Need You Now escrita por oicarool


Capítulo 21
Capítulo 21




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Ela acordou ainda vestindo suas roupas normais. Sentia frio, já que havia deitado por cima das cobertas, e era madrugada, mas Elisabeta não sabia quanto tempo havia passado. Havia chorado e sua cabeça doía. Estava angustiada, com um peso em seu peito que não era comum. Como tudo podia mudar tanto em vinte e quatro horas? Na manhã anterior estava numa espécie de paraíso e agora tudo parecia revirado.

Elisabeta caminhou até o banheiro e jogou um pouco de água no rosto. Sua maquiagem estava borrada. O batom vermelho estava manchado e ela sabia que era pelo beijo de Darcy. Lavou o rosto e viu sua expressão parecer ainda mais cansada. Ela não era aquele tipo de mulher. Não o tipo de deixar os problemas não resolvidos, de deixar tudo pendente.

E se fosse justa com Darcy, ela mesma ficara espantada com a foto. Se não soubesse da situação, se não estivesse lá sentindo as mãos de West, Elisabeta provavelmente diria que eram um casal. Poderia realmente culpar Darcy? Poderia julgá-lo por acreditar em imagens e nas palavras de West? Inferno. West estava espalhando coisas sobre ela, e em outras circunstâncias talvez Elisabeta não ligasse para nada daquilo.

Mas havia um senso de fidelidade em relação à Darcy. Havia uma parte dela que era empática com a atitude dele, que entendia ser uma reação normal. Estava irritada com ele, é claro. Estava irritada com toda aquela situação, com todos aqueles sentimentos que pareciam quase demais para tolerar. Darcy a perturbava, tirava seu sono, seu chão, sua estabilidade. E não de um jeito ruim.

Elisabeta vestiu sua camisola e um roupão por cima. Era uma noite fria, ou talvez fosse apenas sua impressão naquele quarto. Deveria buscar um chá na cozinha, tentar esquentar sua alma. Porém, a luz passava por baixo da porta dele, e era um chamado irresistível demais. Naquele horário improvável, Darcy também estava acordado. E Elisabeta viu-se abrindo a porta do quarto dele.

Darcy estava apoiado em alguns travesseiros, as cobertas cobrindo as pernas, e os braços expostos pela regata, mesmo na noite fria. Ele segurava um livro e ergueu os olhos assim que a viu. E Elisabeta viu as palavras jorrando de sua boca sem qualquer controle ou reflexão.

— Eu nunca tive nada com West. – ela disse, porque ele precisava saber.

— Eu sei. – Darcy suspirou. – Eu sei, mas eu fiquei perturbado. Aquela foto, e depois aquele americano falando sobre você.

— Eu nunca teria nada com West. – Elisabeta aproximou-se dele.

— Me desculpe, você tem toda razão. Eu sou mesmo um idiota. – Darcy olhou nos olhos dela. – Mas eu fiquei com ciúmes, Lizzie.

— Pelo amor de Deus, Darcy. Você ficou completamente cego apenas por ciúmes?

Darcy alcançou a mão dela, puxando Elisabeta. Ela ajoelhou-se na cama dele, ficando com o rosto um pouco mais alto do que o dele.

— Não estou cego. – Darcy engoliu em seco. – Não seria improvável que você iniciasse um relacionamento com um homem da sua classe social.

— West sequer é da minha classe social. – Elisabeta disse, frustrada, arrancando um sorriso pequeno de Darcy.

— Você pode entender o quanto foi terrível ouvir outro homem falando sobre você? Pensar que poderia ser realmente verdade? – a expressão ele era angustiada. – Eu não consegui pensar em nada.

— Eu não sei como reagiria no seu lugar. – Elisabeta aproximou-se um pouco mais dele. – Mas West nunca me tocou. Não de forma permitida, ao menos.

— Eu vou matá-lo. – o maxilar de Darcy tencionou.

— Não. Você nem deveria ter se metido em uma briga por minha causa. – Elisabeta levou as mãos aos cabelos dele, acariciando-o. – Olha pro seu rosto. Que ideia foi essa?

— Eu deveria ter feito pior. Não deveria ter sobrado nada daquele infeliz. – Darcy levou uma das mãos à cintura dela.

Elisabeta passou uma das pernas pelo outro lado, acomodando-se nele. Encarou o ferimento, que parecia um pouco melhor, apesar do arroxeado que aparecia em volta. Ela acariciou os cabelos de Darcy, seu rosto, a barba. Ele usava os óculos de leitura, e seus olhos pareciam ainda mais claros, mais verdadeiros.

— Nós estamos complicando as coisas. – ela sussurrou, mas colou a testa à dele.

— Eu sei. – Darcy respondeu, suas mãos nas costas dela. – Mas complicado pode... pode ser bom, não acha?

— Eu não sei. – Elisabeta fechou os olhos, sua voz soando assustada. – Eu não sei de nada.

