essa foi uma história e tanto. – escorri a água da cenoura.

— O que eu quis dizer com essa história, filho, é que se você tem algo a falar com alguém, fale. Se esforce, vá atrás. Não desista. Mal-entendidos acontecem.

— Juvia e eu não estamos mais nos falando. – confessei. – Eu fiz algo terrível, na verdade. Ela não quer me ver mais e disse para eu esquecê-la. 

— E você quer que isso aconteça? 

— Eu não estou em posição de querer nada no momento. Eu fui o culpado, não tenho direito de querer escolher qualquer coisa.

— Você tem razão. – mamãe disse depois de um tempo. – Mas vou te dar um conselho: peça perdão a ela. Você disse que tentou conversar, mas eu tenho a opinião de que pedidos de desculpas têm que vir junto a algo significativo. Não algo para "comprar" a pessoa, mas eu acredito que pedir desculpas no corredor da escola antes de resolver algum outro compromisso não é tão significativo quanto algo que exige esforço e dedicação. Algo sincero. – ela colocou uma mão no meu ombro e sorriu, colocando as verduras que cortei na sopa. – Pensa nisso, ok? Obrigada por me ajudar. Pode ir para seu quarto agora.

Saí da cozinha pensando no que mamãe tinha acabado de me falar. Eu sei que eu havia falado em desistir e deixar Juvia Lockser em paz, mas eu precisava ao menos me desculpar da melhor maneira. Respirei fundo, tirando as meias e as jogando num canto do quarto (5 minutos depois tive que me levantar e colocá-las no lugar certo porque meu toc não permitiu que eu dormisse com aquela bagunça), me atirando sobre a cama. Eu defitinivamente precisava arrumar alguma forma para pedir perdão para a azulada.

***

Na segunda-feira em que as aulas voltaram, fui para escola decidido aestudar bastante e aconseguir bolar um jeito de pedir perdão para Juvia. Mesmo que ela não me perdoasse no final, eu sentia que precisava me redimir com ela verdadeiramente. 

Por estarmos voltando de um pequeno recesso, não tinha tanto trabalho para Erza e eu, por isso fui para a sala do conselho no final das aulas apenas para ver se havia algum trabalho pendente a ser feito. Má escolha. Deveria ter ido para casa. Isso pouparia meus olhos de ver a seguinte cena: Jellal e Erza se pegando em cima DA MINHA MESA.

Eu sei que uma pessoa normal e educada deveria apenas ter fechado a porta como se não tivesse visto nada e eu juro que até iria fazer isso SE ELES NÃO ESTIVESSEM EM CIMA DOS MEUS POST-ITS! Poxa! Custou caro ganhar aquela competição de tiro ao alvo que dava material de papelaria como prêmio! 

— O que tá acontecendo aqui? – perguntei o óbvio. 

Os dois se separaram nas pressas: Jellal, descabelado com os lábios inchados e os primeiros botões de sua camiseta abertos. Erza, não muito diferente do meu amigo, estava com os lábios tão vermelhos quanto seus cabelos e tinha marcas no pescoço.

— Conversando. – o Fernandes teve a cara de pau de responder isso. Erza levantou uma sobrancelha e o empurrou de leve. – O que foi?

— Era ele. – a ruiva me disse. – O cara que eu falei.

Me sentei na cadeira, ainda chocado. Jellal e Erza estavam juntos e isso fazia MUITO SENTIDO, parando para pensar. Como não pude reparar? TAVA NA CARA.

— Por que não me contaram?

— Porque até poucas semanas atrás vocês eram rivais que se odiavam? – Jellal riu. – Além disso, ALGUÉM resolveu manter tudo em segredo. – apontou "discretamente" para a ruiva, que bufou em resposta.

— Eu não tinha como adivinhar que era sério, tá legal? Não era eu que tinha fama de cafajeste. Como eu ia adivinhar que você estava sendo sério? – deu de ombros, não conseguindo segurar o sorriso ao encarar o azulado.

Tenho que admitir, os dois fazem um casal bonito. 

Passamos os próximos minutos conversando sobre o relacionamento dos dois e de como eu era tão tapado que não percebi antes (e de como eu havia atrapalhado tantas vezes).

