Need You Now escrita por oicarool


Capítulo 24
Capítulo 24




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/776184/chapter/24

O silêncio do carro era ensurdecedor. E Elisabeta precisava admitir sua parcela de culpa naquilo tudo. Darcy havia tentado conversar com ela na última semana, mas a cada vez que pensava em ceder, Charlotte ou Archibald citavam novamente a relação de Darcy e Angel. Então sua paciência se esgotava e sua vontade era de gritar com Darcy, com Angel, com os outros Williamson. E não fazia sentido fazer nada disso.

Por isso, optou por não desenvolver qualquer conversa. Darcy insistiu por dois ou três dias, mas pareceu cansar de esperar por qualquer resposta, e nos últimos dias apenas cumpria seu papel de motorista. E talvez fosse o que deixava Elisabeta ainda mais irritada, uma vez que presenciava diariamente as interações abertas, lotadas de sorrisos, de Darcy com Angel.

Talvez fosse realmente culpa dela, e certamente Elisabeta reconhecia que era uma reação pouco racional. Em contrapartida, era a primeira vez que se apaixonava de verdade. A primeira vez que sentia seu coração querer pular do peito com tantos sentimentos. E parecia tudo prestes a desmoronar, e ela não queria a dor de ouvi-lo escolher Angel.

Porque aconteceria cedo ou tarde. Ela ouvira uma conversa dele com Charlotte um par de dias antes. Sabia que não deveria, mas eles conversavam no meio da sala sobre tudo aquilo, e não conseguiu evitar. Charlotte disseram com todas as letras que Angel era o primeiro amor de Darcy, e inclusive o quanto ele costumava ser romântico durante a relação. Se havia algo que Elisabeta não conseguia imaginar era Darcy como um homem romântico.

Mas era óbvio, não era? Apesar de não ter ficado o suficiente para ouvir a resposta de Darcy, era cristalino como água para ela. Seria uma questão de tempo para que ele percebesse, se é que já não sabia, o quanto gostava de Angel. Não havia mais distância, Angel já não era mais casada, e Darcy não precisaria mais buscar mulheres completamente diferentes de seu amor.

Ludmila, é claro, disse que era tudo uma loucura de Elisabeta. Insistiu que apenas uma conversa com Darcy esclareceria a verdade. Mas faltava a coragem e Elisabeta preferia se manter distante. Preferia não fazer uma cena de cobrança quando não havia relação, não havia sequer lógica em seus pensamentos. E Darcy não devia qualquer explicação sobre seus sentimentos.

Ainda assim o silêncio no carro pesava. Estavam indo até a Vila, por insistência de Elisabeta. As nuvens no céu estavam carregadas e Darcy havia dito que não parecia uma boa ideia. Ela insistira que precisa ir até lá, e Darcy desistiu de argumentar, apesar de ser óbvia sua insatisfação. E agora estavam ali, há mais de uma hora sem trocar uma só palavra. Darcy estava focado na estrada, e Elisabeta olhava pela janela.

Pensou em dizer alguma coisa, mas tudo nos últimos dias parecia um sinal de alerta para uma discussão. Pareciam os dois prestes a entrar em uma briga, como se bastasse qualquer palavra. E se havia algo que queria menos do que ouvir Darcy falar sobre seus sentimentos por Angel, era brigar com ele. Mais do que a insegurança e a irritação, ela sentia falta dele.

Parecia que Darcy estava em sua vida há muito tempo, quando nem bem chegava há seis meses. Era tudo intenso, fugaz, e agora parecia terminar do mesmo jeito que começou, de forma explosiva. Ela suspirou sem perceber, e foi quando notou o olhar dele através do espelho que percebeu que desviara seu olhar da janela para Darcy. O que aconteceria se o tocasse?

Darcy voltou seus olhos à estrada, e Elisabeta percebeu de repente o quanto o carro tinha o cheiro dele naquele momento. Será que era sempre assim? Ou agora que não podia tocá-lo tudo havia se intensificado? Ela sequer costumava prestar atenção em carros até o aparecimento de Darcy. Antigamente Venâncio era o responsável por escolher modelos, cores, e Elisabeta apenas pagava por eles.

Elisabeta distraiu-se apenas quando chegaram à Vila. Havia muito a conferir, novos planos que precisavam ser feitos, e ela quase acreditou que tudo sairia com perfeição. Tiveram um delicioso almoço na casa de uma das moradoras, Elisabeta conseguiu visitar quase todas as obras, e faltavam apenas alguns detalhes quando os trovões iniciaram, e os raios podiam ser vistos no horizonte.

Darcy cruzou os braços e ergueu a sobrancelha, e Elisabeta teve vontade de bufar. Havia feito quase tudo o que precisava fazer sem que a tempestade atrapalhasse. Tudo o que ele não tinha direito de fazer era lançar aquele olhar irônico de quem avisou o que aconteceria. Elisabeta revirou os olhos para ele. O fim de tarde se aproximava e as nuvens deixavam o céu ainda mais escuro.