Ela sentiu os lábios de Darcy levemente nos dela, e céus, estávamos pensando fazendo aquilo? Estavam conversando nas entrelinhas sobre o quanto era óbvio que estavam cruzando barreiras? Ela sabia que deveria sair correndo dali, mas a língua de Darcy pediu passagem entre seus lábios e tocou a dela. Uma das mãos dele tocou seu rosto de forma delicada.

Elisabeta sentiu sua resistência desaparecer na lentidão daquele beijo, na carícia leve das mãos de Darcy. Não havia desespero, e ao mesmo tempo havia tão mais. Sua mão debilmente tocava os cabelos dele. Darcy a segurou contra seu corpo e a girou, mudando suas posições. Ela mal compreendeu quando o peso dele estava em cima dela, porque não houve qualquer alteração naquele beijo.

Sabia que estaria perdida quando aquilo acontecesse. Soube em todas as últimas vezes em que esteve com Darcy, quando o prazer físico parecia intensificado pelo olhar dele, pela sensação de estar perto dele. E um beijo... era muito mais do que um encostar de lábios para eles. Era muito mais do que todas as noites roubadas, do que todos os gemidos e sussurros.

Não houve mudança no ritmo, não houve desespero, e apesar de sentir a excitação de Darcy, de sentir vontade de ser tocada por ele, Elisabeta deixou o beijo morrer. Darcy manteve a testa na dela, a respiração calma. Ele acariciou seu rosto com o dorso da mão, enquanto ela fez o mesmo com a nuca dele.

— Foi um longo dia. – Darcy disse, em voz baixa.

— Eu estou exausta. – Elisabeta respondeu. – Só quero esquecer tudo o que aconteceu.

Darcy desligou o abajur, os deixando no escuro. Deitou-se de costas, puxando Elisabeta de leve para que deitasse em seu peito.

— Só quero dormir sentindo o seu cheiro. – ele sussurrou. – Sabendo que você está aqui comigo.

Elisabeta suspirou, ficando em silêncio. A mão de Darcy acariciava seus cabelos, enquanto a dela descansava no peito dele.

— Darcy? – ela o chamou.

— Hm? – Darcy respondeu em um sussurro.

— Não é só uma aventura. – Elisabeta disse. – Você não é só o motorista.

Darcy beijou seus cabelos, apertando mais o corpo dela contra o dele.

— Boa noite, Lizzie.

— Boa noite, Darcy.

Foi apenas na manhã seguinte que Elisabeta teve a dimensão do que aconteceu no quarto de Darcy. Foi ao acordar nos braços dele, completamente vestida. Foi quando ele a beijou sem aviso antes que ela saísse do quarto. E quando entrou em seu quarto, sabia que não havia mais volta. Estava surpreendentemente, enlouquecidamente e completamente apaixonada por Darcy Williamson.

E naquele momento ela decidiu não pensar demais sobre isso. Não pensar sobre o futuro, sobre todas as implicações daquele... ela poderia chamar de relacionamento? Queria apenas dormir nos braços de Darcy tantas noites quanto possível. Queria que os olhos dele fossem os primeiros a ver pela manhã, e os últimos a ver quando dormia. Queria o cheiro de Darcy em seu corpo, seu cabelo bagunçado pela manhã, as marcas das mãos que descobria após cada noite.

Elisabeta desceu para o café da manhã quando Darcy terminava de explicar que havia tentado defender uma senhora de um assalto, e por isso tinha um olho roxo e um corte no supercílio. Archibald parecia desconfiado o suficiente e Charlotte não parecia acreditar em nenhuma palavra. Petúlia apenas balançava a cabeça descontente, enquanto Cecília dava dicas para curar o ferimento mais rápido.

— Você está horrível, Darcy. – Elisabeta disse, fingindo preocupação. – Espero que ao menos tenha impedido o assalto.

— É claro. – Darcy sorriu, convencido. – Eu sou um herói.

Elisabeta piscou discretamente para ele, enquanto todos os outros debatiam sobre a violência urbana, os perigos de senhoras andarem sozinhas pela noite e sobre o olho de Darcy. Antes que Elisabeta terminasse o café da manhã os irmãos Williamson avisaram que estavam de saída para um passeio. Isso deu à Elisabeta a possibilidade de trabalhar em seu escritório até o final da manhã, até ser interrompida por Archibald.

— Lizzie? – ele a chamou, entrando no escritório.

— Oi, Archie. – Elisabeta sorriu. – Você precisa de alguma coisa?

— Você recorda-se que há algumas semanas eu havia mencionado sobre Angélica, uma grande amiga da família que morava no interior? – Archibald disse.

Elisabeta assentiu, lembrando-se vagamente. Archibald odiava pedir qualquer coisa, mas havia alguma história triste que Elisabeta não recordava-se com detalhes. Ele havia pedido para que a amiga ficasse alguns dias na mansão, mencionado que ela poderia dormir no quarto de Charlotte, e Elisabeta apenas concordou sem muito interesse.

— Ela está aqui e eu gostaria que você a conhecesse. – Archibald sorriu.

— É claro. – Elisabeta sorriu, educada.

— Angel, venha cá. – Archie chamou. – Esta é Elisabeta Green Hall. Lizzie, está é Angel.

