O Mistério da Lua - Livro I escrita por salutetrangeer


Capítulo 7
El Pequeño Zorro


Notas iniciais do capítulo

Caros leitores,
Esse capítulo tá maior do que o normal e com menos diálogos pra vocês conhecerem mais sobre a Arabela, os pensamentos dela, as atitudes que tem, enfim espero que gostem!

— Lu ♥



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"Na data de ontem uma grande tragédia atingiu a cidade, o corpo de Dulce Olivia Flores fora encontrado em um dos banheiros do Parque de Diversões Morelo ainda não temos informações sobre quem o encontrou, em entrevista o Xerife Martinz disse:

'Agora não se trata apenas de desaparecimentos e sim de homicídios, as investigações estão progredindo acreditamos em um serial killer, moradores da cidade cuidado ao saírem pelas ruas.'

O policiamento aumentará e o prefeito declarou 1 dia de luto, amanhã os bancos e comércios funcionam normalmente. Lauren Rodriguez direto do Portal Jornal."

Respirei fundo e tomei mais um gole de chocolate quente enquanto assistia ao jornal local, todas as vezes em que fechava meus olhos a cena tenebrosa retornava em minha mente, sendo assim tentar me distrair era necessário, ao menos os paparazzi e jornalistas não sabiam minha identidade o que os evitaria na porta de casa.

— Filha, precisa de algo? – Papai estava preocupado comigo, a cada dez minutos entrava na sala e questionava se tudo estava bem ou se eu precisava algo, os grandes olhos escuros, a pele amendoada manchada de sol dos longos anos morando no México e o bigode espesso junto com a careca no topo da cabeça entregavam que o tempo estava passando.

— Eu estou bem, pai. – Respondi sorrindo – De verdade, está tudo bem. – Ele sorriu de volta e voltou para a cozinha onde fazia jericallas doces fofinhos como um pudim, com sabor de canela e baunilha.

A cidade estava tensa, há mais de cinco anos não havia um único homicídio, um assassinato tão brutal do dia para a noite era suspeito, estavam com medo e a desconfiança assolava a todos.

Pablo havia sido dispensado por papai em nome do dia de luto na cidade, tudo estava estranho como se o ar estivesse mais denso, a neblina que saia da colina em direção as pequenas casas coloridas era um tanto quanto estranha como se notícias ruins estivessem chegando.

Desliguei a televisão com o pequeno controle cinza e subi as escadas que rangiam em direção ao quarto, estava irritada e chateada com tudo o que acontecia, tinha que existir um padrão em tudo isso as coisas deveriam de alguma forma, se conectar. E eu descobriria como. Estava decidida como uma chama acessa em meu peito. Depois da morte daquela mulher, algo deveria ser feito nem que fosse por minhas próprias mãos.

Deitei-me na cama exausta pela noite mal dormida, aconchegando-me no cobertor fofinho, abraçando o pequeno urso catrina e dormi.

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"A bela criatura parada na soleira da pequena varanda da cabana escura olhando para mim com os olhos negros como duas grandes jabuticabas brilhantes, uma forte conexão entre mim e a pequenina se estabelece como se fossemos apenas um único ser dentro da floresta.

— Vem aqui, docinho. – Digo para ela, que gira levemente a cabeça com as orelhas empinadas numa expressão de questionamento – Eu não vou te machucar. – Falo em voz alta.

A porta se abre e a raposa entra como se já conhecesse o lugar há muito tempo, corre pelos móveis antigos até outra porta nos fundos da cabana, mais pesada e mais rustica, num instante ela se abre lentamente e passamos por ela observando a grande fogueira, sentindo a chama quente em nossos abdômens.

A raposa some, o crepitar no centro do campo fica mais alto e as mulheres nuas em volta da fogueira num tipo de rito, olho para o céu e as estrelas num perfeito padrão em sintonia clara com a lua e com todos os planetas, a lua iluminando toda a floresta com sua luz fina e prateada, tambores tocam num ritmo padronizado, uma bela mulher com pele chocolate, olhos puxados e escuros, penas coloridas decorando toda a cabeça num grande cocar inicia seu discurso em alto tom:

— Queridos Deuses! Estamos aqui nesta noite como agradecimento à tudo o que tem-nos proporcionado, a sabedoria, o amor, a harmonia, o autoconhecimento e a liberdade! Viva aos Deuses! Como forma de agradecimento, nossas oferendas serão colocadas nos rios e levadas até vocês, nesta grande Lua da Serpente tudo se regenerará e novos ciclos iniciarão!

