Capítulo 9 - Fogueira, Histórias e Destinos Tristes

Sasuke

Acordei desnorteado com os raios solares sobre meu rosto, a vontade de voltar ao mundo dos sonhos era grande, mas uma terrível dor no meu pescoço me obrigou a me espreguiçar, nesse momento finalmente percebi que tinha dormido em cima do projeto para a cauda do Aoda. Porém, quanto mais me mexia, mais dores eu ia descobrindo. A constatação desagradável me fez esboçar uma careta, o treinamento de hoje seria muito mais complicado graças a isso.

Claro, não que fosse normalmente muito fácil.

Levantei- me a contragosto e ainda sonolento, inacreditavelmente, uma única olhadela bastou para que meu corpo desejasse ansiosamente se deitar por meros cinco minutos na minha confortável e convidativa cama... Admito que me senti tentado, mas resisti.  Sacudi a cabeça afim de organizar os pensamentos, troquei minhas roupas e me dirigi para fora do quarto.
Ao por os pés para fora da residência Uchiha me permiti inspirar profundamente.

Mais um dia.

Mais um treinamento Hunter.

Já estava na metade do caminho quando um pensamento atravessou meus devaneios. A cena de ontem, do momento em que Aoda se assustou com a enguia, estranhamente me pareceu curiosa, e me fez questionar se isso acontecia com todos os dragões ou especificamente com os Fúrias da Noite.

Não gostava de deixar nenhuma oportunidade passar, além disso, poderia ser uma informação inédita para todos, ou até mesmo, uma segurança dentro daquela arena e com um instrutor tão inconsequente como Kakashi.

—Acho que vale a pena tentar – Falei comigo mesmo enquanto alterava imediatamente minha rota para a direção da Cozinha Central.

}|*|{

Hoje na arena iríamos lutar com um Ziperarrepiante, um Dragão com duas cabeças. Uma cospe fumaça e a outra, faíscas, juntas podem causar uma explosão capaz de levar facilmente uma casa pelos ares.

Para variar um pouco, Kakashi estava confortavelmente nos observando sobre a arena enquanto se divertia com nosso desespero.

— A aula de hoje é sobre trabalho em equipe, um Dragão com a cabeça molhada não cuspirá fogo.  – Enquanto falava, uma densa cortina de fumaça se formava ao nosso redor, espreitando por nossos pés até alcançar o topo de nossas cabeças, nos impossibilitando de ver mais que dois palmos a nossa frente. Tivemos nossas duplas designadas antes de entrar no coliseu de pedra, eu fui um dos primeiros a ser chamado e, inesperadamente, acabei caindo com Shikamaru – O objetivo de vocês é descobrir qual cabeça faz o quê, e claro, não morrer no processo.

Encarava as nuvens densas de fumaça com apreensão, a adrenalina de não fazer ideia de onde o animal poderia surgir era terrivelmente agoniante. Para ajudar, minha dupla não parava de falar com aquela voz sonolenta dele sobre todas as diversas características do Dragão, seus comportamentos e até as maneiras favoritas de matar.

E eu estava realmente começando a me irritar  com toda aquela falação.

— ...ele prefere triturar suas vítimas e depois...

— Da para você parar? – O cortei rangendo os dentes. Olhei o garoto de soslaio apenas para certificar o quanto minha vontade de joga-lo na direção do dragão continuava a crescer. Ainda consegui vê-lo revirar os olhos antes de, finalmente, calar-se e me permitir voltar a minha concentração.

Mas, não durou muito.

De repente me sobressaltei com o grito de Temari. Pelo que conseguia ouvir, Ino e Naruto haviam confundido ela e Sakura com o dragão. Sei que é errado, mas não consigo me surpreender com algo assim justamente por vir daqueles dois cabeças de vento.

— Ino, você e o Naruto são burros?! Como vocês foram nos confundir com um Dragão?!

— Tema – A irmã retrucou – Parece que você engordou e isso foi tudo para o seu traseiro.