Os dois se despediram dos moradores e entraram no carro. Elisabeta precisou admitir para si mesma que a aparência do céu era amedrontadora. A medida que retornavam à Londres, o céu escurecia e os trovões ficavam mais altos. Tão altos a ponto de parecer que estavam ocorrendo dentro do carro. E em questão de minutos o céu pareceu despencar, a chuva tão forte que mal era possível ver a estrada.

— Como eu disse... – Darcy resmungou, em voz baixa.

— O que foi? – Elisabeta fingiu não ouvir.

— Eu falei que não era uma boa ideia. – ele disse, firme.

— Da próxima vez eu vou informar aos sócios que não pude trabalhar porque Darcy não achou uma boa ideia. – ela revirou os olhos.

— Você é a dona disso tudo. Não precisa se arriscar no meio de uma tempestade. – Darcy bufou.

— Se dependesse das suas ideias eu não seria dona de mais nada. – Elisabeta fez uma careta.

— Se depender das suas estaremos mortos antes do amanhecer. – resmungou. – Eu não consigo ver nada.

O carro fez um barulho estranho e perdeu velocidade. Darcy virou o volante para sair da estrada, parando o carro na entrada de um bosque. Ele xingou baixo e Elisabeta praguejou.

— O que foi agora? – ela perguntou.

— Quero admirar a paisagem. – ele respondeu, irônico. – O que é que você acha?

— E o que você vai fazer? – Elisabeta arregalou os olhos.

— Se você acha que eu vou sair nessa chuva para descobrir o que aconteceu... – Darcy começou.

— Não vai? – ela perguntou e Darcy negou com a cabeça. – Como assim não vai?

— Por que é que você não vai ver o que aconteceu, se quer tanto saber?

— Porque eu não entendo nada de carros, Darcy. E é você quem passa o dia desmontando esta coisa. – Elisabeta o acusou.

— Eu não desmonto nada. – Darcy defendeu-se.

— Ah, é claro que não. Eu é quem faço isso. – ela revirou os olhos. – E nós não vamos ficar aqui parados, vá lá ver o que aconteceu.

— Eu não vou, Elisabeta. – disse, categórico. – Não existe a menor possibilidade de eu voltar para Londres todo molhado.

— E não existe a menor possibilidade de eu ficar parada no meio da noite em uma estrada deserta. – Elisabeta respondeu.

Darcy deu de ombros e ela resmungou, abrindo a porta do carro.

— Que diabos? – ele perguntou, assim que ela saiu na chuva.

Elisabeta sentiu as gotas pesadas a ensoparem em segundos. E não demorou mais do que alguns segundos para Darcy sair do carro, ficando encharcado também.

— Achei que não havia possibilidade de você voltar para Londres molhado. – ela ergueu a sobrancelha. – Qual é o problema? Sua namorada angelical não vai gostar?

Darcy ignorou a provocação, abrindo o capô o suficiente para olhá-lo.

— Você pode dizer que eu mandei. – Elisabeta continuou. – Tenho certeza que ela vai entender.

— Eu vou ignorar essas bobagens. – Darcy bufou. – Antes que eu me comporte como um ogro.

— E você tem outra versão que não seja a de ogro? – ela fingiu ficar pensativa. – Ah, é verdade. Você era romântico com sua anjinha.

Darcy fechou o capô com força, e olhou para Elisabeta. A chuva deixava parte do cabelo dele caindo na testa, os olhos claros cheios de irritação. A camisa branca já era transparente e Elisabeta tentou ignorar esta última informação.

— Você quer saber? Eu me demito. – ele disse, irritado.

— O que? – Elisabeta arregalou os olhos.

— Eu me demito. Se você acha que pode continuar me falando o que quiser só porque paga o meu salário, acabou o seu motivo. – Darcy cuspiu as palavras. – É só o tempo de arrumar as minhas coisas e ir embora.

— E você vai pra onde? – ela cruzou os braços, irônica.

— Para o inferno, se for preciso. – ele bufou.

— Sua anja não será aceita no inferno, Darcy. – Elisabeta deu de ombros.

— Você pode parar com isso? Você já deixou claro que não quer me ouvir. – Darcy se aproximou um pouco dela, o barulho da chuva exigindo que ele falasse mais alto. – Você já criou a sua versão dos fatos e não quer saber a minha. Então pare de citar o assunto.

— Não precisa ficar tão irritado por eu estar citando sua namorada. – Elisabeta revirou os olhos.

— Eu estou irritado porque você é uma mulher brilhante. Sua mente funciona como poucas vezes eu vi. E ainda assim você é incapaz de ver um palmo à sua frente.

— Nossa, quantos elogios. – Elisabeta gritou. – Deveria agradecê-lo?

Darcy passou as duas mãos pelos cabelos, colocando os fios para trás. Virou as costas para ela, e então voltou a encará-la.

— É isso que você quer? Que Angel vá embora? – Darcy irritou-se ainda mais. – Porque eu passei a última semana tentando convencê-la de que você está atolada de trabalho e é por isso que a trata tão mal.

— Eu não a trato mal. – Elisabeta defendeu-se.

— Você não dirige a palavra à ela, pulou quase todas as refeições da semana. E eu já vi você olhar para Angel como se quisesse arrancar a cabeça dela. – Darcy apontou um dedo para ela.

