As sirenes começaram a tocar, dessa vez tocaram mais tarde do que o normal. Será que era um sinal de que naquele mês seria diferente? Katherine ainda não tinha perdido as esperanças de que pelo menos mais uma garota aparecesse por ali.

— Ei Kathy, não vai ver o presentinho da caixa?

— Já estou indo Jeff, só vou acabar com o Jimmy aqui e estou indo, não deixem o Gally assustar o novato.

O garoto assentiu e saiu correndo para ver quem era o novo “sortudo”, Katherine estava acabando de limpar a mão do construtor chamado Jimmy, começou a enfaixa-la com todo o cuidado.

— Você tem que tomar mais cuidado Jimmy, sorte que não precisou levar pontos.

— Se o Gally não gritasse tanto e não me apavorasse nada disso teria acontecido. – disse o garoto aborrecido

Jimmy parecia ter por volta de 15 anos, mas era bem forte, então foi designado para a tarefa de construtor, tinha chegado fazia 3 meses e esse não era o seu primeiro machucado causado pelo medo que tinha de Gally.

— Se você quiser posso ter uma palavrinha com ele. – disse a garota docemente

— Melhor não, se ele perceber que é por minha causa vai tornar a minha vida um inferno.

— É só eu não mencionar você, tenho certeza que com algumas palavrinhas ele vai melhorar.

— Não se preocupe Kathy, vou tomar mais cuidado, tenho que enfrentar meus medos afinal.

— Tudo bem, não vou falar nada, mas qualquer coisa sabe que pode contar comigo.

— Obrigado.

— Por nada, agora você vai descansar e ficar só com o trabalho leve por alguns dias, diga ao Gally que são prescrições MINHAS. – ela deu bastante ênfase na última palavra.

— Okay. – disse sorrindo

Os dois saíram da enfermaria, Jimmy seguiu para junto dos outros construtores, procurando pelo encarregado por eles, e Katherine foi em direção aos garotos que estavam tirando os suprimentos da caixa.

— Ei Sam! Cadê o novato?

— Colocamos ele no amansador.

— Você tinha que ter visto Kathy foi hilário! – disse Clint animado

— O que estão querendo dizer?

— Depois que Gally tirou ele da caixa, ele saiu correndo em direção ao labirinto, mas antes que conseguisse chegar lá tropeçou no próprio pé e saiu rolando. – disse Sam morrendo de rir – Então colocamos ele no amansador pra que não corresse porta a fora.

— Ok, eu vou tirar ele de lá, podem encontrar o Alby pra mim? Digam para encontrar a mim e o novato.

Katherine se virou andando em direção ao amansador sem nem esperar a resposta, já sabia que eles fariam o que tinha dito. Ao se aproximar de onde o novato estava preso fez com que sua presença fosse notada antes de ser vista.

— Olá!

Ela se abaixou de frente para a grade, lá dentro havia um garoto com um olhar confuso e assustado, estava encolhido na parede do fundo.

— E ai novato? Soube que sua chegada começou bem agitada. Não vai sair correndo de novo, não é?

Ele não respondeu, só continuava olhando pra ela com a boca aberta e os olhos esbugalhados. Katherine decidiu agir e abrir a “porta”, o garoto se agitou ficando mais encolhido.

Ela sentou-se na borda com as pernas para dentro do amansador, uma pose bem relaxada, tentando deixa-lo mais à vontade.

— Meu nome é Katherine, mas todos tem preguiça de dizer o nome inteiro e me chamam de Kathy. A não ser quando eu apronto alguma, daí você vai ouvir ele inteiro e bem alto. – soltou uma risada

O garoto ainda estava na mesma.

— Pode me dizer algo sobre você? Quem você é, de onde você veio... qualquer coisa? – falou com a voz mais carinhosa que pôde para não assustá-lo

O menino fazia que não com a cabeça, olhava aflito para os lados, passava uma mão sobre a outra, estava mais aflito que antes.

— Sabe pelo menos o seu nome?

— Não. – disse como se fosse um peso – Não me lembro de nada. Por que não consigo me lembrar de nada? Por que n...