Quer dizer, teve a vez que eu o vi com um buquê de flores perto da sala do conselho, quando ele foi na direção de Erza depois que conversamos e o MAIS ÓBVIO foi quando Erza foi espionar o encontro de "Jervia" (Pensar na azulada me deu um pouquinho de dor no coração mas ignorei).

O casal me contou que eles ficaram pela primeira vez quando eu pedi para o azulado me esperar na sala do conselho enquanto eu estava em reunião com o diretor Makarov, resolvendo questões sobre uma viagem escolar. Pedi para que Jellal fosse para lá porque ele iria dormir na minha casa já que eu havia ganhado um videogame novo e estávamos ansiosos para jogar. Eu lembro que a reunião demorou bastante, na verdade, por isso os dois ficaram sozinhos por tempo suficiente para que as provocações de ambos elevasse para outro patamar. 

— Foi estranho porque nós meio que nos odiávamos. – disse a Scarlet. – Somos extremos opostos.

— Não foi o que pareceu há pouco tempo atrás. – impliquei.

— Qual, é? Você merece, quase nos separou. – Jellal provocou. – Me forçou a participar daquele encontro. 

— Mais uma merda pra lista de porcarias que eu fiz. Desculpem.

— Tá tudo bem. – Erza disse. – No começo eu fiquei com ciúmes pelo Jellal ter aceitado fazer parte da sua ideia, mas eu não podia fazer nada já que não tínhamos nenhum relacionamento oficial. – disse a ruiva.

— Mesmo assim ela brigou comigo um dia antes do encontro, por isso resolvi ir. – Fernandes riu.

— Eu fiquei possessa comigo mesma e com você, Gray. – fingiu estar brava. – Jellal e Juvia realmente faziam um ótimo par. 

— Isso, dá chute em cachorro morto! – Jellal a cutucou e apontou para mim. Me senti menor perante a situação. 

— Está tudo bem, Gray. Eu também fiquei com ciúmes até que eu descobri que...

— QUE EU A AMO! – ele a interrompeu com um selinho. Erza em dúvida e ele fez um sinal que eu não entendi direito o signficiado.

Provavelmente pedia para a namorada não tocar mais no assunto para não me deixar mais machucado. O Fernandes sempre foi um ótimo melhor amigo. 

Antes de sair (porque precisava ajudar Lyon com as tarefas de casa), contei a eles que eu não sabia o que fazer para pedir perdão à Juvia e que precisava de sugestões. 

— Fale com as mães dela. – disse o azulado, como se soubesse de tudo que aconteceria em seguida. – Elas com certeza vão te dar uma luz. 

Foi o que eu fiz. Fui para casa e tomei um banho, tentei disfarçar a cara de acabado, deixei um bilhete na mesinha de cabeceira do meu irmão avisando que logo o ajudaria, coloquei um boné e saí em direção à casa da azulada. Sabia que ela não estaria em casa. Privilégios de ser presidente do conselho estudantil e de ter boa memória: eu sabia o horário de funcionamento que o clube de natação funcionava. Nesse horário eles ainda estavam treinando.

Bati na porta tentando fazer minha melhor expressão de bem-estar, sendo recebido por Maya. Ela sorriu como se tivesse lido minha mente. 

— Pode entrar, minha filha não está em casa. – deu espaço para eu entrar.

A casa das Lockser era bastante reconfortável e eu podia sentir o cheiro dela impregnado no sofá. Ou talvez eu só estivesse tão apaixonado que a enxergava nas mais simples coisas. 

— Então... – Maya começou, servindo-me de café com leite e biscoitos. Aceitei de bom grado. – O que o trouxe aqui? Soube que aconteceu algo entre você e minha sereia.

— E-Ela contou a vocês?

— Os olhos, a expressão decepcionada e as músicas de rock pesado tocando até 2 da manhã me contaram. – deu um sorriso de lado. – Você sabe que a tristeza dela é um pouco mais agressiva. Ela prefere nadar em água congelada e ouvir uma playlist do Avenged Sevenfold do que chorar. Para isso acontecer tem que ser algo muito grave. 

Lembrei de quando a azulada me encarou no shopping naquele dia. Os olhos marejados, as lágrimas saindo sem pedir permissão. Eu sou um merda, meu irmão.

— Me desculpe. 

— Está tudo bem, essas desculpas não têm que ser dadas a mim. – limpou a garganta. – O que veio fazer aqui? 

