Além do Fim escrita por Lucca


Capítulo 9
Alvorada de Paz


Notas iniciais do capítulo

Chegou o momento de repovoar Asgard. Hora de nosso casal dar um passo à frente nesse relacionamento.

Não me lembro de ter escrito algo fofo assim em toda a minha vida. Espero que gostem.


Boa leitura!



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Asgard vivia alvoradas de paz desde que Thor e Sif assumiram sua guarda. Nenhum inimigo ousou desafiar o casal e sua íntima relação com as forças que comandavam o reequilíbrio da natureza na formação do planetoide. Isso tornou o processo mais rápido e, nem dois anos depois, já era possível trazer de volta seu povo sobrevivente que estava em Midgard.

Os últimos preparativos para esse grande evento ocupavam o tempo do casal. Detalhadamente, verificavam toda Asgard avaliando sua segurança para receber aqueles que a habitariam e reergueriam a civilização naquele lugar.

Após uma última varredura, o casal se preparava para almoçar quando um leve tremor se fez sentir no horizonte da Cachoeira do Sem Fim. Foi rápido e inesperado. A Espada Crepúsculo rasgou o céu iluminada pela Chama de Fogo. Surt, o jötuder dos gigantes de fogo de Musphelhein, o mundo do calor e do fogo.

Atraído pelo poder que emanava da Asgard renascida, o gigante de fogo encarnado se aproximou rapidamente.

— Como ele ousa nos desafiar? – Thor chamou Mjornir totalmente enfurecido.

— Sabíamos que, em algum momento, um ser inescrupuloso viriam tentar se apossar das fontes de poder de Asgard. Melhor que seja agora, enquanto nosso povo ainda não está aqui. – e, dando uma piscadinha para Thor, finalizou – Eu estava precisando de um pouco de diversão.

Thor sorriu de volta e informou:

— Se arrancarmos seu elmo, apagamos seu fogo e mostramos ao grandão e à vastidão de seres desejosos de poder que Asgard está protegida.

Sif assentiu e os dois rumaram para a batalha.

— Surt, recue agora! Seu fogo varreu essa terra uma vez guiado pela vingança de Hella. Mas Asgard renasceu para não cair nunca mais. Volte para Musphelhein enquanto tem sua dignidade. – o Deus do Trovão bradou relembrando a grande lição de seu pai: um rei sábio não teme a guerra, mas faz tudo para evitá-la.

— Então o pirralho de Odin voltou? E, olhe só, agora ele tem uma namoradinha. Derrotar um Aesir e uma Vanir será um belo aperitivo antes de me apoderar das fontes de poder desse lugar.  Se fossem dignos delas, Asgard nunca teria perecido.

— Se assim deseja, Surt, você não nos deixa outra opção além da batalha.

Surt atacou antes mesmo das última palavras de Thor brandirem no ar. Golpe após golpe, os dois se enfrentaram enquanto Sif estrategicamente interferia garantindo que a batalha permanecesse sobre o mar sem causar danos ao equilíbrio de fertilidade da terra. Quando o gigante ameaçou um golpe que destruiria todo o extremo oriente onde Bifrost precisava ser reconstruída, o casal se uniu como fizeram contra Thanos. Não estavam com Stormbreaker, mas acreditaram que Mjornir e os cabelos de Sif seriam suficientes para canalizar a energia necessária para conter Surt.

Funcionou. O gigante de fogo foi pego de surpresa, paralisado enquanto seu elmo se soltou caindo no mar. Humilhado, retornou à Musphelhein de forma tão rápida quanto veio.

Os danos da batalha para o planetoide foram mínimos. Nada que impedisse o retorno dos asgardianos em breve. O casal comemorou da forma que mais lhes trazia felicidade: se amando. Naquela noite quente de verão, enquanto Sif e Thor faziam amor, os campos de trigo semeados pelos dois receberam raios que aceleraram o crescimento e amadurecimento dos grãos. O ciclo estava completo. Era a hora do povo de Asgard retornar para casa.

E assim aconteceu. Thor buscou seu povo que desembarcaram em festa pela euforia de retornar ao lar. Havia muito trabalho pela frente, mas aquelas pessoas pareciam incansáveis na determinação de reerguer uma civilização tão grandiosa quanto foram outrora.