Naruto riu.

— Não tenho nada contra umas curvas dragonianas ...

Apenas consegui ouvir o som de um soco muito bem dado e o barulho de um balde sendo esvaziado. Pelos gritos histéricos logo soube que Naruto e Ino haviam recebido uma pequena vingança. Eu e o Nara tentamos nos aproximar dos sons afim de chegarmos até eles, porém assim que se materializaram no nosso campo de visão vimos Ino ser puxada até desaparecer completamente por entre a névoa.

Em seguida, numa velocidade muito além do que éramos capazes de acompanhar, a calda do dragão surgiu bem abaixo dos nossos pés, causando um efeito cascata desconcertante em todos nós.

— Que saco, acho que as nossas chances de sobrevivência diminuíram agora – Disse Shikamaru depois de se levantar, mas o tom de sua voz continuava arrastado e aparentemente entediado, o que me fazia questionar se o que ele tinha era coragem ou se não passava de um terrível preguiçoso.

Estava pronto para retruca-lo, mas travei ao ver uma das cabeças do dragão brotar no meio da fumaça, Shikamaru logo percebeu e se virou na direção do animal, num movimento automático, jogou toda a água sobre ele, e deu certo, porém era a cabeça errada.

Não demorou para a outra também aparecer, Ino havia se salvado e corria gritando algo que eu não consegui compreender, já meu parceiro, não pensou duas vezes antes de sair correndo também e me deixar sozinho com o dragão.

Um pouco mais distante pude ver a sombra do que eu deduzi ser Karin e Hinata enquanto tentavam observar para saber o que estava acontecendo. Sakura logo apareceu no meu campo de visão e parecia preocupada enquanto tentava se aproximar de mim. Porém, o arrepio crépido em minha espinha fez com que todo o ar dos meus pulmões se prendesse.

O animal fungava muito próximo da minha nuca.

Ao longe ouvi a voz de Kakashi gritar comigo, não sei como, mas consegui entender o que ele tentava me dizer – Jogue agora, Sasuke!

No ímpeto do momento, virei-me e joguei o balde na direção dele, mas não imaginei que lançaria tão forte que contornaria completamente o bendito do dragão.

— Droga.

O animal pareceu se enfurecer ainda mais depois da minha tentativa vergonhosa, num só movimento, sua calda varreu a fumaça da arena, se pondo imponente, pronto para atacar com sua violência.

Que Odin me protegesse.

E que isso desse certo.

— Sasuke! – Ouvi o grito do grisalho esganiçar em terror, em algum momento ele havia decido do topo da arena e vinha o mais rápido até mim, mas parou assim que me viu estender a enguia para o animal.

Felizmente, ao menos nisso, os deuses estavam comigo.

— Para trás! – Disse dando passos para frente em direção ao Dragão. Ele se espantou, assim como foi com o Aoda, e se pôs a recuar até sua jaula tremendo em agonia – Para trás... Isso mesmo! Ohhh não me faça falar de novo!

Quando finalmente o animal alcançou sua prisão, correu para enfiar-se no canto mais distante possível esperando conseguir fugir da enguia, que si quer viva estava. Ele me olhava amedrontado, um sentimento de culpa me invadiu ao pensar que o estaria deixando ali sofrendo com o medo sozinho, por isso apenas a coloquei na entrada da jaula, foi o tempo necessário para puxar as pesadas portas de madeira e trancafia-lo novamente em seu cárcere.

Ao virar-me para meus companheiros de treino deparei-me com faces incrédulas direcionadas a mim.

— Bom... É-é que dragões não gostam de enguias – Minha mão esquerda coçava a parte de trás da minha nuca, era terrivelmente desconfortável receber tantas atenções.

— Sasuke, como sabia disso? – Perguntou Naruto depois de me alcançar, em seu enlaço os outros também chegavam, mas não tentavam minimamente disfarçar suas faces surpresas e descrentes.