— Vim pedir ajuda. Eu quero sua ajuda para conseguir lembrar de alguns fatos perdidos em minha memória. Parece que eu confundi algumas coisas. – comecei. – Juvia e eu... nós chegamos a namorar?

— Não que eu me lembre. – disse chamando Umi, que me cumprimentou. 

— Gray-kun, você chegou a pedir? 

— Sim, quer dizer, eu deixei uma carta antes de ir embora, eu...

— Carta? – Maya quis saber.

— Sim. A deixei em cima do tapete de entrada um dia antes de ir embora. Nele eu lhe contei que iria embora e a pedia para ser minha namoradinha. Juvia pareceu ter lido porque ela foi na minha casa pouco tempo depois e me deu um beijo... – omiti a informação de que o beijo havia sido dado nos meus lábios. – Eu achei que tivesse sido uma despedida e um "sim" vindo dela. 

— Carta... carta... Juvia não leu nenhuma carta. Umi, você viu?

Nós dois olhamos para Umi, que parecia chocada por lembrar de algo. Umi era muito sensível, por isso seus olhos estavam lacrimejados. 

— Ai, meu Deus, Gray-kun! Juvia nunca leu essa carta! – seus dizeres fizeram meu coração se despedaçar. Quer dizer que Juvia realmente não havia sido avisada de que eu partiria e ficou 7 anos sem notícias minhas? – O Plue comeu nossa correspondência de manhã cedo. Lembro disso porque eu o deixei de castigo o dia todo como consequência. Tive que passar no banco e pedir que enviassem novas cópias dos nossos boletos.

Era merda acima de merda acontecendo. Porra. Meus olhos já estavam cheios d'água.

— Não foi só isso que aconteceu, Gray. – Maya quebrou o silêncio que havia se alastrado. – Juvia iria participar de um torneio no dia em que você foi embora. Você tinha prometido ir vê-la, mas não compareceu. Provavelmente passou na sua casa para que você não esquecesse. 
— Não, eu tenho certeza de que eu... – a ficha caiu. Lembrei que no dia de nossa "despedida" ela me disse para não esquecer de algo. Na época achei que ela estivesse se referindo a si mesma, tipo "não esqueça de mim", mas a informação atual não poderia fazer mais sentido. – NÃO! EU... NÃO! – comecei a chorar. Lembrei que dias antes havia feito uma plaquinha desejando boa sorte. – Eu a abandonei, depois eu a reencontrei e brinquei com seus sentimentos mais uma vez. Eu não mereço nenhuma perdão. – continuei – Juvia não me merece. 

—  Você não é culpado de tudo, Gray. Era uma criança. –  Umi passou as mãos nos meus cabelos.

—  Mas agora não sou mais. –  recusei o ato por não me achar merecedor. –  Eu fiz o que fiz porque quis. 

Saí do casarão desejando que um caminhão me atingisse, mas infelizmente cheguei em casa são e salvo.

***

O resto da semana passou correndo. Logo era o dia da entrega do trabalho de Desenvolvimento Pessoal. 

Minha vida estava uma bagunça desde a tarde na casa das Lockser, quando descobri que a minha vida era uma mentira inventada pela minha própria mente de criança não conformada com a mudança de casa. Quem nunca?

O terceiro aluno terminava de dissertar sobre o amor e de como ele o via como algo inalcançável e olhei para Juvia Lockser sem que nem percebesse. Ela parecia desinteressada, mascando um chiclete e fazendo cachos nos próprios cabelos com os dedos. Sua mão livre passeava pela tela do celular, onde ela provavelmente lia alguma fanfic de um shipp não tão popular. 

— Gray Fullbuster. – ouvi minha voz ser chamada mais uma uma vez. Eu estava tão aéreo que não tinha ouvido. 

— Hã?

— Sua vez. – era a professora. – Você é o próximo a se apresentar. 

— Ah. Tudo bem. – me levantei da carteira, recebendo um olhar de incentivo de Jellal. Fui para frente da classe e encarei os alunos.

Falar em público nunca foi problema, mas eu continuava a suar frio. Ficar na frente de Juvia Lockser me causava esse tipo de efeito. 

Engoli em seco antes de começar a falar. 

— Bom... o trabalho é sobre amor, certo? – perguntei meio que para mim mesmo, mas todos puderam ouvir.