Algumas das moças de cabeça baixa rezando, levantam-se e seguem até o rio segurando grandes cestas de frutas, laços, penas, e outros objetos que não reconheço. Olho novamente para o céu, a lua exatamente acima de nossas cabeças libera uma incrível energia e junto com ela, o delicioso cheiro de louro com jasmim chega em minhas narinas fazendo-me desmaiar.

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Desperto bocejando. A luz acinzentada do final da tarde invade meu quarto e na janela era possível vê-lo em grande contraste, pequeno e redondo com búzios e penas, titubeante pela brisa fria da chegada da noite. Filtro dos sonhos, o que esconde por entre estas teias? Pensei.

Caminhei até a janela e, de maneira impensada, olhei para o chão de grama por aparar por dentro da teia do objeto. Pulei para trás, o coração acelerando, os pelos do braço ouriçados com o que acabara de ver. Olhei novamente, hesitante, e realmente era ela.

A Raposa. Uma grande e bela raposa, como no sonho, sua pelagem áspera num vibrante tom alaranjado em contraste com o branco intenso das noites de invernos rigorosos. A língua rosada para fora enquanto olhava diretamente em meus olhos com olhar fiel e sincero, um tipo de luz intensa e brilhante envolvia a raposa e seus olhos escuros feito duas grandes jabuticabas, como no sonho, continuavam a me encarar.

Apressei-me para calcei o par de tênis pretos e sair na ponta dos pés evitando fazer qualquer tipo de barulho para não acordar papai que dormia roncando no sofá da sala. Acho que dormi mais do que imaginei pensei fechando a porta atrás de mim.

Evitando ao máximo fazer barulho percorri a lateral da casa seguindo a pequenina em direção à grande floresta com seus longos troncos um tanto quanto retorcidos, folhagem verdinha e pequenos arbustos com cactos. Fitei o lugar que era um tanto misterioso, como se um tipo de segredo estivesse guardado ali a sete chaves, respirei fundo e adentrei na densa vegetação.

— Espere! – Murmurei num sussurro de esperança rezando para que ela me entendesse, se virou para mim com o focinho fino molhado olhando como se me chamasse para andar mais rápido.

Continuei o trajeto atrás da raposa, em poucos minutos estaria suando de tanto correr atrás dela.

O buraco no chão denunciava que outrora, ali havia sido uma provável armadilha de urso feita por um caçador qualquer. Também é como no sonho, pensei.

Depois de mais alguns instantes de caminhada, uma estranha sensação de frio no estomago me fez hesitar durante um instante observando-a em minha frente.

— Tão linda e tão... Diferente. – Murmurei encantada pela construção com pequenas luzes brilhantes que se acendiam e apagavam sobrevoando o telhado.

A cabana era mais alta pessoalmente, as janelas quadradas de vidro e o estranho musgo alastrado pelas paredes faziam-me suspirar mais uma vez, a grande torre no alto com a única janela arredondada me atraia intensamente.

A raposa parada na pequena varanda ao lado de um vaso que, outrora havia sido o ninho de uma bela planta, olhava-me fixamente com a língua para fora. A porta atrás dela se abriu, e no mesmo instante a criatura laranja correu para dentro da cabana fazendo-me ir atrás.

— Ei, onde você está indo? Volte aqui, pode se machucar.  

A luz da tarde era o único elemento que possibilitava a visão do que havia ali dentro, primeiro a velha cozinha com o fogão a lenha enferrujado e cheio de teias, a grande mesa com todas as oito cadeiras e os armários de madeira com bambu improvisados; à esquerda um cômodo pequeno a lareira com um ninho de ratos, a poltrona acinzentada pela sujeira do tempo, duas janelas quebradas e um grande relógio cuco com os ponteiros parado, pendurado na parede.

Os detalhes, a maneira como as coisas estavam organizadas idênticas ao sonho, meu estomago revirou como quando recebemos uma notícia muito triste informando a morte de algum conhecido. A raposa olhava-me sentada na beira da escada de madeira retorcida, cheguei perto e ela subiu os degraus enquanto as cores intensas e espessas brilhantes pairava sobre o ar.

— Que lugar é esse? – Indaguei para mim mesma, surpresa e perplexa com à visão em minha frente, um grande quarto com diversas prateleiras de livros, pequenos potinhos de vidro com líquidos desconhecidos e sem identificação, um grande telescópio com o visor virado para a pequena janela arredondada, fotos encima da escrevinha e anotações feitas em cadernos com paginas abertas me chamavam atenção.