— T-tinha... – Tossi para limpar a garganta, e com sorte, talvez parar de gaguejar – Eu estava lendo alguns livros antigos e vi uma menção a isso. Não estava claro, mas foi o que consegui deduzir. Achei que talvez poderia colocar essa nova informação a prova hoje e foi o que eu fiz.

— E graças aos deuses você não virou churrasco de dragão – Karin disse cruzando os braços e sorrindo aliviada.

—Ao menos isso – Brinquei de volta, mas mal sabiam eles que ainda sentia minhas pernas tremerem levemente.

Ao olhar para Kakashi percebi que ele estava com uma cara estranha, eu não sabia dizer se ele tinha acreditado ou não, mas preferiu mudar de assunto. O homem nos chamando para um churrasco a noite, segundo ele, estávamos precisando conhecer melhor uns aos outros e termos mais momentos para interagirmos. Talvez nisso ele não estivesse errado, porém, diante das circunstancias dos últimos dias, não acho que seria tão simples assim.

Ou, quem sabe, eu pudesse estar enganado.

}|*|{

O sol ainda se mostrava presente, mesmo que fizesse pouco tempo desde o início do verão, logo os dias começariam a parecer infinitos. Gostava da constante aparência alaranjada do céu. O crepúsculo era o momento mais fascinante do dia para mim. Os longos meses de verão eram um respiro depois de um inverno sangrento, com ataques consecutivos e brutais num espaço de tempo muito curto, precisamos aproveitar os tempos quentes para guardar recursos e estarmos preparados quando o próximo ciclo chegar. 

Deixei de apreciar a paisagem e voltei a focar no nosso caminho, Kakashi nos levou para perto das docas, precisamos subir por algumas pedras até alcançar uma elevação da ilha. Todos ajudamos levando um punhado de lenha, alguns peixes e coxas de frango para assarmos na fogueira. Enquanto meus companheiros colaboravam para preparar tudo, eu não conseguia evitar o desviar dos meus olhos para a floresta além do reino, não conseguiria ver Aoda hoje e pedia a Odin que ele estivesse bem. Suspirei, logo ele ficará completamente bem.

Depois que tudo estava devidamente pronto, preferi me sentar em um dos troncos próximos as rochas que usamos para subir até ali, os outros rapidamente se acomodaram espalhados ao redor da fogueira. Naruto sentou-se ao meu lado, Sakura estava junto com as outras meninas e Kakashi se responsabilizou para assar a comida.

Enquanto esperávamos, Ino iniciou uma conversa animada com as garotas, falando algo sobre uma nova armadura que ela queria confeccionar, já os garotos comentavam sobre dragões e as formas de matar de cada um, Naruto estava entusiasmado com o assunto, mas eu preferi me abster e apenas observar silenciosamente, do lado contrário, pude ver que a garota Hyuga fazia o mesmo que eu. Estranhamente a sentia muito parecida comigo, porém, o que nos diferenciava, era o fato de ela ser a mais velha de sua família, e era nítido o quanto ela detestava o fato de precisar passar por esse treinamento por causa das obrigações de herdeira do clã, ela não era uma guerreira, fato, sinto que como eu ela não consiga se encaixar nesse mundo violento que vivemos. Mas, está ali, buscando uma aprovação de seu pai, para se sentir minimamente útil. Para provar que é a pessoa certa para guiar o Clã Hyuga.

“Temos destinos igualmente tristes”. – Pensei.

Ainda a analisando, por um momento achei que Hinata também me observava, mas vendo mais atentamente, vi que na verdade seu olhar perolado estava direcionado ao meu amigo loiro, parecia perdido, ou talvez estivesse o admirando, não soube definir. A vi dar um longo suspiro antes de ser tirada de seu transe por Karin, que a perguntava alguma coisa.