Enquanto a Valquíria coordenava toda a reconstrução, Thor reorganizou os Conselhos de Anciões e Sábios formando um sólido governo para Asgard onde justiça, tradição, participação, conhecimento e magia eram os pilares sobre os quais se assentava a nova ordem política comandada por ele. Como uma Vanir, Sif logo se aproximou do povo direcionando a reflexão sobre a importância dos valores morais e sociais que devem se traduzir em códigos de tolerância, respeito, lealdade e coragem. Sua liderança se desencadeava de forma natural, mais pelo exemplo e cuidado que dedicava às pessoas do que por longas palestras teóricas. As orientações passadas por Frigga estavam sempre no seu coração e eram seu guia. O bem estar familiar e a paz entre as tribos eram sua grande preocupação.

O palácio foi reconstruído em todo o seu esplendor. Quartos confortáveis, o imenso salão de festas, a sala de cura, o trono imponente. Bifrost também retornou, mas não como antes. Seu alcance ainda era limitado. Estavam trabalhando duro para tê-la com potencial total o quanto antes.

Thor e Sif tinham aposentos separados. Ela escolheu assim. Ele aprovou, mas pouco dormia em seu próprio quarto. Até mesmo os guardas de mais baixo escalão sabiam que procurar seu rei nos aposentos de Lady Sif resultaria numa chance maior de sucesso em encontrá-lo. Ele encarou a não oficialização da vida conjugal dos dois uma ótima oportunidade fazer as coisa à moda antiga: um pedido romântico e uma cerimônia de casamento grandiosa. Não pelos dois, mas pelas pessoas que retornaram. Sabia que isso um novo fôlego à todos de Asgard. Claro que Thor também pretendia surpreender Sif, ela merecia. Restava agora escolher o momento certo para desencadear seu projeto.

Dois dias na semana, após as horas dedicadas ao treinamentos dos novos guerreiros, Sif voltava ao palácio, se banhava, vestia roupas simples e desaparecia. Logo isso chamou a atenção do Deus do Trovão. De início, pensou em questioná-la, mas depois resolveu que ela tinha direito a ter seu espaço sem que ele se deixasse levar por preocupações demasiadas.

Fui durante uma dessas fugas de Sif que Thor se pegou andando pelo quarto dela,  sentindo-se sozinho após retornar de uma nova reunião sobre a Bifrost. Resolveu, então, fazer como ela fazia: após um banho, vestiu roupas simples e saiu sem um destino específico. Vagou pelos corredores do palácio, depois seguiu pelo pátio interior, saindo pelo portal setentrional rumo à vila. Uma estranha paz foi se entranhando no seu interior. A cada asgardiano comum que cruzava com ele e trocava um sorriso, o peso da trono que sentia sobre seus ombros parecia mais leve. Será que era assim que Sif se sentia ao sair? E um sorriso insistiu em se formar no seu rosto ao lembrar dela.

Caminhando um pouco mais, já dentro da vila, observou um grupo de crianças ainda bem pequenas sentadas à sombra de uma árvore frondosa. Uma mulher já idosa contava histórias e os pequenos intervinham ocasionalmente com suas considerações. Por um instante, Thor se viu capturado pelo momento. O som doce e compassivo da voz da senhora narrando as antigas lendas, os comentários inocentes, mas também tão autênticos e sinceros das crianças. Era mágico, como retornar à Asgard da sua infância.

Então, ele sentiu um toque quente e suave sobre seu ombro direito. Não se assustou nem recuou, conhecia bem aquele toque: Sif. Ela não disse nada. Correu a mão por seu braço até se entrelaçar à dele e o puxou em direção ao grupo.

— Um grande amigo meu gostaria de se juntar ao nosso grupo hoje. O que acham? Posso convidá-lo para se sentar conosco? – Sif disse dirigindo-se às crianças.

Olhinhos arregalados, boquiabertos, alguns sorrisinhos velados denunciavam a reação do grupo:

— Sim, Lady Sif. – a maioria respondeu em coro.

Thor olhou para ela e sorriu. Depois agradeceu:

— É uma honra para mim poder me juntar à vocês nesse momento tão especial. Por favor, senhora, continue a história.

