An Unfairy Tale escrita por LadyAristana


Capítulo 3
Protocolo de Sigilo 1997 pt 2


Notas iniciais do capítulo

Agora essa fanfic pega fogo!


Ou será que congela?



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Too late for second-guessing

Too late to go back to sleep

It’s time to trust my instincts

Close my eyes and leap!

It’s time to try defying gravity

I think I’ll try defying gravity

And you can’t pull me down!

—Defying Gravity (Wicked – Idina Menzel)

Upstate New York – Estados Unidos, fevereiro de 2008

Base Secreta de Operações Científicas da SHIELD

— Eu sou toda ouvidos, Nicky. – arqueei as sobrancelhas enquanto ele me empurrava uma pasta pesada de tantos documentos. Parecia uma enciclopédia, de tantas páginas.

Abri e logo na primeira página havia a imagem de uma belíssima coroa, aparentemente feita de vidro fosco. Ao lado, um nome irlandês. Coróin an Gheimhrid.

— Por que estou olhando uma coroa de vidro com um nome que eu não conseguiria pronunciar nem com mil anos de prática? – perguntei folheando o arquivo cheio de dados científicos dos quais eu não entendia uma vírgula.

— “Coroa do Inverno” é a tradução para o inglês. Achamos na Irlanda, nas colinas de Tara. Ou melhor, eles acharam. – Fury colocou em cima da mesa dois sacos da Zip-Lock cheios de poeira brilhante.

— Dois sacos de purpurina? – devolvi com um olhar cínico.

— Ah, não, não! Isso é um desrespeito sem tamanho da nossa parte. Acho que nunca foram apresentados formalmente. Esses são os Agentes Ira Lewis e Karin Graham da Divisão de Pesquisa Arqueológica. Ou o que sobrou deles depois de tocar no artefato em questão. – Nick devolveu meu olhar cínico empurrando os sacos na minha direção.

Me afastei imediatamente com um olhar horrorizado.

— Se essa coisa transformou dois agentes em purpurina, o que te faz pensar que eu quero ter algo a ver com isso? – perguntei com o olhar ainda fixo nos restos dos Agentes Lewis e Graham.

— A coroa não foi a única coisa encontrada em Tara. – ao lado dos sacos de purpurina, Nick deslizou uma foto que eu larguei horrorizada assim que peguei.

Um esqueleto mais branco que marfim com veios prateados entre os ossos.

— Você está tentando me dar um ataque do coração com esse show de horrores por acaso? Porque eu não estou achando graça! – ralhei sentindo um arrepio na espinha.

— Nós analisamos o DNA desse esqueleto. Adivinha quem é compatível? – Fury sorriu malvado.

— Fury, pare de enrolar! Coloque todas as cartas na mesa ou passe a vez! – Natasha se pronunciou irritada.

— E pare de tentar matar a nossa obra prima do coração. Essa patricinha deu trabalho demais pra treinar pra você matar agora de susto. – Clint concordou.

— O que eles disseram. – continuei acenando com a cabeça.

— Humpf... Essa sua geração não sabe mais o que é paciência. Geração Macarrão Instantâneo. – Nick resmungou puxando uma cadeira para si mesmo. – Geração Miojo.

— Ah, me poupe... – revirei os olhos. – Você vai me dar alguma informação de verdade? Porque se não, eu estou indo embora. Tenho coisa melhor pra fazer que ficar encarando os restos mortais dos seus agentes.

— Relaxa, Portter. Eu vou falar da parte legal. Ou chata. Depende do ponto de vista. Eu chamei o Departamento de Pesquisa Histórica. – Nick começou e fez um sinal com a mão. Imediatamente, um funcionário do Departamento de Nutrição  colocou uma bandeja com chá e bolo na mesa. – Podem se servir. Essa história vai ser longa.

A sincronia da arqueada de sobrancelha entre eu, Natasha e Clint foi tanta que pareceu que passávamos nosso tempo livre ensaiando.

— Vai falando. A gente se serve quando você tirar os Agentes Lewis e Graham da mesa. – Nat respondeu.