Desta vez desviei meu olhar em busca de Sakura, era inconsciente, como um instinto, meus olhos sempre buscavam por ela de alguma forma, entretanto, para minha surpresa, a peguei me encarando com o cenho franzido e parecendo levemente irritada. Senti o sangue subir até minhas bochechas e percebi que as dela também sofriam do mesmo mal, provavelmente se sentiu constrangida por ter sido pega no flagra, ela desviou o olhar e voltou a prestar atenção na conversa das garotas, ou ao menos tentava fingir que assim o fazia.

“Porque ela...”

—A comida está pronta! Sirvam-se! – Kakashi anunciou, cortando meus pensamentos. Todos levantaram-se apressados para pegar os melhores pedaços, o Uzumaki não pensou duas vezes antes de agarrar as coxas de galinha, uma em cada mão, e abocanhar uma outra e leva-la pendurada na boca.

Ri internamente. Naruto não tinha jeito.

Esperei até que a movimentação se acalmasse para só então pegar a minha parte. Contentei-me com um único peixe e comi silenciosamente. Passado um tempo, Naruto, que estava com sua última coxa de frango na mão e completamente sujo, surgiu com a seguinte pergunta:

— Kakashi, como você perdeu seu olho?

— Ah isso? – Pôs a mão boa sobre o tapa-olho – Querem saber a história?

Todas afirmaram ansiosamente, voltando suas atenções exclusivamente para o grisalho. Ele por sua vez inspirou fundo, apenas para aumentar o suspense antes de começar – Eu era jovem e estava numa expedição junto com Fugaku e outro amigo nosso, Obito. Lutamos contra um Dragão feroz que encontramos durante a viagem, o animal pousou imponente sobre nosso barco como se tudo ali lhe pertencesse. A fera não era muito grande, mas era rápida. Estávamos passando perto de um rochedo, nisso uma das bolas de fogo acertou a grande parede de pedra e fez algumas se soltarem... E uma dessas caiu sobre Obito. O barco estava prestes a afundar. O Desespero ameaçando nos consumir. Mas, para protege-lo, me lancei sobre o animal, lutamos corpo-a-corpo por algum tempo, porém uma de suas patas me acertou, arrancando meu olho a seco. Eu vi meu globo ocular preso na garra do dragão... E até hoje sinto as garras do animal perfurando minha carne.

Uma expressão de maravilha inundou a face de todos, sentiam-se ainda mais curiosos e fascinados. Após um breve silêncio, em respeito ao acontecimento, foi a vez de Karin se pronunciar.

— E a sua perna?

— Minha perna foi em outra ocasião... – O semblante do homem tornou-se sombrio por um momento, eu sabia o motivo, mas não era como se devêssemos apenas não mencionar o fato para que ele deixasse de existir – O dragão, com apenas uma bocada, – Pegou mais uma coxa que estava assando e a abocanhou –  a arrancou, foi no dia em que perdemos Mikoto... – Senti olhares serem voltados para mim, já estava me acostumando já que tinha acontecido diversas vezes só hoje – Quando cai achei que iria morrer pelo detrimento de sangue, mas mesmo perdendo os sentidos, duas ou três vezes, me pus a rastejar pelas sombras. Com a benção de Tyr, reuni forças para me erguer e cravar minha espada no coração da besta. Vi o olhar dela, eu era delicioso, mas não levaria nenhuma parte minha naquela noite... Mesmo que acabamos perdendo algo ainda mais precioso...

Novamente o silêncio, mas dessa vezes, o silencio foi regado de receio, podia sentir cada par de olhos que se direcionavam a mim esperando para ver qual seria minha reação, tentei parecer o mais tranquilo possível , respirei fundo e tomei coragem para dizer – Está tudo bem. Sei que ela foi recebida nos Salões de Valhalla com honra, não se preocupem comigo - Valhala está localizada no reino de Glaoshemir, ela é descrita como um lugar brilhante e dourado, e que "se eleva de forma pacífica", quando vista de longe. É para Valhalla que vão aqueles que morreram em combate e foram escolhidos por Odim para descansarem nos grandes salões da cidade divina. Sei que minha mãe morreu lutando, seu coração era bom e era uma mulher honrada, digna da graça de Odin.