— É o que parece, Fullbuster. – um aluno debochou e o resto da sala riu.

— Tenho algo a confessar. Entrei nessa aula utilizando da desculpa de que estava em busca de pontos extras. Sustentei essa mentira por tanto tempo que começo a acreditar que minha mente tem vida própria e me faz acreditar no que ela quer. – ri amargamente e prossegui com meu discurso. – Eu não havia percebido o que a professora quis dizer quando quis que falássemos sobre amor, mas acho que entendi. O que me trouxe aqui foi o amor. Se não foi ele, ao menos foi a esperança de que eu o veria aqui de novo. – meus olhos caíram em cima da Lockser, que finalmente me encararam de volta. Senti meu corpo todo esquentar. – Desde o início do desenvolvimento desse projeto, comecei a me deparar com diversas a cores e formas que o amor tem. O amor infantil que duas crianças podem ter sobre a outra após passarem tardes nadando e se enchendo de sorvete de morango. O amor fraternal que os pais sentem pelo filho. O amor que um irmão pode ter por seu irmãozinho mais novo ainda que o pirralho seja um pestinha e tenha se apaixonado pela mesma garota que seu irmão mais velho. - a sala riu ao ouvir o último detalhe. - O amor egoísta que te faz magoar a pessoa que você mais gosta apenas para alimentar a droga do seu ego de criancinha machucada. - afastei minha franja da testa. - A verdade é que eu me apaixonei quando ainda era um garotinho. Nós dois nos separamos e eu trabalhei duro para que ninguém nunca me esquecesse e para que eu fosse notado, fazendo com que eu magoasse a pessoa que mais se importava comigo. A pessoa que eu mais me importo no mundo. A pessoa que eu amo desde sempre. - a sala explodiu de reações como "awnnnnnnt". - Eu finalmente entendi o porquê da professora Evergreen nos ter dado um tema complexo como esse. É através do amor que nós nos levantamos todos os dias da cama e eu não sei vocês, mas eu realmente preciso de um pouco de amor agora. - sorri. - A pessoa que eu amo está nessa sala. - busquei Juvia com o olhar. Ela estava séria. - Eu sei que eu fiz coisas de que não me orgulho, mas se você me der a chance de me redimir, domingo estarei naquele lugar onde nos vimos pela primeira vez, no mesmo horário. Sei que não tenho direito de pedir que você esteja lá. - olhei para professora e fiz sinal de que já tinha terminado.

Enquanto Evergreen anunciava o nome de outro aluno para exibir seu projeto, eu caminhava até minha carteira comendo as próprias unhas, torcendo para que desse tudo certo e Juvia ao menos me perdoasse. 

***

É incrível como mães têm o poder de simplesmente sentir as coisas. Quer dizer, eu nem ao menos falei que iria me encontrar com Juvia que ela já me deu um bolo para eu levar (?), dizendo que seria um ótimo presente. A encarei com dúvida e ela abriu um sorriso como se tivesse lido na minha testa tudo o que eu pensava. 

A verdade é que eu havia dito para Juvia me encontrar na pedra enorme que tinha perto do casarão onde ela morava, no lado mais escuro da praia. 

Costumava ser o lugar onde fazíamos piquenique para fazer as pazes quando brigávamos. Era especial. Era algo nosso.

Eu ainda não sabia se iria ser perdoado, mas esse fato já não era tão importante para mim. Eu só esperava ao menos poder pedir perdão verdadeiramente.

Com a ajuda de Umi e Maya, nós três decoramos o local. Era bem simples, na verdade: uma mesinha, luzes de led coladas na grande rocha e eu havia preparado hambúrguers e suco. O bolo azul da minha mãe iria ser nossa sobremesa agora.

Já se passava das 20:00h e nada de Juvia aparecer.

Lembrei-me dos filmes adolescentes que eu costumava assistir com Lyon e papai (porque mamãe odiava esse tipo de filme). Nas cenas finais sempre ocorria a dúvida se o par romântico apareceria ou não: a pessoa demorava porém APARECIA. E era essa pontada de esperança que eu estava sentindo. 

Só que isso aqui era a vida real, não um filme onde os protagonistas começam a cantar quando as coisas começam a dar errado.

O relógio bateu às 23:00h e quando eu estava pronto pra cantarolar alguma canção, ouvi alguma coisa. 