Katherine entrou no amansador e pegou uma das mãos dele e a outra colocou em seu rosto fazendo-o focar no que ela diria.

— Tudo bem, tudo bem, relaxa. – disse tentando acalmá-lo – É normal. Aconteceu com todos nós, vai conseguir lembrar do seu nome em 1 ou 2 dias, é a única coisa que eles deixam pra nós. – ela acariciava ora sua bochecha ora seu cabelo

— Que lugar é esse?

Agora seu olhar tinha mais uma ponta de curiosidade do que de medo, Katherine gostou daquilo.

— Deixa eu te mostrar.

Ela agora estava de pé e com a mão esticada para ele. O novato olhou para a mão dela e em seguida para seu rosto, ainda estava desconfiado, mas segurou sua mão com determinação.

Katherine foi apresentando rapidamente os lugares da clareira, apontando pra lá e pra cá e o novato em seu encalço com os olhos curiosos.

— É aqui que comemos, dormimos, plantamos a nossa própria comida, construímos nosso abrigo. – ela se virou para ele – E o que mais precisamos a caixa nos fornece. O resto depende totalmente de nós.

— A caixa? – perguntou confuso

Katherine olhou na direção onde estava a tal caixa, o garoto seguiu seu olhar.

— Todo mês ela é enviada com novos suprimentos e um novo fedelho, esse mês foi você. – ele olhou pra ela – Sinto muito por isso. – afagou seu ombro

— Enviada? Por quem? Quem nos colocou aqui?

— Também gostaria de saber, mas não temos ideia de quem foi.

— Ei Kathy!

— Até que enfim. Novato, esses são Alby e Newt. – os garotos apertaram as mãos – Alby é nosso líder e quando ele não está Newt é quem comanda.

— Mas ele tá sempre por perto. – disse Newt sorrindo – Você deu uma bela corrida hoje cedo, por um segundo achei que você levasse jeito pra ser um corredor... – deu uma pausa dramática – até que caiu de cara.

— Coitado Newt. – Kathy riu e deu um empurrãozinho nele

— Perai, corredor? – indagou o fedelho

— Vocês podem me fazer um favor? – Alby chamou a atenção dos dois clareanos – Podem achar o Chuck pra mim?

— Ok – disseram os dois

— A gente se vê por ai novato. – Katherine o abraçou – Não se preocupe vou deixar você em ótimas mãos, qualquer coisa é só gritar meu nome.

Os dois saíram andando deixando líder e novato para trás.

— Gostou do novato? – perguntou Newt olhando ao redor à procura de Chuck

— Ainda não sei, mas estava com pena dele, parecia um bichinho assustado no amansador. Mas de uma coisa tenho certeza, ele vai causar alguns problemas.

— Por que acha isso?

— Ele é curioso demais... – ela parou de falar quando achou quem procurava – Ei Chuck!

Chuck estava perto do banheiro, deveria estar fazendo suas tarefas, que não eram nem um pouco divertidas, mas mesmo assim ele vivia alegre e agora acenava todo sorridente pra ela.

— Ele adora mesmo você. – comentou Newt

— É claro que ele me adora, sou um doce de pessoa.

Os dois riram e ela saiu correndo até o garotinho.

— Ei, Alby precisa de você, vai tomar conta do novato hoje.

— Finalmente vão parar de me chamar de novato e fedelho.

— Novato talvez, mas fedelho eu não teria tanta certeza.

— Puxa. – disse cabisbaixo

Katherine deu uma risadinha e o puxou para um abraço de lado acariciando os cachos do menor.

Depois de pegarem as coisas para o novato se instalar na clareira Chuck foi até a árvore onde Alby devia estar dizendo mais algumas coisas e ditando as regras.

— Ei Alby! – chamou Chuck acenando para os dois

Katherine olhava de longe, queria ter certeza de que o novato ficaria bem até ele se acostumar, mas precisava checar os suprimentos que a caixa trouxe para os socorristas, no mês passado ela tinha enviado uma lista pela caixa dos suprimentos que sabia que iria precisar no próximo mês. Ficou por volta de 15 minutos separando e organizando em uma caixa o que iria levar para a enfermaria.