Naruto me deu um leve tapinha nas costas em sinal de apoio e Sakura me direcionou um sorriso gentil, aquilo para mim bastaria por hora.

Depois disso os hunters voltaram a se animar e claro, queriam ouvir mais histórias, eu já sabia da grande maioria por ter crescido ouvindo-as do próprio Kakashi, mas eu precisava admitir que elas nunca perdiam o encanto, não importa quantas vezes aquele velhote irritante as contasse.

Ino olhou para a mão do homem e já começou a falar com animação – Aposto que a história da mão foi ainda mais sensacional! – Os olhos azuis pareciam brilhar com os reflexos das chamas – O Dragão veio e a arrancou com a espada em punho!

— Claro que não, Ino. Não seja idiota – Retrucou Temari – Deve ter sido uma disputa de força com o Dragão.

— Tema, você está maluca? Aposto que o Kakashi não estaria preparado e por isso que aconteceu.
Não consegui me segurar e acabei soltando uma risada fungada, chamando a atenção da roda. Shikamaru tomou a frente e perguntou:

— Sasuke, por que está rindo?

Eu apenas olhei para o mais velho que suspirou – Eu estava no dia da decapitação da mão – Disse simplesmente.

Vários pares de olhos arregalaram-se incrédulos.

— O que?! – Naruto foi o primeiro a se pronunciar – E você não me conta que já esteve de frente com um dragão antes do treinamento?!

Ri mais uma vez, não conseguindo evitar.

—Hey, Sasuke! Pare de enrolar! – Dessa vez, foi Sakura que atravessou já impaciente pelo suspense desnecessário.

— Não foi culpa de um Dragão. – Olhei para nosso treinador – Por que não fala de uma vez, Kakashi?

O grisalho revirou seu único olho antes de responder – Eu o perdi enquanto fazia uma arma nova na ferraria, simples assim.

O silencio instaurou-se ao redor da fogueira. Todos, menos eu, ficaram atônitos. Arrisco dizer que muitos estavam decepcionados. No entanto, não tardou até que Naruto, agitado como sempre, voltasse a falar, mas o que ele disse fez meu coração se comprimir no peito.

— Relaxa, velhote! Todo dragão que eu derrotar, irei ferir um olho e cortar suas pernas como vingança para o que fizeram com você!

— Não, não, vocês vão querer as caudas e as asas, se eles não podem voar, não podem fugir – Corrigiu. Isso me fez lembrar Aoda, a certeza de que preciso terminar a cauda, o mais urgente possível, só aumentava – Um dragão abatido é um dragão morto.

Após isso todos começaram a comentar diversos assuntos, decidi aproveitar a situação e sair disfarçadamente.

Vou terminar aquela cauda.

Custe o que custar.

}|*|{

Cheguei a ferraria agitado, carregava todos os meus pergaminhos de desenho nos braços, sabia que Kakashi não viria hoje, e precisava aproveitar a oportunidade para usar as ferramentas sem causar suspeitas nele.

Comecei a desmontar escudos quebrados que tínhamos guardados em estoque. Modelei o aço na brasa até criar uma haste central, peguei um pedaço de couro resistente e o prendi com pregos às outras hastes que saiam diretamente da principal, tendo uma diferença de tamanho similar a cauda do Fúria da Noite.

Passei horas trabalhando naquilo, a noite aos poucos ia se esvaindo, dando lugar novamente ao dia, o sol nascente já pairava sobre o céu quando finalmente terminei e enfim pude olhar para a nova cauda de Aoda satisfeito.

Não haveria treino hoje, e mesmo não tendo dormido, a minha ansiedade para testar minha nova invenção com o dragão estava quase me consumindo.

Eu precisava ir até ele imediatamente.