— Justo. – Nick concordou tirando os sacos Zip-Lock da mesa. – As informações que tínhamos sobre a Coroa do Inverno eram muito esparsas. Ela foi mencionada tanto na cultura viking como na cultura celta. No fim juntamos as duas para que fizesse mais sentido. Está na página 175 do arquivo.

Como se analisasse um documento em uma convenção de advogados ou painel do Departamento Jurídico da empresa, folheei o arquivo até a página 175. A pesquisa se estendia até a página 285.

— Serei obrigada a pedir um resumo. – falei com um sorriso falso que tinha toda a intenção de aparentar falsidade.

— Muito bem. – Fury assentiu, se recostando na cadeira e cruzando as mãos sobre o estômago como eu sempre imaginei que o Papai Noel faria ao chegar no Polo Norte após se fartar de um verdadeiro banquete de leite e biscoitos de gengibre. Nick era o cara mais focado e respeitável que eu conhecia, mas depois de 1997 algumas memórias tornavam simplesmente impossível levá-lo completamente a sério. – A lenda diz que havia uma jovem de honra indubitável chamada Mab, e ela era filha de um humano com a deusa viking Freya ou a deusa celta Morrigan. Ela era tão pura, perfeita e pipipi popopo que as fadas se afeiçoaram a ela. Naquela época as fadas não tinham governo e viviam brigando, mas concordavam em uma coisa: todas elas amavam Mab, a semideusa cheia de pureza, perfeição e pipipi popopo. Então a deusa viking Skadi ou a deusa celta Grianne decidiu usar seus poderes para abençoar Mab e torná-la a rainha das fadas.

— Alô Disney? Eu tenho o roteiro do seu próximo filme de princesa! – Clint zombou cruzando os braços.

— Shiu! Eu quero prestar atenção! – ralhei. – Continua, Nick.

— Como eu dizia antes de ser rudemente interrompido pelo Agente Barton, Mab se tornou a rainha das fadas, recebendo poderes do Inverno e magia das fadas de uma das deusas do Inverno. – Fury continuou encarando Clint com um olhar que poderia ser traduzido por “me desafia de novo pra você ver se eu não te ponho pra limpar banheiro por um ano”. – Isso tudo aconteceu no reino que os vikings chamavam de Alfheim e deu tudo certo por um tempo. Acontece que Mab, ao provar o poder, passou a agir de acordo com suas paixões e instintos. Começou a fazer o que dava na telha. Metade das fadas discordou disso e voluntariamente se retiraram dos domínios de Mab, formando a Corte Seelie enquanto o reino de Mab passou a ser chamado de Corte Unseelie.

— Eu devia ter prestado mais atenção nas aulas de história... – murmurei me servindo de chá.

— Devia sim, Portter. – Nick riu. – Os deuses não estavam muito aí pra essa treta não. A vida seguiu. Mab se casou. Teve filhos. Até que a Corte Seelie decidiu dar um golpe e mostrar a Mab o que acontecia quando ela fazia o que dava na telha. Entraram no castelo dela na calada da noite. Assassinaram o marido e os filhos dela. A mulher ficou louca de raiva e resolveu fazer um massacre. Eu entendo o ponto dela. Os deuses resolveram intervir. Baniram ela pra Terra. Mas não satisfeita ela resolveu que era melhor que os humanos e que daria uma boa rainha pra eles. Os deuses ficaram de saco cheio, prenderam os poderes e a imortalidade dela na coroa e largaram ela pra morrer numa caverna na Irlanda. Seguindo a história o tal esqueleto é ela. Eles dizem que um dia ia nascer uma garota em um lugar de conexão mágica com outros mundos e ela poderia portar os poderes e a imortalidade de Mab sem se corromper. Fim.

— Poxa Nicky quando eu tiver filhos vou mandar você contar histórias de ninar pra eles. Você é bom nisso! – brinquei.

— Se continuar procurando um namorado no ritmo que você está eu duvido de verdade mesmo que isso vá acontecer. – Nick devolveu.

— Outch. – Nat falou sorrindo de lado. – Ele está certo, no entanto.

— Vai dizer que jogou o telefone do Tom Cruise fora? – Clint perguntou arqueando a sobrancelha.