Enquanto levava uma caixa até a enfermaria percebeu que Chuck e o fedelho não estavam mais a sua vista, foi o mais rápido possível guardar os suprimentos para procurá-los. Andando encontrou Minho e Ben, tinham acabado de voltar do labirinto.

— Ei garotos! – chamou a atenção deles – Vocês viram o Chuck e o novato por ai?

— Acabamos de passar por eles, acho que o novato está curioso sobre o labirinto. – Minho apontou de onde eles vieram

Katherine olhou para onde ele apontava e conseguiu reconhecer os dois fujões.

— Obrigada. Como foi o dia hoje? Algum progresso?

— Nada que já não sabemos. – lamentou Ben

— Tenho certeza que amanhã terão mais sorte.

Com isso ela se despediu e foi andando até onde estavam o fedelho e Chuck. Apressou o passo quando percebeu que o fedelho se aproximava cada vez mais das portas, não sabia se Chuck seria capaz de detê-lo caso ele decidisse fazer algo impensável.

Estava cada vez mais perto, o pior é que as portas já estavam na hora de fechar, ela ia chamar a atenção dele, mas antes que fizesse isso outra pessoa o fez, mas de um modo mais grosseiro.

—Ei! – gritou

Gally empurrou o garoto com tanta força que o coitado foi parar mais de um metro longe de onde estava. Katherine sabia que aquilo não podia dar certo, correu o mais rápido até os dois.

— Temos que parar de nos encontrar assim fedelho.

— Sai da minha frente. – o novato se levantou furioso

— Ta legal, calma, calma, calma. – dizia Gally

— Ei tá tudo bem garoto! – disse Katherine tentando acalmá-lo

— Qual o problema de vocês? – disse bravo

Agora mais clareanos estavam em volta deles.

— Só estamos tentando te proteger. – disse Katherine

— É pro seu próprio bem. – disse Alby que tinha acabado de chegar

— Não podem me prender aqui!

— Não é nada disso que estamos fazendo. – Katherine queria que ele prestasse atenção nela até que a hora chegasse – Mas não podemos te deixar ir até lá.

— Por que não?!

Então o momento chegou, as portas iriam começar a se fechar, um vento forte bateu neles, vindo do labirinto.

— O que diabos é isso?

Conforme as portas iam se fechando e o novato ia ficando cada vez mais confuso e fascinado, Katherine aproveitou para puxá-lo um pouco mais para longe. Mesmo depois de elas fecharem o garoto continuava olhando para elas.

— Pode confiar em mim. – disse Katherine chamando a atenção dele a voz dela agora parecia muito baixa depois do som das portas se arrastando.

— Não iria querer ir até lá agora.

Dizendo isso ela abaixou a parte da blusa de seu ombro direito, assim que o garoto viu seus olhos se arregalaram um pouco, uma enorme cicatriz ia da parte entre seu ombro e pescoço e seguia braço abaixo. Arrumou sua roupa e fixou seus olhos nos dele.

— Está seguro aqui.

No rosto do menino havia uma mistura de sentimentos, entre eles estavam confusão, medo e curiosidade, Gally achou que eles já estavam se encarando a tempo suficiente e decidiu interromper.

— Da próxima vez, eu vou deixar você ir.

Gally pegou a mão de Kathy para se afastarem dali, ela deu um último sorriso para o novato e se virou saindo com todos os outros.

— Já disse para ser menos arrogante com os novatos.

— Eu fui o mais gentil possível. – disse sorrindo de lado

— Não precisava empurrar ele daquele jeito.

— Tudo bem, você está certa... – ele olhou pra baixo e olhou pra ela seriamente – Da próxima vez eu empurro ele com menos força.

— Aff Gally...

Kathy revirou os olhos, mas não pôde deixar de dar risada, Gally também riu, colocou um dos braços ao redor do pescoço dela a trazendo para perto, ela enlaçou um dos braços na cintura dele.

O novato ainda olhava na direção dela.