Fui a floresta, mas não antes de passar no Salão de refeições e pegar mais alguns peixes com Anko, tomando o devido cuidado dessa vez para que nenhuma enguia fosse misturada com o alimento. Caminhei apressado com o cesto em minhas costas pelo caminho que eu já conhecia tão bem e logo já estava diante da passagem das duas grandes rochas.

Após alcançar o solo, depois da pequena decida de pedras que precisei enfrentar, vi Aoda se aproximar, o Dragão parecia feliz, o que em meu intimo me fez questionar se aquilo significava que ele tinha sentido minha falta.

— Bom dia, Aoda. Está com fome? 

Derrubei a cesta para mostrar o conteúdo para ele, obviamente ele já tinha sentido o cheiro desde o momento que eu cheguei, analisou brevemente para ter certeza de que não veria qualquer enguia intrusa para só então começar a assar e comer os peixes.

Fui me aproximando até a parte de trás dele, precisava ser tão sorrateiro como um gato, e agir o mais normalmente possível, enquanto ele comia. Não teria outra chance tão cedo de faze-lo ficar distraído a esse ponto, afinal, ele parecia não prestar atenção em nada ao redor, era apenas ele e a comida. Até me fazia lembrar um pouco de Naruto.

Coloquei meu projeto ao lado da cauda dele, mas toda vez que eu tentava prende-la ele se movia, olhei para ver se ele tinha reparado em algo, mas não, continuava entretido com seus peixes assados.

Subi em cima de sua cauda para prender com fivelas minha criação, mas o Dragão se movia de mais.

— Ahh, eu só preciso de um momento, Aoda! Há! – E com muita satisfação vi que havia conseguido.

Estava tão entretido vendo como tinha ficado que não notei que, após sentir algo em sua cauda, o dragão abriu as asas.

— Legal, até que não ficou ruim. Talvez só mais alguns ajustes e... – Nesse momento quase cai com o movimento repentino, aquele louco começou a voar comigo pendurado em sua cauda.

— Não, não, PARA AODA!

Ele não parecia me escutar, foi quando notei que apesar de estar com a prótese ele estava começando a cair, a aste tinha dobrado,  foi necessário um puxão certeiro para abri-la antes que o Dragão batesse contra as rochas e me levasse a um fim terrivelmente doloroso.

— Por Thor, não acredito que funcionou! – Gritei comemorando, vendo o quão alto tínhamos conseguido chegar – Eu realmente consegui!
Nesse momento Aoda notou a minha presença e sem pensar duas vezes me jogou contra o lago, no qual ele caiu segundos depois já que a cauda não conseguiu se manter aberta.

O rugido de frustração dele chegava a ser engraçado, e mesmo eu estado completamente encharcado, não conseguia deixar de me sentir feliz.

Eu realmente havia conseguido.

}|*|{

SAKURA

Mais uma vez, lá estava eu naquela floresta. Como não teríamos treinamento hoje preferi fazer o meu próprio no lugar de sempre. O dia tinha acabado de amanhecer, os sons da natureza mesclavam-se ao tilintar da lamina do meu machado e eu me permitia espairecer naquele meu pequeno universo particular.

Depois de mais uma sequência de movimentos, parei para descansar, aproveitando para tomar um pouco da água que eu tinha trago. Por entre as copas das árvores pude avistar o que parecia ser um falcão rasgar o céu. Pelo que consegui ver, suas penas eram mais escuras que as que estava acostumada a ver em pássaros daquela espécie.

Estranhamente, o falcão me levou a pensar em Sasuke.

As lembranças do dia anterior vieram com um sonho, repetindo-se em minha mente. Ele surpreendeu a todos durante o treinamento com o Ziperarrepiante, nunca imaginaria que dragões tem aversão a enguias e a forma como ele lidou com a situação também foi surpreendente. Depois participamos da fogueira... Mas, não conseguia parar de tentar entender o motivo dele ter ficado encarando a garota Hyuga por tanto tempo, e ela retribuir o olhar dele! Sasuke nunca comentou que estava conversando com Hinata ou qualquer coisa do tipo, e mesmo que eu queira tentar negar, sei que fiquei incomodada, mas não sabia dizer o motivo.