— Depois dele pulando no sofá da Oprah em 2005? Eu joguei na lareira! – respondi com uma careta. – Será que agora podemos voltar ao assunto em questão? Ok, Nick, é uma história superlegal e super assustadora, mas é só uma história e eu não vejo como isso possa ter algo a ver comigo.

Como resposta, Fury jogou na minha frente um jornal antigo datado de 1981 com a manchete “Mulher entra em trabalho de parto durante tour e bebê nasce em Stonehenge” e embaixo uma foto da minha mãe segurando uma versão recém nascida de mim com a legenda “a pequena Aleksandra Portter nasceu neste 17 de abril de 1981 pesando 4kg e chorando a plenos pulmões”.

— Todo mundo sabe que Stonehenge é considerado o maior point da religião celta. O lugar onde a magia é mais forte. E você nasceu lá. – o Diretor me encarou incisivamente. Eu conhecia o Nick. Sabia que ele gostava de fazer grandes performances para convencer seus agentes a dançar conforme a música que ele tocava. Não funcionava comigo.

— Pode ir cortando sua merda por aí, Nicholas. Eu te conheço, você me conhece. E você sabe muito bem que eu não me curvo aos seus joguinhos. – sibilei espalmando as mãos na mesa. – Você não acredita em uma virgula sequer dessa historinha, e nem teria me chamado aqui se não houvessem verdades científicas te deixando cismado com essa coroa. Ponha todas as cartas na mesa e eu estarei feliz em te escutar. Ou me dê só metade da informação e eu estarei feliz em me levantar e nunca mais voltar pra SHIELD. Você decide, Nicky.

— Dra. McConnely, apresente o relatório científico à agente Portter em uma língua que ela entenda. – ele disse por fim.

— Agente Portter, a senhorita é familiar com o fenômeno da Ponte de Einstein-Rosen? – Dra. McConnely perguntou com seu sotaque irlandês carregado e fiz que não. – E um Buraco de Minhoca?

— Sim, tenho uma ideia. – assenti. – Como se fosse um portal para o outro lado do espaço, certo?

— Exato, senhorita. – McConnely assentiu. – Essa coroa emana uma energia similar, assim como outro artefato com o qual a senhorita deve estar familiarizada. O Tesseract.

— Me parece não apenas perigoso como também letal, Dra. McConnely. – comentei cruzando os braços e arqueando a sobrancelha.

— A coroa também libera uma energia única, similar apenas ao esqueleto encontrado junto. – a irlandesa continuou. – Após testes de DNA feitos no mesmo e comparações com o nosso banco de dados, chegamos ao equivalente mais próximo. O DNA da senhorita. Então nos utilizamos de uma de suas amostras de sangue recentes e a colocamos em contato com a coroa. Foi absorvido, como se fosse parte do objeto. Tudo o que gostaríamos é fazer um teste, colocando a senhorita em contato direto com o artefato.

— E depois do que aconteceu com os agentes Lewis e Graham você espera que eu encoste naquela coisa? – perguntei cínica.

— Expusemos o sangue de outros agentes ao artefato. Também se tornou em poeira brilhante. Mas o da senhorita não. Tenho fortes razões para acreditar que a coroa não será nociva à senhorita. – McConnely argumentou. – Não é apenas a lenda que nos leva à senhorita. É a ciência.

— Muito bem. – assenti. – Me levem até a Coroa do Inverno.

***  

Upstate New York – Estados Unidos, fevereiro de 2008

Base Secreta De Pesquisa Científica da SHIELD, Departamento de Estudo de Artefatos Potencialmente Perigosos.

Foi como um puxão. Um puxão gentil e leve me atraindo em direção à ela. E o sussurro.

Por vezes um nome. Por vezes um chamado. Por vezes um pedido. Por vezes um cantarolar.

Unseelie...

Um nome.

Aleksandra...

Um chamado.

Liberte-me!

Liberte-me, Aleksandra!

Um pedido.

Aleksandra é a rainha das fadas!

Um cantarolar.

Liberte-me, Aleksandra!

Aleksandra é a rainha das fadas!

Aleksandra...

Aleksandra.

Aleksandra!

— Portter! – Nick chamou, me puxando do meu transe. – É aqui.