Pacientemente a senhora descreveu a grande batalha entre Asgard e os Gigantes de Gelo que custou um olho à Odin. Mas ela só teve atenção total do próprio Thor. As crianças estavam ocupadas demais observando o Deus do Trovão sentado entre eles. Ao final da história, a senhora que bem sabia a agitação que reinava naqueles coraçõezinhos, sugeriu:

— Vocês querem fazer alguma pergunta ao Thor?

As mãozinhas se levantaram e as questões foram sendo colocadas de forma ansiosa, uma após a outra, todas respondidas com carinho por Thor: sua comida preferida, sua batalha preferida, se ele comia frutas quando era pequeno...

— Você já sentiu muito medo? – a menorzinha questionou.

— Sim, várias vezes. Mas acho que o medo só me dominou enquanto estava em Midgard, após a primeira batalha contra Thanos. Eu me sentia muito sozinho e impotente. Então, uma antiga amiga minha retornou, mas ela estava muito ferida e o medo de perdê-la foi o maior que já senti. – e olhou para Sif que sorriu e baixou a cabeça.

— Vocês estão apaixonados? – Um menino um pouco maior perguntou desconfiado.

Sif sentiu seu rosto enrubescer. A senhora achou melhor intervir:

— Crianças, esse tipo de pergunta não é adequada!

— Não tem problema – Thor disse. E, pegando na mão de Sif, respondeu – Estamos sim.

— E vocês vão se casar? – outra criança questionou.

— É o que mais quero! – Thor respondeu fazendo questão de olhar para Sif

— E como foi que você fez o pedido? – o menino desconfiado quis saber.

— Eu ainda não fiz. – a reação de desaprovação era visível nos rostinhos das crianças.

— Você precisa fazer! – a pequenina falou de forma enérgica e preocupada – Sem pedido não tem casamento e nós queremos Lady Sif como nossa rainha.

Thor que estava sentado, jogou o corpo mais para dentro do círculo de crianças, apoiando as mãos no chão e sussurrou:

— Eu não sei como fazer o pedido. Será que vocês poderiam me ajudar a encontrar uma forma especial de perguntar se ela gostaria de se casar comigo?

Os rostinhos se iluminaram em sorrisos travessos e orgulhosos enquanto as cabecinhas chacoalhavam positivamente. Thor teria um grupo considerável de aliados conspirando a seu favor.

— Você precisa de uma anel. – um menino disse entre os dentes.

— Mas tem que ser um anel especial. Não serve qualquer um. – uma garotinha completou.

— Você pode fazer um trançando tiras de couro! – o meninos desconfiado sugeriu.

— Não! – uma garota interferiu sussurando – Precisa ser mais bonito. Use capim dourado. Minha mãe disse que eles crescem nas encostas da Montanha Rus e ficará lindo!

— Essa é uma ótima ideia. – Thor sorriu para a garota.

— Precisa ter uma pedra bonita. – um menino falou e se levantou se aproximando de Thor no meio da roda. Discretamente enfiou a mão no bolso e retirou algo que colocou disfarçadamente na mão dele. Então sussurrou – Achei essa perto do rio. Pode usar.

Era uma pedra simples e comum, mas Thor fez uma reverencia em agradecimento e a guardou cuidadosamente no bolso. Sif sorria e suspirava com os comentários que ela fingia não ouvir enquanto se mantinha de lado, como se estivesse conversando com a senhora.

— Serei eternamente grato a todos vocês por me ajudarem. Vou providenciar tudo o que é necessário. – disse se levantando e, em seguida, estendeu a mão à Sif para que ela se apoiasse para também se levantar.

Os dois se despediram e saíram de mãos dadas.

— Seus novos amigos são encantadores. – disse para ela.

— São realmente especiais. Estar com eles me faz lembrar da importância de tudo que fazemos. É o futuro deles que estamos garantindo.

— Eles são tão espertos que agora estou em dúvida se estavam realmente querendo me ajudar me lançando numa missão perigosa nas encostas da Montanha Rus ou apenas querendo garantir ter você para eles por mais tempo.

Sif revirou os olhos:

— Eles já me tem por completo. Nunca me perderiam. – disse o provocando.

— Só eles, minha rainha? – Thor questionou já se colocando de frente à ela e a abraçando.