E ainda, para completar, ele me flagrou o observando também. Pelo Pai de Todos! O meu maior desejo era que a terra se abrisse e de lá o próprio Fenhir viesse para me puxar para as profundezas de Midgar.

Um barulho de um rugido me fez sair dos meus pensamentos e entrar em estado de alerta, porém, no momento que olhei para o céu, meus olhos não eram capazes de acreditar no que estavam vendo.

Um dragão, negro como a noite, caia em direção ao chão, sumindo ao longe por entre a mata.

Peguei meu machado imediatamente e não hesitei em ir à direção que a besta havia despencado. O fato dele estar sozinho me era suspeito, os dragões nunca atacam sem estarem em um bando, por isso a ideia de ter mais deles por ai me deixava ainda mais tensa.

Embrenhava-me por entre as arvores cada vez mais, atenta a cada misero barulho que pudesse parecer suspeito.

Crack

Ouvi o som de galhos sendo pisoteados, escondi-me atrás de uma grande rocha e me pus a observar quem estava vindo me fazer companhia.

Surpreendentemente, a capa extravagante logo surgiu no meu campo de visão, o capuz cobria completamente o rosto da pessoa, mas eu já sabia de quem se tratava.

“O Traidor”.

Agora estava num grande dilema. Averiguar o dragão que tinha acabado de despencar do céu ou seguir o suspeito que estava vendendo informações de Konoha para Orochimaru. É claro que a segurança da cidade era prioridade e quanto mais soubermos a respeito dele, melhor será. Preocupar-me-ia com o dragão depois. Tinha que aproveitar que estava claro e talvez assim conseguir mais características que nos ajudassem a identifica-lo.

Deixei meu machado escondido por entre alguns arbustos, tirei minha própria capa da bolsa que eu havia levado e a vesti. As capas do Clã Haruno eram verdes, como as folhas das arvores e possuíam desenhos num tom mais claro que realmente faziam parecerem folhas.  Embrenhei-me ainda mais na floresta a fim de chegar o mais perto que fosse possível, mas sempre tentando manter a descrição.

A pessoa a minha frente era mais alta do que eu, poderia ser homem ou mulher, mas seu tronco parecia levemente mais largo que o comum, o que me levou a deduzir que realmente se tratava de um homem.  Agora mais perto conseguia ver as pegadas também, elas eram maiores que as minhas e o pisar era forte, não como da outra vez que ele estava escondendo seu rastro.

Tentei manter esse ritmo por um tempo, entretanto, num único momento de distração, ele sumiu, assim, diante dos meus olhos. Fiquei frustrada por não ter conseguido mais características, porém ao voltar pelo mesmo caminho notei  fios de cabelo vermelho, fios curtos, caídos em pontos aleatórios da trilha. Peguei um entre meus dedos para analisa-lo mais de perto, e apesar de ser curto, era grosso, num tom vibrante da cor.

Peguei mais alguns que achei pelo caminho e os guardei num dos bolsos da minha capa, retornei até onde tinha deixado minhas coisas e fui em direção a Konoha mais uma vez.

Quando estava quase chegando na estrada da cidade vi Sasuke, não sabia dizer se ele estava saindo ou voltando, mas vi que seus cabelos e roupas estavam molhados, talvez ele tivesse ido até as Kildenes novamente, mas não pude deixar de notar o quanto a franja caída sobre seus olhos daquela forma o deixavam mais bonito. Suas maçãs do rosto eram levemente sobressaltadas e uma fina linha fazia a separação dos seus lábios. Ele não se parecia muito com o pai, por isso deduzo que estes sejam traços da sua mãe, sempre ouvi dizer que Mikoto Uchiha era a mulher mais linda que já havia pisado sobre as terras do nosso império.