Elisabeta não havia perdido mais do que dois minutos pensando sobre a amiga dos Williamson. Mas, certamente, não foi a imagem mental que criou ao pedido de Darcy. A moça era jovem, talvez mais jovem do que ela. Tinha olhos claros e cabelos loiros presos em cachos. Elisabeta poucas vezes vira, ironicamente, alguém mais angelical.

— É um prazer conhecê-la, senhora Hall. – a voz da moça era doce.

— Elisabeta, por favor. E o prazer é meu. – Elisabeta sorriu genuinamente. – Seja bem vinda à mansão. Archie providenciará tudo o que você precisar.

— Muito obrigada. – a moça sorriu. – Eu preciso muito agradecer seu acolhimento. Fui convidada para ser tutora dos filhos pequenos de um maravilhoso casal, mas não poderia me manter em Londres enquanto estou em período de testes.

— Não há o que agradecer. Qualquer amigo dos Williamson é bem vindo nesta casa.

— Por falar em Williamson, onde estão Darcy e Charlotte, tio Archie? – a doce mulher perguntou.

— Você os conhece, minha querida. Estão em algum passeio que prefiro não saber. – Archibald sorriu cansado.

— Bem, fique à vontade e sinta-se em casa, Angelica. – Elisabeta disse.

— Me chame de Angel, por favor. É como todos me chamam.

E não haveria mesmo como chamá-la por outro apelido. Combinava perfeitamente com sua aparência. Elisabeta simpatizou com Angel no primeiro segundo, e duvidava que houvesse outra reação possível. Angel era uma moça bonita, com roupas simples e um sorriso contagiante.

— Muito obrigada, Elisabeta. – agradeceu novamente.

— Vamos, minha querida? – Archibald a chamou. – Eu vou lhe mostrar o quarto de Charlotte.

Elisabeta voltou ao trabalho. Havia muito a ser feito, muitos cálculos, decisões sobre produção e exportação. Archibald a chamou quando já passava do horário do almoço, e Elisabeta encontrou Petúlia, Cecília e Angel já aguardando a refeição. A conversa foi leve e Angel contou um pouco mais sobre a perspectiva de seu novo emprego. Elisabeta ficou sabendo que a moça era uma viúva, como ela, e a julgar por sua idade não havia sido um casamento longo.

Angel era contagiante. Havia uma simplicidade encantadora em suas palavras e ações. Era educada sem ser formal demais. Conseguia transitar por diferentes conversas com opiniões ponderadas. Era impossível não fazer a associação com Charlotte e Cecília. Angel era perfeitamente uma daquelas meninas, que mal compreendiam seu efeito sobre as pessoas.

Angel era uma moça do interior e vizinha dos Williamson, como Elisabeta ficou sabendo durante o almoço. Cresceram praticamente juntos e fazia algum tempo que não via Darcy ou Charlotte, uma vez que há cinco anos precisou ir com seus pais para a região norte do país. Comunicava-se com Charlotte por cartas, e a ideia de pedir abrigo à Elisabeta havia sido dela, e não de Archibald. Archibald, inclusive, parecia adorá-la.

Petúlia e Cecília também não pareciam imunes e, como era natural, logo todos estavam em perfeita sintonia para torcer pelo emprego de Angel. Elisabeta suspeitava que ela tinha aquele efeito nas pessoas. Era impossível não gostar dela.

— Eu disse que eu tinha uma surpresa pra você. – todos ouviram a voz de Charlotte no outro cômodo.

— Eu odeio surpresas, Charlotte. – a voz de Darcy resmungou.

— Mas essa eu tenho certeza que você vai amar. – Charlotte entrou na frente do irmão.

Elisabeta observou o momento em que Darcy viu Angel. Observou o sorriso enorme que surgiu nos lábios dele, o carinho genuíno que transbordou de sua reação. Ele parecia incrédulo. Parecia quase hipnotizado, como se Angel fosse mesmo uma aparição divina no meio da mansão Green.

— Não é possível. – foram as palavras de Darcy. – Você está mesmo aqui?

Elisabeta olhou para Angel, e ela tinha aquela mesma expressão boba no rosto. Levantou-se, e não passou despercebido para Elisabeta a rapidez daquele gesto. Darcy aproximou-se dela, segurando seu rosto, olhando nos olhos dela.

— Como você está linda. – a voz dele era suave. – Você continua exatamente igual.

— Eu não posso dizer o mesmo de você. – Angel respondeu graciosa.

E então Elisabeta observou sem reação quando Darcy abriu os braços e Angel jogou-se neles. Observou os braços de Darcy a envolverem com tanto carinho e cuidado, enquanto os de Angel envolviam seu pescoço. E foi um abraço tão longo, tão íntimo, que Elisabeta teve a sensação que todos estavam sobrando naquele ambiente. Charlotte e Archibald possuíam sorrisos idênticos.

Elisabeta duvidava que alguém no mundo não gostasse de Angel. Mas, ao observar aquela cena, teve quase certeza que seria a exceção.


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