O Mistério da Lua - Livro I escrita por salutetrangeer


Capítulo 3
Los Cuervos




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— E foi assim que ganhei essa cicatriz, caindo no cemitério no Dia dos Mortos. – Minha barriga doía de tantas gargalhadas enquanto ouvia as histórias de Pablo sobre as coisas mais bizarras que aconteceram na Festa dos Mortos.

Já faziam mais de duas horas que estávamos sentados nos degraus da varanda conversando e rindo até lagrimas rolarem por nossos rostos, durante a conversa ele contou que tinha dezoito anos, uma irmã mais nova, morava com a mãe, trabalhava consertando coisas e fazendo reformas e desde quando se conhecia por gente, morava na cidade.

— Certo, e você tem alguma história bizarra? – Pensei um pouco enquanto olhava para ele reparando em alguns de seus detalhes: o colar artesanal com uma pequena pedra preta brilhante na ponta, pelos da barba por fazer, o nariz fino, e pequenas sardas espalhadas embaixo dos olhos.

— Quando estava na quinta série um babaca xingava e batia em mim todos os dias, eu não dava a mínima importância até o dia em que citou minha mãe, quando aconteceu desejei tanto que ele perdesse a própria mãe e... – Ele piscou olhando fixamente em meus olhos.

— E então ele perdeu? – Indagou sem expressão.

— Bom, mais ou menos, ela fugiu com o jardineiro da casa e até a última notícia que tive o garoto nunca mais a viu. – Respondi prendendo o cabelo num coque alto, Pablo apenas continuava fitando-me – Tá, já entendi você me acha maluca por isso.

— O que? Não! Claro que não, acredito em você. – Levantou e se espreguiçou bocejando em seguida – Às vezes desejamos coisas e elas realmente acontecem. – Ouvimos o barulho do velho motor da pick up ao longe anunciando a chegada de meu pai – Foi ótimo conversar com você, bem não sei se tem interesse mas tem um parque de diversões na cidade perto do mar pensei em te chamar para ir, assim já apresento um pouco desse monte cheio de merda com casas coloridas e catrinas. – Ri, surpresa pelo convite, éramos apenas amigos qual mal teria?  

— Combinado, que horas? – Indaguei levantando para recolher os pratos, a jarra e os copos.

— Amanhã às quatro? Assim podemos fazer um tour pela cidade.

— Perfeito. – Respondi sorrindo um tanto quanto ansiosa. A pick up parou e Pablo foi ajudar com as vigas pesadas, papai saiu do carro e apoiou o braço no corrimão das escadas da varanda respirando fundo – O que houve? – O conhecia bem demais e saberia de longe seus sentimentos, e naquele momento eram de preocupação.

— Fui à loja comprar as vigas e encontrei um velho companheiro de minha adolescência, conversamos um pouco sobre a cidade e ele me disse que na última semana sete pessoas desapareceram. – Sete pessoas é um número extremamente alto para uma cidade tão pequena, talvez em poucas semanas toda a população desapareceria – Acho que não é mais seguro como antigamente. – Decepção. Essa é a palavra principal para definir o olhar dele, talvez por medo de que um de nós fosse a próxima vítima.

— Sete? – Pablo indagou com um olhar completamente vazio, distinto de toda a longa conversa que tivemos.

— Sim, as investigações já começaram é uma cidade pequena então as notícias correm rápido, a última desaparecida foi a Sra. Dulce dona da padaria. – Tirou uma pequena foto polaroid do bolso de trás da calça e me entregou, a moça aparentava cerca de quarenta anos, cabelos loiros, olhos castanhos e um pequeno colar dourado com sua inicial.

· • • • ✤ • • • · ·

https://www.youtube.com/watch?v=QdIYVXCfrQM

 “Ara... Ara...”

Sussurros invadiam meus pensamentos como intensas flechas flamejantes atravessando meu crânio com voracidade surreal.

“Acorde Arabela...”

Meu corpo inteiro tremia com a terrível nevasca, vejo a pequena cabana no centro da clareira, luzes acessas e fumaça saindo da chaminé. Abraço meu próprio corpo numa tentativa fracassada de aquecer-me da ventania.

“Venha...”

Ouço as diversas vozes em conjunto chamando-me para adentrar na cabana de madeira desconhecida, caminho afundando os pés descalços na neve e percebo que o motivo de tanto frio é a isenção de roupas, meu corpo é coberto apenas por uma leve camada de tecido da camisola desconhecida. Entro na casa, o cheiro de bolinhos de alecrim invade meu corpo, a mesa farta com bolos, pães, doces e diversos líquidos coloridos atraem demasiadamente.

“As coisas estão mudando, Arabela...”

— O que está mudando? – Indago para a voz de quem quer que seja, sinto algo passar os dedos em minha nuca.  

“A Lua da Serpente se aproxima, seja forte...”

— Que lua? Que serpente? – Grito em desespero, no mesmo instante as luzes da cabana se apagam ao mesmo tempo, todos os vidros se espatifando, a nevasca invadindo a cabana. Seres negros em formato bizarro, como urubus e corvos invadem grunhindo e berrando, famintos loucos por carniça.

“Apenas aguente firme.”

A voz por fim sussurrou e um grande corvo em tamanho humano, me devorou.

· • • • ✤ • • • · ·

     Acordei gritando, suando e com o coração disparado o medo dominava todo meu corpo.

— Filha! O que foi? Acordei com seus gritos. – Ele sentou na beira da cama e o abracei com toda força chorando em seus braços como fazia quando era criança e tinha pesadelos que me tiravam o sono, nunca imaginaria que aqueles pesadelos de crianças eram sonhos incríveis comparados ao que acabava de acontecer.

— Tive um pesadelo. – Ele me abraçou forte enquanto o medo me fazia chorar e soluçar.

— Ah querida, não fique assim foi apenas um pesadelo. Farei um chocolate quente para se acalmar, tudo bem? – Assenti, ele se levantou e saiu do quarto pensei em permanecer ali, sozinha com a luz da lua iluminando o ambiente e a luz do corredor acessa, no entanto, o pânico dos grandes corvos negros era tamanho que preferi sair dali desistindo da noite de sono.

— Ai! – Uma pontada forte em minha perna e algo quente que fazia cócegas escorrendo, procurei a causa da dor e meu coração parou mais uma vez: Havia um profundo corte de vidro em minha panturrilha.


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Notas finais do capítulo

E então caros leitores, o que acham dessa amizade da Arabela com o Pablo?



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