— Sasuke...? – O chamei.

Ele me ouviu, virou e se aproximou de mim, com um sorriso diferente do habitual, parecia realmente feliz, normalmente Sasuke apenas me dirigia sorrisos contidos, mas poder ver um sorriso assim dele, mexeu comigo de um jeito que não sei explicar, mas me sentia igualmente feliz por vê-lo assim.

— Oi Sakura, voltando do seu treino?

— S-sim – Sentia que estava começando a ficar vermelha por causa dos meus próprios pensamentos, então tratei de me focar novamente para contar tudo o que tinha visto.

— Sasuke, sei que pode parecer uma loucura completa, mas enquanto eu estava na floresta eu vi um dragão negro voando e então caindo do céu – Dito isso, vi o moreno mudar sua postura, olhando-me completamente sério, mas não me importei muito e continuei – Porém acabei  cruzando com o nosso suspeito e precisei mudar minha rota.

— Descobriu algo diferente? – Perguntou ansioso.

— Sim, agora eu sei mais ou menos a sua altura. Ele é mais alto do que eu, mas um pouco mais baixo do que o Shikamaru.

— Shikamaru? Ele é o mais alto da nossa turma, então deve ser algum menino, certo?

— Sim foi o que eu pensei também, mas não é só isso – Tirei os punhados de fios que havia guardado de dentro da minha capa – Descobri que ele tem o cabelo vermelho. Curto.

— Isso significa que dos Clãs Hyuuga, Yamanaka e Nara, não são. E segundo a informação do Naruto sobre as capas, não pode ser o clã Uzumaki também... Então...

— Sasuke, só sobra meu clã com o cabelo vermelho, você quer dizer que pode ser alguém da minha família o traidor? Algum primo meu? – A insinuação me irritou, mesmo que eu soubesse que era o mais plausível que tínhamos até agora.

— Eu não sei, Sakura, mas pense comigo, com essa sua própria informação só nos sobra o seu clã e do Naruto.

— Você tem razão – Suspirei – Mas não vejo motivos para algum de nós se aliar a Orochimaru, mesmo que eu odeie cogitar essa possibilidade.

— Se acalme, não vamos eliminar nenhum Uzumaki da suspeita, tirando o Naruto e Minato que possuem cabelos loiros, vou ficar de olho – Ele colocou uma das mãos sobre o meu ombro e o apertou de leve – Confie em mim, vamos descobrir quem é o traidor.

Após alguns segundos, olhei para Sasuke.

— E se realmente for do meu clã? Eu amo minha família, não sei o que vou fazer se realmente for verdade ...

— Sakura – Ele me interrompeu –Se for alguém do seu clã, saiba que ele vai se arrepender de ter manchado a reputação de uma família como a sua, ele não vai merecer ter Haruno como sobrenome.  Confie em mim.

Ele sorriu mais uma vez, voltando a sua maneira contida de agir, mas me senti confortável e sorri fraco de volta.

— Sim.

Entramos na vila, indo em direção ao Salão de Refeições para o almoço. As obras pela cidade estavam quase para terminar e logo a vida das pessoas voltaria a rotina de sempre. Sasuke foi indo na frente e eu pude observar mais uma vez as suas costas, percebendo novas sutis mudanças, o que me fez sorrir verdadeiramente dessa vez.

— Obrigada, Sasuke. – Sussurrei para mim mesma.

Corri até ele e dei um soco em seu ombro. O garoto se assustou e esperou o que eu faria a seguir. Apenas mostrei a língua para ele enquanto o via massageando o local no braço que eu o acertei, vi um sorriso de canto pintar-se em seus lábios e juro que pude ouvi-lo resmungar.

—Irritante.

—Você que é – Retruquei – Vou indo na frente, nos vemos depois!

Sai correndo pelas ruas indo na direção dos nossos domínios, eu tinha muito no que pensar.

}|*|{