Olhei para frente, já sem esperança. Pensei que seria Maya ou Umi, para avisarem que Juvia não iria, então já fui levantando para falar com quem fosse. 

—  Tia? Tá tudo bem se ela não vier, eu entendo, a senhora não precisava... –  me surpreendi ao enxergar a azulada. –  ... vir aqui. 

Juvia sorriu para mim pela primeira vez em semanas. 

—  Agora estou com dúvidas. Vou para casa ou... 

—  HÃ, NÃO! –  falei um pouco exasperado. -– Quer dizer... v-você veio.

—  Não sou o que você estava esperando? - disse. 

—  O quê? Claro que era, eu... eu queria...

—  Estou te deixando nervosa? - riu. 

—  Na verdade, sim. Você é intimidante.

—  Tudo bem. –  cruzou os braços. –  Maya me contou sobre a carta não entregue. Estou disposta a te escutar agora.

—  Eu quero te pedir perdão por tudo o que eu fiz. Eu fui embora, esqueci do seu campeonato, depois voltei e fiz aquele plano idiota para fazer você se machucar.Eu sou só um bastardo idiota que não sabe pensar nos sentimentos dos outros. Eu sei que não mereço que você me perdoe, Juvia. E eu não quero tentar te comprar com nada, mas eu peço por tudo que já vivemos antes de eu estragar tudo, por favor, me dá uma nova chance. Você foi a melhor coisa que já aconteceu comigo. Eu sou apaixonado por você há anos e isso nunca vai mudar. Você é a única garota que esteve disposta a fazer maratona dos filmes da Barbie comigo mesmo que os odiasse. A única que sabe todas as falas de Mulan, a única garota que consegue melhorar meu dia apenas em abrir um sorriso. Você é a primeira e única mulher que eu já amei. A primeira e única Juvia Lockser.

Não tive tempo de pensar em muita coisa em seguida, pois Juvia me beijou. Sentir seus lábios contra os meus novamente era como um sonho. Fiquei sem reação nos primeiros momentos, mas logo tratei de abraçá-la, enquanto ela colocava os braços ao redor do meu pescoço. Não sei quanto tempo se passou, mas logo nos separamos. Juvia tinha um sorrisinho no rosto.

—  Você fala demais. –  disse o óbvio. - Achei que não fosse mais calar essa boca. –  sorri com sua fala. - Eu também amo você, Gray Fullbuster. Você realmente me magoou muito, mas eu sempre tive esperanças do seu cabeção servir para mais alguma coisa que não envolvesse escola. –  deu um tapinha na minha nuca. –  Eu perdoo você. Não aguentaria ficar mais tempo longe. –  deixou um selinho nos meus lábios. –  Mas tem uma coisa que eu preciso te contar. –  nós dois estávamos abraçados. –  É sobre o Jellal. 

Me assustei, olhando pro seu rosto. Milhares de perguntas vieram na minha mente: será que ela não gostava mais de mim e estava apaixonada pelo meu melhor amigo e veio aqui apenas pra contar que não podíamos ficar juntos? Ai, meu Deus, mas Jellal estava com Erza! E agora?
—  O-O que tem ele? –  minha voz não escondia meu nervosismo. 

—  Sabe, a razão de termos estado tão próximos naquele dia e as provocações na sua frente... Jellal é meu primo. –  riu. 

—  O QUÊ?

—  Eu já sabia do seu plano, mas ele deixou escapar. Resolvi combinar com ele de fingimos ter algo a mais para você se morder de ciúmes. 

—  Eu sou tão fácil de se enganar assim? –  gemi, chorando internamente pela minha burrice.

—  Sim. –  sorriu. –  E lindo. E inteligente. E meu. –  voltou a me beijar e a partir daí já perdi o resto de consciência que eu tinha.

Não consigo me lembrar quando paramos de nos beijar, ou quando terminamos nossos hambúrguers, se tomamos banho de mar ou não, se o bolo que mamãe preparou estava bom... mas eu lembro muito bem da manhã seguinte, quando Plue nos tirou do sono ao lamber nossos rostos e eu percebi que havia dormindo agarradinho na rede do terraço do casarão das Lockser com o amor da minha vida.

—  Bom dia. –  ela me desejou. –  Está tudo bem? –  senti seu olhar sobre mim. 

—  Melhor agora. 


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