Ele sinalizou a porta de metal fechada a vácuo. Foi aberta, e fumaça gelada saiu do ambiente.

Eu entrei. Estava frio. Os sussurros se intensificaram. Não era só uma voz. Eram várias vozes. Vozes melodiosas. Sussurrando. Sobre mim.

Essa não é Mab.

Não. Essa será melhor que Mab.

Ela é bela!

É forte!

É inteligente!

Nada disso realmente importa tanto diante do fato principal: ela é digna!

Louve-se Skadi! Ela salvará nosso legado!

Será que ela tem família?

Amigos?

Um amor?

Aleksandra...

Salve-nos, Aleksandra!

Fui atraída pela coroa como uma mariposa é atraída pela luz.

Ricamente trabalhada, feita de gelo puro. Emitia uma baixa luminescência azulada e uma vibração melódica de baixa frequência.

Como que hipnotizada, me aproximei, e quanto mais perto chegava, mais altas as vozes se tornavam. E mais concretas também.

Eu não tive escolha.

Ou tive?

Não sei. Só sei que precisava desesperadamente tocar o artefato.

Então o fiz.

Um formigamento gelado subiu por meu corpo e minhas mãos travaram ao redor da coroa como quem toma um choque.

E vi flashes.

Uma mulher de cabelos tão negros que chegavam a ser azuis, ladeada de ursos polares, sentada a um trono, um sorriso viperino no rosto, os olhos emitindo luz azul.

Um povo que ria e era feliz.

Uma família cheia de amor e felicidade.

Crianças que brincavam na neve e viviam sem se preocupar com o mal.

E então tragédia atrás de tragédia.

Sangue.

Morte.

Doença.

Massacre.

Um povo que perdeu tudo, inclusive suas vidas.

Um povo que foi exterminado pelos Seelie.

Os Seelie que foram exterminados pela fúria de Mab.

Mab que foi exterminada pelos deuses.

Que definhou numa caverna escura até morrer privada do dom que recebera outrora.

Um dom que me escolhera.

Um dom que pertencia a mim agora.

Um clique.

A coroa se dissolveu em areia prateada e escorreu por entre meus dedos.

E então eu acordei sabendo exatamente o que fazer.

***  

Califórnia – Estados Unidos, fevereiro de 2008

Residência de Aleksandra Portter em Malibu

Fury e Dra. McConnely estimaram três meses para que todos os preparativos para a conclusão do Projeto Unseelie estivessem prontos, então eu voltei pra casa.

Estava trabalhando como se nada tivesse acontecido quando meu telefone tocou.

— Aleksandra Portter. – atendi.

— Leks, é o Rhodey. Você tá sentada? – a urgência na voz dele foi o que me avisou que algo terrível havia acontecido.

— Estou. O quê aconteceu? – perguntei alarmada largando minha caneta.

— Leks... Tony foi sequestrado.

Eu derrubei o telefone.


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Notas finais do capítulo

Agora sim hein?
Gente, ainda não assisti Ultimato, porém recebi spoiler e estou EXTREMAMENTE bolada a respeito. Sem falar que perdi toda a minha coragem de ver esse filme porque cara... Eu cresci com os Vingadores e todo o MCU muito presentes na minha vida, principalmente a partir dos meus 13 anos quando eu superei a fase “princesa da Disney” – mentira, nunca superei essa fase completamente – e agora eu adulta sinto que Ultimato é a representação do fim definitivo da minha adolescência então EU NÃO TÔ PREPARADA.
Mas gente, não se preocupe, eu já estou trabalhando em uma forma de “concertar” Ultimato na série As Irmãs Portter.
Fora disso agora: a mitologia mencionada nesse capítulo partiu parcialmente de pesquisas no Google – que não me ajudou quase nada -, os conhecimentos da minha druida residente @ElvishSong e o resto é tudo invencionice minha. Eu resolvi seguir a cartilha da Marvel e mudar a mitologia ao meu bel prazer, tudo pra fazer um plot legal pra vocês.
Sobre o próximo capítulo: teremos emoções fortes, então preparem os lencinhos.
Amo vocês 3mil!
BEIJOS DE REFERÊNCIA,
SHAZI



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