Sif apertou os olhos enquanto entrelaçava os braços ao redor dele:

— Hum, talvez exista uma outra pessoa... Mas preciso esperar para testar se seu amor por mim é capaz de levá-lo até a encosta da Montanha Rus.

Thor baixou a cabeça, fingindo tristeza:

— E eu aqui sonhando em provar o meu amor ainda hoje no seu quarto.

— Talvez sua jornada perigosa possa esperar até amanhã para começar. Eu sou paciente.

Seus lábios se encontraram enquanto o crepúsculo no horizonte lançava os últimos raios solares daquele dia através do portal de entrada do palácio.

          Nos próximos dias, Asgard entrou em ritmo de festa. O Conselho decidiu que era tempo de celebrar a reconstrução de sua civilização e, para isso, realizariam uma grande festa com comidas, bebidas, danças e apresentações que relembrariam o passado e o presente. Todos dedicaram esforços para que o evento fosse um sucesso e inesquecível.

         Após um mês de preparativos, o grande dia chegou. Thor e Sif receberam armaduras douradas comemorativas, nada úteis numa batalha, mas confortáveis e lindas para a celebração. Quando ela apareceu no pórtico de entrada, o silencio se espalhou e os suspiros e sussurros de admiração por sua beleza logo se transformaram numa salva de palmas. Thor foi aos seu encontro e adentraram a festa juntos.

         Após as apresentações, o ancião que dirigia os festejos pediu que Thor dissesse algumas palavras. Ele agradeceu o esforço de todos, relembrou de forma breve seus pais e disse que um futuro reluzente aguardava o povo de Asgard.  Em seguida, pediu licença para realizar um sonho especial. O povo abriu espaço formando um corredor por onde entraram as crianças que Sif costumava visitar nas rodas de histórias embaixo da árvore. Todos vestiam branco, traziam pequenas lanternas de luz nas mãos e estava sorridentes.

         Encantada ao ver aqueles rostinhos tão especiais para ela, Sif demorou a perceber que todos tinham deixado o palco das apresentações. Só ela e Thor estavam lá sendo agora rodeados pelas crianças. As expressões travessas denunciaram o que viria a seguir. Então, ela sentiu Thor tomando suas mãos entre as suas e reivindicando seu olhar:

         - Sif, minha feroz e doce Sif. Você tem sido especial para mim durante toda a minha vida. Seu amor tem me guardado e sua espada me protegido. Sua dedicação fez de mim quem sou. Sua mão me colocou em pé novamente quando minha pernas se negavam a continuar a caminhada. Seu sorriso me faz acreditar em mim mesmo e o brilho dos seus olhos me dá a certeza que só serei feliz hoje e no futuro se for ao seu lado.

         Uma das crianças se aproximou estendendo um embrulho num tecido delicado. Thor segurou com delicadeza e abriu mostrando o anel de capim dourado trançado que se interligava à uma pulseira do mesmo material no qual estava encravada a pedra que o pequeno ofereceu ao Deus do Trovão na roda de histórias.

         Os olhos de Sif se encheram de lágrimas enquanto Thor dizia:

          - Lady Sif, deusa da guerra, fada que espalha a fertilidade pelos campos de Asgard, guardiã das famílias e senhora do meu coração, você aceita se casar comigo?

         Trêmula, Sif estendeu a mão para que ele colocasse a joia de tão pouco valor material, mas inestimável valor simbólico para os dois, e disse com voz firme e determinada:

         - Thor, filho de Odin, você foi, é e sempre será o grande amor da minha vida. Ser sua esposa será pra mim uma honra. Meu coração sempre foi seu. Eu aceito.

         Enquanto ele colocava a joia em sua mão, as lanternas se desprenderam das mãos das crianças e flutuaram ao redor do casal num ritual mágico que mostrava a aprovação dos antepassados à decisão dos dois. Todos os presentes acenderam suas próprias lanterna e entoaram uma linda canção tão antiga quanto a própria existência que celebrava o amor.

         Ao som da canção, Thor e Sif se beijaram e foram aplaudidos por todo o povo de Asgard.


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Notas finais do capítulo

Ficou legal?

Estou em dúvida sobre como prosseguir com a história. Penso em duas possibilidades: finalizar já ou colocar um obstáculo para o casal superar antes do final feliz. O que acham?

Muito obrigada pela leitura.



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