De quem quer que fosse tudo aquilo, era um lugar incrível, talvez quando não estivesse abandonado os raios do sol quente do México entrassem através da janela trazendo paz e aconchego.

— Você já sabia que viríamos para cá, sabia que eu te seguiria. Fez de propósito. – Falei para a raposa que mexia o rabo deitada no canto num tom brincalhão.

Voltei para o andar de baixo a procura de um gerador sendo seguida pela criatura de duas cores.

— Onde será que fica? Pense, Arabela, pense. – Murmurei para mim mesma, a pequenina olhou para mim e grunhiu, olhei-a e no mesmo instante virou as costas e saiu seguindo um pequeno caminho de pedras escuras até uma casa de madeira pequena. Abri a porta e lá estava ele, empoeirado mas intacto.

— Não acredito que encontrou. – Falei em voz alta olhando-a enquanto virava os botões na sequência de cima para baixo e puxava a pequena corda três vezes rapidamente. Um grande estalo. Estouro. Um pouco de fumaça. Bingo, pensei.

As luzes fracas piscaram e se acenderam, correndo retornei ao quarto dos livros, desenhos e símbolos nas paredes eram nítidos e um grande filtro dos sonhos com búzios e conchas pairava preso pela ponta no alto da janela.

Sentei-me na cadeira de madeira dura e tirei um pouco do pó presente no livro feito com letras de mão.

— Animais de Poder. — Li em voz alta o titulo na capa do livro de couro tingido de vermelho, abri-o e comecei a leitura – "Animais de poder são espíritos de pessoas ou animais muito importantes que, após a morte, se tornam espécies anjos da guarda protegendo-nos e guiando-nos em direção ao nosso destino longe de perigos ou da maldade humana, fazendo-nos despertar para o que somos e para o que é realmente importante."

Meus olhos passeavam pelas páginas, havia tanta coisa naquele livro, tantas informações, textos, palavras e fotos, algo se aquecia dentro do meu corpo como um grande despertar enquanto toda aquela escrita era processada em meu cérebro.

— "Existem centenas de Animais de Poder, os mais comuns são lobos, águias, cervos, libélulas, serpentes, falcões e gatos, todavia, qualquer tipo de animal pode ser apresentado como um Animal de Poder. Dentre os menos comuns estão a raposa, girafa, elefante, galo, jacaré, javali e aranha."

— Ah! Que legal, será que você é um animal de poder? – Brinquei com a raposa deitada no tapete empoeirado, ela me olhou como se não me entendesse – Que tal arranjarmos um nome para você? Só raposa é muito simples.

Os olhinhos brilhavam enquanto em silêncio trocávamos olhares sinceros.

— O que acha de Lou? – Ela rosnou como se não tivesse gostado – Tá bom, entendi! – Pensei mais um pouco – O que acha de Fox? Fox é legal.

Ela estava com raiva, virou o fucinho para o outro lado.

— Certo, e que tal Spark? – Sorri, ela olhou colocando a língua para fora como se um sorriso tivesse aparecido dentre toda a saliva espessa – Spark então! – Ri e ela correu pulando em meu colo, acariciei suas costas e mandíbula enquanto regougava alegremente.

Li, li, li e li. Absorvendo todo o conhecimento que aqueles livros desconhecidos sem procedência me traziam, e sem perceber novamente adormeci rapidamente após tantos estudos encima das pilhas.

· • • • ✤ • • • · ·

Despertei num susto com o crocitar da coruja no alto da torre da cabana, havia dormido por entre os livros, o tempo escuro lá fora e o telescópio iluminado pela luz prateada da lua me fizeram arregalar os olhos. A raposa havia sumido, e o silencio ensurdecedor se instalara.

Corri de volta para casa com medo de que papai tivesse sentido minha falta e a polícia estivesse atrás de mim com minhas fotos passando na tela da televisão.

A casa permanecia silenciosa como quando eu saíra, chacoalhei levemente o ombro de papai para que acordasse e fosse para cama.

— O que? Tem certeza que não precisa de nada, filha? – Questionou com a voz rouca enquanto ajudava-o a subir as escadas sonolento, em direção à própria cama.

— Preciso que durma um pouco. – Respondi cobrindo-o com uma manta quente quadriculada.

— Boa noite. – Sussurrei, ele resmungou e adormeceu novamente.


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Notas finais do capítulo

Comentem! ♥
— Lu ♥



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