— Se você está preocupado com a segurança da sua...

— Não diga que ela é minha namorada. Angel e eu tivemos uma história. Um passado. – ele passou uma das mãos pelo cabelo novamente. – Um passado, droga.

— Parece bem vivo para mim. – Elisabeta revirou os olhos.

— A única coisa viva é a sua imaginação. – Darcy bufou. – E nem se eu quisesse alguma coisa com Angel você teria o direito de me tratar assim.

— Assim como, Darcy? – ela resmungou. – Como é que eu estou tratando você?

— Como um nada. – Darcy se aproximou dela. – Como se eu não significasse nada. Como se eu fosse algo descartável que você não precisa mais.

Elisabeta arregalou os olhos.

— É isso, Lizzie? – ele falou mais baixo, sua voz quase inaudível pela chuva.

Darcy estava próximo dela, mas não o bastante. A chuva molhava o rosto dele. Do que é que ele estava falando? Darcy parecia esperar uma resposta dela e Elisabeta percebeu quando ele deu um passo para trás, entendendo o silêncio como uma confirmação. Ela cruzou a distância antes que Darcy pudesse desviar os olhos, segurou o rosto dele com as mãos e o beijou.

Levou uma fração de segundo para Darcy reagir, e logo ela sentiu as mãos dele aproximando seus corpos, a língua quente na sua, a barba cutucar sua pele. Seria possível sentir tanta falta de alguém em tão pouco tempo? Porque parecia que Darcy não a tocava há meses, seu corpo acendendo imediatamente, precisando do contato com ele. Darcy mordeu o lábio dela e Elisabeta puxou de leve os cabelos dele.

Ele a encostou no carro, e Elisabeta teve um vislumbre da primeira vez que havia sido dele. Contra aquele carro, em um momento de desespero completo. E com tantas semelhanças com aquele. Seria sempre assim com eles? Sempre com a sombra de outra pessoa, seus corpos pedindo um ao outro enquanto pairavam sempre as dúvidas quanto aos sentimentos?

Darcy beijou o pescoço dela, e Elisabeta suspirou. Acariciou os cabelos dele, puxando-o para ela. Era assim que se entendiam e ela precisava daquilo. Precisava acreditar que ele estava ali e era real, que não estava prestes a partir. Elisabeta parou ao lembrar das palavras dele, e o puxou até conseguir olhar em seus olhos.

— Eu não aceito. – ela disse, e Darcy a encarou confuso. – A sua demissão, eu não aceito.

Darcy deu um sorriso de lado, guiando Elisabeta até a porta de trás do carro. Abriu a porta e olhou nos olhos dela. Beijou seu pescoço de forma breve, voltando à seus olhos.

— Eu achei que você não deixaria que eu me demitisse sem foder você nesse carro. – um sorriso travesso brincou nos lábios dele.

Um pensamento passou por Elisabeta e ela tentou não se apegar à ele.

— Pare. – Darcy disse, e a beijou de leve nos lábios. – Pare de pensar tanta besteira.

— Eu não... – ela tentou dizer.

— Estava. Estava pensando se eu falava assim com ela, se fazia tudo isso com ela. – Darcy a beijou novamente. – E a resposta é não.

— Porque você a respeitava mais. – Elisabeta suspirou.

— O que? – ele sorriu, dando um passo para trás, acariciando o rosto dela. – É claro que não. Eu venero você, Lizzie.

Elisabeta tentou fechar os olhos, mas Darcy se manteve em silêncio até que ela abrisse.

— Eu não fazia nada disso porque eu era um menino em um namoro adolescente. -  Darcy a puxou contra o corpo dele. – E agora eu sou um homem.

A língua dele tocou a base do pescoço dela, subindo até sua orelha. Darcy a mordeu e Elisabeta suspirou.

— E eu sou seu. Na sua cama, no seu carro, no seu escritório, na sua vida. Enquanto você me quiser.

Elisabeta segurou os ombros dele, as unhas afundando em sua camisa molhada.

— Você me quer? – ele sussurrou.

Ela o puxou até que pudesse olhá-lo nos olhos.

— Você está fazendo alguma coisa comigo, tirando minha sanidade. – ela disse, séria. – Eu só consigo pensar o quanto eu quero você, Darcy.

Darcy a beijou com paixão e não demorou para que estivessem dentro do carro. As roupas molhadas desviadas de qualquer jeito até que pudessem ter mais contato, e Darcy a puxou para cima dele. Foi rápido e forte, desajeitado e apaixonado. Ela estava completamente apaixonada por ele. E sabia que era perigoso que ele dissesse que o teria por quanto tempo quisesse.

Ela talvez tenha sussurrado isso no ouvido dele quando chegou ao prazer, mas não saberia confirmar. Não quando ele era tão certeiro, tão certo para ela, tão próximo de tudo o que mais sentia falta. E foi o pensamento que a apavorou quando sua respiração voltou ao normal. Porque mal conseguia lidar com a ideia de estar apaixonada por Darcy Williamson e já teria que lidar com a realidade: o amava.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Need You Now" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.